Colaboração de ÂNGELA BORGES
É imortal pela Academia Quixadaense de
Letras – Ceará
A
noite enluarada e estrelada contrastava com a singeleza de uma humilde casinha
de taipa que se encontrava completamente escura, se não fosse a tênue luz uma
pequena lamparina.
Debruçada
sobre um amarrotado pedaço de papel, uma pequena criança rabiscava, cheia de
esperanças, uma cartinha para Papai Noel. Em sua inocência ela acreditava que,
dessa vez, sua carta chegaria às mãos do bom velhinho e que seus pedidos seriam
atendidos plenamente.
"
Querido Papai Noel. Resolvi escrever, com bastante antecedência, para dar tempo
o Senhor receber minha cartinha. Já escrevi várias vezes, mas não obtive
resposta. Acredito que você tenha até tentado localizar minha casa, mas ela é
tão pequenina e escondida num pedacinho seco do sertão do Nordeste, talvez por
isso não a tenha encontrado.
Queria
pedir um pequeno presente para mim e meus irmãos, pois nunca tivemos
oportunidade de receber nenhum. Não desejo objetos valiosos, pois entendo que
você tem muitas crianças para atender. Apenas gostaria de ver minha família
feliz, tendo pão e água para sobreviver, sem precisar mendigar sob esse sol
escaldante que queima a pele e abre feridas profundas na alma.
Lembre-se,
Papai Noel, das inúmeras crianças, que nunca souberam o que é Natal e que ficam
sempre a espera que seja colocado em seus chinelinhos postos na janela um
punhado de esperança em dias melhores, e, quem sabe, assim amenizar a dor e o
sofrimento estampado na face de nossos pais quando os indagamos sobre a sua
vinda.
Como
sou criança, desnecessário se torna dizer que não sonho com brinquedos bonitos,
desses que só vejo em sonhos, pois entendo que mais importante que bens
materiais é a felicidade de ter um lar e uma família que me ama, apesar das
dificuldades que enfrentamos.
Queria
pedir, de presente de natal, que o senhor fizesse renascer os rios que secaram
por falta de chuva. Brotar o amor nos corações endurecidos pela ambição e que
todos nós pudéssemos ter esperança em um mundo melhor, onde não existisse o
ódio, o preconceito e a desigualdade social.
No
dia em que se comemora o nascimento de Jesus, colocarei meus chinelinhos na
janela, onde deixei durante esses anos todos, na esperança que, dessa vez, você
os encontrará."
Enquanto
a criança terminava sua cartinha, seus pais, já recolhidos ao leito, choravam a
triste sina que carregavam, e com o coração partido, pensavam em mais um Natal
que se aproximava, sem que pudessem oferecer aos filhos sequer uma digna refeição.
Presentes era coisa que não podiam nem pensar, devido à situação de miséria em
que se encontravam.
De
repente, um anjo de luz soprou em seus ouvidos, fazendo renascer a esperança em
seus corações: “E se Papai Noel vier?
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