Arqueologia: a procura do homem, usos e costumes
Nós, brasileiros, descrentes das
ações dos nossos governantes, ainda cremos nas iniciativas dos tantos agentes
preservacionistas privados
O Parque Nacional Serra
da Capivara é uma unidade de conservação brasileira de proteção integral à natureza localizada
nos municípios piauienses de Canto do Buriti, Coronel José Dias, São João do Piauí e São Raimundo Nonato. O parque foi criado através do decreto de nº
83.548, emitido pela Presidência da República em 5 de junho de 1979, com a
finalidade de proteger um dos mais
importantes exemplares do patrimônio pré-histórico do país. Originalmente
com 100 000 hectares, a proteção do Parque foi ampliada pelo decreto de nº 99.143
de 12 de
março de 1990 com a
criação de Áreas de Preservação Permanentes de 35 000 hectares. A
administração da unidade está a cargo do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBIO)
O Parque
Nacional Serra da Capivara é uma unidade de conservação arqueológico com
uma riqueza de vestígios que se conservaram durante milênios. O patrimônio
cultural e os ecossistemas locais estão intimamente ligados, pois a conservação
do primeiro depende do equilíbrio desses ecossistemas. O equilíbrio entre os
recursos naturais é o condicionante na conservação dos recursos culturais e foi
o que orientou o zoneamento, a gestão e o uso do Parque pelo poder público.
É um local
com vários atrativos, monumental museu a céu
aberto, entre belíssimas formações rochosas, onde encontram sítios
arqueológicos e paleontológicos espetaculares,
que testemunham a presença de homens e animais pré-históricos.
O parque nacional foi criado graças, em grande
parte, ao trabalho da arqueóloga Niéde Guidon, que hoje
dirige a Fundação Museu do Homem Americano, instituição responsável pelo manejo
do parque.
Área de maior concentração de sítios pré-históricos
do continente americano e Patrimônio Cultural da Humanidade - UNESCO. Contém a maior quantidade de pinturas
rupestres do mundo. Estudos científicos confirmam que a Serra da Capivara
foi densamente povoada em períodos pré–históricos. Os artefatos encontrados apresentam vestígios do homem há 50.000 anos,
os mais antigos registros na América.
O Parque Nacional Serra da Capivara se localiza no Estado do Piauí, ao
Sudeste. Possui vários sítios arqueológicos.
Um exemplo das pinturas que podem ser encontradas no parque.
Existem atualmente 737 sítios arqueológicos
catalogados onde foram encontrados artefatos líticos, esqueletos humanos,
pinturas rupestres com aproximadamente 30.000 figuras coloridas, que
representam cenas de sexo, de dança, de parto, entre outras.
Ao longo de 14 trilhas e 64 sítios arqueológicos abertos à visitação, encontramos tesouros, como os pedaços de cerâmicas mais
antigos das Américas, de 8.960
anos. No circuito dos Veadinhos Azuis, podemos encontrar quatro sítios com
pinturas azuis, a primeira desta cor descoberta no mundo.
Situado em
uma região de clima semi-árido, fronteira entre duas grandes formações
geológicas - a Bacia Sedimentar Maranhão-Piauí e a
Depressão Periférica do rio São Francisco -, seu relevo é
formado por serras, vales e planícies. É o único
Parque Nacional do domínio morfoclimático das caatingas, o que
ressalta a necessidade de conservação e restauração da flora. O Parque abriga
fauna e flora específicas.
Desde a
colonização, a área hoje pertencente ao Parque Nacional Serra da Capivara foi
utilizada pelas populações que nela caçavam, plantavam e retiravam a madeira.
Baixão das andorinhas
A Fundação
Museu do Homem Americano, ao elaborar o Plano de Manejo do Parque, estabeleceu
uma política de proteção que inclui a integração da população circunvizinha do
parque às ações de preservação. Implantou um projeto de desenvolvimento
econômico e social que visa educar e preparar as comunidades para que possam
participar do mercado de trabalho que o parque está criando na região: obras de
infraestrutura, manejo e turismo ecológico
e cultural.
As
condições essenciais para a proteção do parque são a erradicação da miséria e
da fome e a criação de novas formas de trabalho alternativo. O Plano de Manejo
considera a população atual como um dos elementos dos ecossistemas a serem
preservados e propõe que o Parque Nacional seja
o motor de criação de recursos econômicos, em uma área onde a seca impiedosa
limita ao extremo a agricultura e a criação.
As pinturas rupestres são a
manifestação mais abundante, notável e espetacular deixada pelas populações
pré-históricas que viveram na área do Parque Nacional, desde épocas muito
recuadas. Os três sítios que apresentaram as mais antigas datações obtidas na
área do Parque Nacional são abrigos-sob-rocha. Um abrigo-sob-rocha forma-se
pela ação da erosão que agindo na base dos paredões rochosos vai desagregando a
parte baixa das paredes fazendo com que se forme, no alto, uma saliência. Esta
funciona como um teto que protege do sol e da chuva o solo que
fica sob o mesmo. Com o progresso da erosão, a saliência torna-se cada vez mais
pronunciada até que, sob a ação da gravidade,
fratura-se e desmorona.
Os homens
utilizaram a parte protegida dos abrigos como casa, acampamento, local de
enterramentos e suporte para a representação gráfica da sua tradição oral.
Sobre os
vestígios deixados por um grupo humano, a
natureza depositava sedimentos que os cobriam. Novos grupos, novos vestígios,
nova sedimentação. A repetição desse ciclo durante milênios forma as camadas
arqueológicas, nas quais os arqueólogos encontram todos os elementos que
permitem a reconstituição da vida dos povos pré-históricos.
Macaco-prego (Sapajus libidinosus). Macho adulto fotografado no Parque
Nacional da Serra da Capivara.
O Parque
Nacional Serra da Capivara situa-se no domínio morfo-climático da Caatinga, mas
possui muitas matas de transição de Cerrado no
seu limite norte. A vegetação é formada por arbustos fracos, mas extremamente
ramificados, com galhos curtos e duros, com aspectos de espinhos. O tronco das
árvores é liso, as folhas pequenas e a folhagem é leve e deixa passar luz. A
vegetação herbácea geralmente desaparece fora da estação das chuvas.
As “matas
brancas” do nordeste do Brasil ou caatingas, como as chamavam os nativos, são
formações biogeográficas caracterizadas por plantas xeromórficas (que
perdem todas suas folhas na época seca). Ocupa 650.000 km² do Nordeste do Brasil, exceto a
faixa litorânea, dos quais apenas 0,1 % encontram-se preservados
legalmente.[carece de fontes]
As
pesquisas realizadas no parque resultaram no registro de 33 espécies de
mamíferos não-voadores, 24 de morcegos, 208
espécies de aves, 19 de lagartos,
17 de serpentes e 17
de jias e sapos. No
parque destaca-se o Mocó, único
mamífero endêmico da Caatinga. O maior predador
de toda a região do parque é a onça-pintada, que pode
ultrapassar 50kg e se alimenta de outros vertebrados que pode capturar.
O maior atrativo do Parque é a densidade e
diversidade de sítios arqueológicos portadores de pinturas e gravuras rupestres
pré-históricas. É um verdadeiro Parque Arqueológico com um patrimônio cultural de tal riqueza que
determinou sua inclusão na Lista do Patrimônio Mundial pela UNESCO.
Durante milênios as paredes dos
sítios foram pintadas e gravadas por grupos humanos com
diferentes características culturais que se refletem nas escolhas gráficas que
aparecem nos sítios. O visitante pode hoje observar um produto gráfico final
que foi realizado gradativamente e que pela sua narratividade evoca fatos da
vida cotidiana e cerimonial da vida em épocas pré-históricas.
A esse
interesse antropológico se
soma uma rara beleza e qualidade artística das obras que apesar de traços
similares às pinturas pré-históricas das cavernas da França e da Espanha, abrigos sob
Rocha da Austrália, apresenta
um perfil típico, único na região do Nordeste do Brasil.
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