terça-feira, 16 de dezembro de 2014

LAURO BARRETO FONTES

 Carta


Por Luiz Carlos Facó

Salvador, 9 de junho de 2004
Amigo velho e jovem amigo Lauro Barreto Fontes:

Li e guardei o seu ensaio publicado em “A TARDE”, caderno cultural, edição de 15/05/04, sob o título Infidelidade Contestada.
Confesso que não me surpreendi com o tema que você se propôs analisar, ingrato o polêmico como é do seu gosto, tampouco com as ferramentas da lucidez e genialidade com as quais o amigo se utilizou para construí-lo e arrematá-lo.

Avesso aos críticos – vejo sempre nas apreciações deles o destilar do fel da insensatez, a maldade dos invejosos, o ódio dos incapazes, a morbidez dos que desejam enfraquecer um pretenso competidor, em vez do aplauso álacre dos que deveriam tributar à obra do apreciado em respeito ao esforço do autor e como incentivo a sua criação – fujo desses vampiros da imaginação alheia como o diabo foge da Cruz para não cair, como eles, na tentação de agir do mesmo modo pusilânime como costumam fazer. Afinal, como todo ser humano, sou dado a fraquezas, ao comedimento de grandes e pequenos deslizes, até pecados tenebrosos, inconfessáveis.
Contudo, de quando em quando, ao deparar-me com um texto do jaez de Infidelidade Contestada, saio dos meus cuidados e permito-me expressar minha modesta opinião. Que será resumida em uma única palavra – dada a limpidez do excerto, as provas históricas, buscadas criteriosamente, em que você baseou a sua tese: instigante. Instigante como o olhar de uma mulher bonita e sensual, que me leva a pensar na concupiscência. Instigante como as pirâmides e esfinges egípcias. Instigante como a caminhada de Moisés pelo deserto em busca da terra prometida. Instigante como a engenhosidade de Einstein. Instigante como os contos de Guy de Maupassant. Instigante como as poesias de Verlaine. Instigante como a prosa de Machado de Assis.
Só espero que, quando chegar à sua idade, gloriosos noventa anos, eu esteja no completo domínio das minhas ações, com o cérebro efervescente como o seu, capaz de me instigar e me fazer pensar: será que Judas traiu Jesus? E, se o fez, os demais apóstolos não procederam da mesma forma, a começar por Pedro, que O negou por três vezes?
Bendito ensaio. Quer na forma, quer no conteúdo. Fez-me meditar!
Receba, antecipadamente, nossas congratulações, de Sonia e minhas, pelo seu aniversário, que lhe chega sorrindo.
Abraços afetuosos.

Paz e Bem.


Facó. 

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