sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

A TV ITAPOAN (SALVADOR-BAHIA) E SUAS HISTÓRIAS

 A primeira estação de TV do norte e nordeste brasileiro


                                  Por Mecenas Salles
Extraído do livro, Aconteceu na Bahia – o movimento artístico e outras histórias

O ano de 1960 foi um ano tumultuado na vida dos brasileiros. Brasília, em pleno coração do Brasil, dava os últimos retoques para a sua inauguração em 21 de abril, quando a Capital brasileira, deixaria de ser no Rio de Janeiro mudando-se, oficialmente, para o Planalto Central. Juscelino Kubitschek não escondia a satisfação de inaugurar uma das obras mais importantes e criticadas da época.
Pouco depois, em 03 de outubro, Jânio Quadros e João Goulart, tomavam posse como presidente e vice-presidente da República Federativa do Brasil, após renhida disputa com Ademar de Barros e o Marechal Henrique Teixeira Lott.
Jânio Quadros com sus vassoura prometia varrer a corrupção!
No dia 18 de novembro, começava um movimento festivo na Bahia. A novidade era a inauguração da pavimentação da estrada da Federação, pelo prefeito Heitor Dias. Pavimentação que chegava até a nova emissora de TV.
Nesse mesmo dia, um avião “Constelation” da Panair do Brasil, pousava no Aeroporto 2 de Julho, às 16:20, lotado com convidados do Dr. Assis Chateaubriand, por sinal o único ausente. Estavam aqui para um evento muito especial. Recepcionados no palácio pelo governador Juracy Magalhães, todo o comando dos Diários Associados, políticos jornalistas e colunáveis, aguardavam o dia seguinte.


Nos cinemas Tupi, exibia o filme muito falado, de Fellini, “La Dolce Vita” com Marcelo Mastroianni e no Cine Capri, “ A Volta do Mundo em 80 Dias”, com Cantinflas, mas o comentário principal nas ruas não era sobre cinema. Era sobra a televisão que estava chegando à Bahia.
Em 19 de novembro de 1960 com direito a missa, discursos e cortes de fita, inaugurava-se um das nove concessões de televisão que Assis Chateaubriand havia recebido do governo.
A TV Itapoan, Canal 5, erguia-se imponente no bairro da Federação em meio a quase nada. Podia-se ouvir os batuques nos terreiros de Candomblé que haviam pela redondezas.
O sinal foi ao ar pela primeira vez na Bahia no início de novembro. Apenas um simples logotipo, com a imagem de um curumim, marca registrada dos Diários Associados, e música suave, tipo música de elevador. Mesmo assim, as pessoas que já possuíam os aparelhos de TV, das marcas Invictus,  Philco, Stromberg Carlson ou Standard Eletric, ficavam maravilhas com uma imagem estática e música através da telinha. A título de teste, começaram as primeiras transmissões, sempre ao meio dia e apenas algumas horas por dia.
Começava ali a TV Itapoan, primeira estação nordestina de televisão, parte o império de Assis Chateaubriand o magnata das comunicações. As casas que possuíam aparelhos de TV, cerca de 7000, se enchiam de parentes e amigos que queriam conhecer de perto a maravilha da televisão. Nas vitrines das lojas, o povo se aglomerava para ver a imagem na telinha, mesmo sem poder escutar nada. Os aparelhos se esgotaram em uma semana.

Fui escolhido para fazer as primeiras entrevistas ao vivo nesses horários de teste.
A primeira, como não podia deixar de ser, foi com o governador do Estado, Juracy Magalhães. De pé, apenas com uma cadeira de fundo falamos por uma hora sobre a importância do evento, o futuro da TV na Bahia e outros assuntos do momento.
Nos dias que se seguiram, novos convidados ilustres. Jorge Amado, o mais famoso escritor do Brasil, foi o segundo entrevistado e deu início a uma amizade que perdurou por longos anos.
Entrevistei Jorge, junto a uma minúscula mesa. Ele falou de seus romances, suas andanças pelo mundo e da importância da TV para a cultura baiana.
Na terceira apresentação um semicírculo de cadeiras, e diversos jornalistas da Bahia, comandados por Jorge Calmon diretor do Jornal A Tarde, falaram sobre o evento. O cenário de fundo continuava apenas uma enorme cortina escura.
Para comandar a TV Itapoan, o escolhido foi o jornalista Raimundo José, antigo funcionário dos Diários Associados da Bahia, com cursos no Rio e nos Estados Unidos. O diretor geral era Paulo Nacife, responsável pelo dia a dia da TV, Rádio Sociedade da Bahia e dos jornais Diário da Bahia e Estado da Bahia. O superintendente dos Diários e Emissoras Associadas, era o jornalista, poeta e escritor Odorico Tavares, colecionador de Artes e apaixonado pela Bahia, homem pertencente a corte de Assis Chateaubriand. Pedro Ribeiro era o presidente da TV Itapoan.
Passada a euforia da inauguração, era hora de começar a trabalhar e fazer valer os enormes custos de implementar uma televisão.
Na formação da diretoria da TV, fui nomeado secretário de programação, se bem que fazia de tudo um pouco. Além de cuidar da programação, era diretor de alguns programas, produtor, suíte (diretor de imagens), e apresentador.
Mais tarde chegaram Nilton Paz, Mário Augusto Rocha e Cícero Miranda Filho, para se incorporar ao corpo de funcionários da nova TV, alguns deles já com experiência anterior em televisão.
Começo é sempre uma coisa muito difícil e é errando que se aprende. A TV-ITAPOAN não fugiu à regra e assim, implantamos na Bahia essa nova maravilha.
Sem os recursos da televisão moderna, toda a programação era ao vivo, com exceção dos enlatados americanos, e como em teatro errar era proibido.
Talvez pelo fato de ter de fazer tudo certo pela primeira vez, a emoção após cada programa era grande e estávamos sempre esperando os comentários do público.

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