quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

FOLCLORE, INVENÇÃO E COMUNICAÇÃO

Livro

Os provérbios populares como reforços de conclusões literárias

Luiz Antonio Barreto – Imortal pela Academia Sergipana de Letras

Texto do imortal sergipano Luiz Antônio Barreto

... Grandes autores da literatura, com William Shakespeare (1564-1616), valeram-se dos provérbios como reforço de suas conclusões literárias, moralizantes ou de questionamentos. Gonçalo Fernandes Trancoso (provavelmente entre 1515 a 1520 – antes de 1596, autor do Clássico contos e Histórias de Proveito e Exemplo, de 1575, recheou seu livro com vários provérbios – Antes que cases olha o que fazes, A moça virtuosa Deus a esposa, Não te rias de quem passa, Quem mal fala, mal ouve, Dar o seu a seu dono, Olhe cada um por si, Os quem zombam dos feitos alheios dão ocasião que lhes descubram os seus – e tantos outros que reforçam os exemplos morais oferecidos pelo autor, como era da literatura do tempo.
Os provérbios recolhidos por Bueghel, alguns deles também são encontrados no Brasil, como Muito trabalho e pouca lã, O peixinho e o tubarão, Pouca água abaixo, Cego guiando cego, Armado até os dentes, Nadar contra a corrente, válido nas conversas, que ainda marcam, em muitos lugares, o modo de viver do povo. Sobre o provérbio marcam, em muitos lugares, o modo de viver do povo. Sobre o provérbio do peixinho e do tubarão, há uma história popular, entre nós, que diz que um pescador, certa feita, fisgou um pequeno peixe em seu anzol e antes mesmo de retirá-lo fez a pergunta: “Peixinho, como vivem os peixes no fundo do mar?” O peixinho respondeu:” “Como os homens na terra, os grandes engolindo os pequenos".
Peixe miúdo receber uma conotação de gente pobre, pequena, facilmente presa ou condenada, enquanto tubarão, ou peixe graúdo, ficou sendo o impune, o rico o poderoso, sobre quem nada vale. Vários outros provérbios têm variantes em verso ou em prosa, como quadras, no caso dos primeiros como estórias ou contos, os segundos. Juan Rufo (1547 – 1620) escreveu suas Seiscientas Apotegmas, que são 707, glosando provérbios, explicando a função moral de cada um, como eles deveriam ser entendidos e, em muitos casos, como eles se originaram, ou poderiam se originar, nas diversas situações criadas pelo autor. As Apotegmas são, também, sentenças breves, ainda que sirvam de comentários aos provérbios, que são ainda mais sucintos.
Tais manifestações de cultura permitem que se tenha uma ideia, de algum modo precisa, de como era o viver medieval e renascentista, que influiu no período posterior às viagens dos espanhóis e dos portugueses para o novo mundo. Os provérbios viajaram, como os romances, os contos, as cantigas, os adágios, as apotegmas, nas caravelas, com o repertório da humanidade velha, trazido como reforço à catequese e, principalmente, ao seu aspecto moral, confiado ao trabalho dos padres das diversas ordens religiosas, que atravessaram os mares, instalaram as suas Igrejas, converteram os povos ao cristianismo.
Cicero Dias, que fez a capa de Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, não ilustrou os provérbios guardados pelo povo, que reproduziu costumes, que não apenas explicita sentenças morais, como registra a vida social, dentro da Casa Grande, ou nas cercanias da Senzala. A Casa Grande do Engenho Noruega, antigo Engenho dos Bois, em Pernambuco, serviu de modelo a Cícero Dias, em 1933. O carreiro, o chamador de bois, ambos negros, os meninos brincando, os velhos nas redes, os trabalhos domésticos da cozinha, da sala de gomar, a tirada das frutas, as relações sexuais entre rapazes e animais, entre casais, e toda uma atmosfera rica de gestos e testemunhos, com seus valores, segredos, transgressões, e tudo mais que compõe a paisagem humana da vida nos engenhos de açúcar.
De Brueghel a Cícero Dias valem os exemplos, ainda que a moral mude...

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