Por
André Pomponet
O espetáculo começa depois das 16 horas, quando o sol, ainda no alto,
vai declinando lentamente. É quando as cores do céu vão se transformando: ali
por onde o astro dourado mergulha, ao sul da Ilha de Itaparica, a amplidão
ganha uma coloração avermelhada que, aos poucos, se esbraseia, assumindo uma
tonalidade de cobre fervente. No lado oposto, sobre os sons urbanos da Cidade
Alta, os raios solares que minguam tornam o céu azul esverdeado, alegre,
festivo como as férias que se anunciam.
Mas essa beleza fugidia apenas secunda o verdadeiro espetáculo que, a
essas alturas, se aprofunda no poente: o sol, incandescente globo de cobre,
lança uma trilha luminosa, fugaz, sobre as águas indóceis da Baía de Todos os
Santos, emprestando tons avermelhados aos banhistas renitentes e aos
mergulhadores do Forte de Santo Antônio.
Lá no Farol da Barra aglomeram-se dezenas de expectadores, baianos e
turistas, eletrizados com o espetáculo ímpar que, graciosamente, se renova na
tarde seguinte. Os comentários extasiados dos turistas se sobrepõem à trilha
sonora do mar que espumeja, incansável, nas milenares rochas esverdeadas da
entrada da baía.
Por fim, o espetáculo grandioso finda: o sol mergulha no horizonte,
aonde o expectador ainda distingue os contornos esverdeados de Itaparica. Mais
além da ilha, no Recôncavo longínquo, o continente torna-se uma condensação
azulada indistinguível. É nesse instante que o jato sanguíneo irradiado pelo
poente espalha-se pelo céu, estendendo-se das águas ao sul do Atlântico ao
norte próximo, no fundo das correntes mansas da Baía de Todos os Santos.
Generosa, a natureza ainda reserva o derradeiro espetáculo: no intervalo
em que o dia perde forças, exangue, com o pôr-do-sol, e a noite álacre de verão
ainda não se espraiou, o mar assume uma magistral fosforescência
azul-esverdeada, como se pretendesse iluminar com sua milagrosa luz efêmera a
baía silenciosa que acolhe a escuridão inevitável.
Poucos lugares no mundo oferecem, de graça e ao longo de um prolongado
verão, o entardecer que diariamente se renova na Baía de Todos os Santos, entre
meados de outubro e os primeiros dias de março. Daí deriva o empolgado
interesse de milhares de turistas que por aqui aportam, sequiosos pelo
espetáculo inesquecível.
As sofisticadas câmeras digitais, as máquinas fotográficas de última
geração, todas as palavras que a parafernália de aparelhos eletrônicos
dissemina e, mesmo as mais seletas interjeições de admiração, são pálidas
tentativas de traduzir o espetáculo radiante que, dia a dia, encena-se sobre o
casario antigo de Salvador e sobre as águas mansas da Baía.
Traduzi-lo é tarefa hercúlea, desafio para os mais tarimbados artífices
da palavra. No entanto, por mais que o escrevinhador demonstre empenho
diligente e talento robusto, o desafio mostra-se, logo, insuperável:
extraem-se, no máximo, pálidas palavras, incapazes de refletir o espetáculo
multicor que orna a Baía de Todos os Santos.
Afinal, é Verão na Bahia!
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