Por
Joaci Góes
“De
tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver
crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e ter vergonha de
ser honesto.”
São de gritante atualidade essas palavras candentes de Ruy Barbosa no discurso que proferiu no Senado, em 1914, do qual resultou a autorização do governo republicano brasileiro para o traslado de Portugal para o Brasil dos restos mortais do Imperador Pedro II, morto em Paris a 5 de dezembro de 1891. A título de curiosidade, D. Pedro II, O Magnânimo, nasceu Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, no dia 02 de dezembro de 1825, no Rio de Janeiro. Viveu, portanto, 66 anos e três dias.
Ruy não tinha como saber que não passava de
pecadilhos de convento o que faziam os maus políticos do seu tempo, em
comparação com a esbórnia moral praticada no Brasil de hoje, escandalizando o
mundo.
Não nos iludamos: a operação Lava-Jato, de
dimensões apocalípticas, destruindo as grandes empresas nacionais, como a
Petrobrás e a Eletrobrás, é, apenas, a parte mais visível do gigantesco iceberg
da corrupção que permeia o tecido moral do poder público brasileiro em suas
diferentes esferas e níveis. Aqui, também, ganha momento a denúncia do Padre
Antônio Vieira, no Século XVII, ao sustentar que na sociedade de então se
conjugava o verbo roubar em todos os tempos e modos.
O que confere lamentável relevo ao Brasil de nossos
dias é, desgraçadamente, sua inconteste liderança mundial, no quesito
corrupção.
A União
Europeia vem de publicar a mais extensa pesquisa, até hoje realizada, sobre a
corrupção nos países europeus, que alcança 120 bilhões de euros, anualmente, o
que dá uma média, por país de cerca de 5 bilhões de euros. Uma verdadeira
pechincha, quando comparada ao Brasil, seja em valores absolutos, em termos
populacionais, PIB global ou per capita.
Observe-se, porém, que a corrupção na Europa não se distribui uniformemente, apresentando-se, ao contrário, de modo bastante desigual, como demonstrou a Comissária da União Europeia, Cecília Malmstrom, em Bruxelas. A dolorosa e, para os brasileiros, humilhante verdade é que, diante do Brasil, os países europeus, que a pesquisa aponta como os mais corruptos, aparecem como anjos alados com lugar reservado nos páramos celestiais.
Apesar do ambiente nebuloso reinante e do ar
poluído que se respira, há motivos para otimismo.
De um lado, tudo indica que nossa abúlica oposição
resolveu abandonar sua postura letárgica para adotar o protagonismo vigilante
que dela se espera. Em segundo lugar, sensível à grande derrota política que
sofreu embutida em magra vitória eleitoral, a Presidente Dilma resolveu
substituir por gente capaz os incompetentes prebostes que se comportavam a
frente da economia e das finanças nacionais como cegos em procissão.
É oportuno recordar que, em meados do Século XIX,
os Estados Unidos registravam alarmantes níveis de corrupção dos quais se libertaram
para erguer a nação mais poderosa de todos os tempos. A simpática Itália, até
há pouco a mais corrupta da Europa, vivenciou a depuração conhecida como mane
polite, mãos limpas, que mandou para o xilindró centenas de meliantes do
colarinho branco, e hoje se encontra entre as menos corruptas da Europa.
O jeito é confiar que o Ministério Público, a
Polícia Federal, os poucos políticos sérios e alguns juízes honrados que ainda
restam apoiados por uma imprensa livre, possam operar o milagre de devolver o
Brasil aos trilhos da decência, já que com o eleitorado desavisado que
possuímos, em razão de nosso péssimo padrão educacional, pouco há o que
esperar.
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