Cinema
A
capital do cinema dos Estados Unidos, senão do mundo, é Los Angeles,
Califórnia, mais especificamente, Hollywood. Mas alguém sabe como
foi que nasceu Hollywood? Alguns dos primeiros estúdios de Hollywood abriram
por volta de 1915, a terra era barata e a mão de obra era abundante. Toda a
área precisava de uma indústria, e a indústria dos filmes fez muito sentido. Ah,
e havia uma outra razão para a indústria do cinema fazer o seu caminho do
oeste. Los Angeles estava longe de New Jersey. E Thomas Edison estava
em Nova Jersey.
Edison,
ao longo de sua carreira, realizou mais de 1.000 patentes nos Estados Unidos.
Ele foi creditado por inventar uma quantidade de dispositivos tecnológicos,
da lâmpada incandescente ao fonógrafo. Ele também teve
um papel importante na invenção do cinetoscópio, uma câmera de
filme precoce (Embora a maior parte do trabalho tenha sido feito por William
Kennedy Dickson, um empregado de Edison). E durante o final do século 19 e
o início do século 20, ele realizou muitas das patentes sobre as tecnologias
necessárias para se criar filmes. Mas Edison aparentemente usava essas patentes
como um porrete. E batia forte.
Edison
em seu laboratório.
Por
Edison ter registrado tantas patentes, e por essas patentes serem aplicadas
tanto na criação de filmes quanto na tecnologia utilizada para construir as
salas de cinema, ele foi capaz de persuadir outros detentores de patentes a
formar uma associação que ele lideraria. Juntas, essas empresas formaram
o Motion Picture Patent Company. A página na Wikipédia da MPPC
resume bem como a empresa executava suas patentes. Thomas Edison e a MPPC também
estabeleceram um monopólio sobre todos os aspectos do cinema. Eastman
Kodak (Fundador da recém-falida Kodak), que detinha a
patente sobre os rolos de filmes e era naquela altura o dono da única empresa a
produzi-los, era um membro do MPPC e só vendia os rolos para as produtoras que
fizessem parte da associação. O MPPC controlava desde as patentes sobre as
câmeras de cinema, assim como a produção dos rolos de filme, até os estúdios
que faziam os filmes e detinha também as patentes sobre projetores. Assim, o
MPPC tinha também como forçar acordos de licenciamento com os distribuidores e
teatros, e determinar quem exibiria os filmes e onde.
Edison e seu ajudante testando a primeira Tecpix.
Resumindo:
Se você queria estar no negócio do cinema, você tinha que pagar pro Thomas
Edison. E Edison (através do MPPC) não era de recuar. A empresa levava para os
tribunais quem quer que fosse contra as suas vontades, e impedia o uso
não-autorizado de tudo, desde câmeras para projetores, e em muitos casos, os
próprios filmes. De acordo com Steven Bach(Em seu livro Final
Cut), o MPPC até mesmo chegou ao cúmulo de contratar capangas da máfia para
fazer valer as patentes extrajudicialmente. Quem contrariava Thomas Edison
pagava caro. Mas o respeito de Edison aos direitos de propriedade intelectual
era uma rua de mão única. Em 1902, os homens de Edison subornaram um
proprietário de um teatro em Londres para obterem ilegalmente uma cópia
de A Viagem à Lua, do cineasta francês Georges Melies (essa
história infelizmente não foi lembrada no filme A invenção de Hugo
Caibret, vai lá saber o porquê). O primeiro filme de ficção cientifica da
história e um dos melhores filmes de todos os tempos foi comprado por apenas 10.000
francos. Então, Thomas Edison, a fim de fazer valer o seu investimento, fez
centenas de cópias do filme e os vendeu a si mesmo. Claro, sem pagar Melies.
Melies acabou indo à falência. E o MPPC distribuiu nos USA o filme, ficando com
todos os lucros.
Uma das
imagens mais icônicas da história do cinema e seu criador.
A
indústria cinematográfica nos USA estava fadada a ter o mesmo destino. Muitos
na indústria do cinema, conhecidos como “independentes”, escolheram uma
terceira opção: Fugir. E assim a Califórnia fez muito sentido, pois estava em
uma área onde os juízes eram menos amigáveis para as patentes concedidas a
Edison e companhia. E também porque seria muito mais complicado mandar quebrar
as pernas de alguém do outro lado do país. Os que ficaram na costa leste ou
foram a falência ou investiram seu tempo, dinheiro e criatividade em outra
coisa: As peças de teatro. Nascia também a Broadway como a
conhecemos. Já Hollywood nasceu de um desejo de evitar as reclamações
intelectuais de propriedade de Thomas Edison e sua MPPF, e rapidamente se
tornou a capital mundial da indústria cinematográfica. Escaparam por pouco. Sem
a fuga para Hollywood, a indústria cinematográfica como todos nós conhecemos
nunca teria existido. Mas o que isso tudo significa?
Isso significa
que Edison foi o primeiro pirata. E exigia que ninguém o passasse a perna. E
Hollywood nasceu da pirataria. E agora, quer nos proibir de piratear baixar
seus filmes, mesmo sabendo que não se fazem mais necessários os custos de
produção de DVDs, apenas das obras em si (Filmagens, roteirização, edição,
atores, etc). Piratear pode levar realmente alguém a falência, como foi no caso
de Melies. Mas tudo isso é muito diferente do que vem acontecendo hoje em dia.
Assistir filmes pirateados é errado, sem sombra de dúvida. Mas a própria
Hollywood nasceu para escapar das amarras dos direitos autorais. E agora, cerca
de 100 anos depois, as associações dos estúdios hollywoodianos tenta implantar
uma perseguição sem piedade a todos que baixam seus filmes de forma irregular,
burlando o pagamento de direitos autorais. Realmente, não deve existir uma
outra situação melhor do que essa pra plagiar ilustrar o velho
ditado: “Pimenta no olho dos outros é refresco”. Movido pela ganância, Thomas Edison quase destruiu o cinema antes mesmo
de seu nascimento. E agora, Hollywood tenta fazer o mesmo.
Os pioneiros de Hollywoodland, fundando a Meca do
cinema (Foto baixada ilegalmente).
Matéria
reproduzida (ipsis literis) do blog: http://www.baconfrito.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário