Publicado em recortes por João Roc
Em obviusmagazine
“Eu atravesso para o
outro lado das memórias
Tentando conter a insuportabilidade,
Preciso de partículas de olhos vulcânicos
E doses de bafo vertiginoso de horizonte.”
Preciso de partículas de olhos vulcânicos
E doses de bafo vertiginoso de horizonte.”
A instituição família é sem sombra de dúvida, um dos elementos mais
poderosos da humanidade. A força que existe em cada laço – em maior ou menor
grau – alcança níveis de uma complexidade mágica profundamente inexplicável em
suas nuances atemporais. Para alguns se trata de laços elementares, facilmente
explicados pela convivência, entretanto, a realidade do contato entre os
próximos – em momentos extremos como a morte – mostra que suas raízes revelam
quem somos e como lidamos com os eventos humanos e aprendemos, evoluímos, como
pessoas.
A perda de
um ente familiar é para nós, um acontecimento extremo, doloroso, irreparável.
Se pudéssemos mergulhar em cada rosto, gesto, passos de todos que fazem parte
diretamente da tribo familiar, encontraríamos algumas respostas para aqueles -
que ainda têm dúvidas – se ainda somos capazes de sentir e nos emocionar de
verdade. O aprendizado com cada um é revelador. Lançando um pequeno olhar ao
redor - encontraremos a certeza. Nossos sentidos se perdem em reverberações
enigmáticas.
Como
aqueles que simplesmente se mantêm intocáveis. As lágrimas podem estar ali, mas
são visíveis apenas para ele mesmo. Oculta em sua jornada rumo ao chão-precipício
que se abrirá engolindo - como um grito que foi reduzido à gotas de silêncio –
comprimidas em capsulas de melancolia – e arremessadas no útero das lembranças,
estas que parecem tão inférteis neste momento para o futuro.
Longe, as
crianças – à margem – brincam e transmitem palavras de sabedoria, que por
frações de segundos, são capazes de fazer sorrir àquela alma mais aluviada de
dor. Sua impenetrável lucidez prova o quanto perdemos qualquer tipo de
inocência e o quanto olhamos - para tal evento - como o pior de nossa história,
sendo que, este não deixa de ser algo natural, que deveríamos - desde sempre -
aprender a lidar com delicadeza e conformismo.
Para
aqueles que choram copiosamente, sua ânsia saudosista é como milhões de
espinhos perfurando os tecidos dos segundos por dentro. Os olhos fechados
parecem querer acreditar que ao abrir, tudo não era mais que um sonho.
Se alguém
chegasse naquele momento e dissesse “acorda!!!” despertaríamos para um novo
nascimento, uma nova jornada onde beberíamos os líquidos do tempo com ternura e
paciência, brindaríamos com aquele que partiu a sua - não-eternidade -
portanto, aquele momento seria a reinvenção de uma eternidade recíproca. Todos
os dias trabalharíamos esta reinvenção só pelo prazer inabalável de um eterno retorno,
como dizia o grande filósofo.
Aqueles que
pareciam fortes se revelam frágeis em seu pequeno mundo particular. Estáticos
perante a realidade do mundo, da vida, da conjunção. Outros que pareciam
quebráveis, prontos a tombar - como uma árvore frente ao vendaval - mostram-se
montanhas fulgentes, onde o vento bate e volta criando ciclones de palavras
esmeramentes prontas para estancar sua própria dor e a dor do outro ao lado.
Os olhos
fecham, não apenas para uma pessoa. Todos fecham em cerimônia intrínseca. Neste
momento, não há nada além de terra e a oca noite com sons de oceano ao fundo,
mas em breve, ali nascerá - como raízes escavando os corações soterrados -
folhas, troncos, vida, e nós humanos - como pássaros - pousaremos nestes galhos
com nossos melhores pensamentos e dali alçaremos voos para nossos próprios
destinos.
A vida não
simplesmente segue é verdade, ela apenas, segue.
© obvious: http://lounge.obviousmag.org/zoom_nas_visceras/2015/04/os-eternos-lacos-familiares.html#ixzz3WuUzNNNp
Follow us: @obvious on Twitter | obviousmagazine on Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário