HISTÓRIA
Flavius
Valerius Constantinus, o fundador do império romano do oriente
Constantino I, também
conhecido como Constantino Magno ou Constantino, o
Grande (em latim Flavius Valerius Constantinus; Naísso, 272— 22
de maio de 337), foi um imperador romano, proclamado Augusto pelas
suas tropas em 25 de julho de 306, que governou uma porção crescente
do Império Romano até a sua morte.
Constantino
derrotou os imperadores Magêncio e Licínio durante as
guerras civis. Ele também lutou com sucesso contra os francos e alamanos,
os visigodos e os sármatas durante boa parte de seu
reinado, mesmo depois do reassentamento de Dácia, que havia sido
abandonada durante o século anterior. Constantino
construiu uma nova residência imperial em lugar de Bizâncio, chamando-o de
Nova Roma. No entanto, em honra de
Constantino, as pessoas chamavam-na de Constantinopla, que viria a ser a capital do Império
Romano do Oriente por mais de mil anos. Devido a isso, ele é
considerado como um dos fundadores do Império Romano do Oriente.
Constantino
era um governante de grande importância histórica e sempre foi uma figura
controversa. As flutuações na reputação de Constantino
refletem a natureza das fontes antigas de seu reinado. Estes são abundantes e
detalhadas, mas foram fortemente influenciadas pela propaganda oficial do
período, e são muitas vezes unilaterais. Não
há histórias de sobreviventes ou biografias que lidam com a vida de Constantino
e do Estado. As mais próximas substituições são Constantini Vita de Eusébio
de Cesareia, uma obra que é uma mistura de elogio e hagiografia. Escrito
entre 335 e cerca de 339, a Vita exalta
virtudes morais e religiosas de Constantino. A Vita cria
uma imagem positiva contenciosamente de Constantino, e os historiadores
modernos vêm frequentemente contestando sua confiabilidade. A mais completa vita secular de Constantino é do
anônimo Origo Constantini. Uma obra de data incerta, o Origo concentra-se
em acontecimentos militares e políticos, em detrimento de assuntos culturais e
religiosos.
Nascido em Naísso, na Mésia
Superior (atual Niš na Sérvia), filho de Constâncio
Cloro (ou Constâncio I Cloro) e da filha de um casal de donos de uma
albergaria na Bitínia, Helena de Constantinopla, Constantino
teve uma boa educação — especialmente por ser filho de uma mulher de língua
grega e haver vivido no Oriente grego, o que facilitou-lhe o acesso à cultura
bilíngue própria da elite romana — e serviu no tribunal de Diocleciano depois
do seu pai ter sido nomeado um dos dois césares, na altura um imperador
júnior, na Tetrarquia em 293. Embora sua condição junto a Diocleciano
fosse em parte a de um refém, Constantino serviu nas campanhas do césar Galério e
de Diocleciano contra os assânidas e os sármatas. Quando da abdicação
conjunta de Diocleciano e Maximiano em 305, Constâncio seria
proclamado augusto, mas Constantino seria descartado como césar em
proveito de Flávio Severo (também conhecido modernamente como Severo
II, título que jamais usou, para não ser confundido com o grande imperador do
século anterior, Septímio Severo).
Termas construídas
por Constantino em Trier, capazes de atender milhares de pessoas.
Pouco antes da morte de seu pai, em 25 de julho
de 306, Constantino conseguiu a permissão de Galério para reunir-se a ele
no Ocidente, chegando a fazer uma campanha juntamente com Constâncio Cloro
contra os pictos, estando junto do
leito de morte do seu pai em Eburaco (atual Iorque) na Britânia, o
que lhe permitiu impor o princípio da hereditariedade em seu proveito,
proclamando-se "césar" e sendo reconhecido como tal por Galério,
então feito "augusto" do Oriente. Desde o início de seu
reinado, assim, Constantino tinha o controle da Britânia, Gália,Germânia e Hispânia,
com sua capital em Trier, cidade que fez embelezar e fortificar.
Nos dezoito anos seguintes, combateu uma série de
batalhas e guerras que o fizeram o governador supremo do Império Romano.
Como Maximiano desejava retomar sua posição de augusto, da qual havia-se
afastado a contragosto junto com Diocleciano, Constantino recebeu-o na sua
corte e aliou-se a ele por um casamento em 307 com a filha de sete
anos de Maximiano, Fausta, o que lhe permitiu ser reconhecido tacitamente
como Augusto em 308 por Galério numa conferência dos tetrarcas
em Carnunto (atual Petronell-Carnuntum na Áustria).
Em 309, no entanto, Constantino enfrentaria seu sogro, que tentava
recuperar abertamente o poder, capturando-o em Marselha e fazendo
assassiná-lo. Em 310, Constantino seria formalmente reconhecido como
Augusto por Galério. Severo havendo sido entrementes eliminado, em 307,
por Magêncio, filho de Maximiano que havia-se proclamado imperador
em Roma, Constantino deveria acabar por enfrentar seu cunhado para
conseguir o domínio completo do Ocidente romano. Após uma série de mediações
fracassadas e lutas confusas, Constantino, após apoiar o usurpador
africano Lúcio Domício Alexandre, cortando o suprimento de trigo de Roma,
de 308 a 309, desceu em 312 até a Itália para eliminar
Magêncio.
Essas
guerras civis constantes e prolongadas fizeram de Constantino, antes de mais
nada, um reformador militar, que, para aumentar o número de tropas a sua
disposição imediata, constituiu o cortejo militar do imperador (comitatus)
num corpo de tropas de elite autossuficiente - um verdadeiro exército de
campanha — principalmente pelo recrutamento de grande número de germanos que se
apresentavam ao exército romano nos termos de diversos tratados de paz, a
começar pelo chefe dos alamanos Chrocus, que teve um papel decisivo
na aclamação de Constantino como Augusto.
Moeda
de bronze (follis) de Constantino, cunhada em Lugduno,
na Gália, por volta de310, com o Deus Sol Invicto.
O fato de
Constantino ser um imperador de legitimidade duvidosa foi algo que sempre
influiu nas suas preocupações religiosas e ideológicas: enquanto
esteve diretamente ligado a Maximiano, ele apresentou-se como o protegido
de Hércules, deus que havia sido apresentado como padroeiro de Maximiano
na primeira tetrarquia. Ao romper com seu sogro e eliminá-lo, Constantino
passou a colocar-se sob a proteção da divindade padroeira dos
imperadores-soldados do século anterior, Deus Sol Invicto, ao mesmo tempo
que fez circular uma ficção genealógica (um panegírico da época, para
disfarçar a óbvia invenção, falava, dirigindo-se retoricamente ao próprio
Constantino, que se tratava de fato "ignorado pela multidão, mas
perfeitamente conhecido pelos que te amam") pela qual ele seria o
descendente do imperador Cláudio II — ou Cláudio Gótico — conhecido pelas
suas grandes vitórias militares, por haver restabelecido a disciplina no
exército romano, e por ter estimulado o culto ao Sol.21
Constantino acabou, no entanto, por entrar na
História como primeiro imperador romano a professar o cristianismo, na
sequência da sua vitória sobre Magêncio na Batalha da Ponte
Mílvio, em 28 de outubro de 312, perto de Roma, que ele
mais tarde atribuiu ao Deus cristão. Segundo a tradição, na noite anterior à
batalha sonhou com uma cruz, e nela estava escrito em latim:
|
In hoc signo
vinces”
|
— "Sob
este símbolo vencerás"
|
De manhã, um pouco antes da batalha, mandou que
pintassem uma cruz nos escudos dos soldados e conseguiu uma vitória esmagadora
sobre o inimigo. Esta narrativa tradicional não é hoje considerada um fato
histórico, tratando-se antes da fusão de duas narrativas de fatos diversos encontrados
na biografia de Constantino pelo bispo Eusébio de Cesareia.
No entanto, é certo que Constantino era atraído,
enquanto homem de Estado, pela religiosidade e pelas práticas piedosas — ainda
que se tratasse da piedade ritual do paganismo: o senado, ao erguer em honra a
Constantino o seu arco do triunfo, o Arco de Constantino, fez inscrever
sobre este que sua vitória devia-se à "inspiração da divindade"(instinctu
divinitatis mentis), o que certamente ia ao encontro das ideias do próprio
imperador. Até um período muito tardio de seu reinado, no entanto, Constantino
não abandonou claramente sua adoração com relação ao deus imperial
Sol, que manteve como símbolo principal em suas moedas até 315.
Cristograma de
Constantino
Só após 317 é que ele passou a adotar
clara e principalmente lemas e símbolos cristãos, como o
"chi-rô", emblema que combinava as duas primeiras letras gregas do
nome de Cristo ("X" e "P" superpostos). No
entanto, já quando da sua entrada solene em Roma em 312, Constantino
recusou-se a subir ao Capitólio para oferecer culto a Júpiter,
atitude que repetiria nas suas duas outras visitas solenes à antiga capital
para a comemoração dos jubileus do seu reinado, em 315 e 326.
A sua
adoção do cristianismo pode também ser resultado de influência
familiar. Helena, com grande probabilidade, havia nascido cristã e
demonstrou grande piedade no fim da sua vida, quando realizou uma peregrinação
à Terra Santa, localizou em Jerusalém uma cruz que foi tida como
a Vera Cruz e ordenou a construção da Igreja do Santo Sepulcro,
substituindo o templo a Afrodite que havia sido instalado no local —
tido como o do sepultamento de Cristo — pelo imperador Adriano.
Mas apesar de seu batismo, há dúvidas se realmente
ele se tornou cristão. A Enciclopédia Católica afirma:
"Constantino favoreceu de modo igual ambas as religiões. Como sumo
pontífice ele velou pela adoração pagã e protegeu seus direitos." E a
Enciclopédia Hídria observa: "Constantino nunca se tornou cristão".
No dia anterior ao da sua morte, Constantino
fizera um sacrifício a Zeus, e até o último dia usou o título pagão
de pontífice máximo (pontifex maximus). E, de fato,
Constantino, até o dia da sua morte, não havendo sido batizado, não
participou de qualquer ato litúrgico, como a missa ou a eucaristia.
No entanto, era uma prática comum na época retardar o batismo, que era suposto
oferecer a absolvição a todos os pecados anteriores — e Constantino, por força
do seu ofício de imperador, pode ter percebido que suas oportunidades de pecar
eram grandes e não desejou "desperdiçar" a eficácia absolutória do
batismo antes de haver chegado ao fim da vida.
Qualquer
que tenha sido a fé individual de Constantino, o fato é que
ele educou seus filhos no cristianismo, associou a sua dinastia a esta religião, e deu-lhe
uma presença institucional no Estado romano (a partir de Constantino,
o tribunal do bispo local, a episcopalis audientia, podia ser
escolhida pelas partes de um processo como tribunal arbitral em lugar do
tribunal da cidade). E quanto às suas profissões de fé pública, num édito do
início de seu reinado, em que garantia liberdade religiosa, ele tratava os
pagãos com desdém, declarando que lhes era concedido celebrar "os ritos de
uma velha superstição".
Esta clara associação da casa imperial ao
Cristianismo criou uma situação equívoca, já que o cristianismo tornou-se a
religião "pessoal" dos imperadores, que, no entanto, ainda deveriam
regular o exercício do paganismo — o que, para um cristão, significava transigir
com a idolatria. O paganismo retinha ainda grande força política —
especialmente entre as elites educadas do Ocidente do império — situação que só
seria resolvida por um imperador posterior, Graciano, que renunciaria ao
cargo de pontífice máximo em 379 — sendo assassinado quatro
anos depois por um usurpador, Magno Máximo. Somente após a eliminação
de Máximo e de outro usurpador pagão, Flávio Eugénio, por Teodósio
I é que o cristianismo tornar-se-ia a única religião legal (395).
O imperador
romano Constantino influenciou em grande parte na inclusão na igreja cristã de
dogmas baseados em tradições. Uma das mais
conhecidas foi o Édito de Constantino, promulgado em 321, que
determinou oficialmente o domingo como dia de repouso, com exceção
dos lavradores — medida tomada por Constantino utilizando-se da sua
prerrogativa de, como Sumo Pontífice, de fixar o calendário das festas
religiosas, dos dias fastos e nefastos (o trabalho sendo proibido durantes
estes últimos). Note-se que o domingo foi escolhido como dia de repouso, não
apenas em função da tradição sabática judaico-cristã, como também por ser o
"dia do Sol" — uma reminiscência do culto de Sol Invicto.
Para
resolver definitivamente o problema logístico da distância entre a capital e as
principais frentes militares da época, sem recorrer ao expediente de uma
residência imperial "interina", Constantino reconstruiu a antiga
cidade grega de Bizâncio, que dedicou em 11 de maio de 330 chamando-a
de Nova Roma, dotando-a de um Senado e instituições cívicas
(catorze regiões, um fórum, distribuições de trigo, um Prefeito do
pretório) semelhantes aos da antiga Roma. Tratava-se, no entanto, de uma
cidade puramente cristã, dominada pela Igreja dos Santos Apóstolos, junto
a qual encontrava-se o mausoléu onde Constantino seria
sepultado. Os templos pagãos de Bizâncio foram nela preservados, mas neles
foram proibidos os sacrifícios e o culto das imagens dos deuses. Após
a morte de Constantino, Bizâncio foi renomeada Constantinopla, tendo-se
gradualmente tornado a capital permanente do império. A fundação de
Constantinopla foi complementada pelo tratado (foedus) realizado entre
Constantino e seus descendentes com os godos, que, a partir de 332,
passaram a defender a fronteira do Danúbio e fornecer homens ao
exército romano, em troca de abastecimentos. A mudança da capital imperial
enfraqueceu a influência do papado de Roma e fortaleceu a influência
do bispo de Constantinopla sobre o Oriente, um dos eventos notáveis que
provocariam futuramente o Grande Cisma do Oriente.
Um ano
depois do Primeiro Concílio de Niceia, em (326), portanto, durante uma
viagem solene a Roma para a comemoração dos seus vinte anos de reinado,
Constantino mandou matar seu próprio filho e sucessor designado Crispo, um
general competente que provavelmente foi suspeito de intrigar para derrubar o
pai. Pouco depois, sufocaria sua
segunda mulher Fausta num banho sobreaquecido, provavelmente por suspeitar
que ela tivesse intrigado contra seu enteado Crispo. Mandou também estrangular o cunhado Licínio, que havia se rendido
a ele em troca da vida e chicotear até a morte o seu filho
(e sobrinho do próprio Constantino). Foi sucedido por seus três filhos com
Fausta: Constantino II, Constante I e Constâncio II, os
quais dividiram entre si a administração do império até que, depois de uma
série de lutas confusas, Constâncio II emergiu como augusto único.
Constantino foi uma figura controversa já na sua
época: o último imperador pagão, seu sobrinho Juliano, dizia que ele era
atraído pelo dinheiro e que buscou acima de tudo, enriquecer a si e seus
partidários — traço este (de saber enriquecer seus amigos) que também foi
reconhecido pelo historiador Eutrópio e pelo próprio Eusébio de
Cesareia.39 O historiador pagão Zósimo criticou
severamente suas reformas militares. Mas como primeiro imperador cristão,
Constantino foi reverenciado durante toda a Idade Média, seja pela
cristandade oriental, que o tinha como fundador do Império Bizantino —
e a Igreja Ortodoxa acabou por canonizá-lo — seja pela
ocidental, que, sem atribuir-lhe o status de santo,
considerava haver ele criado os Estados Papais, territórios doados
ao Papa pela chamada Doação de Constantino. Só com o Iluminismo seu
legado começou a ser pesadamente criticado, e o historiador inglês Edward
Gibbon, no seu livro clássico sobre a "A história do declínio e queda do
império romano" o caracteriza como um general romano de velha cepa a quem
o poder absoluto (e, por extensão, o Cristianismo) havia convertido num déspota
oriental. Com a secularização da sociedade moderna, a apreciação de
Constantino em função exclusivamente das suas reformas religiosas perdeu
acuidade - e ele passou a ser analisado em termos da sua própria época, como um
dos fundadores, juntamente com Diocleciano, do Baixo-Império (ou Dominato),
do qual ele estabeleceu as estruturas políticas e sociais básicas.
A limes danubiana e
oriental no tempo de Constantino, com os territórios conquistados no curso das
campanhas germano-sarmáticas (de 306 a 337). O mapa
representa também o Império Romano pouco depois da morte de
Constantino (337), com os territórios "repartidos" entre os seus três
filhos (Constante I, Constantino II e Constâncio II).
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