Colaboração de Fernando Alcoforado*
No artigo, publicado no website
<http://outraspalavras.net/posts/economia-global-rumoa-grande-tempestade/>,
sob o título Economia global: rumo à grande tempestade? De autoria de
Jack Rasmus, Ph.D., professor de Economia Política do St. Mary’s College in Moraga,
Califórnia e de Economia do Trabalho e da História Econômica dos Estados Unidos
na Universidade da Califórnia, em Berkeley, seu autor identifica três fases da crise
econômica global: A primeira fase da crise econômica global teve como centro a economia
dos Estados Unidos de 2007 a 2010. A segunda fase da crise econômica global
ficou centrada na Europa, acompanhando o forte declínio norte-americano em 2008-09
além de enfrentarem uma segunda recessão em 2011-12. A terceira fase da crise
econômica global teve início em 2014 com a instabilidade financeira e econômica
que está surgindo e avançando nos mercados emergentes como o Brasil, inclusive
na China cujo crescimento está desacelerando. Dessa forma, o epicentro da crise
global, que ocorreu pela primeira vez em 2008 nos Estados Unidos e mudou para a
Europa entre 2010 e 2013, agora está se concentrando nas economias dos mercados
emergentes, inclusive na China.
Segundo Jack Rasmus, antes da crise financeira global e da
recessão de 2008, a economia da China estava crescendo a uma taxa anual de 14%. Hoje,
a taxa é de 7,5%, com uma forte possibilidade de uma taxa ainda menor de crescimento
em 2014. Desde 2012, a China enfrenta um problema cada vez maior com bancos
paralelos globais que desestabilizam o mercado imobiliário e o mercado de dívida pública
local. No lado financeiro, a dívida total (pública e privada) na China subiu de
130% do PIB em 2008 para 230% do PIB, com a participação dos bancos paralelos globais
subindo de 25% em
2008 para 90% do total em 2013. Assim, a participação dos bancos
paralelos globais na dívida total quase quadruplicou e representa praticamente todo o
aumento da relação entre dívida total pública e privada e o PIB, desde 2008. Como
resultado, os bancos paralelos globais são a força motriz por trás do problema
crescente da dívida e da fragilidade financeira chinesa.
Grande parte do aumento da dívida chinesa foi direcionada para uma
bolha imobiliária, acompanhada de uma bolha de dívida pública local, uma vez
que os governos locais levaram ao limite os projetos imobiliários, novos
empréstimos empresariais e projetos de infraestrutura. O aumento da dívida do
setor privado está se aproximando de proporções críticas na China. Um evento
importante de instabilidade global pode facilmente surgir, caso ocorra uma
inadimplência de um banco ou produto financeiro.
De certa maneira, a situação atual da China parece, segundo Jack
Rasmus, cada vez mais com os mercados imobiliário e de dívida pública local e
estadual americana de 2006. Em outras palavras, a China pode estar se aproximando de seu
momento Lehman Brothers.
Jack Rasmus afirma que a instabilidade financeira crescente dos
mercados locais da China é um possível problema grave, também para a economia global,
uma vez que a China e a economia mundial começaram a desacelerar em 2014. No
início de 2014, a bolha imobiliária pareceu ganhar força novamente, enquanto a
economia real chinesa mostrou sinais de desaceleração. Outros fatores que colaboram
ainda mais com a desaceleração da economia chinesa em 2014 é o setor industrial,
fonte importante de seu crescimento econômico, especificamente a indústria de
exportação, que está
desacelerando. As causas da desaceleração da economia chinesa são
as mudanças internas de sua economia e o aumento de problemas nas economias
da zona do euro e dos mercados emergentes cuja demanda vem caindo. Além disso,
a China está lidando com um aumento geral de salários e uma taxa de câmbio cada
vez mais desfavorável para sua moeda, o Yuan. Esses dois fatores estão
elevando os custos de fabricação e, por sua vez, tornando suas exportações menos
competitivas. Os custos
cada vez maiores de produção estão causando até um êxodo de corporações multinacionais globais da China, rumo a economias com custos ainda
menores, como Vietnã, Tailândia e outros locais.
A maioria das exportações da China vai para a Europa e para os
mercados emergentes, não apenas para os Estados Unidos. E à medida que as economias dos
mercados emergentes desaceleram, a demanda por produtos fabricados pela
China e as exportações diminuem. Por outro lado, enquanto a própria China
desacelera economicamente, ela reduz suas importações de commodities,
produtos semiacabados e matérias-primas dos mercados emergentes (e também de
mercados importantes, como Austrália e Coreia). Agora, o fluxo maciço de capital barato que
migrou para os mercados emergentes como o Brasil após 2008 (fugindo de taxas de
juros próximas de zero no centro do sistema) está voltando rapidamente para os
Estados Unidos, Europa, Japão e para o Ocidente. À medida que o capital deixa os mercados
emergentes, suas moedas entram cada vez mais em risco de colapso. A partir do final
de 2013, em questão de meses, as principais moedas dos países emergentes se
desvalorizaram de 10 a 20%. O cenário de declínio das moedas, fuga de capitais
e desaceleração das economias emergentes promete tornar-se uma espiral de degradação
perigosa e auto amplificadora para a economia mundial.
Jack Rasmus sintetiza, no seu artigo Economia global: rumo à
grande tempestade?, afirmando haver três tendências econômicas globais significativas
que começaram a se intensificar e a convergir nos últimos meses: (1) uma
desaceleração da economia da China junto com uma instabilidade financeira crescente em seu
sistema bancário paralelo [shadow banking system]; (2) um colapso das moedas
dos mercados emergentes (Índia, Brasil, Turquia, África do Sul, Indonésia etc.)
e suas respectivas
desacelerações econômicas; (3) um desvio contínuo rumo à deflação
nas economias da zona do euro, liderado pelo aumento de problemas na Itália e pela
estagnação econômica que atinge até a França, a segunda maior economia da
zona do euro.
Este quadro descrito aponta no sentido de que, em 2015, a
humanidade continuará a se defrontar com a gigantesca ameaça representada pelo
colapso da economia mundial se nada for feito para reestruturar o sistema
capitalista mundial. Quando está sujeito a “flutuações”, como ocorreu após a
crise que eclodiu em 2008 nos Estados Unidos, um sistema dinâmico como o
sistema capitalista mundial o leva inexoravelmente a um ponto de bifurcação a
partir do qual o sistema deve se reestruturar em busca de uma nova estabilidade
dinâmica ou entra em colapso. Em outras palavras, no ponto de bifurcação, o
sistema tem que ser reestruturado ou entrará em colapso. Esta é a situação vivida
pela economia mundial e a de muitos países, inclusive a do Brasil, que, após a crise
mundial eclodida em 2008, não houve reestruturação do sistema econômico mundial
e dos sistemas econômicos nacionais.
Immanuel Wallerstein, sociólogo e professor universitário
norte-americano, afirma em seu artigo Crise dos “emergentes” ou do Sistema?, publicado
no website <http://outraspalavras.net/posts/wallerstein-crise-dos-emergentes-ou-do-sistema/>,
que “poucos parecem admitir que a demanda efetiva global fosse o verdadeiro
problema.
Mas é nítido que, abaixo da superfície, já o detectaram. É por
isso que estão em pânico, porque, então toda sua ênfase no “crescimento” – uma
fé crucial – estará minada. Neste caso, a crise deixa de ser cíclica e torna-se
estrutural: não pode ser resolvida com paliativos, mas com a invenção de um
novo sistema. Esta é a famosa bifurcação, em que há duas saídas possíveis – uma
melhor e outra pior que o sistema existente. Um jogo em que todos nós estaremos
envolvidos”.
Ao invés da adoção de estratégias coordenadas nacionais e globais
objetivando a superação da crise econômica global com a reestruturação do
sistema capitalista mundial e de cada país, tudo foi feito para manter a falida
estrutura econômica e as políticas ultrapassadas que levaram à eclosão da crise de 2008. O
modelo neoliberal que regeu o mundo nos últimos 40 anos morreu e haverá
depressão que terá a duração de muitos anos. Diante da existência do caos que
domina a economia mundial, é chegada a hora de cada país e a humanidade se
dotarem o mais urgentemente possível de instrumentos necessários para terem o
controle de seu destino. Para ter o controle de seu destino, a humanidade
precisa exercer a governabilidade de seus sistemas econômicos e da economia
mundial. Este é o único meio de sobrevivência da espécie humana.
* Fernando Alcoforado, 74, membro da
Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e
Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário
e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros
Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a
Nova (Des) ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o
Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento
do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944,
2003), Globalização e desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea
(EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development-
The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária
(P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o
progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica,
Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento
Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário