É um objeto preservado para efeito de
veneração no âmbito de uma religião ou seita
Uma relíquia (em Latim reliquiae)
é um objeto preservado
para efeitos de veneração no âmbito de uma religião, sendo normalmente uma peça associada a uma história religiosa. Podem ser objetos pessoais ou partes do
corpo de um santo ou personagem sagrada. O culto das relíquias atingiu o seu máximo
na religião budista e em várias denominações cristãs como o catolicismo. As relíquias são usualmente guardadas em
receptáculos próprios chamados relicários. Na generalidade das religiões protestantes, a veneração de relíquias é desaprovada.
O primeiro exemplo do culto de uma relíquia por crentes cristãos surge
em 156 em
Smyrna (atual Esmirna na Turquia), a propósito do martírio de São Policarpo relatado,
por exemplo, nas obras de Eusébio de Cesareia. Depois de
ter sido queimado na fogueira, os discípulos do mártir recuperaram os ossos
calcinados do seu mestre e acolheram-nos como objetos sagrados. Mais tarde
diversos milagres foram atribuídos a esta relíquia e a busca por objetos
semelhantes tornou-se cada vez mais popular, conduzindo, por exemplo, à
descoberta da cruz da crucificação de Jesus Cristo em
cerca de 318.
O véu de Verônica
No início do
cristianismo, as relíquias eram importantes, principalmente partes de corpos de
mártires, pois considerava que seriam estes os primeiros a levantar-se no
momento da ressurreição. Era, pois importante para o fiel ser enterrado junto
destas relíquias, ou pelo menos perto dos seus relicários, de forma a poder
acordar para a vida eterna ao lado dos soldados da fé. O culto das relíquias
foi aumentando cada vez mais e no século VII o arcebispo da Cantuária São Teodoro declarou que as relíquias deviam ser objetos
de veneração e iluminadas dia e noite pela luz de uma vela. Dois séculos mais
tarde a prática era obedecida pelo menos pelo rei Alfredo de Inglaterra.
O Sudário
Durante a Idade Média e o
período de construção de catedrais o culto
das relíquias atingiu o seu auge. Nesta altura, a
edificação e manutenção de uma catedral era custeada, sobretudo através de
donativos da congregação. A importância eclesiástica de uma diocese, bem como a
sua capacidade de atrair novos fieis e peregrinos, era muitas vezes dependente
da quantidade e qualidade de relíquias que eram exibidas para veneração. Assim,
quando a primeira secção da catedral de Colónia abriu as portas em 1164, foi com
todo o orgulho que o Arcebispo Reinaldo de Dassel expôs os corpos dos Três reis magos. Da mesma
forma, e dando só alguns exemplos:
Relicário
Budista
Não será difícil de
perceber que em breve o culto das relíquias tomou em breve uma proporção
exagerada principalmente após a tomada de Constantinopla durante
a quarta cruzada em1204. Ossos,
pequenos bocados de pano, garrafinhas com água do rio em que Jesus foi batizado,
até saquinhos com o pó do qual Adão foi
criado, eram peças comuns nos mercados do século XIII. Em dada
altura chegaram a contabilizar-se cerca de 700 verdadeiros pregos da cruz, o
que só por si era um facto capaz de abalar o mais crente. Mais tarde Erasmo de Roterdão haveria de afirmar com ironia que os
verdadeiros bocados da cruz chegavam para construir um navio. (Recentemente, a Igreja Católica encomendou
um estudo que descobriu que existem 4 000 000 centímetros cúbicos em relíquias
da cruz, bastante aquém dos 178 000 000 necessários para o volume de uma cruz
razoável. Não há, portanto que temer.)
Relíquias
históricas: a cabeça de Antonio Scarpa
O Papado tomou uma posição no fim do século XIII no Concílio de Lion,
onde chamou a si a responsabilidade de diagnosticar a veracidade de todas as
novas relíquias. Aparentemente, não foi suficiente, uma vez que em 1287, o
bispo Quivil de Exeter se viu obrigado a proibir de todo a veneração de todas
as relíquias aparecidas nos últimos anos.
Com a evolução da Ciência, muitas das relíquias já foram ou estão em
risco de ser desmistificadas. Sobre o Sudário de Turim, por exemplo, alegou-se ser uma impostura obra de
um talentoso falsificador do século XIV (idade
do pano obtida pelo método do carbono 14). Contudo, cientistas envolvidos na pesquisa
levantaram a hipótese de que a composição do sudário pudesse ter sido alterada
por uma série de incêndios aos quais a relíquia sobreviveu, além do próprio
depósito de impurezas, tais como poeira e crescimento de bactérias. Tais questões invalidam a datação por
Carbono-14 e a referida falsificação. Verdadeiras
ou não, as relíquias continuam a fazer parte da tradição cristã, apesar do progressivo distanciamento da Igreja
Católica em relação à importância teológica da sua veneração.
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