sábado, 11 de abril de 2015

OS ETERNOS LAÇOS FAMILIARES

 Publicado em recortes por João Roc
Em obviusmagazine

“Eu atravesso para o outro lado das memórias
Tentando conter a insuportabilidade,
Preciso de partículas de olhos vulcânicos 
E doses de bafo vertiginoso de horizonte.”

A instituição família é sem sombra de dúvida, um dos elementos mais poderosos da humanidade. A força que existe em cada laço – em maior ou menor grau – alcança níveis de uma complexidade mágica profundamente inexplicável em suas nuances atemporais. Para alguns se trata de laços elementares, facilmente explicados pela convivência, entretanto, a realidade do contato entre os próximos – em momentos extremos como a morte – mostra que suas raízes revelam quem somos e como lidamos com os eventos humanos e aprendemos, evoluímos, como pessoas.
  


A perda de um ente familiar é para nós, um acontecimento extremo, doloroso, irreparável. Se pudéssemos mergulhar em cada rosto, gesto, passos de todos que fazem parte diretamente da tribo familiar, encontraríamos algumas respostas para aqueles - que ainda têm dúvidas – se ainda somos capazes de sentir e nos emocionar de verdade. O aprendizado com cada um é revelador. Lançando um pequeno olhar ao redor - encontraremos a certeza. Nossos sentidos se perdem em reverberações enigmáticas.
Como aqueles que simplesmente se mantêm intocáveis. As lágrimas podem estar ali, mas são visíveis apenas para ele mesmo. Oculta em sua jornada rumo ao chão-precipício que se abrirá engolindo - como um grito que foi reduzido à gotas de silêncio – comprimidas em capsulas de melancolia – e arremessadas no útero das lembranças, estas que parecem tão inférteis neste momento para o futuro.



Longe, as crianças – à margem – brincam e transmitem palavras de sabedoria, que por frações de segundos, são capazes de fazer sorrir àquela alma mais aluviada de dor. Sua impenetrável lucidez prova o quanto perdemos qualquer tipo de inocência e o quanto olhamos - para tal evento - como o pior de nossa história, sendo que, este não deixa de ser algo natural, que deveríamos - desde sempre - aprender a lidar com delicadeza e conformismo.
Para aqueles que choram copiosamente, sua ânsia saudosista é como milhões de espinhos perfurando os tecidos dos segundos por dentro. Os olhos fechados parecem querer acreditar que ao abrir, tudo não era mais que um sonho.
Se alguém chegasse naquele momento e dissesse “acorda!!!” despertaríamos para um novo nascimento, uma nova jornada onde beberíamos os líquidos do tempo com ternura e paciência, brindaríamos com aquele que partiu a sua - não-eternidade - portanto, aquele momento seria a reinvenção de uma eternidade recíproca. Todos os dias trabalharíamos esta reinvenção só pelo prazer inabalável de um eterno retorno, como dizia o grande filósofo.


Aqueles que pareciam fortes se revelam frágeis em seu pequeno mundo particular. Estáticos perante a realidade do mundo, da vida, da conjunção. Outros que pareciam quebráveis, prontos a tombar - como uma árvore frente ao vendaval - mostram-se montanhas fulgentes, onde o vento bate e volta criando ciclones de palavras esmeramentes prontas para estancar sua própria dor e a dor do outro ao lado.
Os olhos fecham, não apenas para uma pessoa. Todos fecham em cerimônia intrínseca. Neste momento, não há nada além de terra e a oca noite com sons de oceano ao fundo, mas em breve, ali nascerá - como raízes escavando os corações soterrados - folhas, troncos, vida, e nós humanos - como pássaros - pousaremos nestes galhos com nossos melhores pensamentos e dali alçaremos voos para nossos próprios destinos.
A vida não simplesmente segue é verdade, ela apenas, segue.


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