Ocupa uma
área da antiga Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus
Instalações (história)
“O local em
que se instalou o MAE corresponde aos vestígios arquitetônicos do que foi o
amplo e complexo edifício do Real Colégio dos Jesuítas, que incluía a atual
Catedral Basílica. Construído, em sua maior parte, no século XVI, este exemplar único de arquitetura
seiscentista/setecentista serviu como hospital militar após, a expulsão dos
Jesuítas (1759), e mais tarde, ai se instalou a Escola de Cirurgia, fundada
por Dom João VI, à sua chegada ao Brasil. Este conjunto arquitetônico foi
modificado, em grande parte, inclusive com demolições, para se edificar um novo
prédio, no final do século XIX. Após o incêndio ocorrido em 1905 as
modificações arquitetônicas feitas por ocasião da reconstrução do prédio foram
profundas, voltando este a abrigar a Faculdade de Medicina após a conclusão da
reforma. Em 1946, juntamente com outras instituições de ensino superior, a Faculdade
de Medicina passou a integrar a Universidade Federal da Bahia em sua
constituição, permanecendo aí instalada até o final da década de 1960, sem que
outras mudanças significativas fossem feitas em sua arquitetura. Como resultado
destas sucessivas intervenções, somente uma parte do plano inferior do conjunto
escapou de destruição quase total, constituindo hoje, emblematicamente, seu
sustentáculo que, conforme registro em sua pedra fundamental datada de 1656,
faz deste um espaço tricentenário em defesa da cultura.
Em meados da década de 1970 partes do prédio
encontravam-se em avançado estado de deterioração. Com recursos do Programa de
Cidades Históricas foram feitas intervenções, pela então Fundação do Patrimônio
Artístico e Cultural da Bahia, naquelas partes do monumental conjunto
arquitetônico que se encontravam na iminência de ruir e resultar em graves
perdas para a memória da cidade de Salvador e da Bahia. Nesta ocasião, quando se realizou prospecções para encontrar o antigo
nível do subsolo, foram encontrados vestígios da tijoleira da época do Colégio
dos inacianos, em virtude do que se decidiu resgatar, na intervenção, o nível
original dos cômodos que estava aterrado cerca de 40 centímetros.
Observou-se que o cadastro feito para o projeto de
restauro tinha, em linhas gerais, o mesmo desenho de levantamento da segunda
metade do século XVIII efetuado pelo Sargento-mor Engenheiro José Antonio
Caldas, soteropolitano de nascimento. Como se observou que as necessidades de
restauro tinham implicações e demandas de estudos arqueológicos convidou-se o
Prof. Valentin Calderón, da UFBA, então Diretor da Fundação Cultural do Estado,
para dar consultoria nas prospecções, em virtude de ser ele especialista na
matéria. Os trabalhos de intervenção pararam por aí, porque os recursos
limitados foram canalizados para consolidar o piso do Salão Nobre da Faculdade
de Medicina, que ameaçava colapso, assim como a cobertura da ala mais antiga do
edifício.
Urnas funerárias
A intervenção de restauração que conduziu ao
aspecto atual do espaço do Museu de Arqueologia e Etnologia, originalmente
idealizado pelo Prof. Valentin Calderón, aconteceu no reitorado do Prof. Macedo
Costa, cujo projeto deveu-se ao Prof. Mário Mendonça de Oliveira, com o apoio
da PCU da UFBA. Nesta oportunidade foram descascadas parcialmente as abóbadas,
reintegrados os pisos onde foram encontradas as antigas tijoleiras, feita
pavimentação com pedras de arenito onde não mais existia piso original e
enfatizados dois elementos arquitetônicos encontrados no pátio que se
imaginava, no início, serem fontes. Uma intervenção arqueológica promovida no
ano de 2006 revelou ser a forma circular mais antiga uma cisterna, construída
com materiais semelhantes aos utilizados na construção original do século XVI, à
qual foi sobreposta uma fonte decorativa, provavelmente entre o final do século
XIX e início do século XX pelas características dos materiais utilizados, que
se assemelham àqueles das intervenções feitas nestas duas épocas. Outro forte
elemento indicador da época desta última intervenção é a centralidade que tem a
fonte em relação ao pátio interior do prédio.
As estruturas arquitetônicas jesuíticas, como um
todo, circunscrevem-se a certos setores que encerram um pátio pequeno, no
centro do qual se encontram vestígios da mencionada cisterna e da fonte.
Surpreende, pelo seu excelente estado de conservação, o conjunto de arcadas
duplas com arcos plenos, executados em tijolos. Estas arcadas formam dois dos
lados do pátio quadrangular. No lado leste uma
graciosa galeria com abóbadas de arestas, em
tijolos, que foram colocados à vista na restauração, se abre ao pátio através
de outro jogo de arcadas do mesmo tipo das anteriores, porém nitidamente de
época posterior. Nesta parte são encontrados três quartos, um tipo cela e dois
abertos, com abóbadas de arco pleno que se abrem a esta galeria. Um terceiro
espaço serve de comunicação deste setor do colégio destinado a serviços e a
área externa. A despeito de encontrar-se quase inteiramente abaixo do solo, o
conjunto apresenta-se monumental por seus detalhes únicos e preciosidade das
técnicas e materiais construtivos utilizados, constituindo, assim, uma dos mais significativos exemplares da
arquitetura jesuítica colonial.
Outros importantes testemunhos das sucessivas intervenções são
proporcionados pela sobreposição das plantas de Caldas às plantas do atual
prédio, ficando evidente que esta edificação fez uso dos espaços e alicerces
construídos pelo empreendimento inaciano para sua edificação. Durante a mais
recente intervenção realizada no subsolo da ala nordeste para expansão da área
de exposição, ao se realizar prospecções em busca de uma antiga passagem
registrada numa antiga planta da edificação, encontrou-se estruturas murarias
construídas com materiais (pedra, tijolos e argamassa) característicos dos
séculos XVI e XVII, mais uma vez vindo a reforçar todas as conhecidas
evidências sobre a antiguidade da edificação.”
***
O Museu
O Museu de Arqueologia e Etnologia da Bahia, cujas
instalações foram acima descritas ( ocupa o espaço mais nobre dos primórdios de
Salvador), tem como uma de suas muitas finalidades mostrar o passado da gente
brasileira, mediante os testemunhos materiais que dela subsistem e,
consequentemente, sua história e cultura. Ou seja, a vida dos indígenas.
“O setor de
Arqueologia e Etnologia do MAE UFBA realiza trabalhos de pesquisa e curadoria
nas coleções do museu, estas de fundamental importância para o estudo das
citadas disciplinas. A coleção Valentin Calderón, por exemplo, é parte
importante da história da arqueologia brasileira, remetendo às primeiras
escavações sistemáticas realizadas no país. As coleções etnográficas originadas
dos trabalhos de campo, como por exemplo a coleção Pedro Agostinho, por sua
vez, são referência para os estudos relativos à cultura da Bahia. Atualmente, o
setor está em fase de reformulação.”
Um dos trabalho do MAE – escaneamento
em 3D das cerâmicas da coleção Valentin Calderón
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