A primeira estação de
TV do norte e nordeste brasileiro
Por Mecenas Salles
Extraído do livro,
Aconteceu na Bahia – o movimento artístico e outras histórias
O ano de
1960 foi um ano tumultuado na vida dos brasileiros. Brasília, em pleno coração
do Brasil, dava os últimos retoques para a sua inauguração em 21 de abril,
quando a Capital brasileira, deixaria de ser no Rio de Janeiro mudando-se,
oficialmente, para o Planalto Central. Juscelino Kubitschek não escondia a
satisfação de inaugurar uma das obras mais importantes e criticadas da época.
Pouco
depois, em 03 de outubro, Jânio Quadros e João Goulart, tomavam posse como
presidente e vice-presidente da República Federativa do Brasil, após renhida
disputa com Ademar de Barros e o Marechal Henrique Teixeira Lott.
Jânio
Quadros com sus vassoura prometia varrer a corrupção!
No dia 18 de
novembro, começava um movimento festivo na Bahia. A novidade era a inauguração
da pavimentação da estrada da Federação, pelo prefeito Heitor Dias.
Pavimentação que chegava até a nova emissora de TV.
Nesse mesmo
dia, um avião “Constelation” da Panair do Brasil, pousava no Aeroporto 2 de
Julho, às 16:20, lotado com convidados do Dr. Assis Chateaubriand, por sinal o
único ausente. Estavam aqui para um evento muito especial. Recepcionados no
palácio pelo governador Juracy Magalhães, todo o comando dos Diários
Associados, políticos jornalistas e colunáveis, aguardavam o dia seguinte.
Nos cinemas
Tupi, exibia o filme muito falado, de Fellini, “La Dolce Vita” com Marcelo
Mastroianni e no Cine Capri, “ A Volta do Mundo em 80 Dias”, com Cantinflas,
mas o comentário principal nas ruas não era sobre cinema. Era sobra a televisão
que estava chegando à Bahia.
Em 19 de
novembro de 1960 com direito a missa, discursos e cortes de fita, inaugurava-se
um das nove concessões de televisão que Assis Chateaubriand havia recebido do
governo.
A TV
Itapoan, Canal 5, erguia-se imponente no bairro da Federação em meio a quase
nada. Podia-se ouvir os batuques nos terreiros de Candomblé que haviam pela
redondezas.
O sinal foi
ao ar pela primeira vez na Bahia no início de novembro. Apenas um simples
logotipo, com a imagem de um curumim, marca registrada dos Diários Associados,
e música suave, tipo música de elevador. Mesmo assim, as pessoas que já
possuíam os aparelhos de TV, das marcas Invictus, Philco, Stromberg Carlson ou Standard
Eletric, ficavam maravilhas com uma imagem estática e música através da
telinha. A título de teste, começaram as primeiras transmissões, sempre ao meio
dia e apenas algumas horas por dia.
Começava ali
a TV Itapoan, primeira estação nordestina de televisão, parte o império de
Assis Chateaubriand o magnata das comunicações. As casas que possuíam aparelhos
de TV, cerca de 7000, se enchiam de parentes e amigos que queriam conhecer de
perto a maravilha da televisão. Nas vitrines das lojas, o povo se aglomerava
para ver a imagem na telinha, mesmo sem poder escutar nada. Os aparelhos se
esgotaram em uma semana.
Fui
escolhido para fazer as primeiras entrevistas ao vivo nesses horários de teste.
A primeira,
como não podia deixar de ser, foi com o governador do Estado, Juracy Magalhães.
De pé, apenas com uma cadeira de fundo falamos por uma hora sobre a importância
do evento, o futuro da TV na Bahia e outros assuntos do momento.
Nos dias que
se seguiram, novos convidados ilustres. Jorge Amado, o mais famoso escritor do
Brasil, foi o segundo entrevistado e deu início a uma amizade que perdurou por
longos anos.
Entrevistei
Jorge, junto a uma minúscula mesa. Ele falou de seus romances, suas andanças
pelo mundo e da importância da TV para a cultura baiana.
Na terceira
apresentação um semicírculo de cadeiras, e diversos jornalistas da Bahia,
comandados por Jorge Calmon diretor do Jornal A Tarde, falaram sobre o evento.
O cenário de fundo continuava apenas uma enorme cortina escura.
Para
comandar a TV Itapoan, o escolhido foi o jornalista Raimundo José, antigo
funcionário dos Diários Associados da Bahia, com cursos no Rio e nos Estados
Unidos. O diretor geral era Paulo Nacife, responsável pelo dia a dia da TV,
Rádio Sociedade da Bahia e dos jornais Diário da Bahia e Estado da Bahia. O
superintendente dos Diários e Emissoras Associadas, era o jornalista, poeta e
escritor Odorico Tavares, colecionador de Artes e apaixonado pela Bahia, homem
pertencente a corte de Assis Chateaubriand. Pedro Ribeiro era o presidente da
TV Itapoan.
Passada a
euforia da inauguração, era hora de começar a trabalhar e fazer valer os
enormes custos de implementar uma televisão.
Na formação
da diretoria da TV, fui nomeado secretário de programação, se bem que fazia de
tudo um pouco. Além de cuidar da programação, era diretor de alguns programas,
produtor, suíte (diretor de imagens), e apresentador.
Mais tarde
chegaram Nilton Paz, Mário Augusto Rocha e Cícero Miranda Filho, para se incorporar
ao corpo de funcionários da nova TV, alguns deles já com experiência anterior
em televisão.
Começo é
sempre uma coisa muito difícil e é errando que se aprende. A TV-ITAPOAN não
fugiu à regra e assim, implantamos na Bahia essa nova maravilha.
Sem os recursos
da televisão moderna, toda a programação era ao vivo, com exceção dos enlatados
americanos, e como em teatro errar era proibido.
Talvez pelo
fato de ter de fazer tudo certo pela primeira vez, a emoção após cada programa
era grande e estávamos sempre esperando os comentários do público.
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