Publicado em recortes por Sílvia Marques,
em
obviusmagazine
Silvia
Marques
O invejoso
é como uma criança fazendo birra.
O tema dos
sete pecados capitais sempre me interessou. Uma vez, no cursinho
pré-vestibular, precisamos escolher um dos sete pecados para escrever sobre
ele. Cada um optou trabalhar com aquele que lhe incomodava mais, que lhe
parecia mais desagradável. Pecado é pecado e bonito nenhum é. Mas por uma série
de causas emocionais e relacionadas ao histórico e sensibilidade de cada um,
acabamos nos incomodando mais com uns do que com outros. Antes de me centrar no
pecado escolhido por mim, a inveja, citarei brevemente os outros seis.
Os pecados
capitais são assim nomeados por se tratarem de pecados cabeça, isto é, dão
origem a outros pecados. Eles são: a ira, a inveja, a gula, a preguiça, a
soberba, a avareza e a luxúria. Todo pecado é nocivo e causa estragos em nossa
vida e na de terceiros. Mas entre tantas possibilidades desagradáveis, escolhi
a inveja. Sempre a achei muito feia. Acho que ninguém está livre de sentir
inveja. Quando ela chega de repente em nosso coração me parece algo natural.
Para mim, o problema não é o sentimento si, mas como lidamos com ele. Como
assim? Ao sentir inveja de alguém, o que podemos fazer? Lutar contra o
sentimento ou alimentá-lo.
Se
aprendermos a valorizar as nossas conquistas e qualidades, sem fazer
comparações constantes com os outros, perceberemos que cada um tem o seu valor.
Por exemplo: A inveja B porque B tira notas melhores na escola. Mas, muitas
vezes, A se esquece de analisar que B tem defeitos e dificuldades que ela não
tem. Será que A gostaria de “trocar de vida” com B para tirar notas melhores na
escola, mas em compensação assumir os problemas da vida de B como uma renda
familiar menor ou dificuldade para fazer amigos? Entendem o que quero dizer?
Provavelmente B deseja apenas as boas notas de A, mas prefere continuar com sua
renda familiar maior e sua melhor capacidade para fazer amigos. Enfim, quer o
bom de cada lado.
O problema
do invejoso é que ele quer tudo de bom que os outros possuem, mas se esquece de
enxergar que o ser invejado também tem problemas e que ele ( o ser invejoso)
também tem qualidades. Na verdade, o invejoso é alguém muito inseguro, com uma
péssima autoimagem. Alguém que sofre demais. Alguém que valoriza pouco o que
tem e sabe. Alguém que se ama pouco.
O invejoso,
normalmente, está infeliz com ele mesmo.
Muitos
invejosos deixam na cara que são invejosos. Estes são os menos perigosos.
Muitas pessoas escondidas atrás de uma máscara de soberba, apresentam
personalidades altamente invejosas. Qual é a diferença entre um simples soberbo
e alguém que aparenta soberba para esconder a inveja? O soberbo se acha melhor
do que as outras pessoas. Ele pensa saber mais, ser mais atraente, mais
interessante, mais inteligente. Ele pouco valoriza o saber do outro. Ele se
mostra indiferente ao outro pois está autocentrado nas próprias realizações.
Já o
invejoso disfarçado de soberbo, além de jogar confete em si mesmo o tempo todo,
aumentando conquistas, se auto elogiando, tem a necessidade de desmerecer
claramente o conquistado por outras pessoas. Enquanto o soberbo simplesmente
ignora, o invejoso disfarçado de soberbo trucida verbalmente e com gestos e
olhares tudo aquilo que pertence ao outro. O soberbo não enxerga o outro. O
invejoso disfarçado de soberbo enxerga muito bem, analisa a pessoa em questão e
ao final encontra uma palavra ou um olhar para fazer o outro acreditar que é
incompetente, desinteressante e sem valor. A pessoa que alimenta a inveja e
coloca como objetivo de vida ser melhor sempre pelo simples prazer de ser
melhor está condenada a uma vida angustiante. Está condenada a sair derrotada
sempre pois sempre haverá alguém mais interessante, mais inteligente em
determinada área, mais divertido, mais atraente, mais criativo, mais viajado,
mais instruído, com melhor situação financeira etc
Inspirar-se
em pessoas não é o mesmo que invejá-las. O problema é querer aniquilá-las. Sim,
a inveja é muito feia. A inveja não tem graça, não sabe sorrir. Seus olhos
carecem de brilho e seus movimentos, de alegria e leveza. Sua voz é azeda. Seus
gestos e cacoetes irritantes. Nada de bom sai da sua boca. Sua comida não tem
gosto. Falta libido ao seu ser. A inveja bem alimentada, três vezes ao dia com
muito rancor, maledicência e competitividade destrutiva, torna o seu dono um
ser insuportável, uma pessoa a quem desejamos ver pelas costas sempre. Como
comentei no início do artigo, sentir inveja é natural. Cultivá-la é uma opção.
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