segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

DEVE A PETROBRAS SER PRIVATIZADA?

 

                                                 Raymundo Pinto
É desembargador aposentado do TRT, é escritor, membro da Academia de Letras        Jurídicas da Bahia e da Academia Feirense de Letras


O que parecia a princípio ser mais alguns atos de corrupção localizados, entre tantos outros, foi-se agigantando até se tornar o maior escândalo da história brasileira ou, segundo certa imprensa do exterior, um dos maiores do mundo. A cada dia que passa, nós cidadãos conscientes deste país ficamos estupefatos e revoltados ao conhecer os detalhes da escancarada roubalheira que se instalou na Petrobras. Não é uma simples companhia que integra o rol das estatais. Trata-se de uma empresa petrolífera de enorme porte, cuja importância, na nossa economia, expande sua influência por todo o imenso território nacional. A gravidade dos acontecimentos se acentua por envolver um verdadeiro símbolo, pois a empresa foi criada em 1953, por Getúlio Vargas, após memorável campanha popular, de claro sentido patriótico, que utilizou como lema “O petróleo é nosso”.

Apesar de o noticiário, há vários meses, tomar largos espaços da mídia, existe quase que uma combinação tácita em, de propósito, não destacar a circunstância de que facilitou a penetração dos corruptos nos postos diretivos da Petrobrás o fato de que ela tem absoluto controle estatal. Reparem que se evita a todo custo fazer a intrigante pergunta: os atos criminosos chegariam a tal monta se a empresa tivesse sido privatizada? Estou bem ciente que o simples lançamento em público dessa indagação será suficiente para desencadear contra o autor a pecha de “direitista”, “reacionário”, entre outros do gênero. Reconheço que o surgimento da Petrobras ocorreu numa época de exacerbado nacionalismo, decorrente de um contexto internacional em que as poderosas empresas petrolíferas representavam os principais instrumentos de dominação do capitalismo ou, para os extremistas, do “imperialismo americano”. É justificável a reação havida no passado, mas concito as pessoas de bom senso a perquirir a respeito das profundas transformações por que passa o mundo. A União Soviética esfacelou-se juntamente com a utopia socialista, a Alemanha se unificou, a chamada “guerra fria” acabou, países da Europa uniram-se, a China tornou-se potência econômica e, em consequência, o equilíbrio entre as nações visivelmente se alterou.


É chegado o momento de termos a coragem de proclamar que os tempos são outros. O Brasil, superando antigos preconceitos, registra indiscutíveis êxitos no terreno das privatizações. Antes de serem privatizadas as telecomunicações, um telefone fixo chegou a custar muito caro e não se encontrava, enquanto hoje existem mais celulares do que habitantes neste país. A Embraer, a Vale e a CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, entre outras, deixaram de ser cabides de emprego de políticos e de elevados prejuízos cobertos pelo Tesouro Nacional para tornarem-se lucrativos negócios. A própria Petrobras não mais mantém o monopólio total de antes. Até o PT, que tanto combateu as privatizações, assim que chegou ao poder não anulou nenhuma delas e já privatizou estradas, portos e aeroportos, embora, envergonhadamente, procure afirmar que faz “concessões”. A melhoria dos serviços é clara e imediata. A privatização da Petrobras seria fácil, bastando que o Estado, que detém mais da metade de suas ações, abrisse mão de parte delas.  
          
Outro aspecto a destacar é que os políticos, quando detêm o poder, esquecem o interesse público e logo querem “tirar vantagem em tudo”. Os partidos, com raras exceções, funcionam como pontas de lança na satisfação do apetite de seus principais dirigentes em apropriar-se do dinheiro do povo. Não há a menor dúvida de que, ocupando um alto cargo numa estatal, por indicação partidária, esses indivíduos desonestos passam a ter especial oportunidade de desviar recursos públicos. A Petrobras está aí como um gritante exemplo.

As investigações em torno do “petrolão” vão se arrastar ainda por longos meses ou anos. Ninguém pode prever quanto terminam e se, em realidade, se tornarão concretas as tão desejadas e prometidas rigorosas punições. A Nação brasileira espera que isso aconteça e que os inúmeros fatos que resultarem do episódio sirvam de lição para o aperfeiçoamento da democracia e para um severíssimo controle da corrupção, inclusive efetuando uma profunda reforma política, uma vez que, como todos sabem, a legislação atual facilita os desmandos com os quais somos obrigados a conviver.

Mesmo tendo consciência de que estou introduzindo a mão num “vespeiro”, insisto em sustentar que, na análise das causas que levaram ao maior escândalo da história, não se pode abandonar a pergunta que faço questão de repetir: os atos criminosos chegariam a tal monta se a empresa tivesse sido privatizada?

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