domingo, 8 de fevereiro de 2015

A GRANDE FOME DA IRLANDA

História

 A grande fome é também recordada como a maior catástrofe demográfica a atingir a Europa entre a Guerra dos Trinta Anos e a Primeira Guerra Mundial

 A Grande fome de 1845–1849 na Irlanda (em irlandêsAn Gorta Mór ou A Grande Fom) foi um período de fomedoenças e emigração em massa entre 1845 e uma data variável entre 1849 e 1852, em que a população da Irlanda se reduziu entre 20 e 25 por cento. A fome provocou a morte a cerca de um milhão de pessoas e forçou mais de um milhão a emigrar da ilha. A causa mais próxima da fome foi uma doença provocada pelo o omiceto Phytophthora infestans, que contaminou em larguíssima escala as batatas em toda a Europa durante a década de 1840. Apesar de a Europa inteira ter sido atingida, um terço de toda a população da Irlanda dependia unicamente de batatas para sobreviver, e o problema foi exacerbado por vários fatores ligados à situação política, social e econômica que ainda são matéria de debate na comunidade acadêmica.

A fome foi um choque social na história da Irlanda: os efeitos alteraram para sempre o plano demográfico, político e cultural irlandês. Entrou para a memória popular, sendo desde então um dos pontos mais lembrados pelos movimentos nacionalistas irlandeses. história da Irlanda geralmente é dividida entre os períodos "pré-fome" e "pós-fome". A grande fome é também recordada como a maior catástrofe demográfica a atingir a Europa entre a Guerra dos Trinta Anos e a Primeira Guerra Mundial, com um excesso de mais de um milhão de mortes na Irlanda em relação ao expectável se não tivesse existido.


Desde 1801 a Irlanda era governada segundo o Ato de União de 1800, como parte do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda. O poder executivo estava nas mãos do Lorde Tenente da Irlanda e do Secretário Geral da Irlanda, os dois apontados no cargo pelo Governo Britânico. A Irlanda enviou 105 membros do parlamento para a Câmara dos Comuns do Reino Unido, e os representantes irlandeses elegiam entre si 28 membros para um cargo perpétuo na Câmara dos Lordes. Entre 1832 e 1859, 70% dos representantes irlandeses eram donos de terras ou filhos de donos de terras.
Nos 40 anos de união que se seguiram, os sucessivos governos britânicos tentaram resolver os problemas de governação de um país que, de acordo com Benjamin Disraeli em 1844, tinha "uma população morrendo de fome, uma aristocracia ausente, uma Igreja alienígena, além do mais fraco governo executivo do planeta." Um historiador calculou que entre 1801 e 1845 houve 114 comissões e 61 comitês especiais que visitaram o estado da Irlanda e "todos sem exceção profetizavam um desastre; a Irlanda estava à beira de uma fome em massa, a população crescendo rapidamente, três quartos dos trabalhadores desempregados, péssimas condições de habitação e nível de vida inacreditavelmente baixo." Isso era um contraste com o estado britânico, que tinha começado a aproveitar a prosperidade moderna da Era Vitoriana e a Era Industrial. Leis contra a educação católica e a posse de terras tornavam esse progresso impossível na Irlanda, até o código penal ser abolido 50 anos após a fome, mas a recuperação da economia foi lenta, devido às famílias donas de terra terem continuado com suas propriedades. O governo britânico tinha começado a tributar pesadamente a agricultura e forçado a região a exportar a maior parte dos seus alimentos para a Grã-Bretanha, o que elevou a dependência da população local por tubérculos, o que tornava suscetível o plantio a pragas. O governo britânico também tentou frustar de todas as formas a ajuda humanitária durante a escassez, em um projeto semelhante ao holodomor.


A emancipação católica foi atingida em 1829. Os católicos eram aproximadamente 80% da população, a maioria vivendo em condições de pobreza e insegurança. No topo da pirâmide social estava a classe ascendente protestante, os ingleses e as famílias anglo-irlandesas, que eram donas das maiorias das terras, e que tinham poder ilimitado sobre seus domínios. Algumas dessas propriedades eram vastas: por exemplo, o Conde de Lucan era dono de 24 000 hectares. Muitos desses donos de terras viviam em Inglaterra e eram chamados de "aristocracia ausente". Eles usavam agentes para administrar suas propriedades, e o lucro era enviado para a Inglaterra.17 Uma boa parte deles nunca chegou a ir à Irlanda. Pagavam salários mínimos para plantação ou criação de gado, para exportação.
Em 1843, o governo britânico considerou a questão de terra a principal causa dos problemas no país, e foi criada uma Comissão Real, liderada pelo Conde de Devon, para fazer um inquérito das leis sobre a ocupação de terras na Irlanda. Daniel O'Connell descreveu a comissão como totalmente tendenciosa, composta apenas por donos de terras. Em Fevereiro de 1845, Devon relatou que era "impossível descrever adequadamente as privações que os trabalhadores irlandeses e suas famílias aguentavam… em muitos distritos seu único alimento era a batata, e sua única bebida a água… seus barracos mal protegiam contra o tempo… cama ou cobertor era luxo… e quase em todas, seus porcos e pilhas de excremento consistiam sua única propriedade". Os comissionados concluíram que não "podem esquecer a enorme paciência que a classe trabalhadora tem mostrado ao aguentar um sofrimento maior, nós acreditamos, que qualquer povo de qualquer país da Europa tem que sustentar".
A comissão concluiu que a principal causa era a péssima relação dos donos de terra com seus empregados. Não existia realeza hereditária, laço feudal ou paternalismo como na Inglaterra. A Irlanda era um país conquistado, como se depreende do discurso do Conde de Clare sobre os donos de terras: "o título é confiscar a terra". De acordo com Woodham-Smith, os donos de terra irlandeses achavam que as suas terras eram apenas fonte de riqueza de onde se devia extrair a maior quantidade de dinheiro possível, com os irlandeses "expressando seu descontentamento em quieta indignação". De acordo com o Conde de Clare, a Irlanda era um lugar hostil para se viver, e como consequência a aristocracia ausente era comum, com alguns visitando suas propriedades apenas uma ou duas vezes em suas vidas. O dinheiro do aluguel das terras era todo gasto na Inglaterra, sendo estimado que um total de seis milhões de libras foram enviados para fora da Irlanda apenas em 1842. A coleta desses valores ficava nas mãos dos agentes dos donos das terras, cujo talento era avaliado de acordo com a quantidade de dinheiro que conseguiam extorquir às pessoas.


Durante o século XVIII um novo sistema para negociar com os donos de terra foi criado, o sistema do "intermediário". Isto garantia aos donos de terra um fluxo contínuo de rendimento, e lhes retirava qualquer responsabilidade; o locatário porém era sujeito a humilhações pelo intermediário. Descritos pela comissão como os "mais opressivos tiranos que ajudaram à destruição do próprio país", eram descritos como "tubarões de terra" e "vampiros".
O intermediário alugava grandes quantidades de terra dos donos a uma taxa plana, que era definida como eles bem entendiam. Então dividiam essa terra em vários pequenos lotes para aumentar a quantidade de aluguéis que podiam obter, um sistema conhecido como germinação. Os locatários podiam ser expulsos por razões como não pagamento dos aluguéis, que eram extremamente altos, ou pela decisão do dono da terra de criar ovelhas em vez plantar grãos. O locatário pagava o aluguel trabalhando para o dono da terra.
Qualquer melhoria feita nas propriedades era tornada automaticamente propriedade dos donos das terras quando o contrato terminava, o que agia como um desestimulante para melhorias. Os locatários não tinham nenhum tipo de segurança em relação à terra, e podiam ser expulsos a qualquer momento. Esta classe de locatários formava a maioria dos camponeses na Irlanda, exceto no Ulster, onde existia uma prática conhecida como "direito do locatário", onde os locatários eram compensados por qualquer melhoria feita na propriedade feita por si. Os comissários disseram, de acordo com Woodham-Smith, que "a superior prosperidade e tranquilidade de Ulster, comparada à do resto da Irlanda, era devida ao direito do locatário".
Os donos de terra da Irlanda usavam os seus poderes sem nenhum remorso, e as pessoas temiam-nos. Nessas circunstâncias, diz Woodham-Smith, a "indústria e as empresas eram extintas, e os camponeses criados eram por isso dos mais destituídos da Europa".


Em 1845, 24% de todas as fazendas de locatários irlandeses tinham área entre 0,4 e 2 hectares, enquanto 40% iam de 2 até 6 hectares. As propriedades eram tão pequenas que davam apenas para plantar batata, pois nenhuma outra plantação rendia o suficiente para sustentar uma família. O governo britânico sabia que um pouco antes da Grande Fome a pobreza era tão generalizada que um terço de todos os fazendeiros de pequeno porte não podiam nem mesmo sustentar suas famílias, após pagar o aluguel, a não ser através de ganhos do trabalho sazonal feito na Inglaterra e na Escócia. Após a fome, reformas foram feitas proibindo a divisão de terras até um certo tamanho.
O censo de 1841 mostrou uma população de apenas 8 milhões, dos quais dois terços dependiam da agricultura para sobreviver, mas raramente recebiam um salário para trabalhar. Estes tinham que trabalhar para os donos de terra em troca do seu próprio pedaço de terra, assim conseguindo plantar alimentos suficientes para as suas famílias. Esse sistema forçou os irlandeses a praticar a monocultura, e apenas a batata rendia quantidades suficientes para sustentar toda uma família. O direito por um pedaço de terra podia ser a diferença entre a vida e a morte na Irlanda no início do século XIX.

A infestação de batatas com Phytophtora infestans foi uma das causas principais da grande fome na Irlanda.

batata foi introduzida na Irlanda como planta de jardim. Em finais do século XVII tornar-se-ia um alimento suplementar, enquanto a dieta principal ainda era baseada em pãoleite e produtos baseados em grão de cereal. Nas primeiras duas décadas do século XVIII a batata passou a ser o alimento de base dos pobres, principalmente no inverno. A expansão da economia entre 1760 e 1815 viu as batatas ocuparem o lugar de alimento principal durante todo o ano em todas as pequenas propriedades rurais.
«As terras de pasto célticas da… Irlanda foram usadas para pasto de vacas durante séculos. Os britânicos colonizaram… os irlandeses, transformando a maior parte do campo em uma vasta terra de pasto para criar gado para um mercado consumidor faminto em casa… O gosto britânico por carne teve um impacto devastador para as pessoas pobres e desafortunadas da… Irlanda… Retirados das melhores terras e forçados a plantar em pequenos pedaços de terra marginal, os irlandeses recorreram à batata, uma colheita que podia ser produtiva em solo pouco favorável. Eventualmente, as vacas tomaram a maior parte da Irlanda, deixando a população nativa virtualmente dependente da batata para a sobrevivência.»
Jeremy RifkinBeyond Beef (pp. 56–57).
Antes da chegada da doença Phytophthora infestans, existiam apenas duas doenças principais da planta da batata. Uma era conhecida como 'dry rot' e a outra era um vírus, conhecido como 'curl'.

Retrato de Bridget O'Donnell e suas duas crianças durante a fome em 1849.

No censo de 1851 da Irlanda feito pelos comissários anotaram-se 24 falhas na lavoura de batata desde 1728, com vários graus de gravidade. Em 1739 a lavoura foi completamente destruída, e novamente em 1740. Em 1770, a lavoura falhou novamente. Em 1800 houve outra falha generalizada, e em 1807 metade da lavoura foi perdida. Em 1821 e 1822, a lavoura de batata falhou completamente em Munster e Connacht, e 1830 e 1831 foram anos de falha nos condados de MayoDonegal e Galway. Em 1832, 1833, 1834 e 1836 um alto número de distritos sofreram sérias perdas, e em 1835, a lavoura falhou em Ulster. Em 1836 e 1837, houve falhas extensivas por toda Irlanda e novamente em 1839, onde a falha foi universal em todo país. Tanto 1841 e 1844 a falha da lavoura foi generalizada. De acordo com Woodham-Smith, "a falta de confiança na lavoura de batata era um fato já reconhecido na Irlanda".
Não se sabe ao certo quando e de que modo a peste Phytophthora infestans atingiu a Europa, mas de acordo com P.M.A. Bourke, a praga certamente não estaria presente antes de 1842, e provavelmente chegou em 1844. Pelo menos uma das fontes de infestação sugere como local de origem a região dos Andes, em particular o Peru. A praga deve ter vindo para a Europa em navios de carga de guano, que era usado como fertilizante na Europa.
Em 1844, jornais irlandeses traziam relatórios sobre a doença que há dois anos atacava a lavoura de batatas nas Américas.30 De acordo com James Donnelly, uma fonte provável foi o leste dos Estados Unidos, onde em 1843 e 1844 a peste devastou a cultura de batatas, sugerindo que navios de BaltimoreFiladélfia ou Nova Iorque poderão ter trazido a doença para os portos europeus. W.C. Paddock sugere que ela foi transportada em batatas usadas para alimentar passageiros nos navios de imigrantes.
Quando a peste foi introduzida, rapidamente se espalhou. Pelo final do verão e início do outono de 1845, já tinha atingido a Europa Central. A Bélgica, os Países Baixos, o norte da França e o sul da Inglaterra, em meados de agosto estavam atingidos.
Em 16 de agosto, o Gardeners' Chronicle and Horticultural Gazette publicou um artigo que descreveu uma peste de caráter não usual na Ilha de Wight. Uma semana depois, em 23 de agosto, foi relatado que uma doença assustadora apareceu nas lavouras de batatas… na Bélgica foi dito que os campos estão desolados. Não existe uma única amostra saudável no mercado de Covent Garden… Sobre a cura para este destempero, não existe… Estes artigos foram publicados extensivamente pelos jornais Irlandeses. Em 13 de setembro, o Gardeners' Chronicle fez um anúncio dramático: Nós paramos a prensa com muito pesar para informar que a doença foi inequivocamente declarada na Irlanda. O Governo Britânico está otimista apesar disto sobre as próximas semanas.
A perda das culturas em 1845 foi estimada em 50% até um terço. O comitê da Casa de Mansion em Dublin, para onde centenas de cartas de toda Irlanda estavam endereçadas, declarou em 19 de novembro de 1845 que sem sobra de dúvida mais de um terço de toda a produção de batata fora destruída.

A grande diáspora irlandesa

Em 1846 três quartos das colheitas foram perdidas devido à peste. Em Dezembro, um terço de milhão de pessoas destituídas foram empregadas pelo serviço público. De acordo com Cormac Ó Gráda, o primeiro ataque da peste causou dificuldades consideráveis na Irlanda rural, no outono de 1846, e as primeiras mortes por fome foram registradas. Batatas para plantio estavam em falta em 1847, e poucas germinaram, então a fome continuou. Em 1848, a produtividade foi apenas dois terços do normal. Mais de 3 milhões de Irlandeses eram dependentes de batatas para alimentação, então fome e mortes eram inevitáveis.
Os registros mostram que os irlandeses exportaram alimentos até durante a fome. Quando a Irlanda passou por uma fome em 1782-1783, os portos foram fechados para manter os alimentos irlandeses na ilha. Os preços locais aumentaram. Os mercadores reclamaram, mas o governo dispersou todos os protestos. Tal não ocorreu na década de 1840.
Cecil Woodham-Smith, uma autoridade da fome irlandesa, publicou em The Great Hunger; Ireland 1845–1849, que nada enfureceu tanto as relações entre a Inglaterra e a Irlanda como a "quantidade indisputável de alimentos exportados para a Inglaterra a partir da Irlanda durante o período no qual as pessoas da Irlanda estavam morrendo de fome". A Irlanda permaneceu como exportador de alimentos durante todo o período da fome.
Christine Kinealy, da Universidade de Liverpool, autora de dois textos sobre a fome, Irish Famine: This Great Calamity e A Death-Dealing Famine, publicou que as exportações irlandesas de gado (exceto porcos) na verdade aumentaram durante a fome. Os alimentos eram enviados sob escolta das partes do país atingidas pela fome. Porém, os pobres não tinham dinheiro para comprar alimentos, e o governo não baniu as exportações...

Famine Memorial (1967) por Edward Delaney, no St. Stephen's Green, em Dublin.

William Smith O'Brien, discursando sobre caridade da Repeal Association, em fevereiro de 1845, aplaudiu o fato que o sentimento universal sobre o assunto era que não seria aceite a caridade inglesa. O'Brien expressou a visão que os recursos do país eram mais do que suficientes para adequadamente manter a população e até que esses recursos não tenham sido exauridos, ele esperava que ninguém na Irlanda iria se "degradar" pedindo ajuda para a Inglaterra.
Mitchel publicou sobre isto em seu The Last Conquest of Ireland (Perhaps), dizendo que ninguém da Irlanda jamais pediu por caridade durante o período, e que era a Inglaterra que estava procurando por caridade em nome da Irlanda, e, tendo recebido, também era o responsável por administrar ela.
Grandes quantidades de dinheiro foram doadas por caridade. Calcutá é creditado pela primeira doação de 14 000 libras. O dinheiro foi levantado pelos soldados irlandeses que serviam a Companhia Britânica das Índias Orientais. O Papa Pio IX enviou fundos, e a Rainha Vitória também (doou 2000 libras).


O quaker Alfred Webb, um dos muitos voluntários na Irlanda na época, escreveu:
Com a fome veio um vasto sistema de proselitismo… e uma rede de associações Protestantes bem intencionadas se espalhou em todas as partes mais pobres do país, onde em troca da sopa e outras ajudas angariavam pessoas em suas igrejas e escolas… O movimento deixou sementes amargas que ainda não morreram, e os Protestantes, e não sempre excluindo os Amigos, sacrificaram muita da própria influencia que um dia eles tiveram…
Em adição as organizações religiosas, organizações não religiosas também vieram em assistência às vitimas. A Associação Britânica de Ajuda era um desses grupos. Fundado em 1847, a Associação levantou dinheiro pela Inglaterra, América e Austrália. Seus fundos se beneficiaram de uma Carta da Rainha, a carta da Rainha Vitória que pedia por dinheiro para aliviar o desespero na Irlanda. Com a carta inicial, a Associação conseguiu 171 533 libras. Uma segunda carta, menos bem sucedida, foi publicada no final de 1847. No total, a Associação levantou 200 000 libras.
Instituições privadas como o comitê central de ajuda da Sociedade dos Amigos (Quakers) tentaram preencher o vazio causado pelo fim da ajuda do governo até ao restabelecimento desta, apesar de a burocracia ter reduzido a velocidade da distribuição dos alimentos.
A fome foi responsável por um aumento significativo da emigração da Irlanda, entre 45% e 85%, dependendo do ano e do condado, mas não foi a única causa. Não foi esta sequer a época em que a emigração em massa da Irlanda começou. A emigração pode ser datada de meados do século XVIII, quando um quarto de milhão de pessoas deixou a Irlanda em direção ao Novo Mundo, por um período de 50 anos. Da derrota de Napoleão até ao inicio da fome, um período de 30 anos, "pelo menos 1 000 000  possivelmente 1 500 000, emigraram". Porém, na pior parte da fome, a emigração atingiu cerca de 250 000 em apenas um ano, com a maioria dos emigrantes saindo da Irlanda Ocidental.
Famílias em massa não emigravam, apenas os membros mais jovens. Tanto assim foi que a emigração se tornou uma espécie de rito de passagem, como é evidenciado pelos dados que mostravam que, diferentemente de emigrações similares durante a história, as mulheres emigravam em mesmo número que os homens. Os emigrantes iniciavam a nova vida e remetiam dinheiro, "atingindo 1 404 000 libras em 1851", para as suas famílias na Irlanda.


A emigração durante os anos da fome em 1845 até 1850 era sobretudo dirigida para a Inglaterra, Escócia, Estados Unidos, Canadá e Austrália. Muitos dos que foram para as Américas usavam a já bem estabelecida Linha McCorkell. Dos 100 000 irlandeses que navegaram para o Canadá em 1847, estima-se em um quinto os que morriam de fome e desnutrição, incluindo cinco mil em Grosse Île. Atingir uma mortalidade de 30% em alguns navios era comum.
Em 1854, entre 1,5 e 2 milhões de irlandeses abandonaram o seu país devido a despejos, fome e condições de vida horríveis. Na América, a maioria dos irlandeses se tornaram andarilhos: com pouco dinheiro, muitos tinham que ficar nas cidades onde os seus navios ancoravam. Em 1850, os irlandeses eram um quarto da população de Boston, Nova Iorque, Filadélfia e Baltimore. Muitos irlandeses tornar-se-iam maioria em algumas comunidades de mineração das Américas.
O censo de 1851 no Canadá reportou que mais de metade dos habitantes de Toronto eram irlandeses, e em 1847 apenas, 38 000 irlandeses famintos invadiram uma cidade com um pouco mais de 20 000 cidadãos. Outras cidades do Canadá também receberam grandes quantidades de emigrantes irlandeses, já que o Canadá, como parte do Império Britânico, não podia fechar seus portos para os navios irlandeses como os Estados Unidos, e as passagens podiam ser adquiridas por baixo preço (ou até de graça no caso de despejos, dependendo do proprietário). Porém, com medo de uma revolta nacionalista, o governo Britânico passou a criar barreiras para a emigração irlandesa no Canadá após 1847, resultando em um aumento para as emigrações para os Estados Unidos.


A fome marcou o início de um rápido declínio populacional na Irlanda no século XIX. A população havia aumentado entre 13% e 14% nas primeiras três décadas do século XIX. Entre 1831 e 1841 a população cresceu 5%. A aplicação das ideias de Thomas Malthus, sobre a população se expandir geometricamente enquanto os recursos aumentavam linearmente, eram populares durante os períodos da fome em 1817 e 1822. Porém, na década de 1830, uma década antes da grande fome, essas teorias eram vistas como simplistas demais.
A batata continuaria a ser a produção agrícola principal da Irlanda depois da fome. No final do século XIX, o consumo per capita de batata na ilha era de 4 libras por dia, o mais alto do mundo.121 Fomes posteriores tiveram um impacto bem menor e são geralmente minimizadas ou esquecidas, exceto pelos historiadores. No recenseamento de 1911, a ilha da Irlanda tinha cerca de 4,4 milhões de habitantes , aproximadamente o mesmo que em 1800 e 2000, e cerca de metade da sua maior população histórica.
A visão contemporânea deste evento era duramente crítica com a resposta do governo de Russell e com a gestão da crise. Desde o início que houve acusações ao governo de incapacidade de prever a magnitude do desastre. Sir James Graham, que foi Secretário de Estado para os Assuntos Internos no último governo de Robert Peel, escreveu a este que, em sua opinião, "a real extensão das dificuldades irlandesas são subestimadas pelo governo, e não podem ser colmatadas por medidas no âmbito estreito da ciência económica." . Na visão atual, é ainda um assunto controverso na história da Irlanda. Debates e discussões sobre o papel do governo britânico à falha na colheita de batata e consequente fome de grande escala, e se tal poderia ser visto como genocídio por omissão, permanecem questões polémicas dos pontos de vista histórico e político.

Memorial às vítimas da fome em Dublin.

A tragédia é recordada em vários memoriais por toda a Irlanda, especialmente nas regiões que sofreram as maiores perdas, e nas cidades de todo o mundo para onde significativas comunidades de irlandeses emigraram. Entre estes memoriais incluem-se o dos Custom House Quays, em Dublin, com esculturas de figuras esquálidas, do artista Rowan Gillespie, figuras essas que estão como que a dirigir-se para os navios no Dublin Quayside. Há também um grande memorial no Murrisk Millennium Peace Park ao pé de Croagh Patrick no condado de Mayo.
 Entre os memoriais nos Estados Unidos merece destaque o Irish Hunger Memorial em Nova Iorque, cidade onde muitos irlandeses chegaram para fugir à fome.
Passado já mais de um século e meio sobre a grande fome, um aspeto que permaneceu ligado à cultura irlandesa tem sido o empenho de muitos irlandeses, famosos ou não, no combate à fome a nível internacional. Em 1985 o irlandês Bob Geldof, fundador do Live Aid, revelou que o povo da Irlanda contribuiu para a recolha de fundos desta campanha com o maior valor per capita do que o de qualquer outro pais. Diversas ONGs irlandesas desempenham um papel central no combate à fome em África. Em 2000, Bono, cantor da banda U2, fez campanha pela anulação da dívida de países africanos por ocasião do lançamento da iniciativa "Jubilee 2000"

Um comentário:

  1. Nesta época, os muçulmanos e o islamismo estão sendo associados ao extremismo e ao terrorismo e são retratados como um grupo bárbaro que não conhece nada além de violência pela grande mídia.

    "Esquecem" o legado dos muçulmanos quando o califa ajudou a Irlanda durante 'A Grande Fome' quando mais de um milhão morreu e outro milhão fugiu. O califa otomano na época enviou 1.000 libras de prata e carregamentos de necessidades no valor de 9.000 libras de prata. Esse presente generoso vale mais que um milhão de libras na moeda atual. Os nobres da Irlanda escreveram uma nota de agradecimento ao califa que existe até hoje.

    Nós, como muçulmanos, devemos nos orgulhar de nosso legado, não somos perfeitos, mas temos, se REALMENTE sabemos nossa história, contribuído mais para este mundo do que qualquer outra nação ou religião.


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