CIÊNCIA
Jonathan Amos
Correspondente de Ciência da BBC News,
de San Jose
Cientistas
britânicos vão usar um drone para fazer varreduras na Amazônia brasileira e
procurar vestígios de civilizações antigas.
O avião não-tripulado que será
enviado para a região é equipado com um laser que analisa e procura por áreas
onde podem ter existido construções há milhares de anos.
O objetivo do projeto é determinar
qual era o tamanho destas comunidades milenares e até que ponto elas alteraram
a paisagem local.
Os pesquisadores anunciaram a
iniciativa durante a reunião anual da Associação Americana para o Progresso da
Ciência (AAAS, na sigla em inglês), na cidade de San Jose, na Califórnia.
O projeto, uma parceria entre
agências e instituições do Brasil e Europa, já conseguiu uma verba de US$ 1,9
milhão (cerca de R$ 5,3 milhões) do Conselho Europeu de Pesquisa.
Dependendo dos dados obtidos, eles
também podem ser usados para a elaboração de políticas de uso sustentável da
floresta.
Mas a questão mais importante é
tentar compreender a escala e as atividades das populações que viveram na
Amazônia no final do período antes da chegada dos europeus à América, ou seja,
os últimos 3 mil anos antes de 1490.
Padrões
no solo
A equipe internacional vai tentar
encontrar na Amazônia os chamados geoglifos, que são desenhos geométricos
grandes feitos no chão.
O drone usado no projeto carrega um instrumento a
laser que pode examinar áreas que não foram desmatadas
Mais de 450 destes geoglifos, em
vários formatos geométricos, foram encontrados em locais onde ocorreu
desmatamento.
Mas até hoje ninguém sabe exatamente
o que estes círculos, quadrados e linhas representam - há indícios de que
fossem centros cerimoniais.
No entanto, o que se sabe é que eles
são provas de um comportamento coletivo.
"É um debate acalorado agora na
arqueologia do Novo Mundo", afirmou José Iriarte, da Universidade de
Exeter, na Grã-Bretanha.
"Enquanto alguns pesquisadores
acreditam que a Amazônia foi habitada por pequenos grupos de
caçadores-coletores ou então por pequenos grupos de cultivavam apenas para a
subsistência, que tiveram um impacto mínimo no meio ambiente, e que a floresta
que vemos hoje foi intocada por milhares de anos, há cada vez mais provas
mostrando que este pode não ser o caso."
"Estas provas sugerem que a
Amazônia pode ter sido habitada por sociedades grandes, numerosas, complexas e
hierárquicas que tiveram um grande impacto no meio ambiente; o que nos chamamos
de 'hipótese do parque cultural'", disse o cientista à BBC.
Drone
e satélite
O projeto de Iriarte prevê o sobrevoo
do drone por algumas áreas da floresta que servirão de amostra.
O laser acoplado ao drone vai
procurar geoglifos estão escondidos em regiões ainda não desmatadas.
Parte da luz deste laser, chamado de
"lidar" ("light-activated radar", ou radar ativado pela
luz, em tradução livre) consegue ultrapassar a barreira das folhas das árvores.
Serão feitas várias inspeções e, se a
existência dos geoglifos for confirmada, os cientistas vão tentar determinar
mudanças específicas que foram deixadas no solo e na vegetação pelos antigos
habitantes.
Estas "impressões digitais"
poderão ser buscadas por imagens de satélites, possibilitando uma busca em uma
área muito maior da Amazônia, maior do que com o pequeno drone.
Em imagens aéreas normais, apenas os topos das
árvores são visíveis
O instrumento a laser do drone faz o mapa digital
da vegetação destes topos de árvores
Este mapa pode então ser removido e deixar apenas o
sinal do laser que conseguiu ultrapassar a vegetação e chegar ao chão
E, a partir deste projeto será
possível avaliar como a Amazônia pode ser gerenciada de forma sustentável.
Segundo Iriarte, não é possível especular quais seriam as mudanças futuras
aceitáveis na Amazônia se não existir uma compreensão completa de como a
floresta foi alterada no passado.
"Queremos ver qual é a pegada
humana na floresta e então formar uma política (de uso), pois pode ser o caso
de que a biodiversidade que queremos preservar seja o resultado de uma
manipulação no passado desta floresta", explicou.A
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