Sylvia
Thayde
Por Ticiano Leony
Chamei a atenção sobre a pessoa de Sylvia e o belo trabalho que vem desempenhando ao longo de quase 25 anos à frente do Museu de Arte da Bahia. Tive esperança que ela fosse mantida dirigindo, senão o museu como é hoje, uma nova fundação para dar prosseguimento ao seu criterioso trabalho, colecionando peças e obras de arte para o acervo público do Estado da Bahia.
Qual não foi a minha grande surpresa, ao receber um telefonema alarmante hoje, no meio do dia, de uma Sylvia em pânico, transtornada, ferida, porque não dizer ultrajada.
Mas ninguém dá o que não tem.
O Governo do Estado, sem fazer véspera, a destituiu da direção do Museu, sem ao menos uma carta de aviso, um ofício, simples que fosse, avisando a ela, sua exoneração.
Uma pessoa que já não tem a juventude do Governador para suportar uma decepção como a que a exoneração abrupta, incisiva, como se Sylvia tivesse ao longo de sua vida prestado algum desserviço no cargo que galhardamente ocupou, definitivamente não merece um tratamento de choque como o que lhe aplicaram na manhã de hoje, 19 de março de 2015..
Nesta data chegou ao Museu uma “força tarefa” abrindo portas e ameaçando abrir gavetas e arquivos, intimidando auxiliares e funcionários fiéis a ela, para usurpar o cargo. Foi tão truculento o ato, que seu substituto, o senhor Pedro Archanjo, viu-se até constrangido por que ele conhece o trabalho de Sylvia.
Não sei, porque não me disseram, quem tomou tal atitude, afinal foi um ato apócrifo, sem uma precedência, sem uma merecida homenagem “pelos relevantes serviços prestados” à cultura deste Estado”, sem um mero muito obrigado, até logo.
Não é assim que se trata as pessoas. Fala-se muito em meritocracia e mérito é o que não falta à ex-diretora. Mas a truculência de quem foi o encarregado do ato abusivo, só escancara o tipo de governantes que temos tido à frente deste País e, malgrado nosso, à frente deste Estado.
Não é assim deseducadamente numa “Pátria que se diz educadora”, desprovido de cortesia, que se exonera quem dedicou toda a sua vida a uma causa como a da cultura.
Precisava isto contra uma senhora, já a esta altura idosa, embora plena de lucidez e determinação? Claro que não. Gentileza, dirijo-me ao executor da tarefa, gera gentileza. O que custava uma carta, um ofício, agradecendo pela dedicação, solicitando até ajuda para a transição do cargo com suas nuances e suas filigranas?
Mas não. O “exército de Stedile” parece que já está à solta, conclamado em ato público e sem cerimônia, praticando atos de estupidez contra quem não merece, contra quem a uma altura destas é apenas vítima. Uma frágil vítima como tantas outras.
No mínimo posso dizer que a atitude truculenta é revoltante, é covarde, é traiçoeira e merece mesmo este puxão de orelhas para aprender a ter educação, pelo menos quando trata da cultura.
Claro que vão argumentar que “saiu no Diário Oficial”, mas não é suficiente, não preenche a lacuna na norma que exige tratamento mais humano e cordial, mais civilizado, afinal não somos trogloditas e estamos, segundo alardeado pelos que estão agora no poder, num estado democrático de direito. Mas que serventia prática tem estes argumentos? Não se expulsa assim nem quem não merece e os exemplos estão aí difundidos à larga nesta republiqueta subjacente.
O ato não poderá ser revisto, a atitude não será revertida com uma retratação, nem com um pedido formal de desculpas, mas que fique para nós outros, a lição. Afinal temos mesmo que conhecer e conservar. Apenas isto.
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