sábado, 7 de fevereiro de 2015

VIRGÍNIA ANDRADE, POETISA BAIANA MORTA AOS 30 ANOS DE IDADE

Literatura – poesia


Postado por Luiz Carlos Facó

Sua produção literária ocorreu entre os anos de 1981 – 1983

A maioria dos poemas de Virgínia, nascida em Salvador, em 9 de abril de 1954, reunidos e publicados postumamente sob o título de Casulo Azul, foi escrita no período de 1981 a 1983, e trazem junto ilustrando a edição onze de suas pinturas em guache ou aquarela.
As nuances da poesia de Virgínia são variadas, provenientes dos seus sentimentos mais íntimos – “Gosto de ser secreta./ Por isso deposito sentimentos em plena rua/ Solene ato consumado/ Pecados postos à visitação pública” – alternando poemas de extrema leveza com versos de forte densidade dramática.
Sua obra, no contexto geral, reflete uma imbatível paixão – (... quero perscrutar verso e reverso/ e poder sentir na alegria, onde se esconde, a espreitar o triste” – e, muitas vezes, a depressão que a levou a morte, por suicídio, em 18 de maio de 1984. Nos seus risonhos e sofridos 30 anos.
“O que se recebe é muito pouco/ Me calo. E se sofro,/ Guardo cada lágrima com cuidado/ Talvez valham de ingresso pro futuro/ Que a certeza será pouco/ Pra o que tenho poupado”.
Virgínia se foi, mas deixou como legado para eu a sua densa produção artística donde só exala paixão.


POR QUE O MEDO MULHER?

Por que o medo, mulher?
Por que o espanto?
Pra que tragar o susto
Em largos goles de assombro?
Tantas doses depois
Depois de tanto goles?
Tantos dias depois
Depois de tantos lances
No meio da sala, mulher,
Por que tanto susto?
Pra que pressentir ferida
Antes de lançar às águas o sonho?
Se ajusta em seu corpo como uma luva
A noite, tão vasta quanto curta
A vida tão curta quanto gasta.
Tanta curva, mulher,
Porque tanto atalho?
Pra onde tantas voltas?
Voltando sobre os seus passos
Pensando no beco, que poderia ter saída,
Mas não foi o caso.
No meio do rosto, a dor abre um talho.
Mas um com marca,
Mais um sobressalto,
O costume do medo
Causou seus abraços?
No olhar às vezes feroz, réstias de luz,
Para que tanto assombro?
Por que tanto abismo?
Onde afundam seus olhos que cismam?
Por que tanto sonho?
Pra que tanto perigo?
A sedução do cansaço fez sua ronda.
Com tanta bagagem perdida nos portos,
O peso nos ombros,
Depois de tantas ruas,
Pisar nos escombros
Após tantas luas
Mas, veja mulher,
Pra que tanto choro
Requente o café
Acorde suas noites
Pra sempre, mulher,
Mais um medo novo.

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