Folclore
religioso
É uma celebração dos
vivos, e, ao mesmo tempo, uma invocação (encomendação) piedosa aos que morreram
Itamir Rosa de Faria
Graduando em História - FESP/UEMG
Graduando em História - FESP/UEMG
Serras, morros e riachos
escondem as casas do povo humilde e hospitaleiro. O Vale da Gurita fica ao sul
da serra da Canastra, em Delfinópolis (MG). Andando por lá, é possível ver o
cuidado com a religiosidade. Cruzeiros e pequenas capelas nas sedes das fazendas
são amostra de fé e garantia, para quem chega, de ser muito bem recebido.
Pelo meio do vale, a
igreja belíssima de Itajuí. A seu lado, o sino. Diz a tradição que seu badalar
invoca almas. Na Quaresma, é ali o ponto de partida da Folia das Almas do
Itajuí, na qual o homem do campo reza para almas dos que ‘partiram’. Esses
homens simples são guardiões de tradições imemoriais.
A encomendação das almas
tem importância histórico-cultural. Perpetuada na memória dos guardiões, cumpre
papel social de integração familiar. A essência está no cerimonial ritualístico
simples e profundo, e na mensagem, direta aos integrantes e indireta a quem
presencia. Os do povoado do Itajuí se
reúnem em noites da Quaresma e no mês de novembro, mês das almas, para sair às fazendas cantando e rezando. A
vestimenta é branca. O ritual é repleto de simbologias, superstições e
conotações folclóricas. Versos curtos em tons de vozes distintos marcam — ‘Alerta, alerta pecador! Pecador que está
dormindo, assim como Deus não dorme, nós também não dormiremos’.
Em cada cruzeiro, rezam.
Nunca voltam pelo mesmo caminho. Porteiras, não abrem. Passam por baixo. Na
última casa faz-se a grande festa. Rezam e comem alegremente, desfrutando da
fartura do campo. De pai para filho os valores morais do ritual se perpetuam.
Não cantam ou rezam em lugares que não ‘pertençam’ à sua região. Céu estrelado,
lua começando a romper, e o vento. A sensação de frio só é aquecida pela
fogueira de ‘caça ao Judas’. Entretenimento da criançada marca o fim da mítica
folia.
Matéria extraída: http://gcn.net.br/
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