quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

FILOSOFIA: PLATÃO E ARISTÓTELES

 Se Platão é sublime sonhador, Aristóteles é genial homem de ciência; se Platão é o pai da ideologia do espírito humano, Aristóteles é a poderosa mentalidade criadora da lógica e organizadora da ciência.

Por Luiz Carlos Facó


Quando estudante, alcancei como exigência curricular o estudo da Filosofia. Com o passar do tempo, depois das muitas reformas pelas quais passou o ensino brasileiro, aquela obrigatoriedade foi extinta levando os estudantes a uma ignorância total sobre essa ciência, tão essencial ao conhecimento humano.
No entanto, desde algum tempo, programas de televisão, sacudidos pela imperiosa necessidade da compreensão de todos sobre o ideário filosófico, têm, com muita lucidez, retomado de forma auspiciosa e brilhante, o assunto. Isso, sem dúvida, traduz a esperança de que se revejam os postulados em que se baseou a insensatez daquela estapafúrdia decisão, corrigindo os malefícios que ela trouxe à comunidade estudantil e à população.
Aproveito o efeito dessa onda, bolsa ou o que seja, senão modismo, benfazeja, e a reboque dela, cuido em falar das discrepâncias e dos pontos de comunhão entre Platão e Aristóteles.
A Grécia, de outrora, escreveu páginas fantásticas, antológicas em todos os campos do conhecimento humano. Principalmente do das Artes e Filosofia. Já Roma firmou-se como mestra da Força e do Direito.
Fídias ou Praxisteles, Platão ou Aristóteles, Cesar ou Augusto, Ulpiano ou Papiano são os expoentes maiores dessa cultura exponencial, incandescente, que entremostrava, naqueles dois torrões, berços de toda civilização ocidental.
Platão, genial pensador, idealista profundo, deu-nos como testemunho da sua grandeza a República, um acervo de ideologias medievais ou modernas. A teologia e metafísica, psicologia e ética, ciência e pedagogia, política e artes convivem nela, constituindo-se numa g=fonte permanente de inspiração. Nessa obra foram buscar conhecimentos e saber Rousseau e Nietzsche, Bérgson e Freud (Will Durant, História da Filosofia, p.39).
“assim é que nela se encontra a correlação entra a prole e os meios de subsistência”, assunto que foi palco da Malthus no Ensaio sobre a População; a utopia socialista, que Campanella urdiu na Cidade do Sol; a comunidade das mulheres, que Thomas More vaticina na Utopia; o exercício do poder circunvagado por Auguste Conte na Política Positiva; a educação libertária considerada no Emílio por Jaques Rousseau; as ideias propiciadoras do bem coletivo, da filantropia, sobremodo pacifistas, esgotadas em Guerra e Paz de Leon Tolstoi, enfim todas as doutrinas que têm favorecido ou infelicitado o homem encontram suas fundações, pilares indestrutíveis, em Platão.
Émerson, considera-o a própria Filosofia. Emílio Pague dele diz: “o mais prodigioso dos pensadores, porque reuniu a sagacidade psicológica, o valor dialético o poder da abstração a uma grande imaginação criadora.”
Platão, dizem-nos os historiadores, belo e atleta, arquitetou e conseguiu ungir a aliança da filosofia e da beleza durante a sua vida octogenária. Teve a própria morte tranquila e calma. Uma passagem serena para o mundo desconhecido (Will Durant, op. Cit. p. 74). Platão colocou em prática o governo da sabedoria. Assim é que assistiu ao déspota de Siracusa, tentativa desastrada que dois mil anos depois Voltaire repetiu com Frederico da Prússia.
Em oposição ou em campo adverso, como um time de futebol enfrentando oponente muito vigoroso e competente no controlar a bola e na tática do jogo, surgiu Aristóteles, antigo discípulo do primeiro, apartado do mestre com a célebre divisa: Amicus Platô, magis amica veritas. O fomentador do Liceu escarneceu o mestre da Academia, enquanto Platão, aluno de Sócrates, perpetuou-lhe a obra em cintilantes e magníficas páginas que hão atravessado eras.
A República opôs Aristóteles. A política em que se troca o princípio da liberdade pela autoridade, a independência de cada um pelo autoritarismo ou soberania estatal. Ao subjetivismo, à plástica e ao liberalismo de Platão, contrapõem-se o objetivismo, a autoridade e o realismo de Aristóteles. É que Platão viveu numa época de puro helenismo, enquanto Aristóteles escreveu na Grécia dominada por Felipe da Macedônia. Era em que o canto sonoro da liberdade fora trocado pelo rufar dos tambores dos conquistadores, pelas armas empunhas condições externas que, associadas às diferenças de temperamento individual daqueles dois aureolados, produziram o maior idealista e o maior realista no campo da Filosofia.
À comunidade das mulheres de Platão, o Philosophus certificou ou estabeleceu a sociedade conjugal com quase duas dezenas de anos de diferença de idade entre os nubentes, observando o poder procriador dos sexos. Se Platão é sublime sonhador, Aristóteles é genial homem de ciência; se Platão é o pai da ideologia do espírito humano, Aristóteles é a poderosa mentalidade criadora da lógica e organizadora da ciência. Já se disse que a Física e a Metafísica de Aristóteles se fizeram orientadoras do desenvolvimento intelectual do mundo civilizado. Uma cristalina verdade, que não se pode desvirtuar ou esconder, sequer tergiversar, dês que inexistem para tal argumentação sólidas razões para não endossá-la, como princípio exato.
Nas obras desses assombrosos Titãs da antiga Grécia, se alicerçam a ciência e a filosofia antigas ou modernas, sendo Platão representante incondicional da beleza helênica a Aristóteles, o grande mestre da sabedoria grega.

Nenhum comentário:

Postar um comentário