quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

E SE PAPAI NOEL VIER?

Colaboração de ÂNGELA BORGES
É imortal pela Academia Quixadaense de Letras – Ceará


A noite enluarada e estrelada contrastava com a singeleza de uma humilde casinha de taipa que se encontrava completamente escura, se não fosse a tênue luz uma pequena lamparina.
Debruçada sobre um amarrotado pedaço de papel, uma pequena criança rabiscava, cheia de esperanças, uma cartinha para Papai Noel. Em sua inocência ela acreditava que, dessa vez, sua carta chegaria às mãos do bom velhinho e que seus pedidos seriam atendidos plenamente.
" Querido Papai Noel. Resolvi escrever, com bastante antecedência, para dar tempo o Senhor receber minha cartinha. Já escrevi várias vezes, mas não obtive resposta. Acredito que você tenha até tentado localizar minha casa, mas ela é tão pequenina e escondida num pedacinho seco do sertão do Nordeste, talvez por isso não a tenha encontrado.
Queria pedir um pequeno presente para mim e meus irmãos, pois nunca tivemos oportunidade de receber nenhum. Não desejo objetos valiosos, pois entendo que você tem muitas crianças para atender. Apenas gostaria de ver minha família feliz, tendo pão e água para sobreviver, sem precisar mendigar sob esse sol escaldante que queima a pele e abre feridas profundas na alma.
Lembre-se, Papai Noel, das inúmeras crianças, que nunca souberam o que é Natal e que ficam sempre a espera que seja colocado em seus chinelinhos postos na janela um punhado de esperança em dias melhores, e, quem sabe, assim amenizar a dor e o sofrimento estampado na face de nossos pais quando os indagamos sobre a sua vinda.
Como sou criança, desnecessário se torna dizer que não sonho com brinquedos bonitos, desses que só vejo em sonhos, pois entendo que mais importante que bens materiais é a felicidade de ter um lar e uma família que me ama, apesar das dificuldades que enfrentamos.
Queria pedir, de presente de natal, que o senhor fizesse renascer os rios que secaram por falta de chuva. Brotar o amor nos corações endurecidos pela ambição e que todos nós pudéssemos ter esperança em um mundo melhor, onde não existisse o ódio, o preconceito e a desigualdade social.
No dia em que se comemora o nascimento de Jesus, colocarei meus chinelinhos na janela, onde deixei durante esses anos todos, na esperança que, dessa vez, você os encontrará."
Enquanto a criança terminava sua cartinha, seus pais, já recolhidos ao leito, choravam a triste sina que carregavam, e com o coração partido, pensavam em mais um Natal que se aproximava, sem que pudessem oferecer aos filhos sequer uma digna refeição. Presentes era coisa que não podiam nem pensar, devido à situação de miséria em que se encontravam.
De repente, um anjo de luz soprou em seus ouvidos, fazendo renascer a esperança em seus corações: “E se Papai Noel vier?

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