Colaboração
de Fernando Alcoforado*
A
humanidade se defronta com uma fronteira temporal que não é 2100, mas bem mais
cedo, 2030! Esta data não é arbitrária. Em 2030, viveremos em um planeta que
terá cerca de 9 bilhões de habitantes dos quais dois terços vivendo em uma
Terra saturada de poluição e dejetos já afetada por uma alta sensível de
temperaturas. Em 2030, estaremos entrando em uma fase de penúria em relação ao
petróleo e de forte tensão sobre outros combustíveis fósseis, em um contexto de
redução dos recursos naturais e empobrecimento de terras cultiváveis. Para
enfrentar os graves problemas ambientais do planeta não basta apontar soluções
técnicas por mais geniais que sejam, mas, sobretudo inventar uma nova
civilização.
Todo o
esforço que se realize para reduzir ou eliminar os gases do efeito estufa do
planeta Terra não será suficiente sem a emergência de uma nova ordem política e
ética comum para toda a humanidade.
A
concentração de gás carbônico na atmosfera que era de 280ppm (partículas por
milhão) em volume no início da era industrial deverá alcançar no século XXI
valores entre 540 e 970 ppm. Este aumento da concentração de gás carbônico é
responsável por 70% do aquecimento global em curso. O mundo está diante de um
desafio que é o de não permitir o aquecimento global no século XXI superior a
dois graus centígrados. Para evitar um aquecimento do planeta superior a C,
seria preciso estabilizar as concentrações de dióxido de carbono (e
equivalentes) em 450 ppm (partes por milhão). Para isso, as emissões mundiais
terão que ser reduzidas abaixo de seus níveis de 1990. Reduzir as emissões em
relação aos níveis de 1990 é um desafio gigantesco. Basta considerar que a
Agência Internacional de Energia (AIE), ao projetar as tendências recentes e as
políticas existentes, faz previsão de aumento de 50% da demanda energética até
2030, com continuada dependência dos combustíveis fósseis.
Modelos
climáticos referenciados pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas) da ONU projetam que as temperaturas globais de superfície provavelmente
aumentarão no intervalo entre 1,1 e 6,4 °C entre 1990 e 2100 em face dos níveis
cada vez maiores de dióxido de carbono (CO2) e metano na atmosfera. Este cenário só
não acontecerá se as emissões globais de CO2 e metano forem cortadas (Ver o
website http://www.ipcc.ch). No mundo, os combustíveis fósseis (petróleo e
carvão), sobretudo o petróleo, são responsáveis por 77% das emissões de dióxido
de carbono na atmosfera contribuindo decisivamente para o aquecimento global do
planeta que, se prognostica, poderá levar o planeta a um cenário climático
catastrófico a partir das próximas décadas. O uso de combustíveis fósseis na
agricultura e na pecuária, na indústria, nos transportes, residências e no
comércio e na produção de energia nas usinas termelétricas são os principais
vilões do efeito estufa, além do desmatamento. Para a
consecução do objetivo de redução das emissões mundiais de gases do efeito estufa,
torna-se um imperativo reduzir as emissões globais de carbono promovendo,
entre
outras medidas, mudanças no atual modelo energético mundial baseado atualmente
em combustíveis fósseis (carvão e petróleo) e nucleares, por outro estruturado
fundamentalmente com base nos recursos energéticos renováveis, na hidroeletricidade,
na biomassa e nas fontes de energia solar e eólica para evitar ou minimizar
o aquecimento global e, consequentemente, a ocorrência de mudanças catastróficas
no clima da Terra. Além disso, é preciso que se desenvolva uma política de economia
de energia na cidade e no campo, nas edificações, na agricultura, nas indústrias
e nos meios de transporte em geral contribuindo, dessa forma, para a redução das
emissões globais de carbono e, consequentemente, do efeito estufa.
Desde a
assinatura do Tratado de Kyoto sobre o clima em 1997 e as reuniões sucessivas
visando evitar a ocorrência da mudança climática catastrófica global que se
prognostica não tem havido grande progresso no combate ao aquecimento global.
Segundo a NASA, as concentrações de gases que provocam o efeito estufa na
atmosfera alcançaram o nível mais elevado dos últimos 800 mil anos. A temperatura
média na superfície da Terra e dos oceanos aumentou 0,85ºC entre 1880 e 2012,
um
aquecimento de velocidade inédita. De acordo com o documento da NASA, a Terra caminha
atualmente para um aumento de pelo menos 4º C até 2100 na comparação com nível da
era pré-industrial, o que provocará grandes secas, inundações, aumento do nível
do mar e extinção de muitas espécies, além de fome, populações deslocadas e
conflitos potenciais.
O ano de
2014 foi o mais quente do planeta desde o início dos registros em 1880, revelou o
relatório divulgado pela Agência Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês)
dos Estados Unidos. Dezembro também marcou uma temperatura média na superfície
da Terra e dos oceanos sem precedentes nos últimos 134 anos para este período do
ano. O relatório da agência informa que o recorde de aquecimento se propagou
pelo mundo. A agência disse ainda que as medições realizadas pela NASA de forma
independente chegam às mesmas conclusões. Quando são analisadas
separadamente
as superfícies da terra e dos oceanos, ambos os registros também marcam
recordes. Globalmente, a temperatura média da superfície dos mares foi a maior da
história, 0,57° C acima da média do século XX, enquanto a da superfície da terra
ultrapassou em 1° C esta mesma média.
No início
de dezembro, a OMM (Organização Meteorológica Mundial) da ONU, havia antecipado
que 2014 seria o ano mais quente já registrado no mundo. As regiões polares da
Terra são locais onde a mudança climática está tendo impactos visíveis e significativos.
O gelo marinho no Ártico diminuiu drasticamente nos últimos anos. As plataformas
de gelo da Antártica estão se desintegrando e rompendo. A Antártica é a maior
massa congelada com 90% do gelo da Terra. A maior parte do gelo fica na Antártica
Oriental que é mais alta, mais fria e menos propensa a derreter. Na Antártica
Ocidental,
parte do gelo está em depressões vulneráveis a derretimento. Dados da Agência
Espacial Europeia indicam que o continente antártico desprendeu 160 bilhões de
toneladas métricas de gelo por ano de 2010 a 2013.
Para
calcular a temperatura do planeta inteiro, são combinados os dados da
temperatura dos oceanos (que cobrem aproximadamente dois terços do planeta) com
a temperatura de terra firme. Os pesquisadores utilizam, ao todo, dados de
6.300 estações meteorológicas, de medições nos oceanos por navios e de estações
de pesquisa na Antártica. Uma das consequências do degelo dos polos e das
cordilheiras é a elevação do nível dos mares fazendo com que áreas costeiras e
ilhas em todo o mundo fiquem submersas. Geleiras menores em regiões de grande
altitude nos Andes, nos Alpes e no Himalaia, assim como no Alasca, estão em
processo ainda maior de derretimento que fariam o nível do mar subir cerca de
0,5 metro. As calotas glaciais da Antártica e da Groenlândia juntas contêm cem
vezes mais gelo do que todas as geleiras de montanha reunidas. A Groenlândia,
com 10% do gelo do mundo, pode elevar o nível do mar em sete metros.
Recentemente,
encontro realizado em Lima no Peru delineou os elementos principais do próximo
acordo global do clima, a ser assinado no fim de 2016 em Paris. O texto final, "Chamamento
de Lima para a Ação sobre o Clima", aponta os elementos principais do próximo
acordo global do clima visando a redução de emissões de gases de efeito-estufa no
período pós-2030. Espera-se que, em Paris, em 2016, o mundo chegue, finalmente,
a um acordo. O objetivo é evitar que a temperatura média do planeta não
ultrapasse 2º C fazendo as emissões de carbono pararem de crescer nos próximos
cinco ou dez anos e levá-las a zero em 2100. Além da redução dos gases
do efeito estufa, espera-se que em Paris seja dado início à formulação de uma
nova ordem mundial, uma nova civilização, a ser edificada que contribua para
organizar as relações entre os homens na face da Terra, bem como suas relações
com a natureza.
* Fernando
Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona,
professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas
energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo,
1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel,
São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os
condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado.
Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização
e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do
Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea
(EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development-
The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária
(P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o
progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica,
Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba,
2012), entre outros.
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