Fernando
Alcoforado*
Em 2015, o
povo brasileiro se defrontará com grave crise econômico-financeira da qual poderão resultar sérias consequências do ponto de vista político e social devido à convergência
de 3 fatores: 1) a devastação na economia brasileira de 1990 a 2014 provocada
pelo modelo neoliberal que contribuiu para o incremento das vulnerabilidades
econômicas internas e externas do Brasil; 2) o aprofundamento da depressão
econômica que está atingindo o sistema capitalista mundial; e, 3) a existência
de um governo fraco como o de Dilma Rousseff que se tornou refém dos detentores
do capital financeiro nacional e internacional.
O modelo
neoliberal aplicado no Brasil provocou uma verdadeira devastação na economia
brasileira de 1990 a 2014 configurada: 1) no crescimento econômico pífio; 2) no
descontrole da inflação nos últimos 4 anos; 3) nos gargalos existentes na infraestrutura
econômica e social; 4) na desindustrialização da economia brasileira; 5) na
explosão da dívida pública interna e externa; 6) na desnacionalização da
economia brasileira;
e, 7) na política de privatizações de empresas estatais. Este é o resultado da aplicação
do modelo econômico neoliberal no Brasil inaugurado pelo presidente
Fernando
Collor em 1990 e mantido pelos presidentes Itamar Franco, Fernando Henrique
Cardoso, Lula e Dilma Rousseff.
O baixo
crescimento econômico do Brasil e a elevação desmesurada da dívida pública federal
durante os governos FHC, Lula e Dilma Rousseff demonstram a inviabilidade do modelo
neoliberal implantado no País. Não apenas FHC deixou um legado econômico comprometedor
do desenvolvimento do Brasil. Lula e Dilma Rousseff são também responsáveis
por esta situação porque não foram capazes de adotar um modelo econômico
que contribuísse com efetividade para o progresso econômico e social do Brasil. Ao
invés de reestruturar a economia brasileira com base em um modelo econômico
nacional desenvolvimentista de abertura seletiva da economia brasileira que
permitiria salvaguardar os interesses do País e de sua população, o governo
Dilma Rousseff
insiste na manutenção do modelo neoliberal que tende a levar o sistema econômico
do Brasil ao colapso ao nomear para sua nova equipe econômica pessoas comprometidas
com o ideário neoliberal.
A
continuidade do modelo neoliberal no Brasil se á desastrosa para o País porque coincidirá
com a tendência à depressão econômica que já se manifesta no sistema capitalista
mundial com a instabilidade financeira e econômica que está surgindo e avançando
nos mercados emergentes como o Brasil, inclusive na China cujo crescimento
está desacelerando em 2014. Dessa forma, o epicentro da crise global, que
ocorreu pela primeira vez em 2008 nos Estados Unidos e mudou para a Europa
entre 2010 e 2013, agora está se concentrando nas economias dos mercados
emergentes, inclusive na China.
A
instabilidade financeira crescente da China é um problema grave para o sistema capitalista
mundial uma vez que a China e a economia mundial começaram a desacelerar
em 2014. A desaceleração da economia chinesa resultou das mudanças internas
de sua economia e do aumento de problemas nas economias da zona do euro e dos
mercados emergentes cuja demanda vem caindo. Além disso, a China está lidando
com um aumento geral de salários e uma taxa de câmbio cada vez mais desfavorável
para sua moeda, o Yuan. Esses dois fatores estão elevando os custos de fabricação
e, por sua vez, tornando suas exportações menos competitivas.
Os custos
cada vez maiores de produção estão causando até um êxodo de corporações multinacionais
globais da China, rumo a economias com custos ainda menores, como Vietnã,
Tailândia e outros locais. A maioria das exportações da China vai para a Europa e para os
mercados emergentes, não apenas para os Estados Unidos e, à medida que as
economias dos mercados emergentes como a do Brasil desaceleram, a demanda por
produtos fabricados pela China e suas exportações diminuem. Por outro lado,
enquanto a própria China desacelera economicamente, ela reduz suas importações
de
commodities,
produtos semiacabados e matérias-primas dos mercados emergentes como o do
Brasil (e também de mercados importantes, como Austrália e Coreia). A desaceleração
da China e da economia mundial será desastrosa para o Brasil com a manutenção
do modelo econômico neoliberal.
Outro
fator agravante para a economia brasileira reside no fato de o fluxo maciço de capital
barato que migrou para os mercados emergentes como o Brasil após 2008 (fugindo
de taxas de juros próximas de zero no centro do sistema) está voltando rapidamente
para os Estados Unidos, Europa, Japão e para o Ocidente. À medida que o capital
deixa os mercados emergentes, suas moedas, como é o caso do Real, entram cada vez
mais em risco de colapso. A partir do final de 2013, em questão de meses, as principais
moedas dos países emergentes se desvalorizaram de 10 a 20%. O cenário de
declínio
das moedas, fuga de capitais e desaceleração das economias emergentes promete
tornar-se uma espiral de degradação perigosa e auto amplificadora para a economia
mundial.
Tudo o que
acaba de ser descrito coincide com a existência de um governo fraco como o de
Dilma Rousseff que, apesar de ter vencido as últimas eleições, não possui a
liderança necessária para realizar as transformações exigidas para o Brasil na
quadra atual, se tornando refém dos detentores do capital financeiro nacional e
internacional. Para evitar a hecatombe que ameaça a economia brasileira, o povo
brasileiro precisa exigir do governo Dilma Rousseff que abandone o modelo
econômico neoliberal sem o que levará inevitavelmente o Brasil à ruína. As
próprias instituições democráticas do País poderão ficar comprometidas se o
caos social resultante da crise levar a uma solução Hobbesiana (a implantação
de uma ditadura para manter a ordem).
Para
evitar o colapso da economia brasileira, o governo federal deveria adotar o
modelo econômico nacional desenvolvimentista de abertura seletiva da economia
brasileira que contemplaria a adoção imediata: 1) da renegociação do pagamento
dos juros da dívida externa e da dívida interna pública do país visando a
redução dos encargos para elevar a poupança pública para investimento; 2) a
adoção do câmbio fixo para proteger a indústria nacional; 3) o controle do
fluxo de entrada e saída de capital; 4) o controle dos investimentos no sistema
de seguridade social; e, 5) a nacionalização dos bancos para garantir a
liquidez aos cidadãos
.
Além
dessas medidas iniciais acima descritas, deveria ser adotada em curto prazo uma política
econômica que priorize: 1) a redução drástica do gasto público de custeio; 2) a redução
acentuada das taxas de juros para incentivar os investimentos nas atividades produtivas;
3) a importação seletiva de matérias-primas e produtos essenciais do exterior
para reduzir os dispêndios em divisas do País; 4) a reintrodução da reserva de mercado em
áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento nacional; 5) a reestatização
de empresas estatais privatizadas consideradas estratégicas para o
desenvolvimento
nacional; e, 6) a adoção de uma política tributária capaz de assegurar os
recursos de que o Estado necessitaria para investir em educação, saúde,
previdência social e
nos setores de infraestrutura, entre outros e onerar o mínimo possível a população
e os setores produtivos.
Percebe-se
pelo exposto, que o projeto nacional desenvolvimentista permitiria fazer com que o
Brasil assumisse os rumos de seu destino, ao contrário do modelo neoliberal em
vigor que faz com que o futuro do País seja ditado pelas forças do mercado
todas elas comprometidas com o capital financeiro nacional e internacional.
* Fernando
Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de
Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora
Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo,
2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944,
2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012), entre outros.
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