Folclore
Publicado em
Literatura por Mylena D'Queiroz,
em obviusmagazine
"Ah! Senhores! É possível que eu me considere
extremamente inteligente pela única razão de que, em toda a minha vida, nunca
pude começar nem acabar fosse o que fosse. Não passo pois de um tagarela, de um
tagarela inofensivo, de um impertinente como nós todos. Mas que fazer,
senhores, se o destino de todo homem inteligente é tagarelar, isto é, derramar
água em uma peneira? Que faremos então desses milhões de fatos que atestam os
homens, tendo embora perfeita consciência do seu interesse, o relegam a segundo
plano e enveredam por um caminho totalmente diferente, cheio de riscos de acasos?"
In: Notas do Subsolo.
"A
lição maior de Lobato é a sua própria e tumultuosa riqueza humana. Creio mesmo
que dentro de vinte anos ele estará incluído nos manuais de história e cultuado
na memória do povo, como uma espécie de herói civil da literatura."
Drummond.
Drummond.
Euclides da Cunha já denunciara que "O Brazil não conhece o Brasil
[e] O Brasil nunca foi ao Brazil". Expor descasos, aliás, foi algo que
fizeram bem os modernistas, alguns com seus duplos movimentos de vanguarda e
tradição, ao mostrar-nos o país. Basta lembrar Monteiro Lobato, Lima Barreto ou
o autor d'Os Sertões.
O escritor
de Taubaté ficou popularmente conhecido pelo conjunto educativo de sua obra de
livros infantis. Lembremos que, segundo Emília, a eterna boneca de pano, “Dona Benta
disse que folk quer dizer gente, povo; e lore quer dizer sabedoria, ciência.
Folclore são as coisas que o povo sabe por boca, de um contar para o outro, de
pais a filhos – os contos, as histórias, as anedotas, as superstições, as
bobagens populares”.
Monteiro
Lobato (1882 – 1948) nos leva ao Brasil quinhentista em "As aventuras de
Hans Staden", populariza o Saci-Pererê, personagem folclórico do Sul do
Brasil em "O Saci-Pererê: resultado de um inquérito", bem como a
Cuca, com sua última aparição em "Histórias diversas".
Mas, não é
apenas dessa forma que Lobato nos leva, com suas inúmeras publicações, ao
Brasil plural. Afinal, asseverava em "Cartas escolhidas" que
"Não há cultura possível sem livro e livro barato, livro que penetre nas
massas populares e lhes erga o nível mental. Que nos vale ter picos como Rui
Barbosa, se a planície se apresenta um dos mais baixos níveis culturais do
mundo? (...) O livro barato, acessível ao povo, tem sido a nossa obsessão de
editores falidos e ressurgidos, (...)." E, assim, aceitando suas
profissões como missão, o escritor de obras que nos levam ao Sítio do Pica-Pau
Amarelo, com a "Monteiro Lobato & Cia" torna-se mais que editor.
Edita e publica obras extremamente bem elaboradas, com programação visual,
tipografia elegante, capas chamativas e desenhadas. (FENSKE, Elfi Kürten).
Sua visão
do Brasil Caipira e Sertanejo muda quando descobre o Amarelão "Uma doença
que muitos confundem com a maleita", e assim o Jeca Tatu torna-se ícone da
denúncia ao descaso do interior do país.
Há mais de
um Brasil, mostrava-nos também Darcy Ribeiro. E Monteiro Lobato,
magistralmente, soube conhecê-los e retratá-los em sua forma mais pura. À
medida que conhece os Brasis, muda e aperfeiçoa sua opinião acerca da política
e da cultura brasileira. À criança, mostra mais que o próprio país. Expõe
Cervantes, expõe Herculano. Pois ao taubateano, "para crianças, um livro é
todo o mundo".
É
necessário reler o Monteiro folclorista.
© obvious: http://lounge.obviousmag.org/astronauta/2015/04/lobato-foi-aos-brasis.html#ixzz3WoYqvnHr
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