sábado, 21 de março de 2015

TRIBUTO A CASTRO ALVES

LITERATURA/POESIA


Por
Joaci Góes
É imortal pela Academia de Letras da Bahia e pela Academia de Letras e Arte de Salvador (ALAS)

Ontem, tivemos a honra de participar de uma palestra, compartilhada com o administrador Pedro Galvão, na Fundação João Fernandes da Cunha, dirigida pelo médico e vereador Silvoney Sales e sua esposa, a psicóloga Zenaide Fernandes da Cunha Sales, sobre o poeta  Antônio Frederico de CASTRO ALVES. O evento foi prestigiado por personalidades que representam um corte transversal da sociedade culta de Salvador. 

Além da declamação de algumas das mais belas poesias do inspirado vate, sustentamos que o Cantor da Liberdade, mais do que o maior poeta da língua portuguesa e das Américas, é um dos maiores do mundo, evidência pouco difundida por haver ele versejado num idioma que Humberto de Campos considerava “o túmulo do pensamento”, porque falado, apenas, na comunidade luso-brasileira, numerosa, mas incapaz, até os dias correntes, de despertar o interesse de formadores de opinião, em escala planetária. Além disso, teve ele a desdita de nascer na Bahia, terra que, com a exceção do Parque Castro Alves, criado pelo secretário de Educação Edivaldo Boaventura, não cuidou de valorizar sua memória, preservando os lugares onde morou, em Muritiba, São Felix, Cachoeira e Salvador, onde teve quatro endereços: o primeiro no Rosário, o segundo ao lado da Igreja do Paço, em Sto. Antônio, o terceiro a Chácara Boa Vista, no Engenho Velho de Brotas, e o quarto no Sodré, onde faleceu a 6 de julho de 1871, aos 24 anos.
  



Cresce o número dos que veem em Castro Alves a personalidade que, através de sua poesia revolucionária, mais contribuiu para transformar o Brasil. De fato, todos os grandes temas que empolgavam a opinião pública do seu tempo repercutiram de modo candente em seu estro abrasador, como a defesa que fez de pessoas e povos oprimidos. Vestiu os valores morais com a roupagem dos deuses, ao recorrer, vezes sem conta, à linguagem olímpica, através de palavras como águia, falcão, condor, sol, céu, mar, estrelas, abismo, infinito, feitores, escravos, senhores, chibata, grilhões, ferros, aguilhões. Fugindo do indianismo dominante, em sua poesia condoreira, rica de hipérboles e metáforas, seus temas centrais foram a libertação dos escravos e a defesa da República que só seria proclamada dezoito anos depois de sua morte. Até hoje não se construiu hipérbole em favor da democracia comparável à sua repetida conclamação: “A praça, a praça é do povo como o céu é do condor”.

A proverbial juventude não impediu que sua poesia fosse a mais culta e erudita da “última flor do Lácio, inculta e bela”, fato que leva muitos a considerar divina a qualidade dos seus versos, não apenas pela grandiloquência do estro hiperbólico, pela sensibilidade e beleza formal, como pela profundidade, amplitude e atualidade da sua exuberante e inconfundível poética. Nenhum poeta pode rivalizar com ele no ritmo alucinante e na riqueza vocabular dos seus versos. Em sua poesia amorosa, Castro Alves valorizou a sensualidade e o erotismo, as paixões tórridas, a melancolia e não raro o tédio, ao tempo em que flertava com a morte, ora atraindo-a, ora a repudiando com veemência. No poema “Meu segredo”, escrito aos dezesseis anos, definiu as estrelas que no “céu cintilam lânguidas”, como pérolas soltas de um colar sem fio”. Ninguém, nem antes, nem depois dele, conseguiu dizer nada tão belo sobre as estrelas. Há quem veja no poema “Boa noite” a matriz da poesia sensual que o sucedeu.

Com Castro Alves, a poesia romântica no Brasil, a um só tempo, evoluiu, amadureceu, alcançou a plenitude e morreu. Antes dele, a poesia romântica pecava pelo excesso de idealização do amor e do patriotismo ufanista.

A morte precoce de Castro Alves resultou de uma associação de fatores, como a tuberculose, a desilusão amorosa com a atriz portuguesa Eugênia Câmara que, depois de corresponder-lhe, durante algum tempo, culminou por esnobá-lo, fato que o abateu emocionalmente, facilitando a progressão da doença. A amputação do pé esquerdo, em junho de 1869, comprometendo-lhe a apolínea elegância, desempenhou função de relevo nessa macabra sinfonia. Recentemente, luminares da medicina, revendo o laudo clínico do poeta, concluíram que sua morte foi, provavelmente, precipitada por ignorado diabetes.
Elegante, pálido, olhos grandes e vivazes, voz poderosa, cabeleira basta e negra, bigodes bem cuidados, sua personalidade arrebatadora se impunha à admiração dos homens e à paixão das mulheres, como foi descrito pelos seus vários biógrafos, dentre os quais Xavier Marques, Afrânio Peixoto, Pedro Calmon e Jorge Amado, meio a uma das mais vastas bibliografias existentes sobre um autor de língua portuguesa.

Os brasileiros, em geral, e os baianos, em particular, precisam conhecer mais e melhor a imorredoura obra de Castro Alves.

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