NATUREZA
Melissa
Hogenboom
stas notaram que fêmeas do
macaco-japonês buscam prazer com outras fêmeas
Durante a
temporada de acasalamento de inverno, a competição por uma fêmea de macaco-japonês
é acirrada. Os machos não têm de disputar apenas com outros machos, mas também
com outras fêmeas.
Entre esses animais, objetos de estudo do psicólogo Paul Vasey, da
Universidade de Lethbridge, no Canadá, uma fêmea sobe na outra e estimula seus
genitais esfregando-os na parceira. As duas se olham nos olhos durante a
relação e tendem a permanecer semanas juntas, inclusive para dormir e se
defender de possíveis rivais.
Já se sabe
que o comportamento homossexual é bastante comum no reino animal,
envolvendo de insetos a mamíferos. Mas será que é possível chamar esses bichos
de homossexuais?
O primeiro livro
que trouxe o assunto para o centro das discussões foi Biological
Exuberance, de Bruce Bagemihl, publicado em 1999. O texto citava
inúmeros exemplos de relações homossexuais em uma grande variedade de espécies,
que logo viraram objeto de estudo sistemático por parte dos cientistas.
Evolução
Besouros machos
depositam esperma em outros e acabam por fertilizar mais fêmeas.
Segundo Vasey, apesar de centenas de espécies terem
sido observadas em relações sexuais com parceiros do mesmo sexo em ocasiões
isoladas, poucas delas fazem disso uma parte rotineira de suas vidas.
No caso dos macacos-japoneses, Vasey e sua equipe
observaram que mesmo participando de relações sexuais com outras fêmeas, elas
continuavam interessadas nos machos. Entre esses animais, as fêmeas
frequentemente montam no macho, aparentemente para incentivá-los a acasalar.
Em alguns casos, existem razões evolucionárias para
explicar o comportamento homossexual dos animais.
Por exemplo: em seus primeiros 30 minutos de vida,
machos das moscas-das-frutas tentam copular com qualquer outra mosca, macho ou
fêmea. Só depois eles aprendem a reconhecer o odor das fêmeas virgens e se
concentram nelas.
Essa abordagem de
tentativa e erro pode parecer ineficaz. Mas para o biólogo David Featherstone,
da Universidade de Illinois, trata-se de uma boa estratégia. Na natureza,
moscas de diferentes habitats podem
apresentar misturas de feromônios ligeiramente diferentes.
"Um macho poderia perder a oportunidade de ter
filhotes viáveis se fossem programados para reconhecer apenas um tipo de
odor", afirma.
Os besouros-castanhos machos usam um truque
diferente. Eles copulam entre si e até depositam esperma no parceiro. Se o
macho que estiver carregando esse esperma acasalar depois com uma fêmea, esse
esperma poderá ser transferido – assim, o macho que produziu o esperma
fertiliza uma fêmea sem ter que cortejá-la.
Em ambos os casos, os machos estão usando um comportamento
homossexual como uma maneira de fertilizar mais fêmeas.
Por isso, fica claro por que esses comportamentos
podem ter sido favorecidos durante a evolução das espécies. Mas também se nota
que essas duas espécies estão longe de serem estritamente homossexuais.
“Homo” ou “bi”?
Entre aves, algumas
fêmeas se unem a outras para cuidar.
Outros animais, no entanto, realmente parecem ser
totalmente gays. Um deles é o albatroz-de-laysan, que vive no arquipélago
americano do Havaí.
Entre esses enormes pássaros, os casais normalmente
permanecem 'casados' por toda a vida e participam ativamente dos cuidados com
os filhotes.
Mas em uma população da ilha de Oahu, 31% dos
casais são formados por duas fêmeas sem parentesco entre si. E mais: elas
cuidam de filhotes cujos pais são machos que já estão em um 'casamento estável'
com outra fêmea, mas 'pulam a cerca' para acasalar com uma ou ambas as fêmeas
do casal de mesmo sexo.
Segundo a bióloga Marlene Zuk, da Universidade de
Minnesota, se as fêmeas de albatrozes não criassem seus filhotes com outra
fêmea, teriam mais dificuldades para chocar seus ovos e buscar comida.
Mas, novamente, não se trata de animais
inerentemente homossexuais. Estudos dessa e de outas espécies de pássaros
sugerem que a união homossexual ocorre como uma resposta à falta de machos e é
mais rara quando uma população tem uma proporção mais equilibrada entre os dois
sexos.
Bonobos podem usar
o sexo para ganhar influência em um grupo.
E se olharmos para nossos parentes mais próximos,
os primatas hominoides? Os bonobos, por exemplo, são uma espécie de chimpanzé
extremamente ativa sexualmente. Tanto machos
quanto fêmeos apresentam comportamentos homossexuais.
Mas o sexo entre esses animais também tem a função
de consolidar as relações sociais. Bonobos podem usar o sexo para se aproximar
de membros dominantes do grupo e assim ganhar mais status. Até mesmo os mais
jovens costumam confortar outros com abraços e atos sexuais.
Algumas espécies de golfinhos também apresentam
comportamentos homossexuais que os ajudam dentro do grupo. Mas, no fim, todos
acasalam com membros do outro sexo para se reproduzirem.
Todas essas espécies seriam melhor descritas como
'bissexuais', pois transitam facilmente entre os dois comportamentos e não
mostram uma orientação sexual consistente.
Homossexuais
“puros”'
Segundo cientistas,
8% dos carneiros domesticados permanecem com sua opção pelo mesmo sexo.
Apenas duas espécies reconhecidamente exibem
preferência pelo mesmo sexo pelo resto da vida, mesmo quando há parceiros
suficientes do outro sexo. Uma delas, claro, é a espécie humana. A outra é o
carneiro domesticado.
Em rebanhos ovinos, até 8% dos machos preferem
outros machos mesmo quando há fêmeas férteis no grupo.
Em 1994, neurocientistas descobriram que esses
machos tinham o cérebro ligeiramente diferente do resto, com um hipotálamo
menor – a parte que controla a liberação de hormônios sexuais.
Isso endossaria o polêmico estudo do neurocientista
Simon LeVay, que em 1991 descreveu uma diferença entre a estrutura cerebral de
homens gays e heterossexuais.
Mas LeVay acredita que carneiros selvagens não
apresentam o mesmo comportamento. Segundo ele, o animal domesticado foi aos
poucos sendo 'manipulado' por criadores para produzir fêmeas que se reproduzem
o mais frequentemente possível, o que pode ter permitido o aumento do número de
machos homossexuais.
Por isso, tanto LeVay quanto Vasey afirmam que os
humanos são o único caso documentado de 'verdadeira' homossexualidade entre
animais selvagens.
Talvez nunca encontremos um animal selvagem que
seja estritamente homossexual como muitos humanos. Mas podemos estar certos de
que vamos descobrir cada vez mais animais que não se encaixam nas categorias
tradicionais de orientação sexual.
Eles usam o sexo para satisfazer todo tipo de
necessidade, do simples prazer à afirmação social. E isso exige flexibilidade.
Origem: BBC BRASIL
Nenhum comentário:
Postar um comentário