terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

EPÍLOGO DO LIVRO “LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS” AUTORIA DE JOSÉ BEZERRA LIMA IRMÃO (735 p. EDITADO POR JM GRÁFICA E EDITORA – 2014)

LIVRO RECOMENDADO PELO BLOG DO FACÓ


(O FIM DO CANGAÇO)

Corisco – o último cangaceiro

O cangaço teve fim com a morte de Lampião, e o ponto final foi a morte de Corisco.
O “duelo” entre Corisco e Zé Rufino foi fantasiado numa interpretação artística pelo cineasta Glauber Rocha no clássico Deus e o Diabo na Terra do Sol. Prevaleceu a versão do vencedor: um estranho duelo de um tenente que precisou de 15 homens armados até de metralhadora, para matar um homem que quase não mexia mais os braços.
Dadá respondeu a processo em Jeremoabo. O Coronel João Sá fez o possível para acomodar as coisas. O juiz, Dr. Oliveira Brito, sentenciou a sua impronúncia, com o beneplácito do promotor, o Dr. Tarcilo Vieira de Melo. Livre, Dadá viveu algum tempo em Jeremoabo e depois se mudou para Salvador, onde se casou a 11 de abril de 1951 com o pintor de paredes chamado Bartolomeu Serafim Chagas, porém por todos conhecido por Alcides, apelido de família. Com o casamento Dadá mudou o nome Sérgia Ribeiro da Silva para Sérgia da Silva Chagas. Alcides trabalhou na construção do prédio da Faculdade de Direito da Bahia, no Canela. Morreu em 1978, atropelado por um automóvel na porta de casa, no bairro do Barbalho.



Dadá recebeu o título de cidadã da cidade de Salvador através da Resolução n. 781/89, de 15 de junho de 1989, de autoria da vereadora Geracina Aguiar.
Em 1980, já velha, Dadá foi a Jeremoabo com a escritora Christina Matta Machado. Era um sábado, dia de feira. Um filho de Zé Rufino chamado Miguel foi vê-la e disse que o pai havia tido um infarto, e pediu por amor de Deus que Dadá fosse falar com ele. Dadá foi. Quando entrou no quarto do enfermo, ele esticou a mão, e Dadá retribuiu o gesto. O velho matador de cangaceiros ficou uns vinte minutos com a mão de Dadá presa na dele. Zé Rufino chorou, chorou... Paulo Gil Soares reproduziu o diálogo entre os dois:
- Pur que você tá chorano assim? – perguntou Dadá.
Zé Rufino respondeu:
- É um remorso qui tá comigo e eu não posso morrer cum ele. Mas você veio me vê e perduá. Você é mia amiga.
Dadá contrapôs, sem mágoa, mas firme:
- Eu nun sou sua amiga. Agora, nunca lhe ofendo, Você para mim é um objeto qui eu tenho aqui arquivado, mas nun vou dizê qui sou sua amiga.
Zé Rufino disse que não queria matar Corisco. Queria que ele se entregasse.
Depois, Dadá foi para a sala. Levaram também Zé Rufino, carregado numa cadeira. Ele ficou ali na sala, de cara para cima.
Pouco depois desse encontro Zé Rufino morreu.
Dadá a legendária cangaceira, faleceu de câncer a 7 de fevereiro de 1994, aos setenta anos, em Salvador.


***

São passadas mais de sete décadas de sua morte, mas na memória da nação nordestina continua vivo o mito do Capitão Virgulino Ferreira, alma errante de almocreve e cangaceiro, enxotado de toda parte. Num folheto de cordel, o poeta popular José Pacheco dá uma pista do seu paradeiro:

Leitores vou terminar
Tratando de Lampião
Muito embora que não possa
Vou dar a explicação
No inferno não ficou
No céu também não chegou
Por certo está no sertão.”


De fato, Lampião faz parte da cultura do povo do sertão, e seu espírito irrequieto, calçado de alpercatas de couro, percorre incansável os areais e os serrotes do Pajeú, Navio, Moxotó, Capiá, Raso da Catarina, Poço Redondo e Canindé, que constituem como que um prelúdio ou prolongamentos das planuras, serras e socavãos da eternidade.
Descanse em paz, Capitão.

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