Literatura – poesia
Postado por Luiz Carlos
Facó
Sua produção literária
ocorreu entre os anos de 1981 – 1983
A maioria
dos poemas de Virgínia, nascida em Salvador, em 9 de abril de 1954, reunidos e
publicados postumamente sob o título de Casulo Azul, foi escrita no período de
1981 a 1983, e trazem junto ilustrando a edição onze de suas pinturas em guache
ou aquarela.
As nuances
da poesia de Virgínia são variadas, provenientes dos seus sentimentos mais
íntimos – “Gosto de ser secreta./ Por isso deposito sentimentos em plena rua/
Solene ato consumado/ Pecados postos à visitação pública” – alternando poemas
de extrema leveza com versos de forte densidade dramática.
Sua obra, no
contexto geral, reflete uma imbatível paixão – (... quero perscrutar verso e
reverso/ e poder sentir na alegria, onde se esconde, a espreitar o triste” – e,
muitas vezes, a depressão que a levou a morte, por suicídio, em 18 de maio de
1984. Nos seus risonhos e sofridos 30 anos.
“O que se
recebe é muito pouco/ Me calo. E se sofro,/ Guardo cada lágrima com cuidado/
Talvez valham de ingresso pro futuro/ Que a certeza será pouco/ Pra o que tenho
poupado”.
Virgínia se
foi, mas deixou como legado para eu a sua densa produção artística donde só
exala paixão.
POR QUE O MEDO MULHER?
Por que o
medo, mulher?
Por que o
espanto?
Pra que
tragar o susto
Em largos
goles de assombro?
Tantas doses
depois
Depois de
tanto goles?
Tantos dias
depois
Depois de
tantos lances
No meio da
sala, mulher,
Por que
tanto susto?
Pra que
pressentir ferida
Antes de
lançar às águas o sonho?
Se ajusta em
seu corpo como uma luva
A noite, tão
vasta quanto curta
A vida tão
curta quanto gasta.
Tanta curva,
mulher,
Porque tanto
atalho?
Pra onde
tantas voltas?
Voltando
sobre os seus passos
Pensando no
beco, que poderia ter saída,
Mas não foi
o caso.
No meio do
rosto, a dor abre um talho.
Mas um com
marca,
Mais um
sobressalto,
O costume do
medo
Causou seus
abraços?
No olhar às
vezes feroz, réstias de luz,
Para que
tanto assombro?
Por que
tanto abismo?
Onde afundam
seus olhos que cismam?
Por que
tanto sonho?
Pra que
tanto perigo?
A sedução do
cansaço fez sua ronda.
Com tanta
bagagem perdida nos portos,
O peso nos
ombros,
Depois de
tantas ruas,
Pisar nos
escombros
Após tantas
luas
Mas, veja
mulher,
Pra que
tanto choro
Requente o
café
Acorde suas
noites
Pra sempre,
mulher,
Mais um medo
novo.
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