História
A grande fome é também recordada como a maior
catástrofe demográfica a atingir a Europa entre a Guerra dos
Trinta Anos e a Primeira
Guerra Mundial
A fome foi um
choque social na história da Irlanda: os efeitos alteraram para sempre o
plano demográfico, político e cultural irlandês. Entrou para a memória
popular, sendo desde então um dos pontos mais lembrados pelos movimentos
nacionalistas irlandeses. A história da Irlanda geralmente é dividida entre os períodos
"pré-fome" e "pós-fome". A grande fome é também recordada como a
maior catástrofe demográfica a atingir a Europa entre a Guerra dos Trinta Anos e a Primeira Guerra Mundial, com um
excesso de mais de um milhão de mortes na Irlanda em relação ao expectável se
não tivesse existido.
Desde 1801 a
Irlanda era governada segundo o Ato de União de 1800, como parte do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda. O poder executivo estava
nas mãos do Lorde Tenente da Irlanda e do
Secretário Geral da Irlanda, os dois apontados no cargo pelo Governo Britânico. A Irlanda enviou 105 membros do parlamento para
a Câmara dos Comuns do Reino Unido, e os
representantes irlandeses elegiam entre si 28 membros para um cargo perpétuo
na Câmara dos Lordes. Entre 1832 e 1859, 70% dos representantes
irlandeses eram donos de terras ou filhos de donos de terras.
Nos 40 anos de
união que se seguiram, os sucessivos governos britânicos tentaram resolver os
problemas de governação de um país que, de acordo com Benjamin Disraeli em
1844, tinha "uma população morrendo de fome, uma aristocracia ausente,
uma Igreja alienígena, além do mais fraco governo
executivo do planeta." Um historiador calculou que entre 1801 e 1845
houve 114 comissões e 61 comitês especiais que visitaram o estado da Irlanda e
"todos sem exceção profetizavam um desastre; a Irlanda estava à beira de
uma fome em massa, a população crescendo rapidamente, três quartos dos
trabalhadores desempregados, péssimas condições de habitação e nível de vida
inacreditavelmente baixo." Isso era um contraste com o estado
britânico, que tinha começado a aproveitar a prosperidade moderna da Era Vitoriana e
a Era Industrial. Leis contra a educação católica e a posse de
terras tornavam esse progresso impossível na Irlanda, até o código penal ser
abolido 50 anos após a fome, mas a recuperação da economia foi lenta, devido às
famílias donas de terra terem continuado com suas propriedades. O governo
britânico tinha começado a tributar pesadamente a agricultura e forçado a
região a exportar a maior parte dos seus alimentos para a Grã-Bretanha, o que
elevou a dependência da população local por tubérculos, o que tornava
suscetível o plantio a pragas. O governo britânico também tentou frustar
de todas as formas a ajuda humanitária durante a escassez, em um projeto
semelhante ao holodomor.
A emancipação
católica foi atingida em 1829. Os
católicos eram aproximadamente 80% da população, a maioria vivendo em condições
de pobreza e insegurança. No topo da pirâmide social estava
a classe ascendente protestante, os ingleses e as famílias anglo-irlandesas,
que eram donas das maiorias das terras, e que tinham poder ilimitado sobre seus
domínios. Algumas dessas propriedades eram vastas: por exemplo, o Conde de Lucan era
dono de 24 000 hectares. Muitos desses donos de terras viviam em
Inglaterra e eram chamados de "aristocracia ausente". Eles usavam
agentes para administrar suas propriedades, e o lucro era enviado para a
Inglaterra.17 Uma
boa parte deles nunca chegou a ir à Irlanda. Pagavam salários mínimos para
plantação ou criação de gado, para exportação.
Em 1843, o governo
britânico considerou a questão de terra a principal causa dos problemas no
país, e foi criada uma Comissão Real, liderada pelo Conde de Devon, para fazer
um inquérito das leis sobre a ocupação de terras na Irlanda. Daniel O'Connell descreveu
a comissão como totalmente tendenciosa, composta apenas por donos de
terras. Em Fevereiro de 1845, Devon relatou que era "impossível
descrever adequadamente as privações que os trabalhadores irlandeses e suas
famílias aguentavam… em muitos distritos seu único alimento era a batata, e sua
única bebida a água… seus
barracos mal protegiam contra o tempo… cama ou cobertor era luxo… e quase em
todas, seus porcos e pilhas de excremento consistiam sua única
propriedade". Os comissionados concluíram que não "podem esquecer a
enorme paciência que a classe trabalhadora tem mostrado ao aguentar um
sofrimento maior, nós acreditamos, que qualquer povo de qualquer país da Europa
tem que sustentar".
A comissão concluiu
que a principal causa era a péssima relação dos donos de terra com seus
empregados. Não existia realeza hereditária, laço feudal ou paternalismo como
na Inglaterra. A Irlanda era um país conquistado, como se depreende do discurso
do Conde de Clare sobre os donos de terras: "o título é confiscar a
terra". De acordo com Woodham-Smith, os donos de terra irlandeses achavam
que as suas terras eram apenas fonte de riqueza de onde se devia extrair a
maior quantidade de dinheiro possível, com os irlandeses "expressando seu
descontentamento em quieta indignação". De acordo com o Conde de Clare, a
Irlanda era um lugar hostil para se viver, e como consequência a aristocracia
ausente era comum, com alguns visitando suas propriedades apenas uma ou duas
vezes em suas vidas. O dinheiro do aluguel das terras era todo gasto na
Inglaterra, sendo estimado que um total de seis milhões de libras foram enviados
para fora da Irlanda apenas em 1842. A coleta
desses valores ficava nas mãos dos agentes dos donos das terras, cujo talento
era avaliado de acordo com a quantidade de dinheiro que conseguiam extorquir às
pessoas.
Durante o século
XVIII um novo sistema para negociar com os donos de terra foi criado, o sistema
do "intermediário". Isto garantia aos donos de terra um fluxo
contínuo de rendimento, e lhes retirava qualquer responsabilidade; o locatário
porém era sujeito a humilhações pelo intermediário. Descritos pela comissão
como os "mais opressivos tiranos que ajudaram à destruição do próprio
país", eram descritos como "tubarões de terra" e
"vampiros".
O intermediário
alugava grandes quantidades de terra dos donos a uma taxa plana, que era
definida como eles bem entendiam. Então dividiam essa terra em vários pequenos
lotes para aumentar a quantidade de aluguéis que podiam obter, um sistema
conhecido como germinação. Os locatários podiam ser expulsos por
razões como não pagamento dos aluguéis, que eram extremamente altos, ou pela
decisão do dono da terra de criar ovelhas em vez plantar grãos. O locatário
pagava o aluguel trabalhando para o dono da terra.
Qualquer melhoria
feita nas propriedades era tornada automaticamente propriedade dos donos das
terras quando o contrato terminava, o que agia como um desestimulante para
melhorias. Os locatários não tinham nenhum tipo de segurança em relação à
terra, e podiam ser expulsos a qualquer momento. Esta classe de locatários
formava a maioria dos camponeses na Irlanda, exceto no Ulster, onde
existia uma prática conhecida como "direito do locatário", onde os
locatários eram compensados por qualquer melhoria feita na propriedade feita
por si. Os comissários disseram, de acordo com Woodham-Smith, que "a
superior prosperidade e tranquilidade de Ulster, comparada à do resto da
Irlanda, era devida ao direito do locatário".
Os donos de terra
da Irlanda usavam os seus poderes sem nenhum remorso, e as pessoas temiam-nos.
Nessas circunstâncias, diz Woodham-Smith, a "indústria e as empresas eram
extintas, e os camponeses criados eram por isso dos mais destituídos da
Europa".
Em 1845, 24% de
todas as fazendas de locatários irlandeses tinham área entre 0,4 e 2 hectares,
enquanto 40% iam de 2 até 6 hectares. As propriedades eram tão pequenas que
davam apenas para plantar batata, pois nenhuma outra plantação rendia o
suficiente para sustentar uma família. O governo britânico sabia que um pouco
antes da Grande Fome a pobreza era tão generalizada que um terço de todos os
fazendeiros de pequeno porte não podiam nem mesmo sustentar suas famílias, após
pagar o aluguel, a não ser através de ganhos do trabalho sazonal feito na
Inglaterra e na Escócia. Após a fome, reformas foram feitas proibindo a
divisão de terras até um certo tamanho.
O censo de 1841
mostrou uma população de apenas 8 milhões, dos quais dois terços dependiam
da agricultura para
sobreviver, mas raramente recebiam um salário para
trabalhar. Estes tinham que trabalhar para os donos de terra em troca do seu
próprio pedaço de terra, assim conseguindo plantar alimentos suficientes para
as suas famílias. Esse sistema forçou os irlandeses a praticar a monocultura, e apenas
a batata rendia
quantidades suficientes para sustentar toda uma família. O direito por um
pedaço de terra podia ser a diferença entre a vida e a morte na Irlanda no
início do século XIX.
A
infestação de batatas com Phytophtora infestans foi uma das causas principais da grande fome
na Irlanda.
A batata foi introduzida na Irlanda como planta de jardim. Em finais do século XVII tornar-se-ia um alimento
suplementar, enquanto a dieta principal ainda era baseada em pão, leite e
produtos baseados em grão de cereal. Nas
primeiras duas décadas do século XVIII a batata passou a ser o alimento de base
dos pobres, principalmente no inverno. A expansão da economia entre 1760 e 1815 viu
as batatas ocuparem o lugar de alimento principal durante todo o ano em todas
as pequenas propriedades rurais.
«As terras de pasto célticas da… Irlanda foram usadas para pasto de vacas durante
séculos. Os britânicos colonizaram… os irlandeses, transformando a maior
parte do campo em uma vasta terra de pasto para criar gado para um mercado
consumidor faminto em casa… O gosto britânico por carne teve
um impacto devastador para as pessoas pobres e desafortunadas da… Irlanda…
Retirados das melhores terras e forçados a plantar em pequenos pedaços de
terra marginal, os irlandeses recorreram à batata, uma colheita que podia ser
produtiva em solo pouco favorável. Eventualmente, as vacas tomaram a maior
parte da Irlanda, deixando a população nativa virtualmente dependente da
batata para a sobrevivência.»
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Antes da chegada da
doença Phytophthora infestans, existiam apenas
duas doenças principais da planta da batata. Uma era conhecida como 'dry rot' e
a outra era um vírus, conhecido como 'curl'.
Retrato de
Bridget O'Donnell e suas duas crianças durante a fome em 1849.
No censo de 1851 da
Irlanda feito pelos comissários anotaram-se 24 falhas na lavoura de batata
desde 1728, com vários graus de gravidade. Em 1739 a lavoura foi completamente
destruída, e novamente em 1740. Em 1770, a lavoura falhou novamente. Em 1800
houve outra falha generalizada, e em 1807 metade da lavoura foi perdida. Em
1821 e 1822, a lavoura de batata falhou completamente em Munster e Connacht, e 1830 e
1831 foram anos de falha nos condados de Mayo, Donegal e Galway. Em 1832,
1833, 1834 e 1836 um alto número de distritos sofreram sérias perdas, e em
1835, a lavoura falhou em Ulster. Em 1836 e
1837, houve falhas extensivas por toda Irlanda e novamente em 1839, onde a
falha foi universal em todo país. Tanto 1841 e 1844 a falha da lavoura foi
generalizada. De acordo com Woodham-Smith, "a falta de confiança na
lavoura de batata era um fato já reconhecido na Irlanda".
Não se sabe ao certo quando e de que modo a peste Phytophthora infestans atingiu a Europa, mas de acordo com P.M.A.
Bourke, a praga certamente não estaria presente antes de 1842, e provavelmente
chegou em 1844. Pelo menos uma das fontes de infestação sugere
como local de origem a região dos Andes, em
particular o Peru. A praga
deve ter vindo para a Europa em navios de carga de guano, que era
usado como fertilizante na Europa.
Em 1844, jornais
irlandeses traziam relatórios sobre a doença que há dois anos atacava a lavoura
de batatas nas Américas.30 De
acordo com James Donnelly, uma fonte provável foi o leste dos Estados Unidos,
onde em 1843 e 1844 a peste devastou a cultura de batatas, sugerindo que navios
de Baltimore, Filadélfia ou Nova Iorque poderão
ter trazido a doença para os portos europeus. W.C. Paddock sugere que ela foi
transportada em batatas usadas para alimentar passageiros nos navios de
imigrantes.
Quando a peste foi
introduzida, rapidamente se espalhou. Pelo final do verão e início do outono de
1845, já tinha atingido a Europa Central. A Bélgica, os Países Baixos, o norte
da França e o
sul da Inglaterra, em meados
de agosto estavam atingidos.
Em 16 de agosto,
o Gardeners' Chronicle and Horticultural Gazette publicou um
artigo que descreveu uma peste de caráter não usual na Ilha de Wight. Uma
semana depois, em 23 de agosto, foi relatado que uma doença assustadora
apareceu nas lavouras de batatas… na Bélgica foi dito que os campos estão
desolados. Não existe uma única amostra saudável no mercado de Covent Garden… Sobre a
cura para este destempero, não existe… Estes artigos
foram publicados extensivamente pelos jornais Irlandeses. Em 13 de
setembro, o Gardeners' Chronicle fez um anúncio
dramático: Nós paramos a prensa com muito pesar para informar que a
doença foi inequivocamente declarada na Irlanda. O Governo Britânico está
otimista apesar disto sobre as próximas semanas.
A perda das
culturas em 1845 foi
estimada em 50% até um terço. O comitê da Casa de Mansion em Dublin,
para onde centenas de cartas de toda Irlanda estavam endereçadas, declarou
em 19 de novembro de 1845 que sem sobra de dúvida mais de um
terço de toda a produção de batata fora destruída.
A grande
diáspora irlandesa
Em 1846 três
quartos das colheitas foram perdidas devido à peste. Em Dezembro, um terço
de milhão de pessoas destituídas foram empregadas pelo serviço público. De
acordo com Cormac Ó Gráda, o primeiro ataque da peste causou dificuldades
consideráveis na Irlanda rural, no outono de 1846, e as
primeiras mortes por fome foram registradas. Batatas para plantio estavam em
falta em 1847, e poucas germinaram, então a fome continuou. Em 1848, a
produtividade foi apenas dois terços do normal. Mais de 3 milhões de Irlandeses
eram dependentes de batatas para alimentação, então fome e mortes eram
inevitáveis.
Os registros mostram que os irlandeses
exportaram alimentos até durante a fome. Quando a Irlanda passou por uma fome
em 1782-1783, os portos foram fechados para manter os alimentos irlandeses na ilha. Os
preços locais aumentaram. Os mercadores reclamaram, mas o governo dispersou
todos os protestos. Tal não ocorreu na década de 1840.
Cecil Woodham-Smith, uma autoridade da
fome irlandesa, publicou em The
Great Hunger; Ireland 1845–1849, que nada enfureceu tanto as relações entre
a Inglaterra e a Irlanda como a "quantidade indisputável de alimentos
exportados para a Inglaterra a partir da Irlanda durante o período no qual as
pessoas da Irlanda estavam morrendo de fome". A Irlanda permaneceu como
exportador de alimentos durante todo o período da fome.
Christine Kinealy, da Universidade de Liverpool, autora de dois textos sobre a fome, Irish Famine: This Great Calamity e A
Death-Dealing Famine, publicou que as exportações irlandesas de gado
(exceto porcos) na verdade aumentaram durante a fome. Os alimentos eram enviados
sob escolta das partes do país atingidas pela fome. Porém, os pobres não tinham
dinheiro para comprar alimentos, e o governo não baniu as exportações...
William Smith O'Brien, discursando
sobre caridade da Repeal Association, em fevereiro de 1845, aplaudiu o fato que
o sentimento universal sobre o assunto era que não seria aceite a caridade
inglesa. O'Brien expressou a visão que os recursos do país eram mais do que
suficientes para adequadamente manter a população e até que esses recursos não
tenham sido exauridos, ele esperava que ninguém na Irlanda iria se
"degradar" pedindo ajuda para a Inglaterra.
Mitchel publicou sobre isto em seu The Last Conquest of Ireland
(Perhaps), dizendo que ninguém da Irlanda jamais pediu por caridade durante
o período, e que era a Inglaterra que estava procurando por caridade em nome da
Irlanda, e, tendo recebido, também era o responsável por administrar ela.
Grandes quantidades de dinheiro foram
doadas por caridade. Calcutá é creditado pela primeira doação de
14 000 libras. O dinheiro foi levantado pelos soldados irlandeses que
serviam a Companhia Britânica das Índias
Orientais. O Papa Pio IX enviou fundos, e a Rainha Vitória também (doou 2000
libras).
Com a fome veio um vasto sistema de proselitismo… e uma rede de associações
Protestantes bem intencionadas se espalhou em todas as partes mais pobres do
país, onde em troca da sopa e outras ajudas angariavam pessoas em suas igrejas
e escolas… O movimento deixou sementes amargas que ainda não morreram, e os
Protestantes, e não sempre excluindo os Amigos, sacrificaram muita da própria influencia que um dia eles tiveram…
Em adição as organizações religiosas,
organizações não religiosas também vieram em assistência às vitimas. A
Associação Britânica de Ajuda era um desses grupos. Fundado em 1847, a
Associação levantou dinheiro pela Inglaterra, América e Austrália. Seus fundos
se beneficiaram de uma Carta da Rainha, a carta da Rainha Vitória que pedia por
dinheiro para aliviar o desespero na Irlanda. Com
a carta inicial, a Associação conseguiu 171 533 libras. Uma segunda carta,
menos bem sucedida, foi publicada no final de 1847. No total, a Associação
levantou 200 000 libras.
Instituições privadas como o comitê
central de ajuda da Sociedade dos Amigos (Quakers) tentaram preencher o vazio
causado pelo fim da ajuda do governo até ao restabelecimento desta, apesar de a
burocracia ter reduzido a velocidade da distribuição dos alimentos.
A fome foi
responsável por um aumento significativo da emigração da Irlanda, entre 45% e
85%, dependendo do ano e do condado, mas não foi a única causa. Não foi esta
sequer a época em que a emigração em massa da Irlanda começou. A emigração pode
ser datada de meados do século XVIII, quando um quarto de milhão de pessoas
deixou a Irlanda em direção ao Novo Mundo, por um período
de 50 anos. Da derrota de Napoleão até ao inicio da fome, um período de 30
anos, "pelo menos 1 000 000 possivelmente
1 500 000, emigraram". Porém, na pior parte da fome, a emigração
atingiu cerca de 250 000 em apenas um ano, com a maioria dos emigrantes
saindo da Irlanda Ocidental.
Famílias em
massa não emigravam, apenas os membros mais jovens. Tanto assim foi
que a emigração se tornou uma espécie de rito de passagem, como é
evidenciado pelos dados que mostravam que, diferentemente de emigrações
similares durante a história, as mulheres emigravam em mesmo número que os
homens. Os emigrantes iniciavam a nova vida e remetiam dinheiro,
"atingindo 1 404 000 libras em 1851", para as suas
famílias na Irlanda.
A emigração durante
os anos da fome em 1845 até 1850 era sobretudo dirigida para a Inglaterra,
Escócia, Estados Unidos, Canadá e Austrália. Muitos dos que foram para as
Américas usavam a já bem estabelecida Linha McCorkell. Dos 100 000
irlandeses que navegaram para o Canadá em 1847, estima-se em um quinto os que
morriam de fome e desnutrição, incluindo cinco mil em Grosse Île. Atingir
uma mortalidade de 30% em alguns navios era comum.
Em 1854, entre 1,5
e 2 milhões de irlandeses abandonaram o seu país devido a despejos, fome e
condições de vida horríveis. Na América, a maioria dos irlandeses se tornaram
andarilhos: com pouco dinheiro, muitos tinham que ficar nas cidades onde os
seus navios ancoravam. Em 1850, os irlandeses eram um quarto da população de
Boston, Nova Iorque, Filadélfia e Baltimore. Muitos irlandeses tornar-se-iam
maioria em algumas comunidades de mineração das Américas.
O censo de 1851 no
Canadá reportou que mais de metade dos habitantes de Toronto eram irlandeses, e
em 1847 apenas, 38 000 irlandeses famintos invadiram uma cidade com um
pouco mais de 20 000 cidadãos. Outras cidades do Canadá também receberam
grandes quantidades de emigrantes irlandeses, já que o Canadá, como parte do
Império Britânico, não podia fechar seus portos para os navios irlandeses como
os Estados Unidos, e as passagens podiam ser adquiridas por baixo preço (ou até
de graça no caso de despejos, dependendo do proprietário). Porém, com medo de
uma revolta nacionalista, o governo Britânico passou a criar barreiras para a
emigração irlandesa no Canadá após 1847, resultando em um aumento para as
emigrações para os Estados Unidos.
A fome marcou o início de um rápido declínio populacional na Irlanda no
século XIX. A população havia aumentado entre 13% e 14% nas primeiras
três décadas do século XIX. Entre 1831 e 1841 a população cresceu 5%. A
aplicação das ideias de Thomas Malthus, sobre a
população se expandir geometricamente enquanto os recursos aumentavam
linearmente, eram populares durante os períodos da fome em 1817 e 1822. Porém,
na década de 1830, uma década antes da grande fome, essas teorias eram vistas
como simplistas demais.
A batata
continuaria a ser a produção agrícola principal da Irlanda depois da fome. No
final do século XIX, o consumo per capita de batata na ilha era de 4 libras por
dia, o mais alto do mundo.121 Fomes
posteriores tiveram um impacto bem menor e são geralmente minimizadas ou
esquecidas, exceto pelos historiadores. No recenseamento de 1911, a ilha da
Irlanda tinha cerca de 4,4 milhões de habitantes , aproximadamente o mesmo que
em 1800 e 2000, e cerca de metade da sua maior população histórica.
A visão
contemporânea deste evento era duramente crítica com a resposta do governo de Russell
e com a gestão da crise. Desde o início que houve acusações ao governo de
incapacidade de prever a magnitude do desastre. Sir James Graham, que foi Secretário de Estado para os Assuntos
Internos no último governo de Robert Peel, escreveu
a este que, em sua opinião, "a real extensão das dificuldades irlandesas
são subestimadas pelo governo, e não podem ser colmatadas por medidas no âmbito
estreito da ciência económica." . Na visão atual, é ainda um assunto
controverso na história da Irlanda. Debates e discussões sobre o papel do governo
britânico à falha na colheita de batata e consequente fome de grande escala, e
se tal poderia ser visto como genocídio por
omissão, permanecem questões polémicas dos pontos de vista histórico e
político.
Memorial às
vítimas da fome em Dublin.
A tragédia é
recordada em vários memoriais por
toda a Irlanda, especialmente nas regiões que sofreram as maiores perdas, e nas
cidades de todo o mundo para onde significativas comunidades de irlandeses
emigraram. Entre estes memoriais incluem-se o dos Custom House Quays, em Dublin,
com esculturas de figuras esquálidas, do artista Rowan Gillespie, figuras
essas que estão como que a dirigir-se para os navios no Dublin Quayside. Há
também um grande memorial no Murrisk Millennium Peace Park ao pé de Croagh
Patrick no condado de Mayo.
Entre os
memoriais nos Estados Unidos merece destaque o Irish Hunger Memorial em Nova Iorque, cidade
onde muitos irlandeses chegaram para fugir à fome.
Passado já mais de
um século e meio sobre a grande fome, um aspeto que permaneceu ligado à cultura
irlandesa tem sido o empenho de muitos irlandeses, famosos ou não, no combate à
fome a nível internacional. Em 1985 o irlandês Bob Geldof, fundador
do Live Aid, revelou
que o povo da Irlanda contribuiu para a recolha de fundos desta campanha com o
maior valor per capita do que o de qualquer outro pais. Diversas ONGs
irlandesas desempenham um papel central no combate à fome em África. Em
2000, Bono, cantor da
banda U2, fez
campanha pela anulação da dívida de países africanos por ocasião do lançamento
da iniciativa "Jubilee 2000"
Nesta época, os muçulmanos e o islamismo estão sendo associados ao extremismo e ao terrorismo e são retratados como um grupo bárbaro que não conhece nada além de violência pela grande mídia.
ResponderExcluir"Esquecem" o legado dos muçulmanos quando o califa ajudou a Irlanda durante 'A Grande Fome' quando mais de um milhão morreu e outro milhão fugiu. O califa otomano na época enviou 1.000 libras de prata e carregamentos de necessidades no valor de 9.000 libras de prata. Esse presente generoso vale mais que um milhão de libras na moeda atual. Os nobres da Irlanda escreveram uma nota de agradecimento ao califa que existe até hoje.
Nós, como muçulmanos, devemos nos orgulhar de nosso legado, não somos perfeitos, mas temos, se REALMENTE sabemos nossa história, contribuído mais para este mundo do que qualquer outra nação ou religião.