História
A mulher mais trágica e sádica que a
História registra
Isabel Bathory (Nyírbátor, 7 de agosto de 1560 — Csejte, 21 de agosto de 1614) foi
uma condessa húngara da
renomada família Báthoryque entrou
para a História por uma suposta série de crimes hediondos
e cruéis que teria cometido, vinculados com sua obsessão pela beleza. Como
consequência, ela ficou conhecida como
"A condessa sangrenta" e "A condessa Drácula". Seu nome
em húngaro é Báthory Erzsébet, em eslovaco Alžbeta
Bátoriová. Em português, a condessa é referida como Isabel ou Elisabete Báthory.
A maior parte da
vida adulta de Isabel Báthory foi passada no |Castelo de Csejte (em eslovaco Čachtice), na região de Trenčín, no oeste da atual Eslováquia. Os Báthory faziam
parte de uma das mais antigas e nobres famílias
da Hungria.
Era filha do barão
Jorge Báthory (Báthory György), do ramo Ecsed, irmão do príncipe András da Transilvânia. A mãe de Isabel
era do ramo Somlýo da família, chamava-se Anna Báthory e era irmã, entre
outros, do rei da Polónia e do príncipe de Siebenbürgen (Transilvânia).
Isabel era ainda prima do marido da arquiduquesa Maria Cristina de Habsburgo, filha
de Carlos II da Áustria.
Isabel cresceu em
uma época em que os turcos haviam
conquistado a maior parte do território húngaro, que servia de campo de batalha
entre os exércitos do Império Otomano e
a Áustria dos Habsburgo. A área
era também dividida por diferenças religiosas. A família Báthory se juntou à
nova onda de protestantismo que fazia oposição ao catolicismo romano tradicional.
Foi criada na
propriedade de sua família em Ecsed, na Transilvânia. Quando
criança, ela sofreu doenças repentinas, acompanhadas de intenso rancor e
comportamento incontrolável. Em1571, seu
tio István Báthory tornou-se príncipe da Transilvânia e,
mais tarde na mesma década, ascendeu ao trono da Polônia. Foi um
dos regentes mais competentes de sua época, embora seus planos para a
unificação da Europa contra
os turcos tivessem fracassado em virtude dos esforços necessários para
combater Ivan, o Terrível, que cobiçava seu território.
Vaidosa e bela,
Isabel ficou noiva do conde Ferenc Nádasdy aos
onze anos de idade, passando a viver no castelo dos
Nádasdy, em Sárvár. Em 1574, aos
quatorze anos, ela engravidou de um camponês. Quando
sua condição se tornou visível, escondeu-se até a chegada do bebê: a criança
seria uma menina chamada Anastásia, dada então a um casal de camponeses, ao que
se supõe pagos pela família Báthory para que fugissem do reino com a bastarda.
O casamento com Ferenc ocorreu em maio de 1575. O conde
Nadasdy era militar e, frequentemente, ficava fora de casa por longos períodos.
Nesse meio tempo, Isabel assumia os deveres de cuidar dos assuntos do castelo
da família Nadasdy. Foi a partir daí que suas tendências sádicas começaram a
revelar-se - com o disciplinamento de um grande contingente de empregados,
principalmente mulheres jovens.
Cópia de um
retrato de 1585 perdido na década de 1990.
À época, o
comportamento cruel e arbitrário dos detentores do poder para com os criados era
comum; contudo, o nível de crueldade de Isabel era notório. Ela não apenas
punia os que infringiam seus regulamentos, como também encontrava todas as
desculpas para infligir castigos,
deleitando-se na tortura e
na morte de
suas vítimas. Espetava alfinetes em
vários pontos sensíveis do corpo das suas vítimas, como, por exemplo, sob as unhas ou
nos mamilos. No
inverno, executava suas vítimas fazendo-as se despir e andar pela neve,
despejando água gelada nelas até morrerem congeladas.
Quando se
encontrava no castelo, o marido de Báthory juntava-se a ela nesse tipo de
comportamento sádico e até lhe ensinou algumas modalidades de punição: o despigmento
de uma mulher e o cobrimento do corpo com mel, deixando-o à
mercê de insetos, por
exemplo.
O conde Nádasdy
morreu em 1604, e
Erzsébet mudou-se para Viena após
o seu enterro. Passou também algum tempo em sua propriedade de Beckov e no solar de Čachtice, ambos localizados
onde é hoje a Eslováquia. Esses foram os cenários de seus atos mais famosos e
depravados.
Nos anos que se
seguiram à morte do marido, a companheira de Isabel no crime foi uma mulher de
nome Anna Darvulia, de quem
pouco se sabe a respeito: muitos afirmam que Darvulia teria sido uma sábia e
temida ocultista, alquimista e
talvez praticante de rituais de magia negra, que terá
incutido na própria Isabel, de quem se diz ter sido amante (é conhecida a bissexualidade da
condessa). Quando Darvulia faleceu (cerca de 1609), Isabel
se voltou para Erzsi Majorova, viúva de
um fazendeiro local, seu inquilino. Majorova parece ter sido responsável pelo declínio
mental final de Isabel, ao encorajá-la a incluir algumas mulheres de estirpe
nobre entre suas vítimas às quais bebia o sangue. Em virtude de estar tendo
dificuldade para arregimentar mais jovens como servas à
medida que os rumores sobre suas atividades se espalhavam pelas redondezas,
seguiu os conselhos de Majorova. Em 1609, ela matou
uma jovem nobre e encobriu o fato dizendo que fora suicídio.
Isabel, ao longo de
sua carreira sanguinária, contou também com a ajuda de quatro fieis cúmplices:
Janos (também apelidado de "Ficzko"), um jovem demente mental que
ajudava no ocultamento dos cadáveres e no funcionamento dos instrumentos de tortura, Helena
Jo, ama dos filhos de Isabel e enfermeira do
castelo, Dorothea Szentos (ou "Dorka"), uma velha governanta e
Katarina Beneczky, uma jovem lavadeira acolhida pela condessa.
No início do verão
de 1610, tiveram
início as primeiras investigações sobre os crimes de Isabel Báthory. Todavia, o
verdadeiro objetivo das investigações não era conseguir uma condenação, mas sim
confiscar-lhe os bens e suspender o pagamento da dívida contraída
ao seu marido pelo rei Matias II.
Isabel foi presa no
dia 26 de dezembro de 1610. O
julgamento teve início alguns dias depois, conduzido pelo Conde Thurzo, um primo
de Isabel a quem muito convinha a condenação da condessa. Uma semana após a
primeira sessão, foi realizada uma segunda, em 7 de janeiro de 1611. Nesta,
foi apresentada como prova uma agenda encontrada nos aposentos de Erzsébet, a
qual continha os nomes de
650 vítimas, todos registrados com a sua própria letra.
Castelo de Csejte, o local de prisão e morte da Condessa.
Isabel não esteve
presente em nenhuma das sessões do julgamento. Seus cúmplices foram
condenados à morte, sendo a forma de execução determinada por seus papéis nas
torturas: Ficzko foi decapitado e queimado; Dorka, Helena e Erzsi viram seus
próprios dedos serem cortados e foram atiradas para a fogueira ainda vivas.
Apenas Katarina foi ilibada e sua vida poupada, provavelmente devido a esta se
ter envolvido amorosamente com um dos juízes. Isabel foi condenada à prisão perpétua, em solitária. Foi encarcerada em um aposento do
castelo de Čachtice, sem portas ou janelas. A única comunicação com o exterior
era uma pequena abertura para a passagem de ar e de alimentos. A condessa
permaneceu aí os seus três últimos anos de vida, tendo sido encontrada morta
em 21 de agosto de 1614, não se
sabendo ao certo a data da sua morte, já que foram encontrados no aposento
vários pratos de comida intactos. Foi sepultada nas terras dos Báthory,
em Ecsed.
No julgamento de Isabel, não foram apresentadas provas sobre as torturas
e mortes, baseando-se toda a acusação no relato de testemunhas. Foi encontrado um diário no quarto da
condessa, no qual estavam registrados os nomes de cada vítima de Báthory com
sua própria letra. É de destacar, também, que as confissões dos cúmplices
de Báthory acerca dos crimes desta foram obtidas sob tortura. Após sua
morte, os registros de seus julgamentos foram lacrados porque a revelação de
suas atividades constituiriam um escândalo para a comunidade húngara reinante.
O rei húngaro Matias II proibiu que se mencionasse seu nome nos
círculos sociais.
Devido aos supostos
crimes horrendos que teria cometido, Báthory tornou-se numa das personagens
históricas mais inspiradoras da arte, nomeadamente a gótica: incontáveis
referências lhe têm sido feitas nas áreas do cinema, literatura, música, entre
outros.
Não foi senão cem
anos mais tarde que um padre jesuíta, László Turoczy, localizou
alguns documentos originais do julgamento e recolheu histórias que circulavam
entre os habitantes de Čachtice. Turoczy incluiu um relato de sua vida no livro
que escreveu sobre a história da Hungria. Seu livro
sugeria a possibilidade de Isabel ter-se banhado em
sangue. Publicado no ano de 1720, o livro
surgiu durante uma onda de interesse pelo vampirismo na Europa oriental. Assim começou a espalhar-se o mito de que
Isabel eventualmente bebia e se banhava no sangue das meninas que matava.
Escritores
posteriores retomariam a história, acrescentando alguns detalhes. Duas
histórias ilustram as lendas que se formaram em torno de Erzsébet Báthory,
apesar da ausência de registros jurídicos sobre sua vida e das tentativas de
remover qualquer menção a ela na história da Hungria:
Diz-se que certo dia a condessa, já sem o frescor
da juventude, estava a ser penteada por uma jovem criada, quando esta puxou os seus
cabelos acidentalmente. Instintivamente, Erzsébet virou-se para ela e
espancou-a com tamanha brutalidade, que algum sangue espirrou e algumas gotas
caíram na sua mão. Ao remover o sangue, pareceu-lhe que este havia
rejuvenescido a sua pele. Foi após esse incidente que passou a banhar-se em
sangue de virgens, pois estas não estavam corrompidas pelo pecado original, sendo
assim seu sangue puro e eventualmente milagroso. Reza a lenda que, em um
calabouço, existia uma gaiola pendurada no teto construído com lâminas, ao
invés de barras. A condessa se sentava em uma cadeira embaixo desta gaiola.
Então, era colocada uma donzela nesta gaiola e Ficzko espetava e atiçava a
prisioneira com uma lança comprida.
Esta se debatia, o que fazia com que se cortasse nas lâminas da gaiola, e o
sangue resultante dos cortes banhava Erzsébet.
Uma segunda história refere-se ao comportamento de
Erzsébet após a morte do marido, quando se dizia que ela se envolvia com homens
mais jovens. Numa ocasião, enquanto passeava na aldeia na companhia de um
desses homens, viu uma mulher de idade avançada e perguntou a ele: "O que
farias se tivesses de beijar aquela bruxa velha?". O homem respondeu com
palavras de desprezo. A velha, entretanto, ao ouvir o diálogo, acusou Erzsébet
de excessiva vaidade e
acrescentou que a decadência física era inevitável, mesmo para uma condessa.
Diversos historiadores têm relacionado a morte do marido de Erzsébet e esse
episódio com seu receio de envelhecer.
Hoje em dia, também
há quem creia que a condessa tenha sido, ela própria, uma vítima da ambição
humana: ela era a mulher mais rica da Hungria, o próprio rei lhe devia uma
fortuna, seu latifúndio correspondia
a cerca de 2/3 do território húngaro e ela era, de longe, a aristocrata mais
poderosa do clã Bathory. Nunca foram encontradas provas concretas dos crimes
bárbaros creditados à condessa, podendo toda a história da sua vida ter sido
forjada pelos nobres da época.
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