MÚSICA
Para festejar os 450 anos da cidade
do Rio de Janeiro nada melhor que relembrar o compositor que a descobriu para o
mundo com os seus harmoniosos acordes. Ele cantou o Rio e as suas mulheres
Antônio “Tom”
Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 1927 — Nova Iorque, 8 de dezembro de1994), mais
conhecido como Tom Jobim, foi um compositor, maestro, pianista, cantor, arranjador e violonista brasileiro. É
considerado o maior expoente de todos os tempos da música popular brasileira pela
revista Rolling Stone e um dos criadores e principais forças do
movimento da bossa nova.
Nascido no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro (na época Distrito
Federal), Tom
mudou-se com a família no ano seguinte para Ipanema, onde foi criado. A ausência do
pai, Jorge de Oliveira Jobim, durante a
infância e adolescência lhe impôs um contido ressentimento, desenvolvendo no
maestro uma profunda relação com a tristeza e o romantismo melódico,
transferido peculiarmente para as construções harmônicas e melódicas. Aprendeu a tocar violão e piano em aulas, entre outros, com o professor
alemão Hans-Joachim Koellreutter,
introdutor da técnica dodecafônica no
Brasil.
O trisavô paterno
do compositor, José Martins da Cruz Jobim, era natural de Jovim, Gondomar, Portugal.
O sobrenome de Jobim alude a essa
localidade.
No dia 15 de outubro de 1949, Antônio
Carlos Jobim casou-se com Thereza de Otero Hermanny (1930), com quem teve dois
filhos, Paulo (n. 1950) e Elizabeth (n. 1957).
Em 1976, Tom
conheceu a fotógrafa Ana Beatriz Lontra, então com 19 anos, mesma idade de sua
filha Elizabeth. Em 30 de abril de 1986, eles se
casaram. Tom e sua segunda esposa tiveram dois filhos juntos, João Francisco
(1979-1998) e
Maria Luiza (1987).
Declarou em
entrevista à TV Globo, em 1987, que o Rio de Janeiro onde viveu sua infância era muito diferente
do Rio que se encontrava na época da entrevista.
Pensou em trabalhar
como arquiteto, chegando
a cursar o primeiro ano da faculdade e até a se empregar em um escritório, mas
logo desistiu e decidiu ser pianista. Tocava em
bares e boates em Copacabana, como
no Beco das Garrafas no início dos anos 1950, até que
em 1952 foi
contratado como arranjador pela
gravadora Continental, onde trabalhou com Sávio Silveira. Além dos
arranjos, também tinha a função de transcrever para a pauta as melodias de
compositores que não dominavam a escrita musical. Datam dessa época as
primeiras composições, sendo a primeira gravada “Incerteza”, uma parceria
com Newton Mendonça, na voz de Mauricy Moura.
Depois da
Continental, foi para a Odeon.
Entretanto, não tinha tanto tempo para se dedicar à composição, que lhe
interessava mais. É nessa época que compôs alguns sambas, em parceria de Billy Blanco: Tereza
da Praia, gravada por Lúcio Alves e Dick Farney pela Continental (1954), Solidão e
a Sinfonia do Rio de Janeiro. Tereza da Praia foi
o primeiro sucesso. Depois disso, ocorreram outras parcerias, como com a
cantora e compositora Dolores Duran, na
canção Se é por Falta de Adeus.
No ano de 1953, as
canções Faz uma Semana e Pensando em Você foram
gravadas por Ernani Filho. Ainda nos anos 50, com Vinicius de Moraes, Tom Jobim produziu as canções para a peça Orfeu
da Conceição e, posteriormente, para o filme Orfeu do Carnaval ou Orfeu
Negro, dirigido por Albert Camus, ao lado
de Luiz Bonfá e Antônio Maria.
Dessa peça fez
bastante sucesso a canção antológica Se Todos Fossem Iguais a Você,
gravada diversas vezes. Tom Jobim fez parte do núcleo embrionário da bossa nova. O LP Canção do Amor Demais (1958), em
parceria com Vinícius e interpretação de Elizeth Cardoso, foi
acompanhado pelo violão de um
baiano até então desconhecido, João Gilberto. A orquestração é
considerada um marco inaugural da bossa nova, pela originalidade das melodias e
harmonias. Inclui, entre outras, Canção do Amor Demais, Chega de Saudade e Eu
Não Existo sem Você. A consolidação da bossa nova como estilo musical veio
logo em seguida com o 78 rotações Chega
de Saudade, interpretado por João Gilberto, lançado em 1959, com
arranjos e direção musical de Tom, que selou os rumos que a música popular
brasileira tomaria dali para frente. No mesmo ano foi à vez de Sílvia Telles gravar Amor
de Gente Moça, um disco com doze canções de Tom, entre elas Só em
Teus Braços, Dindi (com Aloysio de Oliveira) e A Felicidade (com Vinícius).
Tom foi um dos
destaques do Festival de Bossa Nova do Carnegie Hall, em Nova York, em 1962. No ano
seguinte compôs, com Vinícius, um dos maiores sucessos e possivelmente a canção
brasileira mais executada no exterior: Garota de Ipanema. Nos anos
de 1962 e 1963 a
quantidade de “clássicos” produzidos por Tom é impressionante: Samba do
Avião, Só Danço Samba (com Vinícius), Ela é Carioca (com
Vinícius), O Morro Não Tem Vez, Inútil Paisagem (com
Aloysio), Vivo Sonhando. Nos Estados Unidos gravou
discos (o primeiro individual foi The Composer of Desafinado, Plays, de 1965),
participou de espetáculos e fundou sua própria editora, a Corcovado
Music. Em 1964, competindo com os
Beatles, os Rolling Stones e Elvis Presley, Tom Jobim ganhou o Grammy de Música
do Ano com a "Garota de Ipanema".
O sucesso fora do
Brasil o fez voltar aos EUA em 1967 para
gravar com um dos grandes mitos americanos, Frank Sinatra. O disco Francis
Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, com arranjos de Claus Ogerman, incluiu
versões em inglês das canções de Tom (The Girl From Ipanema, How Insensitive, Dindi, Quiet
Night of Quiet Stars) e composições americanas, como I Concentrate
On You, de Cole
Porter. No fim dos anos 1960, depois de
lançar o disco Wave (com a faixa-título, Triste, Lamento,
entre outras instrumentais), participou de festivais no Brasil, conquistando o
primeiro lugar no III Festival Internacional da Canção (Rede Globo),
com Sabiá, em parceria com Chico Buarque,
interpretado por Cynara e Cybele, do Quarteto em Cy. Sabiá conquistou
o júri, mas não todo o público, que em grande parte preferia que a vencedora
fosse "Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores" (ou, como ficou mais
conhecida popularmente, "Caminhando"), composta e interpretada
por Geraldo Vandré, por seu conteúdo de confrontação à ditadura
política por que passava o país. Assim, uma grande parte do público vaiou
ostensivamente tanto a divulgação do resultado quanto toda a interpretação da
vencedora, para constrangimento de seus compositores.
Ao apresentar-se
como segundo colocado, Vandré, sentindo o clima pesado do ambiente, até tentou
defender os vencedores, dizendo:
"Antônio
Carlos Jobim e Chico Buarque de Hollanda merecem o nosso respeito. A nossa
função é fazer canções; a função de julgar, nesse instante, é do Júri, que ali
está" (e ao afrontar assim o público, foi vaiado
estrondosamente, também. Ao que ele reagiu esperando o final dos apupos, para
deixar uma alerta e lição ao público) (...). Tem mais uma coisa só: pra
vocês, que continuam pensando que me apoiam vaiando... (o público
inicia um coro de "é marmelada!") (...). Olha, tem uma coisa
só: a Vida não se resume em Festivais!"
A influência
impressionista
É reconhecida a
influência de Debussy e Ravel na música do maestro Antônio Carlos Jobim, que
utilizou motivos impressionistas e estruturas harmônicas semelhantes às desses
compositores em suas músicas populares como nas eruditas, o caso de A
Sinfonia da Alvorada.
Uma das marcas de
Tom era a incrível capacidade de dotar de leveza e elegância a complexidade e a
densidade elevadas de suas composições.
Admirador e
influenciado por Villa Lobos e Ary Barroso, Jobim também estudou de modo
aprofundado as obras de eruditos como Radamés Gnatalli e Guerra Peixe.
Tom Jobim, Vinicius
e o estilo mais intimista da Bossa Nova abriram espaço para os compositores
gravarem seus sucessos de modo frequente, pois tornou-se importante conhecer a
carga emocional pensada ou desejada pelos compositores para suas composições.
Tom desejava
intensamente que sua música fosse cantada pelo povo no cotidiano.
Aprofundando seus
estudos musicais, adquirindo influências de compositores eruditos, principalmente Villa-Lobos e Debussy, Tom Jobim
prosseguiu gravando e compondo músicas vocais e instrumentais de rara inspiração,
juntando harmonias do jazz (Stone Flower) e elementos tipicamente
brasileiros, fruto de suas pesquisas sobre a cultura brasileira. É o caso
de Matita Perê e Urubu, lançados na década de 1970, que
marcam a aliança entre sua sofisticação harmônica e sua qualidade de letrista.
São desses dois discos Águas de Março, Ana Luiza, Lígia,
Correnteza, O Boto, Ângela. Também nessa época
gravou discos com outros artistas, como Elis & Tom, com Elis Regina, Miúcha e Tom
Jobim e Edu e Tom, com Edu Lobo.
Valendo-se ainda do
filão engajado do pós-regime militar, cantou, ainda que com uma participação
individual diminuta, no coro da versão brasileira de We are the world, o hit americano
que juntou vozes e levantou fundos para a África ou USA for Africa. O
projeto Nordeste Já (1985) abraçou a
causa da seca nordestina, unindo 155 vozes num compacto, de criação coletiva,
com as canções Chega de mágoa e Seca d´água.
Elogiado pela competência das interpretações individuais, foi no entanto
criticado pela incapacidade de harmonizar as vozes e o enquadramento de cada
uma delas no coro.
Em 1987,
lançou Passarim, obra de um compositor já consagrado, que pode
desenvolver seu trabalho sem qualquer receio, acompanhado por uma banda grande,
a Banda Nova. Além da faixa-título, Gabriela, Luiza, Chansong, Borzeguim e Anos
Dourados (com Chico Buarque) são os
destaques. Em1992 foi
enredo da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Seu último
álbum, Antônio Brasileiro, foi lançado
em 1994, pouco
antes da sua morte, em dezembro, de parada cardíaca, quando
estava se recuperando de um câncer de bexiga no Hospital Mount Sinai, em Nova Iorque.
Algumas biografias foram
publicadas, entre elas Antônio Carlos Jobim, um Homem Iluminado, de
sua irmã Helena Jobim, Antônio Carlos Jobim - Uma Biografia,
de Sérgio Cabral, e Tons sobre Tom, de Márcia
Cezimbra, Tárik de Souza e Tessy Callado.
Antônio Carlos
Jobim era doutor honoris causa pela Universidade Nova de
Lisboa / Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, por volta de 1991.
O Aeroporto Internacional do Rio de
Janeiro foi renomeado Aeroporto Internacional
do Rio de Janeiro/Galeão - Antônio Carlos Jobim junto ao Congresso Nacional por uma comissão de notáveis, formada por
Chico Buarque, Oscar Niemeyer, João Ubaldo Ribeiro, Antônio Cândido, Antônio Houaiss e Edu Lobo, criada e
pessoalmente coordenada pelo crítico Ricardo Cravo Albin.
Em 25 de janeiro de 2011, dia em
que Jobim completaria 84 anos, o Google alterou
o logo da
sua página inicial em sua homenagem.
Grandes nomes da
música internacional tocaram e cantaram as músicas de Tom Jobim, como Stan Getz, Dizzy Gillespie, Ella Fitzgerald, Count Basie, Herbie Mann, Oscar Peterson, Sarah Vaughan, além
de Frank Sinatra, a Voz do Século XX, simbolizando a consagração
internacional de sua produção musical. Essa admiração fez com que Tom Jobim
fosse chamado por músicos do jazz de o George Gershwin do
Brasil, uma grande honraria
Com a obra de Antonio Carlos Jobim, a música brasileira experimentou uma
projeção internacional inédita, rigorosamente sem precedentes e definitiva.
Até o movimento da Bossa Nova, a presença brasileira, ainda que marcada pela
excelência, como nas obras de Ary Barroso, Dorival Caymmi, Zequinha de Abreu e Waldir Azevedo, era
eventual; com Jobim, contudo, ela se tornou permanente, estrutural e
influenciou a produção posterior.
Uma vertente
musical que nasceu do samba canção se abriu ao diálogo com as tendências
internacionais da música, marcou gerações e exibiu a riqueza que nasce da
disposição ativa para conhecer a diversidade cultural dos povos, articulando o popular
e o erudito, sem nenhum preconceito, reverenciando os clássicos, oferecendo uma
nova leitura da música popular, superando estereótipos, expressando, assim, uma
marca indelével de sua produção musical, constituída de obras de rara beleza
com amplo reconhecimento internacional pela critica especializada e o grande
público.
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