terça-feira, 23 de dezembro de 2014

COLEÇÃO DE ARTE ASIÁTICA DO DIPLOMATA BRASILEIRO FAUSTO GODOY

 Rica e eclética, a maior da América Latina, foi doada ao MASP - São Paulo

MASP vai abrigar a maior coleção de arte asiática do hemisfério sul

O Museu de Arte de São Paulo (Masp), conhecido por seu bilionário acervo de grandes mestres europeus (Rafael, Goya, Velázquez, Cézanne, Van Gogh, Picasso), está prestes a ganhar a mais valiosa coleção asiática do Brasil. Nesta quinta-feira, o diplomata Fausto Godoy assina com a direção do museu um contrato para a cessão de sua coleção, iniciada um ano após ser convidado a assumir um posto na embaixada do Brasil em Nova Délhi, em 1983. Desde então, Godoy ocupou cargos oficiais nas embaixadas de Nova Délhi, Pequim, Tóquio e Islamabad, além de ter cumprido missões transitórias no Vietnã e em Taiwan. Todo esse percurso ajudou a construir esse acervo de valor inestimável que deverá ser instalado, a partir de 2012, no espaço hoje ocupado pelo restaurante Degas, no subsolo do museu.




Sem exagero, trata-se de uma coleção que vai colocar o Masp no patamar do Metropolitan de Nova York. O museu integra desde 2008 o “Clube dos 19″, que congrega os 19 museus com os melhores acervos da arte europeia do século 19, como o Museu D’Orsay, o Instituto de Arte de Chicago e o próprio Metropolitan. De imediato, Godoy entrega em comodato por 50 anos quase 2 mil peças que resumem séculos de história das civilizações asiáticas. Seu empenho, diz o diplomata, é “criar massa crítica no Brasil para o continente que se afigura como o mais importante do século 21″. Assim, não se trata apenas de doar uma coleção construída nas últimas três décadas, mas de estabelecer o marco zero de um futuro centro de estudos asiáticos. Aos 65 anos, Godoy diz ter canalizado para o continente asiático sua carreira na diplomacia por estar convencido do papel que países como a China, a Índia e o Japão iriam representar no século 21. “Mais da metade da população vive ali”, lembra o diplomata, concluindo: “É fundamental nossa interação com esses países, cujo papel é decisivo na formatação do mundo globalizado”.

Até manga no acervo

O Masp aceitou a condição imposta por Godoy para o comodato com testamento anexado: a de ter um curador permanente para a coleção, ponto de partida para um objetivo maior, o de ensinar aos brasileiros como o antigo convive com o contemporâneo nessas culturas, que não enxergam a arte compartimentada como no Ocidente. Essas 2 mil peças da coleção de Godoy integram um catálogo abrangente das civilizações asiáticas que abarca desde um Narasimha, quarto avatar do deus Vishnu – primeiro objeto adquirido pelo diplomata num antiquário de Nova Délhi, em 1984 – até mangás japoneses, passando por gravuras Ukiyo-e do século 19, peças de mobiliário, objetos de porcelana chinesa e até um Buda do século 6.º em tamanho natural.

Ukiyo-e do acervo do Museu de Boston

Curador-chefe do Masp, o professor e crítico Teixeira Coelho mostra-se entusiasmado com a perspectiva de ampliação do museu que, no próximo ano, ganha um prédio exclusivo para a administração, ao lado de sua sede na Avenida Paulista. Para lá será transferido o restaurante e toda a parte burocrática do Masp. Antes, ainda sem data marcada, será realizada uma exposição com peças selecionadas do acervo cedido em comodato ao museu. Como Godoy é o maior conhecedor de sua coleção, ele será o curador da mostra. “Só colecionei obras de temas que conhecesse e não há uma só peça comprada por impulso apenas”, diz o diplomata. “Com essa coleção, o museu ganha não só um acervo que o coloca ao lado do Metropolitan”, diz Teixeira Coelho. “É quase como uma refundação do Masp”, resume.
O diplomata diz que optou pelo Masp para doar sua coleção considerando o compromisso do museu com a educação. “Pensei em doar para uma universidade, mas as peças iriam morrer em salas que só acadêmicos veriam.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Por Antonio Gonçalves Filho, jornalista e crítico de arte.

FAUSTO GODOY

Em 1968, o diplomata Fausto Godoy, 65 anos, saiu de Bauru para o mundo. Primeiro, fez doutorado em direito internacional público em Paris. Depois, já na carreira diplomática, que começou em 1976, serviu nas embaixadas de Bruxelas, Buenos Aires, Nova Déli,  Washington, Pequim, Tóquio, Islamabade (onde foi Embaixador do Brasil, em 2004). Também cumpriu missões transitórias no Vietnã e Taiwan.
Viveu 15 anos na Ásia, para onde orientou sua carreira por considerar que o continente seria o mais importante do século 21 – previsão que, agora, vê cada vez mais perto da realidade.
Foi na cidade natal que pensou quando decidiu ceder sua coleção de duas mil peças de arte asiática, formada a partir da década de 1980, período em que assumiu posto na embaixada brasileira em Nova Déli.
O diplomata conta que planejou doar a coleção para a USC (Universidade do Sagrado Coração). Chegou a conversar com a direção da universidade, mas depois decidiu ceder para o Masp (Museu de Arte de São Paulo).
“Sou membro do Conselho Curatorial do museu e acredito que, pela importância museológica do Masp, a coleção terá maior visibilidade para o Brasil, que é o que almejo”, diz. “Temos o dever de chamar a atenção da população brasileira para aquele continente, ainda tão longe dos nossos radares.”
É no continente asiático, lembra Fausto, que estão três das maiores economias do mundo: China, Japão e Índia.
A doação da coleção, definida por especialistas como a mais valiosa de arte asiática no Brasil, foi formalizada há uma semana, com a presença de diretores, conselheiros e coordenadores do Masp, além do diplomata e família.
“Acredito que a coleção vai abrir uma nova vertente no Masp, que se torna mais cosmopolita e menos eurocêntrico, acompanhando a mudança do paradigma geoeconomico-político internacional”, afirma Fausto.
A doação, feita a partir de um contrato de comodato, obedece condições apresentadas pelo bauruense: haverá um curador permanente e há o objetivo de ensinar ao público como o antigo convive com o contemporâneo nas culturas orientais.
É o início de um centro de estudos asiáticos.

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