História
Crônica de Consuelo Pondé
Proclamada a República, em
15 de novembro de 1889, foi instalado o governo provisório, procedendo-se as
eleições para a Constituinte a 15 de novembro de 1890. Entretanto, no dia da
sua definitiva aprovação, muitos dos seus membros discordavam de Deodoro, um
militar nascido na província de Alagoas, que jamais fora republicano, mas fora
conduzido a praticar o golpe que acabaria com o Império.
Guindado à posição de
Chefe do Governo Provisório, Deodoro cercou-se de nomes expressivos, tais como:
Benjamin Constant (Ministro da Guerra), Quintino Bocayuva (Ministro das
Relações Exteriores), Rui Barbosa (Ministro da Fazenda), Aristides Lobo
(Ministro do Interior), Campos Salles (Ministro da Justiça), Eduardo Wandenkolk
(Ministro da Marinha) e Demétrio Ribeiro (Ministro da Agricultura).
Composta de 250 membros,
sendo 40 deles militares, foi instalada a Constituinte na data em que
completava um ano o novo regime. Dirigia seus trabalhos o líder republicano
paulista, Prudente de Morais, que, quatro anos mais tarde, seria o primeiro
presidente civil do país. Assim, no dia 24 de fevereiro de 1891, o Brasil
adotava sua nova Constituição republicana, por meio da qual passava a ser uma
República Federativa composta por vinte estados e um distrito federal, a cidade
do Rio de Janeiro, onde funcionaria a sede do governo. Três eram os poderes
constituídos: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
Todavia, a situação não
era de entendimento, nem tranquilidade. Os debates políticos eram acirrados e o
prestígio do marechal Deodoro da Fonseca foi sendo minado por alguns dos seus
adversários. Não era o presidente interino afeito às coisas da administração e
o seu comando revelou-se muito pouco produtivo.
Destacou-se na tribuna,
contra Deodoro, o baiano Cesar Zama, um dos mais vigorosos oradores
parlamentares do seu tempo. Disputas pessoais emergiam na sessão de 29 de
janeiro, de um lado – Benjamin Constant, de outra parte a mocidade das escolas,
e por fim o marechal Floriano Peixoto, que desfrutava de excepcional situação.
Era nítida a oposição ao chefe do governo, que já não contava com muitos dos
seus ministros do gabinete revolucionário, enquanto outros seus amigos se
empenhavam em convertê-lo no primeiro presidente constitucional da República.
Era de intranquilidade a situação política do país. Em meados de 1891 surge a
ideia de um novo partido, que se propunha a promover a defesa dos princípios
constituintes contra o autoritarismo e o personalismo do governo. A iniciativa
partiu de Aristides Lobo, fundador do Partido Constitucional Republicano, que
formou a corrente parlamentar oposicionista, de expressão já considerável.
Diante da situação
calamitosa, o chefe do governo, com sua postura marcial de soldado, rasgou o
estatuto político, que havia jurado obedecer, e dissolveu a assembleia que
havia concedido ao Brasil o código de sua emancipação política. De imediato,
foram os pontos principais da cidade guarnecidos por incontáveis contingentes
das forças armadas. Foram, então, efetuadas muitas prisões, figurando entre os
detidos o líder Quintino Bocayuva, que foi trazido de sua residência para o
quartel de um batalhão de infantaria. Dr. Bernardino de Campos, presidente da
Câmara dos Deputados foi impedido de entrar no edifício da Cadeia Velha,
retirando-se do local diante da ameaça do oficial que comandava a força de
ocupação. O mesmo aconteceu com o Sr. Prudente de Morais, no Senado. Debandada
geral dos membros das duas casas legislativas que combatiam o governo, muitos
dos quais deixaram a cidade. Consta que agentes secretos, espiões, estavam à
espreita dos generais, excluindo-se Cesário Alvim, que apoiou o golpe de
Estado, além dos ex-ministros do governo provisório: Campos Sales, Ruy Barbosa,
Francisco Glicério e Quintino Bocayuva.
Na condição de ministro do
governo que havia presidido a eleição da Constituinte, então senador, Ruy
defendeu da tribuna a gestão da Pasta da Fazenda e renunciou. Censurada, a
imprensa deixou de divulgar os fatos ocorridos. Diante desses acontecimentos e
seus naturais desdobramentos, no dia 22 de novembro realizou-se uma reunião
secreta, na casa do Sr. Adolfo Gordo, da qual participaram todos os membros da
bancada federal, contrários ao golpe. A pretendida “revolução” não aconteceu. O
almirante Custódio de Mello, no dia 23, a bordo do “Aquidaban”, enviou ao
presidente que se colocara fora da lei, um ultimatum em que lhe era concedido o
prazo de 24 horas para renunciar. Sem outra saída e desejando evitar
derramamento de sangue, Deodoro renunciou, após ter-se reunido com os seus
ministros no Palácio do Itamaraty. A partir daquele momento foi substituído
pelo vice-presidente da República o marechal Floriano Peixoto.
Começava mal a República
tão sonhada, recheada de desentendimentos, conflitos e ciladas, que se
perpetuam ao longo desse regime mal implantado e mal conduzido desde 1889.
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