História
universal
Um castelo (diminutivo de castro)
é uma estrutura arquitetônica de fortificação, com funções
defensivas e em alguns casos residencial (muitos castelos serviam apenas como
postos de vigia, por exemplo o Castelo de Almourol). De tipo permanente,
era geralmente erguido em posição dominante no terreno, próximo a vias de
comunicação (terrestres, fluviais ou marítimas), o que facilitava o registo
visual das forças inimigas e as comunicações a grandes distâncias.
Chama-se castelete a um castelo
pequeno e diz-se acastelado um edifício com aspecto de
castelo. Em alemão há duas palavras para se referir a
castelo: Burg, associada a construções mais antigas e fortificadas,
e schloss, associada a palácios. Em francês a
palavra château é associada a palácios.
Embora sejam popularmente associados à Idade
Média europeia, estruturas com funções semelhantes vêm sendo empregadas
desde a Idade da Pedra por todo o planeta. Como exemplos mais
recentes temos os castelos do Japão e as fortificações dos Incas.
As origens mais remotas de castelos no continente
europeu são os castros proto-históricos, que à época da expansão
romana evoluíram para um reduto ("castellum"), dominado
por uma torre de vigilância, cercado por um fosso ("fossa")
e por uma muralha ("vallum").
Os castelos, em sua concepção clássica, começaram a
surgir no século IX, quer em resposta às incursões Normandas e Magiares ao
Norte e ao Centro, quer às lutas da Reconquista cristã na península
Ibérica, mas de forma geral como uma manifestação do poder político
descentralizado dos senhores feudais. Do século IX ao século XV, milhares
de castelos foram erguidos pelo continente.2 Durante este
período os senhores feudais eram a lei e as suas torres, e depois
castelos, a garantia da segurança e da ordem para as populações locais, as suas
colheitas e o seu gado. Essa situação manteve-se até ao surgimento
da artilharia.
Na transição da Alta para a Baixa
Idade Média, difundiu-se o emprego de torres defensivas, erguidas em
pontos elevados e/ou de fácil defesa sobre o terreno, empregando os materiais
mais abundantes em cada região: madeira, taipa e,
posteriormente, pedra, em aparelho de menor ou maior perfeição.
Tipicamente, estas torres apresentavam planta circular
ou quadrangular, divididas internamente em até três pavimentos que se
comunicavam entre si por escadas. De forma geral, o pavimento inferior não
apresentava portas, janelas ou quaisquer aberturas, sendo
utilizado como depósito, cisterna ou prisão. Em época posterior,
este pavimento inferior passou a abrigar o corpo da guarda. O pavimento
intermediário conservou a função social e o superior passou a ser utilizado
para a vida privada. No topo, o terraço manteve a função defensiva.
Ao abrigo e ao redor destas torres, que combinavam
as funções de atalaia, aviso, depósito de víveres e residência senhorial,
os habitantes da região iam erguendo as suas residências.
Progressivamente, durante a Baixa Idade Média, este
tipo de estrutura foi complementado por uma cerca dos mesmos materiais,
normalmente de planta ovalada, adaptada ao terreno, e, mais tarde ainda,
por fossos. As defesas foram progressivamente sendo aperfeiçoadas e
dotadas, externamente, de barbacãs e torres albarrãs, e
internamente, de cisternas e poços. O topo dos muros e das torres,
também progressivamente, foi recebendo caminhos de ronda (adarves), ameias e merlões, seteiras e troneiras, palanques defensivos
e balcões com matacães.
Os primeiros castelos na região da atual Grã-Bretanha eram
de um tipo conhecido como "motte and bailey". O chamado "motte"
constituía-se em um monte de terra, largo e nivelado, normalmente com
50 pés de altura, em cujo topo uma larga torre de madeira era
erguida. Abaixo do monte dispunha-se uma área cercada com uma paliçada,
também de madeira, envolvida por um fosso inundado, chamada de "bailey".
Ao abrigo dessa cerca eram erguidos depósitos, currais e choupanas.
Uma ponte dava acesso ao recinto e um estreito caminho dava acesso à
torre no alto do monte, último reduto defensivo em caso de ataque.
A partir do século XI, a torre de madeira deu
lugar a uma torre (ou torreão) de planta circular, em alvenaria de
pedra,3 e a cerca de madeira, a uma muralha também
de alvenaria de pedra, ainda envolvida por um fosso inundado. A
entrada passou a ser defendida por um portão e uma ponte levadiça.
A experiência adquirida à época das Cruzadas conduziu
à evolução do traçado dos castelos europeus. As estruturas passaram a
desenvolver-se de forma concêntrica, onde uma torre de
menagem passava a ser cercada por dois ou mais anéis concêntricos de
muralhas.
Castelos concêntricos foram então projetados para
que uma torre de menagem central fosse cercada por dois ou mais anéis de muralhas.
As muralhas passaram a ser reforçadas por torres quadradas e, posteriormente,
circulares, menos vulneráveis. Ameias foram dispostas no alto das
torres e dos muros, visando a proteção dos defensores.
Na passagem da Idade Média para a Idade
Moderna, registraram-se novos e importantes progressos na arquitetura
militar, devido nomeadamente:
à introdução da artilharia nos campos de batalha - à medida
que o seu poder de fogo e precisão de tiro se aperfeiçoaram, as altas muralhas
perpendiculares foram sendo substituídas por muralhas mais baixas e inclinadas;
à centralização do poder monárquico, que retirou parcelas de poder quer
do clero quer da nobreza no período. Um dos caminhos foi o
de desmilitarizar os antigos castelos feudais e, desse modo, já no século
XIII era necessário pedir a autorização real para erguer um novo castelo
ou reforçar um já existente. Ao mesmo tempo, as principais vilas e os burgos,
espaços da burguesia em ascensão, passaram a ser fortificados.
Nesse período, muitos castelos foram adaptados às
funções de palácios, tendência que se acentuou na passagem para a Idade
Contemporânea, quando a evolução dos meios ofensivos conduziu à perda do seu
valor estratégico, substituídos pelas fortalezas abaluartadas, melhor
adaptadas aos tiros da artilharia.
O Castelo
Beaumaris.
O Castelo
de Conway.
A construção de um castelo poderia demorar de menos
de um ano até mais de vinte para ser concluída. A arquitetura de
fortificações, por muitos séculos, constituiu-se em importante atividade
económica, levando a uma grande demanda por mestres-de-obras e grupos de
artífices especializados, que se mudavam frequentemente de região para região.
Na Idade Média, as cidades que pretendiam erguer catedrais tinham que
competir por essa mão-de-obra especializada com a nobreza que estava
a construir castelos.
Um exemplo foi a construção do Castelo
Beaumaris, no norte de Gales, iniciada em 1295 e jamais
concluída. O projeto era simétrico, sem pontos fracos. Em seu auge os
trabalhos ocuparam 30 ferreiros, 400 pedreiros e 2000
trabalhadores. O Castelo de Conway, também em Gales, erguido por
determinação de Eduardo I de Inglaterra, levou quarenta meses para
ser concluído.
Em sua concepção clássica, um castelo compunha-se
de um pátio ou praça de armas, cercado pelas edificações, adossadas às muralhas.
O topo das muralhas era percorrido por um adarve, protegido por ameias.
O acesso era feito pelo Portão de Armas (principal), havendo ainda uma chamada
"Porta Falsa", "Poterna" ou "Porta da Traição",
prevendo uma eventual retirada dos defensores. Com o desenvolvimento de
povoações ao abrigo dos muros do castelo, uma cerca passou a envolver o
perímetro urbano.
Entre os seus principais elementos defensivos
compreendem-se as muralhas, amparadas ou reforçadas por torres. Entre
estas últimas, destacava-se a chamada torre de menagem, que se constituía
em um pequeno castelo dentro do castelo. Muralhas e torres eram encimadas por
matacães e ameias. A sua defesa era ampliada pela presença de barbacãs e
pela abertura de fossos e valas, secos ou inundados, visando
dificultar não apenas a aproximação dos atacantes, mas também as muralhas
contra os trabalhos de sapa dos atacantes. Estes obstáculos eram transpostos,
adiante dos portões, por pontes levadiças. Os portões, por sua vez,
podiam ser defendidos por pesadas portas levadiças, uma grade que deslizava nas
ombreiras do portão, bloqueando a passagem.
Castelo de
Pierrefonds(França) e suas estruturas defensivas.
Construção
de um torreão, destacando-se os andaimes.
Corte de
uma torre mostrando as seteiras e ameias.
Porta levadiça.
A tarefa de captura de um castelo era normalmente
difícil, demandando paciência e recursos para sustentar um cerco, o emprego de
astúcia e mesmo de diplomacia.
Quando uma força inimiga se aproximava do castelo,
normalmente os habitantes da região se abrigavam em seu interior com suas
colheitas e criação.
Estabelecido o assédio, impunha-se ultrapassar as
muralhas, que necessitavam ser rompidas. Uma variedade de técnicas e de meios
foi desenvolvida, ao longo dos séculos, para esse fim:
Sapa - os trabalhos de sapa ou de minas consistiam em escavar túneis nas
fundações das muralhas, escorados por traves de material, posteriormente incendiados
para fazer desabar os túneis e as seções de muralhas acima.
Aparelhos de arremesso de projéteis (pedras, projéteis incendiados ou
cadáveres de animais ou de pessoas), como por exemplo o trabuco ("trebuchet")
e a manganela.
Aríetes
Escadas
Torres de cerco
Pavês
Aríetes em
ação
Esquema de
um ataque
Torre de
sítio em ação
Esquema de
um castelo português.
Na península Ibérica diversos castelos
foram erguidos sobre os vestígios de castros pré-romanos, em locais
sucessivamente ocupados até à época da invasão islâmica da península
Ibérica.
No contexto da Reconquista cristã muitas
dessas fortificações foram aproveitadas, sendo ampliadas e reforçadas. Neles
residia uma escassa população, habitando a restante nos campos vizinhos e só
recolhendo ao castelo em caso de iminente perigo. O castelo constituía-se na
sede de um julgado e gozava de certos privilégios.
A estrutura arquitetônica dos castelos sofreu
mutações ao longo dos séculos destacando-se, em meados do século
XIV a passagem da neurobalística para a pirobalística. Em
Portugal, embora já desde D. Fernando se utilizassem trons e
os castelos já tivessem sofrido adaptações no sentido de comportar armas de
fogo, tornou-se essencial introduzir mudanças, surgindo uma nova estrutura
defensiva, a fortaleza.
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