sexta-feira, 10 de abril de 2015

(MONTEIRO) LOBATO FOI AOS BRASIS

Folclore


Publicado em Literatura por Mylena D'Queiroz,
em obviusmagazine


"Ah! Senhores! É possível que eu me considere extremamente inteligente pela única razão de que, em toda a minha vida, nunca pude começar nem acabar fosse o que fosse. Não passo pois de um tagarela, de um tagarela inofensivo, de um impertinente como nós todos. Mas que fazer, senhores, se o destino de todo homem inteligente é tagarelar, isto é, derramar água em uma peneira? Que faremos então desses milhões de fatos que atestam os homens, tendo embora perfeita consciência do seu interesse, o relegam a segundo plano e enveredam por um caminho totalmente diferente, cheio de riscos de acasos?" In: Notas do Subsolo.
  
"A lição maior de Lobato é a sua própria e tumultuosa riqueza humana. Creio mesmo que dentro de vinte anos ele estará incluído nos manuais de história e cultuado na memória do povo, como uma espécie de herói civil da literatura."
Drummond.


Euclides da Cunha já denunciara que "O Brazil não conhece o Brasil [e] O Brasil nunca foi ao Brazil". Expor descasos, aliás, foi algo que fizeram bem os modernistas, alguns com seus duplos movimentos de vanguarda e tradição, ao mostrar-nos o país. Basta lembrar Monteiro Lobato, Lima Barreto ou o autor d'Os Sertões.



O escritor de Taubaté ficou popularmente conhecido pelo conjunto educativo de sua obra de livros infantis. Lembremos que, segundo Emília, a eterna boneca de pano, “Dona Benta disse que folk quer dizer gente, povo; e lore quer dizer sabedoria, ciência. Folclore são as coisas que o povo sabe por boca, de um contar para o outro, de pais a filhos – os contos, as histórias, as anedotas, as superstições, as bobagens populares”.
Monteiro Lobato (1882 – 1948) nos leva ao Brasil quinhentista em "As aventuras de Hans Staden", populariza o Saci-Pererê, personagem folclórico do Sul do Brasil em "O Saci-Pererê: resultado de um inquérito", bem como a Cuca, com sua última aparição em "Histórias diversas".
Mas, não é apenas dessa forma que Lobato nos leva, com suas inúmeras publicações, ao Brasil plural. Afinal, asseverava em "Cartas escolhidas" que "Não há cultura possível sem livro e livro barato, livro que penetre nas massas populares e lhes erga o nível mental. Que nos vale ter picos como Rui Barbosa, se a planície se apresenta um dos mais baixos níveis culturais do mundo? (...) O livro barato, acessível ao povo, tem sido a nossa obsessão de editores falidos e ressurgidos, (...)." E, assim, aceitando suas profissões como missão, o escritor de obras que nos levam ao Sítio do Pica-Pau Amarelo, com a "Monteiro Lobato & Cia" torna-se mais que editor. Edita e publica obras extremamente bem elaboradas, com programação visual, tipografia elegante, capas chamativas e desenhadas. (FENSKE, Elfi Kürten).

 
Sua visão do Brasil Caipira e Sertanejo muda quando descobre o Amarelão "Uma doença que muitos confundem com a maleita", e assim o Jeca Tatu torna-se ícone da denúncia ao descaso do interior do país.


Há mais de um Brasil, mostrava-nos também Darcy Ribeiro. E Monteiro Lobato, magistralmente, soube conhecê-los e retratá-los em sua forma mais pura. À medida que conhece os Brasis, muda e aperfeiçoa sua opinião acerca da política e da cultura brasileira. À criança, mostra mais que o próprio país. Expõe Cervantes, expõe Herculano. Pois ao taubateano, "para crianças, um livro é todo o mundo".

É necessário reler o Monteiro folclorista.


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