Junot Silveira – o
sergipano baiano*
Junot Silveira
Crônica de Luiz Carlos
Facó
Publicada no jornal “A
Tarde” e no livro Sergipanos Ilustres na Bahia
Ao longo da
minha vida, e já se vão algumas décadas, mantenho um concerto apaixonado pelo
jornalismo, cuja partitura não ouso concluir. Fui diretor e redator do jornal A
Palavra, editado pelo Centro Acadêmico Rui Barbosa, da Revista Ângulos, fui “foca”
e repórter do Diário de Notícias e do Estado da Bahia, redator do Jornal de
Salvador e, em algumas oportunidades, colaborei com artigos e poesias na página
literária do Jornal A Tarde, quando convocado pelo seu editor, Aristóteles
Gomes, de quem guardo as melhores recordações, reverência e profunda saudade.
Meu
entusiasmo pelo nobre ofício não se esvaziou no exercício daquelas atividades.
Ao contrário, aumentou. Desejava participar. E, para tanto, acompanhava de
perto os grandes nomes da imprensa nacional e regional, tais como: David
Nasser, Carlos Heitor Cony, Odorico Tavares, Jorge Calmon, Cruz Rios, Geovane
Guimarães, Carlos Lacerda Josué de Carvalho, Junot Silveira, Wilson Lins,
Walfrido Morais. Era ansioso por conhecê-los, saber da técnica que utilizavam na
arte de escrever. Como transformavam uma notícia corriqueira em assunto de
repercussão geral, enfim, como conseguiam a fidelidade dos leitores às suas
crônicas e reportagens.
Meu desejo
não se concretizou por largo tempo. Somente depois desse hiato voltei ao
convívio da imprensa. Entretanto, guardo nos desvãos da memoria, onde estão
arquivados os parcos conhecimentos que adquiri minhas substantivas emoções,
lembranças e imagens de beleza inexcedível, a maior parte do que escreveram e
que sempre afagam a minh’alma.
Na
província, embora ele tenha sido internacional, acompanhei muito de perto o
repórter, cronista e escritor Junot José Silveira, cuja vida alentada e plena
de realizações o transformou no místico Junot Silveira.
Em todos
esses anos, jamais fui íntimo dele. Ocasionalmente nos encontrávamos em eventos
sociais, exposições, congressos. Trocávamos apertos de mãos, abraços e palavras
formais. Mas a minha admiração por aquele ícone do jornalismo baiano continuava
intata. Só posteriormente, através de um amigo comum, nos aproximamos e
firmamos uma amizade sólida. Lamento tão tardiamente, no ocaso de sua vida.
Para minorar o tempo perdido, sigo o conselho de Confúcio: “As lamentações
devem cessar, uma vez passado o desgosto.”
Diz com
propriedade George Sand, pseudônimo de Aurore Lucile Dupin, Baronesa Dudevant,
aclamada escritora francesa, jornalista, crítica literária, que “O espírito
procura, mas é o coração que encontra.” Esse pensamento se ajusta de maneira
perfeita à minha busca. Mas meu espírito sequioso procurou Junot, mas foi o meu
coração que o encontrou, e agora será difícil alforriá-lo.
Pela
adjetivação deste texto, a alguns poderá parecer que o escriba derramou-se
desmesuradamente em elogios ao perfilado por causa da admiração que nutre por
ele. Tolo engano. Afirmo que não há excessos. As qualificações aqui inseridas
cabem perfeitamente em Junot, graças a sua figura, ao seu porte, quase
majestático, ao seu profissionalismo e caráter reto.
Corroborando
tudo quanto afirmei, cito o jornalista Mário Cabral, que também não cansa em
louvar Junot. É dele este depoimento: “O cronista, toda gente baiana conhece e
admira. Em coluna cativa, em um grande jornal da cidade, ele mantém um
interesse permanente. Possui o dom de transformar qualquer assunto, mesmo sem
graça ou de mera rotina cotidiana, em breve texto de beleza e sentimento.
Algumas de suas crônicas dominicais são antológicas.”
Ao iniciar
esta página tive como objetivo homenagear a figura do jornalista. O
profissional cuidadoso, meticuloso, imaginativo, investigante. Centrando minhas
observações, minha vassalagem à figura deles. A escolha recaiu na pessoa de
Junot. Feita não de maneira aleatória, mas meticulosamente, porque o concebo
como a síntese dos melhores. Encarna a ética, o talento. Vivifica a coragem ao
dizer a verdade, mesmo contrariando interesses poderosos.
Assim
concebo o bom jornalista. Assim é Junot Silveira.
*Poucas semanas depois de ter escrito e
publicado esta crônica Junot Silveira morreu.
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