terça-feira, 11 de novembro de 2014

O JORNALISTA

 Junot Silveira – o sergipano baiano*

Junot Silveira

Crônica de Luiz Carlos Facó
Publicada no jornal “A Tarde” e no livro Sergipanos Ilustres na Bahia

Ao longo da minha vida, e já se vão algumas décadas, mantenho um concerto apaixonado pelo jornalismo, cuja partitura não ouso concluir. Fui diretor e redator do jornal A Palavra, editado pelo Centro Acadêmico Rui Barbosa, da Revista Ângulos, fui “foca” e repórter do Diário de Notícias e do Estado da Bahia, redator do Jornal de Salvador e, em algumas oportunidades, colaborei com artigos e poesias na página literária do Jornal A Tarde, quando convocado pelo seu editor, Aristóteles Gomes, de quem guardo as melhores recordações, reverência e profunda saudade.

Meu entusiasmo pelo nobre ofício não se esvaziou no exercício daquelas atividades. Ao contrário, aumentou. Desejava participar. E, para tanto, acompanhava de perto os grandes nomes da imprensa nacional e regional, tais como: David Nasser, Carlos Heitor Cony, Odorico Tavares, Jorge Calmon, Cruz Rios, Geovane Guimarães, Carlos Lacerda Josué de Carvalho, Junot Silveira, Wilson Lins, Walfrido Morais. Era ansioso por conhecê-los, saber da técnica que utilizavam na arte de escrever. Como transformavam uma notícia corriqueira em assunto de repercussão geral, enfim, como conseguiam a fidelidade dos leitores às suas crônicas e reportagens.
Meu desejo não se concretizou por largo tempo. Somente depois desse hiato voltei ao convívio da imprensa. Entretanto, guardo nos desvãos da memoria, onde estão arquivados os parcos conhecimentos que adquiri minhas substantivas emoções, lembranças e imagens de beleza inexcedível, a maior parte do que escreveram e que sempre afagam a minh’alma.
Na província, embora ele tenha sido internacional, acompanhei muito de perto o repórter, cronista e escritor Junot José Silveira, cuja vida alentada e plena de realizações o transformou no místico Junot Silveira.
Em todos esses anos, jamais fui íntimo dele. Ocasionalmente nos encontrávamos em eventos sociais, exposições, congressos. Trocávamos apertos de mãos, abraços e palavras formais. Mas a minha admiração por aquele ícone do jornalismo baiano continuava intata. Só posteriormente, através de um amigo comum, nos aproximamos e firmamos uma amizade sólida. Lamento tão tardiamente, no ocaso de sua vida. Para minorar o tempo perdido, sigo o conselho de Confúcio: “As lamentações devem cessar, uma vez passado o desgosto.”
Diz com propriedade George Sand, pseudônimo de Aurore Lucile Dupin, Baronesa Dudevant, aclamada escritora francesa, jornalista, crítica literária, que “O espírito procura, mas é o coração que encontra.” Esse pensamento se ajusta de maneira perfeita à minha busca. Mas meu espírito sequioso procurou Junot, mas foi o meu coração que o encontrou, e agora será difícil alforriá-lo.
Pela adjetivação deste texto, a alguns poderá parecer que o escriba derramou-se desmesuradamente em elogios ao perfilado por causa da admiração que nutre por ele. Tolo engano. Afirmo que não há excessos. As qualificações aqui inseridas cabem perfeitamente em Junot, graças a sua figura, ao seu porte, quase majestático, ao seu profissionalismo e caráter reto.
Corroborando tudo quanto afirmei, cito o jornalista Mário Cabral, que também não cansa em louvar Junot. É dele este depoimento: “O cronista, toda gente baiana conhece e admira. Em coluna cativa, em um grande jornal da cidade, ele mantém um interesse permanente. Possui o dom de transformar qualquer assunto, mesmo sem graça ou de mera rotina cotidiana, em breve texto de beleza e sentimento. Algumas de suas crônicas dominicais são antológicas.”
Ao iniciar esta página tive como objetivo homenagear a figura do jornalista. O profissional cuidadoso, meticuloso, imaginativo, investigante. Centrando minhas observações, minha vassalagem à figura deles. A escolha recaiu na pessoa de Junot. Feita não de maneira aleatória, mas meticulosamente, porque o concebo como a síntese dos melhores. Encarna a ética, o talento. Vivifica a coragem ao dizer a verdade, mesmo contrariando interesses poderosos.
Assim concebo o bom jornalista. Assim é Junot Silveira.  

*Poucas semanas depois de ter escrito e publicado esta crônica Junot Silveira morreu.

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