POR
Joaci Góes
Entre as várias manifestações que recebi sobre o meu último livro, (As)
51 personalidades (mais) marcantes do Brasil, é irresistível a tentação de
publicar trechos do depoimento do grande jurista, magistrado, poeta e querido
amigo de infância, Raymundo Laranjeira, pelo que contém de generosidade,
humanismo, riqueza literária e lealdade aos valores republicanos:
...”Recusei-me
a ler o que você disse sobre Lula. Minha aversão ao Lula conta com um motivo
mais forte: vem da circunstância de ter-me sentido traído pelo então
Presidente, logo no início do seu primeiro mandato, quando se esquivou do
projeto de um socialismo decente, o qual me dava esperança de, pouco a pouco,
sonhar com um País melhor, e que ele destruiu. A seguir, também abjurou a
ética, que era um valor que sempre tinha feito parte de sua pregação no
Congresso, bem como da sua propaganda eleitoral para a Presidência da
República.
...”Compreendo,
no entanto, que tal sentimento nada tem a ver com o livro, já que o seu
critério de autor foi o de explicitar os traços biográficos das personagens que
tiveram destaque pessoal em algum instante da vida da Nação, fosse o
comportamento delas do agrado ou não de alguém.
...”No
cômputo geral do seu trabalho, você alcançou três grandes virtudes:
1) a primeira, a de ter construído a vantagem
de elaborar biografias mais condensadas, o que trouxe, como consequência, maior
proveito para o leitor, ao passar a conhecer um grande número de
pessoas famosas;
2) a
segunda, a de haver distribuído sabiamente os biografados, na conformidade de
seus afazeres e aptidões bem diferentes, seja em função do esporte (p. ex. Pelé
e Ayrton Senna), da música (p. ex. Villa-Lobos ,Tom Jobim e Vinicius de
Morais), do Direito (p. ex. Ruy e Pontes de Miranda), da Medicina (p. ex.
Oswaldo Cruz, Carlos Chagas e Pitangui), da política (p. ex. Getúlio, Juscelino
e Prestes), da religião (Irmã Dulce e Chico Xavier), das artes em geral (p. ex.
Aleijadinho, Niemayer e Portinari), da cultura erudita (p.ex. Machado de Assis,
Castro Alves, Jorge Amado, Euclides da Cunha), da cultura popular (Mestre
Pastinha e Mestre Bimba), do reino das invenções (Santos Dumont), do jornalismo
(p. ex. Assis Chateaubriand e Roberto Marinho), da Educação (Anísio Teixeira),
da diplomacia (Rio Branco), das Forças Armadas (Marechal Rondon), e assim por
diante;
3) a
terceira, a de ter conseguido montar um verdadeiro caleidoscópio cultural, em
face das variegadas informações que transitaram séculos de investigação em
nossa multifacetária sociedade, o que envolveu, decerto, não somente as fontes
livrescas de sua pesquisa, expressamente referidas na bibliografia, mas o saber
de outras leituras que se dispersam na memória, com ou sem a marca dos autores,
assim como a percepção dos acontecimentos de viagens, e ademais, a ciência de
fatos vividos pela inquietude nas suas atividades, quer como empresário, quer
como acadêmico, quer como político que foi e continuará sendo, quer como grande
cultivador das relações humanas.
... “Agora,
nessa sua tarefa de escritor, que tinha enveredado pela faixa literária da
ensaística, com inusitados livros histórico-filosóficos, você encontra um novo
filão, com outros dois aspectos que avultam nesta última obra:
1) a
proporção adequada do que resultou escrito sobre muitos, pois que, nos dias de
hoje, principalmente, há os leitores que não têm mais tempo para debruçar-se
sobre estudos mais densos da espécie, exceto por algum especial mister
investigativo, tanto quanto existem aqueles que tampouco se contentam com
relatos de rapsódicas curiosidades;
2) o
cuidado de se prender ao essencial de cada um, mesmo os que denotavam informes
de vida singelos, como no caso de Mestre Pastinha, ou os que exibiam mais
detalhadas singularidades, como se vê na surpreendente descrição sobre
Sarney, que, à parte da perspectiva literária a respeito da qual eu já
tinha parcial conhecimento, surgiu em sua visão como um homem afável e
politicamente equilibrado, de postura diversa, portanto, daquela que eu supunha
que tivesse, “poderoso chefão” das oligarquias maranhenses, que estaria bem
próximo da truculência do “nosso” ACM.
... “Em
resumo, a quantidade de biografias, colocadas em diferentes épocas e paragens,
em bem dosada extensão de texto, faz de seu livro uma agradabilíssima aula de
História do Brasil, valorizada pela revelação de episódios da vida particular e
de vida pública até então desconhecidos do comum dos brasileiros, e
enriquecidos pela linguagem culta, que atrai os aficionados da beleza do
vernáculo.
... “Porém,
com a mesma habilidade no modo de escrever, você atingiu, ainda, a façanha de
revolver o idioma para um campo de características próprias, diversas das que
vinha adotando, a fim de jogar com palavras típicas do mundo do futebol, como
no verbete “Pelé” (mais que em “Ayrton Senna”), e assim amoldando-se a padrões
mais especificamente populares, num competente exercício de linguagem.
... “Neste
instante, permita-me abrir um parêntese para dizer-lhe algo que me tocou
sensivelmente: o verbete sobre Luis Gonzaga % que foi o cantador de minha
infância, antes de ter ido estudar e morar em Salvador, e, ainda ali, durante
certo tempo da juventude. Nele, emocionou-me, em particular, a parte em que
você diz que o grande compositor e sanfoneiro dividiu homenagens com seu pai,
sêo Gôzinho % aquela hirta e agradável figura sertaneja, que me tratava com a
maior amabilidade e a todos cativava. Pois foi justamente sêo Gôzinho (não me
lembro mais se na primeira metade dos anos 60 ou na segunda) quem me fez a
apresentação pessoal de Luiz Gonzaga, na Cidade Baixa, no momento em que ambos
entravam ou saiam do Banco Real, aonde eu tinha ido tratar de algum assunto com
Zequinha, nosso velho companheiro do Beco do General.
Todos
estamos desejosos de que você venha logo com o 2º volume, que certamente, está
em andamento”.
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