segunda-feira, 3 de novembro de 2014

FOLIA DAS ALMAS – MINAS GERAIS, UMA TRADIÇÃO EM VIAS DE EXTINÇÃO

Folclore religioso

 É uma celebração dos vivos, e, ao mesmo tempo, uma invocação (encomendação) piedosa aos que morreram


Itamir Rosa de Faria
Graduando em História - FESP/UEMG

Serras, morros e riachos escondem as casas do povo humilde e hospitaleiro. O Vale da Gurita fica ao sul da serra da Canastra, em Delfinópolis (MG). Andando por lá, é possível ver o cuidado com a religiosidade. Cruzeiros e pequenas capelas nas sedes das fazendas são amostra de fé e garantia, para quem chega, de ser muito bem recebido.



Pelo meio do vale, a igreja belíssima de Itajuí. A seu lado, o sino. Diz a tradição que seu badalar invoca almas. Na Quaresma, é ali o ponto de partida da Folia das Almas do Itajuí, na qual o homem do campo reza para almas dos que ‘partiram’. Esses homens simples são guardiões de tradições imemoriais.


A encomendação das almas tem importância histórico-cultural. Perpetuada na memória dos guardiões, cumpre papel social de integração familiar. A essência está no cerimonial ritualístico simples e profundo, e na mensagem, direta aos integrantes e indireta a quem presencia. Os do povoado do Itajuí se reúnem em noites da Quaresma e no mês de novembro, mês das almas, para sair às fazendas cantando e rezando. A vestimenta é branca. O ritual é repleto de simbologias, superstições e conotações folclóricas. Versos curtos em tons de vozes distintos marcam — ‘Alerta, alerta pecador! Pecador que está dormindo, assim como Deus não dorme, nós também não dormiremos’.


Em cada cruzeiro, rezam. Nunca voltam pelo mesmo caminho. Porteiras, não abrem. Passam por baixo. Na última casa faz-se a grande festa. Rezam e comem alegremente, desfrutando da fartura do campo. De pai para filho os valores morais do ritual se perpetuam. Não cantam ou rezam em lugares que não ‘pertençam’ à sua região. Céu estrelado, lua começando a romper, e o vento. A sensação de frio só é aquecida pela fogueira de ‘caça ao Judas’. Entretenimento da criançada marca o fim da mítica folia.

Matéria extraída: http://gcn.net.br/

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