Cisjordânia
Belém (em árabe: بيت لحم; transl.: Bayt Laḥm, lit.
"Casa do Pão"; em hebraico: בית לחם; transl.: Beit Lehem, lit.
"Casa do Pão"; em grego clássico: Βηϑλεέμ; transl.: Bethlehém; em latim: Bethlehem) é uma cidade palestina localizada
na parte central da Cisjordânia, com uma
população de cerca de 30 000 pessoas. É a capital da província de Belém, no Estado
da Palestina, e um centro de cultura e turismo no
país. Localiza-se a cerca de 10 quilômetros ao
sul de Jerusalém, a uma
altitude de 765 metros acima
do nível do mar. Belém fica próxima às cidades de Beit Jala e Beit Sahour, assim
como dos campos de refugiados de Aida e Azza.
Belém é, para a maior parte dos cristãos, o local
onde nasceu Jesus de Nazaré. A cidade
é habitada por uma das mais antigas comunidades cristãs do mundo, embora seu
tamanho tenha se reduzido nos últimos anos, devido à emigração.
A cidade
também é a terra natal do rei Davi, e o local
onde ele foi coroado rei de Israel. Foi saqueada pelos samaritanos em 529 d.C., durante
sua revolta, porém foi reconstruída pelo imperador bizantino Justiniano II. Belém foi
conquistada pelo califado árabe de Omar(Umar
ibn al-Khattāb), em 637, que
garantiu a segurança para os santuários religiosos da cidade. Em 1099 os cruzados capturaram
e fortificaram Belém, e trocaram o seu clero, ortodoxo grego, por
outro, latino; estes, no entanto, foram expulsos depois que a
cidade foi capturada por Saladino, sultão do Egito e
da Síria. Com a
chegada dos mamelucos, em 1250, as muralhas da
cidade foram destruídas, sendo reconstruídas apenas durante o domínio do Império Otomano.
Os otomanos perderam
a cidade para os britânicos durante
a Primeira Guerra Mundial, e ela foi
incluída numa zona internacional sob o
Plano de Partilha das Nações
Unidas para a Palestina.
A Jordânia ocupou
a cidade durante a guerra Israel-árabe de 1948, ocupação
esta seguida pela de Israel, durante
a Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Atualmente, Belém é uma cidade estrangulada pelo muro de segurança israelense.
Israel controla as entradas e saídas de Belém, embora a administração cotidiana
esteja sob a supervisão da Autoridade Nacional Palestina desde 1995, após a
realização dos acordos de paz de Oslo.
A população
de Belém é constituída de cristãos e muçulmanos, que têm
coexistido pacificamente durante a maior parte de sua história. Atualmente a
população é majoritariamente muçulmana, mas a
cidade ainda abriga uma das maiores comunidades de cristãos palestinos. O contingente
de cristãos, que correspondia a cerca de 90% do total em 1948, tem
decrescido drasticamente e hoje corresponde a 30%. Esse declínio é atribuído à
falta de perspectivas da economia, dado que muitas famílias de agricultores
cristãos perderam suas terras, para a construção de assentamentos judeus.
Em 1867, um
visitante americano descreve a cidade como tendo uma população de 3.000 a
4,000, dos quais, cerca de 100 eram protestantes, 300
eram muçulmanos e
"os demais pertenciam às Igrejas Latina e Grega, com alguns poucos
armênios". Outro relato do mesmo estima a população cristã em 3.000
pessoas; os muçulmanos seriam apenas 50.
Em 1948, 85% dos
habitantes eram cristãos, a maioria deles pertencente à Igreja Ortodoxa Grega e à Igreja Católica Romana, e 13%
eram muçulmanos sunitas. Em 2005,
a proporção de residentes cristãos caiu dramaticamente - para algo em torno de
40% a 50%. A única mesquita na Cidade Velha é
a Mesquita de Omar. Segundo o censo palestino de 1997, a cidade tinha
uma população de 21.670, sendo 11.079 homens e 10.594 mulheres. Nesse total
estavam incluídos 6.570 refugiados, que
correspondiam a 30.3% da população total.
Em 2007,
dos 25.266 habitantes, 12.753 eram homens e 12,513 eram mulheres. Havia 6.709
domicílios, dos quais 5.211 correspondiam a unidades familiares. A média por
família era de 4,8 membros. As maiores religiões em Belém são o Cristianismo (principalmente
o catolicismo) e o Islamismo, com
alguns poucos grupos de Judeus.
A
principal atividade econômica da cidade é o turismo, que
cresce sobretudo durante o período do Natal, quando
a Igreja da Natividade, supostamente construída sobre o local de
nascimento de Jesus, torna-se um centro de peregrinação cristã.
Também a tumba de Raquel, um
importante local sagrado para o judaísmo,
encontra-se na entrada de Belém. A cidade tem mais de trinta hotéis e 300
lojas de artesanato, que
empregam boa parte dos residentes da cidade. A economia de Belém sempre
esteve ligada à de Jerusalém, que está
a cerca de 10 km de distância. Mas o grande muro de concreto cinza, medindo 30 pés de
altura (cerca de 9 metros)
construído por Israel passa por dentro da província de Belém, e assim, os
habitantes de Belém já não podem mais ir a Jerusalém para trabalhar ou fazer
compras. Sem terras para cultivar, eles estão agora quase totalmente
dependentes do dinheiro gasto pelos peregrinos. Mas estes, desencorajados pelo
Muro, raramente permanecem em Belém, optando por visitas de algumas horas à
Basílica da Natividade e aos Campos dos Pastores, gastando pouco. Fugindo do
desemprego de mais de 50% e privados das liberdades fundamentais, cerca de
3.000 cristãos emigraram nos últimos anos para os EUA e o Chile.
Os
primeiros assentamentos, no local onde está a cidade de Belém, datam 3000 a.C. . Em
todo o território hoje
constituído por Israel e Palestinase
assentaram tribos cananéias, sendo as
principais as dos: jebuseus, hititas e amaritas, que construíram pequenas cidades, cercadas por
muralhas que as protegiam. Uma destas cidades foi Beit Lahama, em
homenagem a Lahm, deus caldeu da
fertilidade, que foi adotado pelos cananeus com o nome de Laham, a
quem construíram um templo, localizado no atual Monte da Natividade,
voltado para os vales férteis da região, depois chamados Campo dos
Pastores.
Em 1350 a.C. um governador egípcio da região menciona a cidade
de Belém, em carta ao faraó Amenófis III, como
importante ponto de repouso para os viajantes. Por ser ponto estratégico,
os filisteus aí
mantinham uma de suas divisões militares, impondo sua hegemonia em 1200 a.C., passando
a se miscigenar com os cananeus. A disputa por terras entre filisteus e
israelitas foram causa de numerosas guerras.
Os gregos
ocuparam a Terra
Santa por mais de um século, até a chegada dos romanos, em 63 a.C. Após
o ano 313, o
imperador Constantino iniciou a construção de várias igrejas, das quais
se destaca a Basílica da Natividade, sobre a gruta
onde Jesus nascera. Belém passou a ser então importante
centro de vida monástica. Em 395, com a divisão
do Império Romano, passou a integrar a parte oriental.
Belém foi
identificada com a antiga Efrata, já citada
na Bíblia (Gn 35,
16; 48, 27; Rt 4, 11), e é chamada de Belém Efrata no Livro de Miquéias (5, 2). Localizada na zona montanhosa
de Judá, a cidade também era designada como Belém
de Judá (Jz 17,7; Mt 2,5; Sam 17,
12), possivelmente para distingui-la de Belém de Zebulom (Js 19,15),
e "a cidade de Davi" (Lc 2, 4).
A cidade é
mencionada pela primeira vez no Tanakh e
na Bíblia como
a cidade mais próxima ao local onde a matriarca abraâmica Raquel teria
morrido, sendo então enterrada "no caminho de Efrata, que é Belém"
(Gen. 48, 7) O Túmulo de Raquel, segundo a
tradição, encontra-se na entrada da cidade. De acordo com o Livro de Rute, o vale a
leste da cidade é onde Rute de Moabe respigou
os campos e retornou à cidade com Naomi. Belém é
também tida tradicionalmente como a terra natal de Davi, o segundo
rei de Israel, e o lugar onde ele foi coroado por Samuel (Sam 16,
4-13), e foi no poço da cidade que três de seus guerreiros pegaram a água
levada a ele, quando teve se esconder na caverna de Adulão. (Sam 23,
13-17) Ocupada, por algum tempo, pelos filisteus, foi
fortificada por Roboão e
repovoada quando da volta do Exílio.
Belém é
mencionada também por ser o local de nascimento de Jesus Cristo (Mt 2, 1-6; Lc 2, 4-15; Jo 7, 42), cumprindo-se, então a profecia messiânica: "E
tu Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum o menor dentre os principais
lugares de Judá. Porque é de ti que há de sair o Chefe, que há de pastorear o
meu povo, Israel" (Mq 5,2).
Dois
relatos do Novo Testamento descrevem Jesus como
tendo nascido em Belém. De acordo com o Evangelho de São Lucas (2, 4), os
pais de Jesus viviam em Nazaré, porém viajaram
para Belém para o censo de 6 d.C., e Jesus
teria nascido ali antes que a família voltasse para Nazaré.
O relato
do Evangelho de São Mateus insinua que a
família já vivia em Belém quando Jesus nasceu, e posteriormente se mudou para
Nazaré (Mat 2, 1-23). Mateus ainda relata que Herodes, o Grande, ao
receber a notícia de que um "Rei dos Judeus" acabara de nascer em
Belém, ordenou que todas as crianças com dois anos ou menos na cidade e nas
redondezas fossem mortas. O pai terreno de Jesus, José, é
alertado sobre isto num sonho, e foge com sua família para o Egito,
retornando apenas depois da morte de Herodes. Ao receber outro aviso, em outro
sonho, no entanto, José foge novamente com sua família, desta vez para a Galiléia, para
viver em Nazaré.
Os
primeiros cristãos interpretaram um dos versos do Livro de Miqueias (Miq
5, 2) como uma profecia do
nascimento do Messias em
Belém. Muitos estudiosos modernos questionam se Jesus teria nascido realmente
em Belém, sugerindo que os diferentes relatos dos Evangelhos teriam
sido inventados para apresentar o seu nascimento como a realização desta
profecia, implicando assim uma ligação com a linhagem do rei Davi. O Evangelho de São Marcos e o Evangelho de São João não incluem relatos sobre o nascimento de
Jesus, ou qualquer indício de que ele tenha nascido em Belém, referindo-se a
ele apenas como sendo de Nazaré. Num artigo escrito em 2005 para
a revista Archaeology,
o arqueólogo israelense Aviram
Oshri indicou a ausência de evidências de habitações na área durante o período
em que Jesus teria nascido.
A antiguidade da tradição do nascimento de Jesus em
Belém é atestada pelo apologista cristão Justino, o Mártir, que declarou em seu Diálogo com Trifão (circa 155-161) que a Sagrada Família teria
se refugiado numa caverna nos arredores da cidade. Orígenes de Alexandria, escrevendo por volta do ano 247, referiu-se a uma caverna na cidade de Belém, que
os habitantes locais acreditavam ser o local de nascimento de Jesus. Esta
caverna poderia ser uma que foi anteriormente local destinado ao culto de Tammuz.
Entre 132 e 135 a cidade foi
ocupada pelos romanos, após ser
capturada durante a Revolta de Bar Kokhba; seus habitantes judeus foram
expulsos por ordens do imperador Adriano. Ainda
durante o domínio romano da cidade, foi construído um templo ao deus grego Adônis, no local
onde teria ocorrido a Natividade. Uma igreja foi
construída no local em 326,
quando Helena, mãe do primeiro imperador bizantino, Constantino, visitou Belém.
Durante a
revolta samaritana de 529, Belém foi
saqueada, e suas muralhas, assim como a Basílica da Natividade, foram destruídas,
sendo reconstruídas por ordem do imperador Justiniano. Em 614 o Império Sassânida invadiu a Palestina e
capturou a cidade. Uma história ocorrida na época, descrita por fontes
posteriores, afirma que os invasores se abstiveram de destruir a igreja ao ver
os Reis Magos pintados
com vestimentas persas num
dos mosaicos.
A Mesquita de Omar, única mesquita da cidade,
foi construída em1860, para celebrar a visita do califa Omar a Belém, após sua captura pelos muçulmanos.
Em 637, pouco tempo
depois da captura de Jerusalém pelos exércitos islâmicos, Omar ('Umar
ibn al-Khattāb), o segundo califa, visitou
Belém e prometeu que a Basílica da Natividade seria preservada para o uso dos cristãos.5 Uma mesquita dedicada
a Omar foi construída sobre o local da cidade onde ele orou, nas proximidades
da igreja. Belém passou então para o controle dos califados islâmicos
dos Omíadas, no século VIII, e dos Abássidas, no século IX. Um geógrafo persa registrou,
no meio deste século, que uma igreja muito bem preservada e extremamente
venerada existia na cidade. Em 985 o
geógrafo árabe Al-Muqaddasi visitou
a cidade, e referiu-se à sua igreja como "Basílica de Constantino, à qual
não existe igual em qualquer outro lugar do país." Em 1009, durante o
reinado do sexto califa fatímida, Al-Hakim bi-Amr Allah, a Basílica da Natividade foi demolida,
sob suas ordens; sua reconstrução foi autorizada por seu sucessor, Ali az-Zahir, como
forma de consertar as relações entre os fatímidas e o Império Bizantino
Em 1099
Belém foi capturada pelos cruzados, que a
fortificaram e construíram um novo mosteiro e
um claustro no
lado norte da Basílica da Natividade. O clero ortodoxo
grego foi
removido de suas sedes, e substituído por clérigos latinos; até
aquele ponto a presença oficial cristã na região era ortodoxa grega. No dia
de Natal de 1100, Balduíno I, primeiro rei do reino franco de Jerusalém, foi
coroado em Belém, e naquele ano um bispado latino
também foi estabelecido na cidade.
Em 1187, Saladino, sultão do Egito e
da Síria, liderou
os aiúbidas que capturaram Belém dos cruzados. Os
clérigos latinos foram obrigados a fugir, o que permitiu o retorno do clero
ortodoxo grego. Saladino concordou com o retorno de dois padres latinos e
dois diáconos, em 1182; a cidade,
no entanto, sofreu com a perda do comércio gerado pelos peregrinos, com o
declínio de visitantes europeus.
Guilherme IV, Conde de Nevers, havia
prometido aos bispos cristãos
de Belém que, se a cidade caísse sob o controle islâmico, ele os receberia na
pequena cidade de Clamecy, na região
de Borgonha, França. O bispo
de Belém foi então instalado no Hospital de Panthenor, na cidade,
em 1223. Clamecy permaneceu
como a sede in partibus infidelium do bispado de
Belém por quase 600 anos, até a Revolução Francesa, em 1789.
Belém -
juntamente com Jerusalém, Nazaré e Sídon - foi
cedida brevemente ao reino cruzado de
Jerusalém, através de um tratado entre o sacro imperador romano-germânico Frederico II e
o sultão aiúbida Al-Kamil, em 1229, em troca
de uma trégua de dez anos entre os aiúbidas e os cruzados. O tratado expirou
em 1239, e Belém
foi recapturada pelos muçulmanos em 1244.
Em 1250, com a
ascensão dos mamelucos ao
poder, sob Rukn al-Din Baibars, a tolerância ao cristianismo diminuiu; os
clérigos abandonaram a cidade, e, em 1263, as
muralhas da cidade foram demolidas. O clero latino retornou a Belém no século
seguinte e se estabeleceu no mosteiro ao
lado da Basílica da Nativide. Os ortodoxos gregos receberam
o controle da basílica, e partilharam o controle da 'Gruta do Leite' com os
latinos e os armênios.
A UNESCO inscreveu Local do nascimento de Jesus: a
Igreja da Natividade e a Rota de Peregrinação, Belém como Patrimônio Mundial por "ser um local identificado
com a tradição Cristã como o local de nascimento de Jesus Cristo, desde o
Século II... O local ainda inclui conventos e igrejas Latinas, Gregas
Ortodoxas, Franciscanas e Armênias"
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