MULHERES QUE FIZERAM
HISTÓRIA
Mulher
sagaz, consegui aumentar o domínio russo em mais de 518 mil quilômetros. É
emocionante conhecer sua vida
Catarina II, a
Grande (em russo: Екатерина
II Великая, transl. Yekaterina II Vielikaya, nascida Sofia
Frederica Augusta de Anhalt-Zerbst; em alemão Sophie
Friederike Auguste von Anhalt-Zerbst) Stettin, 2 de
maio de 1729 — Tsarskoye Selo, 17 de
novembro de 1796) foi uma imperatriz déspota russa de
origem alemã que reinou entre 1762 e 1796. Era prima de Gustavo III da
Suécia e de Carlos XIII da Suécia.
Durante o
seu reinado, o Império Russo expandiu-se, melhorou a sua
administração e continuou a modernizar-se. O reinado de Catarina revitalizou a
Rússia, que cresceu com ainda mais força e se tornou conhecida como uma das
maiores potências europeias. Os seus sucessos dentro da complexa política
externa e as suas represálias por vezes brutas aos movimentos revolucionários
(mais notavelmente na Rebelião Pugachev) complementaram a sua caótica vida
privada. Causava escândalo
frequentemente, dada a sua tendência para relações que espalhavam rumores por
todas as cortes europeias.
Catarina
subiu ao poder supostamente após uma conspiração por ela mesma elaborada que
depôs o seu marido, o czar Pedro III, e o seu reinado foi o apogeu
da Nobreza Russa. Pedro III, sob pressão da mesma nobreza, tinha já
aumentado à autoridade dos grandes proprietários de terra nos seus mujique e servos. Apesar
dos deveres impostos nos nobres pelo primeiro modernizador proeminente da
Rússia, o czar Pedro I, e apesar das amizades de Catarina com os
intelectuais do iluminismo na Europa Ocidental (em
particular Denis Diderot, Voltaire e Montesquieu), a imperatriz
não considerava prático melhorar as condições de vida dos seus súbditos mais
pobres que continuavam a ser ostracizados (por exemplo) por conscrição
militar. As distinções entre os direitos dos camponeses nos estados votchine epomestie desapareceram
virtualmente na lei e na prática durante o seu reinado.
Em 1785, Catarina conferiu à nobreza a Carta Régia
da Nobreza, aumentando ainda mais o poder dos senhores de terra. Nobres em cada
distrito elegiam um "marechal da nobreza" que falava em seu nome à
monarca sobre problemas que os afetavam, em especial os problemas econômicos.
O pai de Catarina, o príncipe Cristiano
Augusto de Anhalt-Zerbst, pertencia à família reinante de Anhalt, mas servia o
exército prussiano, onde detinha o posto de general. Após a morte do seu pai, o
príncipe e marechal-de-campo do exército da Prússia Leopoldo de
Dessau assumiu o poder do Ducado de Anhalt-Zeberst, cuja a capital era Estetino,
mesma cidade onde a futura imperatriz russa nasceu. Nascida com o nome de Sofia
Frederica Amália de Anhalt-Zerbst-Dornburg, Princesa de Holstein, a futura
imperatriz russa tinha a alcunha de "Figchen". Como era costume nas
cortes alemãs da época, a jovem princesa recebeu uma excelente educação de duas
governantas francesas, a primeira Madeleine Cardel que, depois de casada, foi
substituída pela sua irmã Babet Cardel. Além da governanta, havia um tutor para
cada área da educação de Sofia. A sua infância foi bastante calma, e a própria
Catarina escreveria ao barão Grimm que "não consigo ver nada de
interessante nela." Apesar de ter nascido como princesa, a sua
família tinha pouco dinheiro, o que pode ter contribuído para a sua infância
aparentemente monótona. Catarina ascendeu na escada social graças aos laços de
parentesco que a sua mãe, a duquesa Joana Isabel de Holstein-Gottorp,
tinha com membros proeminentes da realeza.
Princesa Sofia Augusta, em 1742.
A escolha de Sofia para esposa do futuro czar Pedro
de Holstein-Gottorp resultou de uma quantidade generosa de negociações
diplomáticas nas quais o conde Lestocq, a tia de Pedro (na altura a imperatriz
reinante Isabel da Rússia) e o rei Frederico II da
Prússia participaram. Lestocq e Frederico queriam fortalecer a amizade
entre a Prússia e a Rússia para, assim, enfraquecer a influência da Áustria e
arruinar o chanceler russo, Bestuzhev, em quem a czarina Isabel confiava, e que
era conhecido por pretender instituir uma cooperação russo-austríaca, o que não
era visto com bons olhos. Catarina conheceu Pedro aos dez anos de idade e,
segundo o que escreveu, parece ter achado o príncipe detestável desde o
primeiro encontro. Não gostou da sua tez pálida e do gosto por álcool que já
demonstrava nesta tenra idade.
A intriga diplomática falhou, principalmente devido
à intervenção da mãe de Sofia, uma mulher inteligente e ambiciosa. Os relatos
históricos descrevem a mãe de Catarina como uma pessoa emocionalmente gélida e
fisicamente abusiva, que adorava boatos e intrigas da corte. A sede de Joana
por fama concentrava-se na possibilidade de a filha se tornar imperatriz da
Rússia, mas enfureceu a imperatriz Isabel que, eventualmente, a baniu do país
por espiar a sua corte a mando do rei Frederico II da Prússia. A imperatriz
conhecia bem a família: ela própria pretendera casar-se com o irmão de Joana,
Carlos Augusto de Holstein-Gottorp, mas ele morrera de varicela em
1727 antes de o casamento acontecer. Mesmo assim, Isabel afeiçoou-se à filha de
Joana. Isabel convocou Sofia em 1743 para visitar a Rússia com objetivo de
casá-la com o seu sobrinho Pedro, herdeiro do trono. Esta escolha deveu-se,
entre outros, ao fato de Sofia ser muito culta, falar fluentemente o francês,
tocar piano e violino, instrumento que sempre a acompanhou, tendo recebido o
primeiro em 1738 quando tinha somente nove anos de idade. Ao chegar à Rússia,
não se poupou em esforços para se integrar, não apenas com a imperatriz Isabel,
mas com o seu futuro marido e com o povo russo. Esforçou-se por aprender a
língua russa com tanto afinco que costumava levantar-se ao meio da noite e
andar descalça de um lado para o outro do quarto a repetir as suas lições. Tal
resultou num ataque severo de pneumonia em março de 1744. Quando
escreveu as suas memórias, disse que, naquela altura, tinha decidido correr
todos os riscos e passar por tudo o que fosse necessário para um dia poder
ostentar a coroa. A consistência do seu caráter ao longo da sua vida faz com
que seja muito provável que, aos quinze anos, ela possuísse maturidade
necessária para adotar essa sensata conduta de vida.
A
grã-duquesa Catarina em seu primeiro ano de casamento, por Louis Caravaque, 1745, no Gatchina Palace
Portrait Gallery
O pai da princesa Sofia, um luterano muito
devoto, opôs-se firmemente à conversão da filha à Religião Ortodoxa.
Apesar dos seus pedidos, em 28 de junho de 1744, a Igreja Ortodoxa
Russa recebeu Sofia com o novo nome de Catarina Alekseyevna.
No dia seguinte, realizou-se uma cerimônia formal de noivado. O há muito planeado
casamento dinástico aconteceu finalmente no dia 21 de agosto de 1745 em São
Petersburgo. Sofia tinha dezesseis anos de idade. O pai dela não viajou à
Rússia para assistir ao casamento. O noivo, então conhecido por Pedro von
Holstein-Gottorp, tinha-se tornado duque de Holstein-Gottorp (um ducado
localizado a noroeste da Alemanha, perto da fronteira com a Dinamarca)
em 1739. Os recém-casados passaram a residir no Palácio de Oranienbaum, que
seria a residência oficial da "corte jovem" durante anos.
Como a própria imperatriz viria a recordar na sua
autobiografia, logo que chegou à Rússia adoeceu de pleurisia, uma doença
que quase a matou. Catarina disse que devia a sua sobrevivência às frequentes
sangrias a que a sujeitavam, tendo-lhe sido extraído sangue quatro vezes num
único dia. A sua mãe, que se opunha a essa prática, passou a ser mal vista pela
imperatriz. Quando o estado de Catarina parecia não ter solução, sua mãe queria
que ela fizesse a sua última confissão a um padre luterano, mas Catarina,
acordando do seu estado de delírio, terá dito: "Não quero nenhum
luterano, quero um padre ortodoxo!". Esse episódio fez com que a
imperatriz Isabel a estimasse muito.
O conde Andrei Shuvalov, camareiro de Catarina,
conhecia bem o diarista James Boswell (1740 - 1795) que afirmou que
Shuvalov partilhava informações privadas sobre a imperatriz e a sua família.
Alguns destes rumores incluíam o de que Pedro tinha uma amante (Isabel
Vorontsova) e outros sobre as traições de Catarina com Sergei
Saltykov, Gregório Grigoryevich Orlov (1734 - 1783), Stanislaw
Augusto Poniatowski, Alexandre Vassilchikov, entre outros. Catarina
tornou-se amiga da princesa Catarina Vorontsova-Dashkova, irmã da amante
do marido, que a apresentou a vários grupos políticos importantes que se
opunham ao seu marido. O péssimo temperamento de Pedro III começou a
intensificar-se cada vez mais, descarregando a sua fúria nos residentes do
palácio: ostracizava os criados, obrigando-os a praticar exercícios esgotantes
de manhã que eram depois mandados para o quarto de Catarina para cantar e
dançar até altas horas da noite. Catarina ficou grávida da sua segunda
filha, Ana, que apenas viveu durante quatro meses em 1759. Devido aos vários
rumores sobre o comportamento indecente de Catarina, Pedro convencer-se-ia
depois de que não era o pai biológico da criança e vociferou "Vai para o
diabo!" quando Catarina negou furiosamente esta acusação. Durante este
período, Catarina isolou-se da corte, passando grande parte do tempo sozinha
nos seus aposentos para se esconder do comportamento violento de Pedro e evitar
dar a sua opinião sobre as suas táticas militares.
Sobre a sua vida na Rússia antes de ascender ao
trono, Catarina exclamou: "A felicidade e a infelicidade estão no
coração e na alma de cada um de nós: se se sente infeliz, então esteja acima da
adversidade e faça com que a felicidade não dependa de nada."
Após a morte da imperatriz Isabel em 5 de janeiro
de 1762, Pedro, o grão-duque de Holstein-Gottorp, sucedeu ao trono como Pedro
III da Rússia. Catarina, que antes detinha o título de grã-duquesa, tornou-se
imperatriz-consorte da Rússia. O casal imperial mudou-se para o novo Palácio
de Inverno em São Petersburgo.
As excentricidades e políticas do novo czar,
incluindo a sua grande admiração pelo rei Frederico II da Prússia,
enfureceram alguns círculos sociais que a própria Catarina tinha criado. Além
disso, Pedro interveio numa disputa entre o seu ducado de Holstein e a
Dinamarca.
O apoio insistente de Pedro a Frederico II, que
tinha observado a ocupação de Berlim pelas tropas russas em 1760, mas
agora sugeria repartir os territórios polacos com a Rússia, fê-lo perder muito
do apoio da nobreza. (A Rússia e a Prússia tinham lutado
uma contra a outra durante a Guerra dos Sete Anos que durou até Pedro
subir ao trono.)
Em julho de
1762, pouco depois de estar seis meses no trono, o czar Pedro cometeu o erro
político de se retirar com os seus cortesãos de Holstein para Oranienbaum,
na Finlândia, deixando a sua esposa sozinha em São Petersburgo. Nos dias
13 e 14 de julho, a guarda imperial revoltou-se, depôs Pedro e proclamou
Catarina como governante da Rússia. O golpe sem sangue teve sucesso.
Três dias depois, em 17 de julho de 1762, apenas
seis meses após a sua ascensão ao trono, Pedro III faleceu em Ripsha, às mãos
de Alexei Orlov, irmão mais novo de Gregório Orlov, o amante de
Catarina. Os historiadores não encontraram provas de que Catarina estivesse
envolvida diretamente no suposto assassinato. Mesmo apesar de, na altura,
existirem outros pretendentes ao trono (Ivan VI, nascido em 1740 e a viver em
Schlüsselburg e a princesa Tarakanova, nascida em 1753), foi Catarina quem
sucedeu ao seu marido, mesmo apesar de não ter qualquer ligação de parentesco
com a família Romanov, seguindo assim o mesmo procedimento da imperatriz com o
mesmo nome, Catarina I, que tinha sucedido ao seu marido, Pedro, o
Grande, em 1725.
O estatuto técnico de Catarina é ainda discutido
entre o de "regente" ou "usurpadora". O primeiro apenas
faria sentido enquanto o seu filho Paulo não atingisse a maioridade, o que
aconteceu durante a década de 1770. Nesta altura um grupo de nobres
ligados a Paulo contemplaram a possibilidade um novo golpe de estado para depor
Catarina e colocá-lo no poder, formando uma Monarquia
Constitucional. Contudo nada aconteceu e Catarina reinou até à sua morte
em 1796.
Durante o
seu reinado, Catarina amplificou as fronteiras do Império Russo para
sul e para o ocidente, absorvendo a Nova Rússia, Crimeia, Ucrânia, Bielorrússia, Lituânia
e Curlândia, ao custo de, maioritariamente, duas potências – o Império
Otomano e a República das Duas Nações. Ao todo ela acrescentou cerca
de 518 000 quilómetros ao território russo.
O ministro de negócios estrangeiros de
Catarina, Nikita Panin (em funções entre 1763 e 1781), influenciou em
muito o início do seu reinado. Um estadista astuto, Panin dedicou muito esforço
e milhões de rublos para conseguir o "Acordo do Norte" entre a Rússia,
a Prússia, a Polónia e a Suécia, para contrapor a Liga
Bourbon-Habsburgo. Quando se tornou claro que o seu plano não daria frutos,
Panin perdeu o seu lugar privilegiado com Catarina e foi substituído por Ivan
Osterman que exerceu funções desde 1783 até 1797.
Catarina assinou um tratado comercial com a Grã-Bretanha em
1766, mas evitou uma aliança militar. Apesar de compreender os benefícios
de uma boa relação com a Grã-Bretanha, não confiava no aumento de poder que o
país tinha visto desde a sua saída vitoriosa da Guerra dos Sete Anos e que
ameaçava a balança do poder na Europa.
Alegoria de
Catarina após a vitória russa na Guerra Russo-Turca de 1768-1774.
Enquanto que Pedro, o Grande apenas tinha
tido sucesso em conquistar parte do mar Negro nas campanhas de Azov,
Catarina completou a conquista do sul que ele tinha iniciado. A imperatriz fez
da Rússia a potência dominante do sudoeste europeu após a sua primeira Guerra
Russo-Turca contra o Império Otomano (1768 - 1774), que provocou
algumas das piores derrotas turcas da História, incluindo a Batalha de
Chesma (5 a 7 de julho de 1770) e a Batalha de Kagul (21 de julho de
1770).
As vitórias russas permitiram ao governo de
Catarina obter acesso ao mar Negro e incorporaram os vastos portos do sul
da Ucrânia onde os russos fundaram as novas cidades de Odessa, Nikolayev,
Yeakaterinoslav (literalmente: "a glória de Catarina) e Kherson. O Tratado
de Küçük Kaynarca, assinado a 10 de julho de 1774, outorgou aos russos as
províncias de Azov, Kerch, Yenikale, Kinburn e uma pequena linha
de costa no Mar Negro entre os rios Dnieper e Bug. O tratado pôs
termo às restrições impostas à marinha russa e ao comércio no mar de Azov,
garantindo à Rússia a posição de protetora dos cristão ortodoxos no Império
Otomano e fez da Crimeia um protetorado russo.
Catarina anexou a Crimeia em 1783, nove
anos depois de a mesma ter ganho a independência do Império Otomano com a ajuda
russa. O palácio do khans da Crimeia passou para mãos russas.
O Tratado de Küçük-Kainarji, assinado a 10 de julho de 1774, deu aos russos os
"novos" territórios de Azov, Kerch, Yenikale, Kinburn e a
pequena porção da costa do mar Negro entre os rios Dnieper e Bug.
Os otomanos voltaram às hostilidades na segunda
guerra Russo-Turca (1787 - 1792). Esta guerra revelou-se catastrófica para
os Otomanos e terminou com o Tratado de Jassy em 1792, que legitimou
a conquista russa da Crimeia.
Catarina
ansiava por ser reconhecida como uma soberana iluminista. Foi ela a
pioneira naquele que seria mais tarde o papel da Grã-Bretanha ao
longo do século XIX, o de mediadora internacional de disputas que poderiam
levar à guerra. Assim, foi ela a mediadora da Guerra de Sucessão da Baviera (1778
- 1779) entre a Prússia e a Áustria. Em 1780, criou a Liga de
Neutralidade Armada, que tinha como objectivo defender mercadorias neutras
da Marinha Real Britânica durante a Revolução Americana.
De 1788 a 1790, a Rússia pelejou na Guerra
Russo-Sueca contra a Suécia, instigada pelo próprio primo de
Catarina, o rei Gustavo III da Suécia. Esperando simplesmente adquirir os
exércitos russos que ainda se encontravam a lutar contra o Império
Otomano, e com a esperança de atacar São Petersburgo diretamente, os
suecos acabaram por sofrer pesadas derrotas por parte da esquadra báltica
russa. Após a Dinamarca declarar guerra à Suécia em 1788 (a Guerra
Teatral), a situação complicou-se para os suecos. Após a Batalha de Svensksund
em 1790, ambos os partidos assinaram o Tratado de Värälä a 14 de agosto de
1790, devolvendo todos os territórios conquistados aos seus respectivos donos e
a paz reinou durante vinte anos com a ajuda do assassinato do rei Gustavo III
em 1792.
Catarina II
da Rússia, por Fyodor
Rokotov, no Museu Hermitage
Após
a Revolução Francesa de 1789, Catarina rejeitou muitos dos princípios
do iluminismo que antes tinha defendido. Temendo
que a Constituição de Maio da Polónia (1791) pudesse levar ao
renascimento da República das Duas Nações e que os movimentos democráticos
crescentes dentro da mesma se pudessem converter numa ameaça para os monarcas
europeus, Catarina decidiu intervir na Polónia. Ofereceu apoio ao grupo
anti-reforma da Polónia, conhecido por Confederação Targowica. Após
derrotar as forças patriotas polacas na Guerra em Defesa da Constituição (1792)
e na Revolta Kościuszko (1794), a Rússia completou a partição da Polónia,
dividindo todos os territórios que restavam da república com a Prússia e
a Áustria.
A Oriente, os russos começaram a contribuir no
comércio de peles em Kamchatka e nas Ilhas Curilas. Isto
cultivou o interesse russo em negociar abertamente com o Japão a sul
para encontrar mantimentos e comida. Em 1783, uma tempestade levou o almirante
japonês Daikokuya Kōdayū, à costa das Ilhas Aleutas, que, na altura,
constituíam território russo. As autoridades locais russas ajudaram-no a ele e aos
seus homens e, então, o governo russo decidiu utilizá-lo como enviado de
comércio. A 28 de junho de 1791, Catarina teve uma audiência com Kōdayū
em Czarskoe Selo. Subsequentemente, em 1792, o governo russo enviou uma
missão comercial liderada por Adam Laxnab até ao Japão. O
governo Tokugawa recebeu a missão, mas as negociações falharam.
Em 1768,
foi incumbida ao Banco de Repartição a tarefa de criar as primeiras notas do
governo russo, abrindo duas filiais em São Petersburgo e Moscovo em
1769. Depois seriam abertas várias filiais do banco por cidades mais pequenas.
As notas eram atribuídas para pagamentos de quantias idênticas às das moedas
que também eram entregues em troca de notas de banco.
O surgimento destes rublos por parte da repartição
foram necessários devido aos grandes custos que o governo tinha com o exército
e que levaram a uma escassez de prata no tesouro da corte (as transações,
principalmente no que dizia respeito ao comércio internacional, eram feitas
quase exclusivamente em prata e ouro). Os rublos da repartição circularam com o
mesmo valor dos rublos de prata e criou-se um forte mercado para a conversão
entre os dois. O uso destas notas manteve-se até 1849.
Catarina, a
Grande por Vigilius
Eriksen, no Museu Hermitage, 1762.
Catarina
tinha a reputação de ser uma mecenas das artes, literatura e educação.
O Museu Hermitage, que agora ocupa o Palácio de Inverno inteiro,
começou a partir da coleção privada da imperatriz. Com o
incentivo do seu factótum, Ivan Betskoi, escreveu um manual para a
educação de crianças, inspirando-se nas ideias de John Locke, e fundou em
1764, o conhecido Instituto Smolny, onde estudavam jovens meninas da
nobreza.
Escreveu ainda comédias, ficção e uma autobiografia
enquanto se correspondia com Voltaire, Diderot e d’Alembert,
todos eles autores da primeira Enciclopédia que, mais tarde, cimentaram a
sua reputação através da escrita. Os principais economistas da época, Arthur
Young e Jacques Necker, tornaram-se membros estrangeiros da Sociedade
Económica Livre seguindo a sugestão dela de se instalarem em São
Petersburgo em 1765. Catarina também "roubou" os
cientistas Leonhard Euler e Peter Simon Pallas de Berlim para
a capital russa.
Catarina juntou Voltaire à sua causa e manteve
correspondência com ele durante 15 anos desde a sua ascensão ao trono até a
morte dele em 1778. O escritor premiou-a com epítetos, chamando-a de "a
estrela do norte" e "Semiramis da Rússia" (uma referência à
legendária rainha da Babilónia, um tema sobre o qual ele publicou uma
tragédia em 1768). Apesar de ela nunca o ter conhecido em pessoa, Catarina
ficou de luto pela sua morte, comprando toda a sua coleção de livros aos
herdeiros dele, colocando-a na Biblioteca Nacional Russa.
Poucos
meses depois da sua ascensão em 1762, tendo ouvido dizer que o governo francês
planejava interceptar a publicação da Encyclopédie por a considerar
anti-religiosa, Catarina propôs a Diderot completar o seu grande trabalho na
Rússia sob a sua proteção.
Quatro anos depois, em 1766, iniciou a elaboração
de uma forma de legislar os princípios do iluminismo que ela tinha
adquirido através do estudo de filósofos franceses. Juntou uma grande comissão
em Moscovo (praticamente um parlamento consultivo) composta por 652
membros de todas as classes sociais (oficiais, nobres, burgueses e camponeses)
e de várias nacionalidades. A Comissão tinha de considerar as necessidades
do Império Russo e os meios para os satisfazer. A própria imperatriz
preparou as "Instruções para o Sentido da Assembleia", plagiando (tal
como a própria admitiu) os grandes filósofos da Europa Ocidental,
especialmente Montesquieu e Cesare Beccaria.
Como muitos dos seus princípios liberais assustavam
os seus conselheiros mais moderados e experientes, Catarina deliberou-se em não
os pôr em prática imediatamente. Depois de reunir mais de 200 membros, a
chamada Comissão foi dissolvida sem chegar a nenhuma decisão prática.
Apesar disso, algumas leis posteriores (tal como o
Estatuto da Administração Local de 1775, o Código da Navegação Comercial e o
Código do Comércio de Sal de 1781, a Ordem da Polícia de 1782, a Carta da
Nobreza e a Carta das Cidades de 1785, o Estatuto da Educação Nacional de 1782)
mostravam algumas das tendências modernizadoras implícitas no Nakaz inicial de
Catarina. Em 1777, a imperatriz descreveu a Voltaire as suas inovações
legislativas numa Rússia apática que ia progredindo "aos poucos".
Durante o reinado de Catarina, os russos importaram
e estudaram as influências europeias clássicas que inspiraram o Iluminismo
Russo. Gavrila Derzhavin, Denis Fonvizin e Ippolit
Bogdanovich foram os precursores dos grandes escritores do século XIX,
especialmente de Alexander Pushkin. Catarina tornou-se uma grande mecenas
da Ópera Russa.
Quando Alexander Radishchev publicou o
seu "Diário de São Petersburgo Para Moscovo" em 1790 (um ano depois
da Revolução Francesa) e chamou atenção para as revoltas devido às
condições sociais deploráveis dos camponeses que eram detidos como servos,
Catarina enviou-o para o exílio na Sibéria.
Catarina.
Catarina
admirava os filósofos e a cultura ocidentais e queria rodear-se de pessoas que
partilhavam as suas ideias dentro da Rússia. Acreditava que se podia criar
um "novo tipo de pessoa" com a educação dos mais
novos através do método europeu. Catarina
acreditava que a educação podia modificar o espírito e as ideias russas para
que estas se modernizassem. Para tal, era necessário desenvolver os indivíduos
tanto intelectual como moralmente, fornecendo-lhes o conhecimento e as aptidões
necessários para os dotar de responsabilidade cívica.
Catarina nomeou Ivan Betskoy para seu
conselheiro em questões de educação. Através dele, foi reunindo informação
sobre a Rússia e outros países na área das instituições educativas. Também
criou uma comissão formada por T.N. Teplov, T. con Klingstedt, F.G. Dilthey e o
historiador G. Muller. Consultou os pioneiros da educação na Grã-Bretanha,
principalmente o reverendo Daniel Dumaresq e o doutor John Brown. Em 1764,
convidou Daniel Dumaresq a visitar a Rússia e integrou-o na comissão
educacional. A comissão estudou os projetos reformistas que tinham sido levados
a cabo por I.I. Shuvalov sob a orientação da imperatriz Isabel e do czar Pedro
III e recomendaram a criação de um sistema de educação para todos os súbditos
russos ortodoxos dos cinco aos dezoito anos, excluindo os servos. Contudo,
nada foi feito e nenhuma proposta feita pela comissão foi posta em prática
devido aos cortes da comissão legislativa. Em julho de 1765, Daniel Dumaresq
escreveu numa carta dirigida ao doutor John Brown, que a comissão passava por
problemas e recebeu como resposta uma longa carta onde Brown enviava sugestões
muito gerais e pouco profundas para as reformas sociais e educacionais na
Rússia. Brown defendia que, num país democrático, a educação tinha de ser
controlada pelo estado e ter como base um código de conduta educacional. Também
deu grande importância à "educação apropriada e efetiva do sexo
feminino". Dois anos antes, Catarina tinha ordenado Ivan Betskoy a
criar um programa geral para a educação dos súbditos de ambos os
sexos. Este trabalho destacava que a criação de um "novo tipo de
pessoas" isoladas do ambiente atrasado russo. A criação da Casa do Abrigo
de Moscovo (o orfanato de Moscovo) foi a primeira tentativa de atingir esse
objetivo. Nela entraram crianças problemáticas e fruto de relações fora do
casamento com o objectivo da forma que o estado achasse correta. Visto que a Casa
do Abrigo de Moscovo não foi criada como uma instituição do estado, esta dava
oportunidade de experimentar as novas teorias educacionais. Contudo, este
projeto não teve sucesso, principalmente devido à elevada taxa de mortalidade
entre os alunos que impediu que muitas crianças vivessem tempo suficiente para
verificar se se tinham tornado nos súbditos iluminados que o estado tanto
desejava.
O Instituto
Smolny em 1823.
Pouco depois da criação da Casa do Abrigo de
Moscovo, Catarina abriu o Instituto Smolny para jovens nobres com o
objetivo de educar mulheres. O instituto foi o primeiro do género na Rússia. A
principio só se admitiam jovens da elite nobre, mas com o tempo também passou a
aceitar jovens burguesas. As raparigas que frequentavam o Instituto Smolny
eram frequentemente acusadas de ignorarem tudo o que se passava fora do
instituto. Dentro das suas paredes, as jovens aprendiam francês, música, dança
e total obediência à monarca. Havia uma disciplina rigorosa que era a base de
conduta. Corridas e jogos eram proibidos e o edifício era mantido frio porque
se acreditava que calor em excesso fazia mal ao desenvolvimento do corpo, assim
como brincadeiras em excesso.
Nos anos entre 1768 e 1774, não houve grandes
processos no sistema de educação nacional. Catarina continuou a investigar
as teorias e práticas educacionais de outros países e levou a cabo várias
reformas educacionais apesar de não haver um sistema nacional oficializado. A
remodelação do corpo de cadetes em 1766 deu inicio a muitas dessas reformas. A
partir de então, essa instituição começou a aceitar a entrada de crianças que
educada desde muito cedo até aos vinte e um anos de idade. O currículo escolar
foi alargado da tradicional educação militar para incluir ciências, filosofia,
ética, história e direito internacional. Esta política no corpo de cadetes
influenciou o ensino no corpo de cadetes da marinha e na escola de engenheiros
de artilharia. Depois da guerra e da derrota de Pugachov, Catarina forçou a
criação de escolas nas províncias que eram controladas por um governador.
Em 1782, Catarina já tinha formado outra comissão
de educação para estudar a informação reunida sobre os sistemas de educação de
vários países. O sistema que mais se destacou foi o de um matemático
chamado F. Aepinus, que se mostrava a favor da adopção do sistema austríaco de
educar todas as crianças ao mesmo nível. Além desta comissão, Catarina criou
uma outra dedicada às escolas nacionais liderada por P.I. Zavadovsky. Esta
comissão tinha o objectivo de organizar uma rede de escolas russas, formar
professores e escrever livros de texto para as escolas. A 5 de agosto de 1786,
foi promulgado o Estatuto Nacional da Educação Russa. Este estatuto criou
uma rede de liceus e escolas primárias que funcionavam a duas velocidades nas
capitais de estado e que eram de frequência gratuita para todas as classes
sociais livres, o que excluía o servos. Também exigia detalhadamente que os
súbditos fossem educados em todas as idades e o método de ensino que deveria
ser adoptado. Além dos livros de consulta traduzidos pela comissão, os
professores tinham ainda de saber o Guia dos Professores. Esta trabalho,
dividido em quatro partes, descrevia os métodos de ensino, as matérias
ensinadas, o comportamento do professor e o modo de funcionamento da escola.
O século XIX foi muito crítico em relação a este
sistema, afirmando que Catarina não deu o apoio financeiro necessário para que
o seu programa educacional funcionasse. Dois anos depois da implementação
do programa de Catarina, um membro da comissão foi inspecionar as escolas que
tinham sido abertas. Por toda a Rússia, os inspetores encontraram respostas
desiguais. Apesar de os nobres investirem grandes quantidades de dinheiro no
projecto, preferiam enviar os filhos para escolas privadas com mais prestígio,
enquanto que as pessoas nas cidades tinham a tendência de criticar os métodos
de ensino nas escolas privadas. Estima-se que cerca de 62 mil alunos foram educados
em cerca de 549 escolas durante o reinado de Catarina, mas este era um número
extremamente reduzido, tendo em conta o tamanho da população russa.
Catarina
com o traje nacional russo.
A aparente adopção completa de todas as coisas
russas por parte de Catarina (incluindo a religião Ortodoxa) pode ter levado à
indiferença que a imperatriz tinha com a religião. Não permitia que
dissidentes edificassem capelas e acabou com o desacordo religioso depois
da Revolução Francesa. Politicamente, Catarina explorou o cristianismo na
sua política anti-otomana, promovendo o acolhimento e proteção de cristãos que
se encontrassem sob as ordens do governo turco. Colocou restrições aos
católicos romanos, principalmente os polacos e tentou regularizar e expandir o
controlo exercido pelo estado sobre eles. Mesmo assim a Rússia de
Catarina acolheu um grande número de jesuítas expulsos na época de
vários países europeus, incluindo Portugal.
Catarina por Johann Baptist von Lampi o velho,
no Museu Hermitage.
A Rússia tratou frequentemente o judaísmo como
uma entidade independente onde os judeus tinham um sistema legal e burocrático
próprio. Apesar de o governo saber que o Judaísmo existia, Catarina e os seus
conselheiros não tinham uma verdadeira noção do que era um judeu, já que esse
termo teve vários significados durante o seu reinado. O judaísmo foi uma
religião minoritária e quase inexistente na Rússia até 1772. Quando Catarina
concordou com a Primeira Partição da Polónia, os judeus foram tratados como se
fossem uma facção da população independente devido à sua religião. Mantendo o
estatuto que estes mantinham na Polónia, Catarina permitiu que os judeus se
separassem da sociedade ortodoxa com certas restrições, taxando impostos mais
altos a famílias judaicas. Se uma família se convertesse à religião ortodoxa,
passava a estar isenta desta taxa. Os judeus que quisessem viver na
sociedade ortodoxa tinham de pagar o dobro dos impostos que os seus vizinhos,
mas se se convertessem à religião ortodoxa, passavam a ter permissão para
entrar na classe mercantil e a adquirir quintas como qualquer outro cidadão
livre russo.
Numa tentativa de incluir os judeus na economia
russa, Catarina forçou a sua entrada na Carta das Cidades de 1782, com todos os
seus direitos e leis. Embora este novo estatuto lhes trouxesse alguns
benefícios, principalmente o de serem reconhecidos como tendo o mesmo estatuto
de outros cidadãos ortodoxos, foram muitos os que tentaram aproveitar-se desta
igualdade. Os ortodoxos não gostaram do novo estatuto dos judeus,
principalmente por motivos económicos, visto que muitos deles eram banqueiros e
mercadores. Catarina tentou afastar os judeus de certas esferas económicas,
mesmo com a suposta igualdade. Em 1790 chegou mesmo a expulsar alguns cidadãos
judaicos da classe média moscovita.
Em 1785, Catarina declarou que os judeus eram
oficialmente estrangeiros com direitos estrangeiros.38 Esta
atitude voltou a estabelecer a identidade própria que os judeus tinham tido anteriormente
na Rússia. O decreto de Catarina também voltou a negar os mesmos direitos aos
judeus que tinham os cidadãos ortodoxos. Os impostos também voltaram ao dobro
em 1794 e Catarina declarou oficialmente que os judeus não tinham qualquer
ligação com os russos.
Catarina por Dmitry Grigoryevich Levitsky, 1782,
no Museu Russo
A Igreja Ortodoxa Russa não se saiu
melhor que as suas homólogas estrangeiras de várias maneiras durante o reinado
de Catarina que acabou o que Pedro III tinha começado. As terras da igreja
foram apropriadas pela coroa e o orçamento de todos os mosteiros e bispados
passou a ser controlado pelo Colégio Económico. O lucro de terras que
antes pertenciam à igreja foi substituído por uma renda do estado. As rendas
geralmente tinham um valor muito inferior aos anteriores lucros. A
imperatriz fechou 569 dos 954 mosteiros e apenas 161 deles recebia dinheiro do
estado. Apenas 400,000 rublos da antiga fortuna da igreja foram
devolvidos. Enquanto outras religiões (como o Islão) receberam convites
para integrar a Comissão Legislativa, o clero ortodoxo não teve direito a um
único lugar. O papel da igreja ortodoxa no governo foi reduzido
drasticamente durante o reinado de Catarina.
Em 1762, para ajudar a melhorar as relações entre a
Igreja Ortodoxa e um sector chamado os Velhos Crentes, Catarina passou um
decreto que permitia aos Velhos Crentes exercer a sua fé sem
interferências. Ao mesmo tempo em que promovia a tolerância religiosa, a
imperatriz tentou fazer com que os membros deste sector voltassem à religião
oficial do império. Quando eles se recusaram, Catarina enviou vinte mil Velhos
Crentes para a Sibéria. Nos seus últimos anos de vida, Catarina corrigiu a
sua opinião. Os Velhos Crentes puderam voltar a ter posições municipais depois
da Carta Urbana de 1785 e a imperatriz prometeu liberdade religiosa a qualquer
pessoa que desejasse viver na Rússia.
A educação religiosa também foi profundamente
revista. Inicialmente, Catarina tentou rever apenas os estudos do clero,
propondo uma reforma das escolas religiosas que nunca foi além de planos
escritos. Em 1786, Catarina terminou com todos os programas de estudo
religiosos e clericais da educação geral da população. Ao separar o
interesse público dos interesses da igreja, a imperatriz deu inicio a uma
secularização da vida comum russa, fazendo com que o clero passasse a ser uma
comunidade segregada ao estado que precisava dele para sobreviver em vez de um
grupo que tinha grande poder na Rússia.
Durante o seu reinado, Catarina teve vários amantes
que colocava frequentemente em altas posições do governo enquanto se
interessava por eles, enviando-os para longe com grandes propriedades, pensões
e servos quando a paixão se apagava. A percentagem de dinheiro estatal gasto na
corte aumentou de 10.4% em 1767 para 11,4% em 1781 e 13,5% em 1795. Catarina
ofereceu 66,000 servos entre 1762 e 1772, chegando mesmo a oferecer 100,000 num
só dia, a 18 de agosto de 1795. Ao mesmo tempo que a igreja a apoiava na
esperança de recuperar as suas antigas terras, Catarina comprava apoios no
governo através de promoções-relâmpago, podendo mesmo promover uma pessoa
catorze vezes num curto período de tempo independentemente do mérito que esta
pudesse ter. Assim, o governo estava cheio de criados leais à imperatriz.
Após o caso amoroso com o seu amante e
conselheiro Gregório Alexandrovich Potemkin ter acabado em 1776, este
alegadamente passou a escolher candidatos para amantes da imperatriz que
tivessem tanto beleza física como inteligência para a satisfazer (tais como
Alexandre Dmitriev-Mamonov). Alguns destes homens amavam-na e ela sempre foi muito
generosa com eles, mesmo depois de o romance terminar. Um dos seus
amantes, Pyotr Zavadovsky, recebeu 50,000 rublos mais uma pensão de 5,000
rublos anuais e 4,000 servos na Ucrânia depois de ser dispensado. O último
dos seus amantes, o príncipe Zubov, quarenta anos mais novo, provou ser o
mais caprichoso e extravagante de todos. A dependência sexual da imperatriz
levou a que nascessem várias lendas sobre ela.
Nas suas memórias, Catarina afirmou que o seu
primeiro amante, Sergei Saltykov, era o verdadeiro pai do seu filho Paulo,
no entanto este parecia-se fisicamente com o imperador Pedro III e as
suas palavras podem ter sido apenas uma vingança perante o tratamento frio que
recebia por parte do filho. Catarina mantinha o filho ilegítimo que tinha tido
com Gregório Orlov, Alexis Bobrinskoy, em Tula, longe da corte, (mais
tarde foi-lhe concedido o título de conde pelo seu meio-irmão Paulo.) Catarina
e Orlov tiveram ainda outra criança, uma filha chamada Isabel Alexandrovna Alexeeva,
nascida um ano depois de Alexis. Esta se casou com Friedrich Maximilian
Klinger de quem teve um filho chamado Alexandre que morreu novo em 1812.
A Queda da
Polónia, por Jan
Matejko, 1866, no Castelo Real de Varsóvia
Sir Charles Hanbury Williams, o embaixador
de Inglaterra na Rússia, ofereceu a Stanislaus
Poniatowski um lugar na embaixada se ele conseguisse fazer de Catarina sua
aliada. Pelo lado da mãe, Poniatowski era descente da família Czartoryski,
magnata da nobreza polaca. Catarina, de vinte e seis anos, e já casada há cerca
de dez, conheceu o atraente jovem de vinte e dois anos em 1755, muito antes de
se encontrar com os irmãos Orlov. Dois anos depois, em 1757, Poniatowski
prestou serviço militar do lado inglês durante a Guerra dos Sete Anos
enquanto mantinha uma relação próxima com Catarina. A imperatriz teve uma filha
dele, Anna Petrovna Poniatowski, nascida em 1757.
O rei Augusto III da Polónia morreu em
1763 e o país precisava de escolher um novo governante. Catarina apoiou Poniatowski
como candidato. Algumas pessoas acreditavam que Catarina tinha dito ao seu
embaixador polaco, o Conde Kayserling, que queria ver o seu amante no trono,
mas que ficaria satisfeita se o lugar fosse para Adam Czartoryski, o tio de
Poniatowski.
Catarina enviou o exército russo à Polónia para
evitar possíveis disputas. A Rússia invadiu a Polónia a 26
de agosto de 1764, ameaçando lutar e forçar Poniatowski a tornar-se rei.
Ele aceitou o trono, colocando-se assim sob controlo de Catarina. A notícia
sobre os planos de Catarina espalhou-se e Frederico II (ou o sultão
Otomano segundo outros relatos) avisou-a de que se ela tentasse conquistar a
Polónia casando-se com o seu amante, toda a Europa se oporia fortemente.
Ela não tinha qualquer intenção de se casar com
ele, tendo já dado à luz a criança de Orlov e do grão-duque Pedro.
Catarina pediu então a Poniatowski que se casasse com outra para acabar com
todas as suspeitas. Ele recusou e nunca se casou.
A Prússia (liderada pelo príncipe Henrique),
a Rússia (de Catarina) e a Áustria (de Maria Teresa) começaram a
preparar terreno para as Partições da Polónia. Na primeira partição em
1772, os poderes dividiram 52,000 km² entre si. A Rússia obteve os
territórios da linha oriental ligando até certo ponto Riga, Polotsk e Mogilev.
Na segunda partição em 1793, a Rússia recebeu mais
terra desde o oeste de Minsk quase até Kiev e também até
o rio Dnieper, deixando alguns
espaços de terreno baldio a sul, em frente de Ochakov no mar
Negro.
Depois disto, as revoltas na Polónia levaram a uma
terceira partição em 1795, um ano antes da morte de Catarina.
Alexei Grigorievich
Bobrinsky, o filho
de Catarina, a Grande com Gregório Orlov, no Museu Hermitage
Gregório Orlov, neto de um rebelde do Levantamento
de Streltsy em 1698 contra Pedro, o Grande, distinguiu-se na Batalha
de Zorndorf (25 de agosto de 1758), onde recebeu três feridas. Contrastava
com o pró-prussianismo de Pedro com o qual Catarina discordava. Em
1759, Orlov e Catarina eram já amantes apesar de nenhum dos que sabiam tivesse
informado o marido dela, o grão-duque Pedro. Catarina considerava Orlov útil e
este acabaria por tornar-se instrumental no golpe de estado contra o czar em
julho de 1761, mas Catarina sempre preferiu manter o título de imperatriz-viúva
do que se casar com outro.
Gregório Orlov e os seus três irmãos foram
recompensados com o título de condes, dinheiro, espadas e outros presentes. Mas
Catarina não se casou com Gregório que provou não saber nada de política e ser
inútil quando lhe eram pedidos conselhos. Recebeu um palácio em São
Petersburgo quando Catarina se tornou imperatriz.
Orlov morreu em 1783. O seu filho com
Catarina, Aleksey Grygoriovich Bobrinsky (1762 – 1813) teve uma
filha, Maria Alexeevna Bobrinskaya, (1798 – 1835) que se casou em 1819 com o
príncipe Nikolai Sergeevich Gagarin (1784 – 1842) que participou na Batalha
de Borodino a 7 de setembro de 1812 contra Napoleão e, mais
tarde, foi embaixador em Turim.
Gregório Potemkin tinha estado envolvido no
golpe de estado de 1762. Em 1772, os amigos próximos de Catarina informaram-na
sobre os casos amorosos de Orlov com outras mulheres e ela dispensou-o. No
inverno de 1773, a revolta de Pugachev tinha começado a tornar-se ameaçadora. O
filho de Catarina, Paulo, começava também a ganhar apoio e ambos ameaçavam
o seu poder. A imperatriz pediu ajuda a Potemkin (acima de tudo militar) e ele
passou a dedicar-se inteiramente a ela.
Em 1772, Catarina escreveu a Potemkin. Dias antes
tinha sido informada sobre uma revolta na região do Volga e nomeou o general
Aleksandr Bibikov para a parar, mas precisava dos conselhos estratégicos de
Potemkin.
Potemkin rapidamente conquistou posições e prémios.
Os poetas russos escreviam sobre as suas virtudes, a corte louvava-o, os
embaixadores estrangeiros lutavam pelo seu favor e a sua família mudou-se para
o palácio. Mais tarde tornar-se-ia governador da Nova Rússia.
Em 1780, o filho da imperatriz Maria Teresa da
Áustria, o imperador José II da Áustria, considerou a ideia de começar uma
aliança com a Rússia e pediu para se encontrar com Catarina. Potemkin teve a
tarefa de o receber e acompanhar até São Petersburgo.
Potemkin também convenceu Catarina a expandir as
universidades na Rússia para aumentar o número de cientistas.
Potemkin adoeceu em agosto de 1783. Catarina ficou
preocupada com o facto de ele poder não acabar aquilo que tinha planeado.
Morreu aos cinquenta e dois anos em 1791.
Catarina II, por Carl-Ludwig Christinek, no Museu
Histórico do Estado.
Apesar de a
vida e reinado de Catarina serem marcados por grandes sucessos, acabaram com
dois fracassos. O seu primo sueco, o rei Gustavo IV Adolfo,
visitou-a em setembro de 1796, numa altura em que Catarina desejava arranjar um
casamento entre ele e a sua neta Alexandra. O noivado deveria ter sido
anunciado num baile dado na corte imperial a 11 de setembro, mas Gustavo Adolfo
sentiu-se pressionado a aceitar o fato de que Alexandra não tinha intenções de
se converter ao luteranismo e, apesar de ter ficado encantado com a jovem,
recusou-se a aparecer no baile e voltou para Estocolmo. Catarina ficou tão
enfurecida com esta atitude que a sua saúde começou a piorar. Apesar de
tudo conseguiu recuperar suficientemente bem para começar a planear uma
cerimónia onde iria passar o trono diretamente para o seu neto Alexandre, excluindo
assim o filho Paulo da sucessão, mas acabaria por morrer de um acidente
vascular cerebral antes de oficializar o plano.
A 16 de novembro de 1796, Catarina levantou-se cedo
e tomou o seu café da manhã como de costume, seguindo pouco depois para o seu
escritório para trabalhar. A sua criada, Maria Perekusikhina, perguntou se
ela tinha dormido bem ao que a imperatriz respondeu que já não dormia bem há
muito tempo.
Por volta das nove da manhã, Catarina foi até ao
seu quarto de vestir e desmaiou. Preocupado com a demora, outro dos seus
criados, Zakhar Zotov, abriu a porta do quarto e espreitou lá para dentro. O
corpo de Catarina estava estendido no chão, o seu rosto estava roxo, o pulso
fraco e a sua respiração era irregular e esforçada. Os criados levantaram
a imperatriz do chão e levaram-na para o seu quarto. Cerca de quarenta e cinco
minutos depois, o médico da corte, o escocês Dr. John Rogerson, chegou e
concluiu que Catarina tinha sofrido um AVC. Apesar de todas as tentativas
feitas para a reanimar, a imperatriz entrou em coma do qual nunca recuperou.
Catarina recebeu a extrema unção e morreu na noite seguinte, perto das nove e
quarenta e cinco da noite. Foi realizada uma autópsia no dia seguinte que
confirmou a morte por AVC.
O testamento sem data de Catarina, descoberto entre
os seus papéis no inicio de 1792 pelo seu secretário Alexander Vasilievich
Khrapovitsky, deixava instruções especificas para o seu funeral: "Deitem
o meu corpo vestido de branco, com uma coroa dourada na cabeça na qual deve
estar inscrito o meu nome cristão. O luto deve durar seis meses, nada mais,
quanto menos tempo, melhor." No final, a imperatriz acabou por
ser enterrada com uma coroa dourada e um vestido de brocado prateado. A 25 de
novembro, o seu caixão, sumptuosamente decorado com um tecido dourado, foi
colocado numa plataforma na câmara de velório da Grande Galeria, criada por
Antonio Rinaldi.
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