sexta-feira, 10 de abril de 2015

OS LIBANÊSES NO BRASIL


imigração libanesa no Brasil teve início oficialmente por volta de 1880, quatro anos após a visita do imperador dom Pedro II ao Líbano.
Manuel Diegues Júnior acredita que a presença de turcos, sírios e libaneses no Brasil remonta à época colonial, tendo em vista que Portugal mantinha relações comerciais com a Síria. É certo, entretanto, que a segunda metade do século XIX foi a principal época de entrada dos imigrantes libaneses no Brasil, ou seja, de 1860 a 1890. Conforme podemos atestar, os “turcos-árabes” já aparecem de outra forma expressiva entre os imigrantes entrados no país no período de 1820 a 1920.


A maioria dos imigrantes veio ao país fugindo da falta de perspectiva econômica da região, então dominada pela política turco-otomana. O Brasil, na época, atravessava a sua primeira fase de urbanização e industrialização, o que tornava propícios os novos negócios. Diferente dos imigrantes europeus, que procuraram no Brasil as terras para cultivo, os libaneses encontraram nas cidades um local para a criação de indústrias e casas de comércio.
A maioria deles começou a sua vida no país vendendo mercadorias de porta em porta como mascate. O dinheiro juntado acabou sendo o pontapé para a abertura de pequenas confecções e lojas de tecidos. Muitos dos imigrantes libaneses que vivem ou viveram no Brasil colaboraram inclusive com o desenvolvimento do próprio Líbano, com envio ao país de recursos que propiciaram a construção de hospitais, escolas e bibliotecas.


Os principais motivos da imigração foram forças político-religiosas, econômicas e mistas.
Os cristãos viviam nas montanhas do norte do Líbano, formando aí uma grande população rural e mantendo uma independência limitada sob uma direção. Outra influência a considerar quanto à emigração foi a questão do alistamento militar obrigatório aos cristãos depois de 1909, devido às dificuldades militares e políticas do Império Otomano. O rude tratamento imposto nos alistamentos cristãos pelos soldados e oficiais maometanos determinou a emigração de milhares de cristãos para fugir do serviço militar.


Com o início da Primeira Guerra Mundial, a emigração da Síria e do Líbano cessou. No fim da guerra, os povos desses países devastados esperaram para ver o que o futuro lhes traria. Quando descobriram que a independência lhes seria recusada, recomeçaram a emigrar.
O século XIX na Síria e no Líbano foi de declínio econômico e miséria. Altos impostos e desgoverno eram a tônica do momento. Como a maioria dos coletores de impostos eram muçulmanos, os cristãos eram mais penalizados que os outros. Devido a pressão demográfica, pobreza do solo, doenças endêmicas, declínio das indústrias tradicionais e falta de oportunidades econômicas, a emigração tornou-se a única solução possível para essa situação. Com o tempo, tornou-se comum, em períodos de dificuldade econômica, a emigração dos homens das vilas para ganhar dinheiro no exterior e depois mandar fundos para casa a fim de ajudar familiares e parentes.


Segundo relatos de informantes, os primeiros sírios e libaneses vieram para o Brasil porque não conseguiram visto de entrada para os Estados Unidos, devido ao seu estado de saúde, ou analfabetismo. Logo espalhou-se no Oriente a notícia das dificuldades de entrar nos Estados Unidos. Sírios e libaneses, receosos de não preencherem as condições exigidas para entrar naquele país, vieram para o Brasil, onde não existiam barreiras.
Muitos sírios e libaneses vieram para cá enganados pelas companhias de navegação, que diziam aceitar emigrantes para a América. Esses imigrantes eram levados para Santos ou Rio de Janeiro e só quando desembarcavam percebiam que não estavam na América do Norte.
Muitos vieram chamados pelos parentes que já estavam estabelecidos. E, finalmente, muitos vieram porque acreditavam que o país fosse mais propício a fazer dinheiro do que outros países.
O censo de 1876 aponta o ano de 1871 como sendo a primeira vez que aparecem sírios e libaneses no Brasil. O censo menciona três “turcos” na cidade do Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Biografias revelam, ainda, que seus autores estavam no Brasil no início de 1880. Diante disso, o ano de 1871 é aceito como a data em que os primeiros sírios e libaneses entraram no Brasil.


A princípio, a imigração foi lenta e irregular. No período de 1871 a 1891, registrou-se no Brasil a entrada de 156 sírios e libaneses. Esses primeiros imigrantes eram, na realidade, “escoteiros”. Vinham para sondar o país e determinar se o imigrante deveria vir para o Brasil ou escolher algum outro país.
Os relatos de sírios e libaneses indicam que, durante a segunda metade do século XIX e começo do século XX, o governo otomano proibiu a emigração, exceto para o Egito. Essa proibição tornou-se mais rígida por volta de 1900, quando o Império Otomano se viu envolvido numa série de guerras coloniais nos Bálcãs e, necessitada de tropas, arregimentava todos os jovens em idade militar.
Uma vez liberalizadas as leis contra a imigração, o movimento para o Brasil aumentou. Com a Primeira Guerra Mundial, o movimento migratório cessa. Passado esse período, os sírios e libaneses começam novamente a deixar seus países em decorrência da depressão e da situação caótica do levante no pós-guerra.

A onda migratória para o Brasil aumenta, mas é contida pelo sistema de quotas adotado pelas autoridades brasileiras. Depois, a II Guerra Mundial pôs fim à imigração. Desde então, poucos imigrantes têm entrado no Brasil. Leva-se em conta que a fundação da Síria e do Líbano removeu uma das principais causas da imigração, que era o desejo de fugir da condição de dominação pelos muçulmanos do Império Otomano.


Os primeiros sírios e libaneses chegaram a São Paulo por volta de 1880, via litoral. Sozinhos ou em grupos, penetraram pelo interior com grande quantidade de mercadoria para mascatear. Vinte anos depois, já conheciam grande parte do Brasil.
Durante os primeiros anos de 1900, três eram os centros de atração, no Brasil, para o imigrante sírio e libanês: Amazônia, Rio de Janeiro e São Paulo. A Amazônia, porque o ciclo da borracha levou o progresso para a região. Nas principais cidades da bacia amazônica, cresceram colônias comerciais de sírios e libaneses que vieram para mascatear. Dessas cidades espalharam-se por toda a região. Fizeram fortunas e os antigos mascates, agora ricos, mudavam-se para o Rio de Janeiro e São Paulo.
Com a decadência da borracha, viraram seus olhos para o estado de São Paulo, uma vez que sua economia estava se expandindo devido à florescente lavoura cafeeira e ao crescimento da rede ferroviária. Os sírios e libaneses foram mascatear no interior. Outro estado que atraiu sírios e libaneses foi Minas Gerais. Formaram, nesse estado, uma rede de lojas de varejo e assim, em pouco tempo, dominaram o comércio da região de Minas Gerais.


De 1900 a 1920, milhares de comerciantes sírios e libaneses do interior do Brasil prosperaram. Houve períodos de depressão durante os quais muitos faliram, mas muitos obtiveram êxito econômico. Começando como mascates, passaram para o comércio de varejo, depois para o comércio de atacado e finalmente para a indústria. À medida que aumentavam seu capital, muitos mudaram-se para São Paulo para viver entre os compatriotas já estabelecidos e assim participar da vida cultural e social,fundaram clubes,hospitais e centros culturais . Outros vinham para educar os filhos e outros vinham forçados pelas mães, que queriam ver seus filhos casados com jovens do mesmo grupo étnico.
O censo de 1920 enumerou 50.246 sírios e libaneses no Brasil, 38,4% (2/5) destes no estado de São Paulo. O censo de 1940 enumerou 48.614 sírios, libaneses e outros grupos afins com um decréscimo de aproximadamente 1647 pessoas.
Como a imigração cessou depois de 1929 e a colônia envelheceu, é de admirar que o declínio não tenha sido ainda maior. A tendência do período entre 1920 e 1940 foi a contínua concentração de sírios e libaneses em São Paulo. Quase metade (49,3%) dos sírios e libaneses residentes no Brasil viviam em São Paulo.
Os primeiros sírios e libaneses chegaram em São Paulo por volta de 1880. Não se sabe exatamente quando, embora os sírios e libaneses contem que em 1885 havia um pequeno núcleo de mascates trabalhando na praça do mercado.
O almanaque de 1893 para o estado de São Paulo (Completo Almanach, Administrativo Commercial e Profissional do Estado de São Paulo para 1895 - São Paulo, Ed. Companhia Industrial, 1895), é o primeiro a conter dados sobre a presença de sírios e libaneses na região da rua 25 de Março, registrando seis casas de armarinhos sírias e libanesas e uma mercearia. Estavam começando a emergir da mascateagem para o comércio varejista. Em 1901, o número de companhias sírias e libanesas inscritas no Almanaque subiu para mais de 500.


A imigração libanesa no Brasil não se se restringiu a uma área específica como outras correntes imigratórias que aqui se estabeleceram, mas predominou nos grandes centros urbanos. Isso se explica também por suas atividades econômicas exercidas, pois como comerciantes buscavam novos mercados e melhores oportunidades.
No Brasil, muitos libaneses e descendentes fizeram fortuna e alcançaram notoriedade. A presença da cultura libanesa é sentida no país não apenas na culinária, como na língua, que assimilou palavras do árabe, em hospitais e diversos outros setores. Entre as personalidades de origem libanesa destacam-se os políticos José de Ribamar Fiquene (ex-governador do Maranhão), Jorge Hage (Ministro da Controladoria Geral da União), Paulo Maluf, Michel Temer, Jorge Maluly Netto, Adib Jatene, Pedro Simon, Antônio Salim Curiati, Paulo Abi-Ackel, Geraldo Alckmin, Gilberto Kassab e Fernando Haddad, os ex-ministros Ibrahim Abi-Ackel e Alfredo Buzaid, os ex-governadores Simão Jatene, Almir Gabriel, Paulo Souto e Espiridião Amin, os ex-secretários Helio Mokarzel e Dionísio Hage, o escritor Milton Hatoum, o publicitário Roberto Duailibi e o ex-colunista social Ibrahim Sued.

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