sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O TRINUNFO DO MAL

 Por
Joaci Góes


 “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e ter vergonha de ser honesto.”

São de gritante atualidade essas palavras candentes de Ruy Barbosa no discurso que proferiu no Senado, em 1914, do qual resultou a autorização do governo republicano brasileiro para o traslado de Portugal para o Brasil dos restos mortais do Imperador Pedro II, morto em Paris a 5 de dezembro de 1891. A título de curiosidade, D. Pedro II, O Magnânimo, nasceu Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, no dia 02 de dezembro de 1825, no Rio de Janeiro. Viveu, portanto, 66 anos e três dias.

Ruy não tinha como saber que não passava de pecadilhos de convento o que faziam os maus políticos do seu tempo, em comparação com a esbórnia moral praticada no Brasil de hoje, escandalizando o mundo.
Não nos iludamos: a operação Lava-Jato, de dimensões apocalípticas, destruindo as grandes empresas nacionais, como a Petrobrás e a Eletrobrás, é, apenas, a parte mais visível do gigantesco iceberg da corrupção que permeia o tecido moral do poder público brasileiro em suas diferentes esferas e níveis. Aqui, também, ganha momento a denúncia do Padre Antônio Vieira, no Século XVII, ao sustentar que na sociedade de então se conjugava o verbo roubar em todos os tempos e modos. 
O que confere lamentável relevo ao Brasil de nossos dias é, desgraçadamente, sua inconteste liderança mundial, no quesito corrupção.

A União Europeia vem de publicar a mais extensa pesquisa, até hoje realizada, sobre a corrupção nos países europeus, que alcança 120 bilhões de euros, anualmente, o que dá uma média, por país de cerca de 5 bilhões de euros. Uma verdadeira pechincha, quando comparada ao Brasil, seja em valores absolutos, em termos populacionais, PIB global ou per capita. 

Observe-se, porém, que a corrupção na Europa não se distribui uniformemente, apresentando-se, ao contrário, de modo bastante desigual, como demonstrou a Comissária da União Europeia, Cecília Malmstrom, em Bruxelas. A dolorosa e, para os brasileiros, humilhante verdade é que, diante do Brasil, os países europeus, que a pesquisa aponta como os mais corruptos, aparecem como anjos alados com lugar reservado nos páramos celestiais.
Apesar do ambiente nebuloso reinante e do ar poluído que se respira, há motivos para otimismo.
De um lado, tudo indica que nossa abúlica oposição resolveu abandonar sua postura letárgica para adotar o protagonismo vigilante que dela se espera. Em segundo lugar, sensível à grande derrota política que sofreu embutida em magra vitória eleitoral, a Presidente Dilma resolveu substituir por gente capaz os incompetentes prebostes que se comportavam a frente da economia e das finanças nacionais como cegos em procissão.
É oportuno recordar que, em meados do Século XIX, os Estados Unidos registravam alarmantes níveis de corrupção dos quais se libertaram para erguer a nação mais poderosa de todos os tempos. A simpática Itália, até há pouco a mais corrupta da Europa, vivenciou a depuração conhecida como mane polite, mãos limpas, que mandou para o xilindró centenas de meliantes do colarinho branco, e hoje se encontra entre as menos corruptas da Europa. 
O jeito é confiar que o Ministério Público, a Polícia Federal, os poucos políticos sérios e alguns juízes honrados que ainda restam apoiados por uma imprensa livre, possam operar o milagre de devolver o Brasil aos trilhos da decência, já que com o eleitorado desavisado que possuímos, em razão de nosso péssimo padrão educacional, pouco há o que esperar.

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