A imigração libanesa no Brasil teve
início oficialmente por volta de 1880, quatro anos após a visita do
imperador dom Pedro II ao Líbano.
Manuel Diegues Júnior acredita que a presença de
turcos, sírios e libaneses no Brasil remonta à época colonial, tendo em vista
que Portugal mantinha relações comerciais com a Síria. É certo,
entretanto, que a segunda metade do século XIX foi a principal época
de entrada dos imigrantes libaneses no Brasil, ou seja, de 1860 a 1890.
Conforme podemos atestar, os “turcos-árabes” já aparecem de outra forma
expressiva entre os imigrantes entrados no país no período de 1820 a 1920.
A maioria dos imigrantes veio ao país fugindo da
falta de perspectiva econômica da região, então dominada pela política
turco-otomana. O Brasil, na época, atravessava a sua primeira fase de
urbanização e industrialização, o que tornava propícios os novos negócios.
Diferente dos imigrantes europeus, que procuraram no Brasil as terras para
cultivo, os libaneses encontraram nas cidades um local para a criação de
indústrias e casas de comércio.
A maioria deles começou a sua vida no país vendendo
mercadorias de porta em porta como mascate. O dinheiro juntado acabou
sendo o pontapé para a abertura de pequenas confecções e lojas de tecidos.
Muitos dos imigrantes libaneses que vivem ou viveram no Brasil colaboraram
inclusive com o desenvolvimento do próprio Líbano, com envio ao país de
recursos que propiciaram a construção de hospitais, escolas e bibliotecas.
Os principais motivos da imigração foram forças
político-religiosas, econômicas e mistas.
Os cristãos viviam nas montanhas do norte
do Líbano, formando aí uma grande população rural e mantendo uma independência
limitada sob uma direção. Outra influência a considerar quanto à emigração foi
a questão do alistamento militar obrigatório aos cristãos depois de 1909,
devido às dificuldades militares e políticas do Império Otomano. O rude
tratamento imposto nos alistamentos cristãos pelos soldados e oficiais maometanos determinou
a emigração de milhares de cristãos para fugir do serviço militar.
Com o início da Primeira Guerra Mundial, a
emigração da Síria e do Líbano cessou. No fim da guerra, os povos desses países
devastados esperaram para ver o que o futuro lhes traria. Quando descobriram
que a independência lhes seria recusada, recomeçaram a emigrar.
O século XIX na Síria e no Líbano foi de
declínio econômico e miséria. Altos impostos e desgoverno eram a
tônica do momento. Como a maioria dos coletores de impostos eram muçulmanos, os
cristãos eram mais penalizados que os outros. Devido a pressão demográfica,
pobreza do solo, doenças endêmicas, declínio das indústrias tradicionais e
falta de oportunidades econômicas, a emigração tornou-se a única solução
possível para essa situação. Com o tempo, tornou-se comum, em períodos de
dificuldade econômica, a emigração dos homens das vilas para ganhar dinheiro no
exterior e depois mandar fundos para casa a fim de ajudar familiares e
parentes.
Segundo relatos de informantes, os primeiros sírios
e libaneses vieram para o Brasil porque não conseguiram visto de entrada para
os Estados Unidos, devido ao seu estado de saúde, ou analfabetismo. Logo
espalhou-se no Oriente a notícia das dificuldades de entrar nos Estados Unidos.
Sírios e libaneses, receosos de não preencherem as condições exigidas para
entrar naquele país, vieram para o Brasil, onde não existiam barreiras.
Muitos sírios e libaneses vieram para cá enganados
pelas companhias de navegação, que diziam aceitar emigrantes para a América.
Esses imigrantes eram levados para Santos ou Rio de Janeiro e só quando
desembarcavam percebiam que não estavam na América do Norte.
Muitos vieram chamados pelos parentes que já
estavam estabelecidos. E, finalmente, muitos vieram porque acreditavam que o
país fosse mais propício a fazer dinheiro do que outros países.
O censo de 1876 aponta o ano de 1871 como
sendo a primeira vez que aparecem sírios e libaneses no Brasil. O censo
menciona três “turcos” na cidade do Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.
Biografias revelam, ainda, que seus autores estavam no Brasil no início
de 1880. Diante disso, o ano de 1871 é aceito como a data em que os
primeiros sírios e libaneses entraram no Brasil.
A princípio, a imigração foi lenta e irregular. No
período de 1871 a 1891, registrou-se no Brasil a entrada de 156 sírios e
libaneses. Esses primeiros imigrantes eram, na realidade, “escoteiros”. Vinham
para sondar o país e determinar se o imigrante deveria vir para o Brasil ou
escolher algum outro país.
Os relatos de sírios e libaneses indicam que,
durante a segunda metade do século XIX e começo do século XX, o
governo otomano proibiu a emigração, exceto para o Egito. Essa proibição
tornou-se mais rígida por volta de 1900, quando o Império
Otomano se viu envolvido numa série de guerras coloniais nos Bálcãs e,
necessitada de tropas, arregimentava todos os jovens em idade militar.
Uma vez liberalizadas as leis contra a imigração, o
movimento para o Brasil aumentou. Com a Primeira Guerra Mundial, o movimento
migratório cessa. Passado esse período, os sírios e libaneses começam novamente
a deixar seus países em decorrência da depressão e da situação caótica do
levante no pós-guerra.
A onda migratória para o Brasil aumenta, mas é
contida pelo sistema de quotas adotado pelas autoridades brasileiras. Depois,
a II Guerra Mundial pôs fim à imigração. Desde então, poucos
imigrantes têm entrado no Brasil. Leva-se em conta que a fundação da Síria e do
Líbano removeu uma das principais causas da imigração, que era o desejo de
fugir da condição de dominação pelos muçulmanos do Império Otomano.
Os primeiros sírios e libaneses chegaram a São
Paulo por volta de 1880, via litoral. Sozinhos ou em grupos, penetraram
pelo interior com grande quantidade de mercadoria para mascatear. Vinte anos
depois, já conheciam grande parte do Brasil.
Durante os primeiros anos de 1900, três eram os
centros de atração, no Brasil, para o imigrante sírio e libanês: Amazônia, Rio
de Janeiro e São Paulo. A Amazônia, porque o ciclo da
borracha levou o progresso para a região. Nas principais cidades da bacia
amazônica, cresceram colônias comerciais de sírios e libaneses que vieram para
mascatear. Dessas cidades espalharam-se por toda a região. Fizeram fortunas e
os antigos mascates, agora ricos, mudavam-se para o Rio de Janeiro e São Paulo.
Com a decadência da borracha, viraram seus olhos
para o estado de São Paulo, uma vez que sua economia estava se expandindo
devido à florescente lavoura cafeeira e ao crescimento da rede
ferroviária. Os sírios e libaneses foram mascatear no interior. Outro estado
que atraiu sírios e libaneses foi Minas Gerais. Formaram, nesse estado,
uma rede de lojas de varejo e assim, em pouco tempo, dominaram o
comércio da região de Minas Gerais.
De 1900 a 1920, milhares de comerciantes sírios e
libaneses do interior do Brasil prosperaram. Houve períodos de depressão
durante os quais muitos faliram, mas muitos obtiveram êxito econômico.
Começando como mascates, passaram para o comércio de varejo, depois para o
comércio de atacado e finalmente para a indústria. À medida que
aumentavam seu capital, muitos mudaram-se para São Paulo para viver entre os
compatriotas já estabelecidos e assim participar da vida cultural e
social,fundaram clubes,hospitais e centros culturais . Outros vinham para
educar os filhos e outros vinham forçados pelas mães, que queriam ver seus
filhos casados com jovens do mesmo grupo étnico.
O censo de 1920 enumerou 50.246 sírios e
libaneses no Brasil, 38,4% (2/5) destes no estado de São Paulo. O censo de
1940 enumerou 48.614 sírios, libaneses e outros grupos afins com um
decréscimo de aproximadamente 1647 pessoas.
Como a imigração cessou depois de 1929 e
a colônia envelheceu, é de admirar que o declínio não tenha sido ainda maior. A
tendência do período entre 1920 e 1940 foi a contínua concentração de sírios e
libaneses em São Paulo. Quase metade (49,3%) dos sírios e libaneses residentes
no Brasil viviam em São Paulo.
Os primeiros sírios e libaneses chegaram em São
Paulo por volta de 1880. Não se sabe exatamente quando, embora os sírios e
libaneses contem que em 1885 havia um pequeno núcleo de mascates
trabalhando na praça do mercado.
O almanaque de 1893 para o estado de São
Paulo (Completo Almanach, Administrativo Commercial e Profissional do Estado de
São Paulo para 1895 - São Paulo, Ed. Companhia Industrial, 1895), é o primeiro
a conter dados sobre a presença de sírios e libaneses na região da rua 25
de Março, registrando seis casas de armarinhos sírias e libanesas e uma
mercearia. Estavam começando a emergir da mascateagem para o comércio varejista.
Em 1901, o número de companhias sírias e libanesas inscritas no Almanaque
subiu para mais de 500.
A imigração libanesa no Brasil não se se restringiu
a uma área específica como outras correntes imigratórias que aqui se
estabeleceram, mas predominou nos grandes centros urbanos. Isso se explica
também por suas atividades econômicas exercidas, pois como comerciantes
buscavam novos mercados e melhores oportunidades.
No Brasil, muitos libaneses e descendentes fizeram
fortuna e alcançaram notoriedade. A presença da cultura libanesa é sentida no
país não apenas na culinária, como na língua, que assimilou palavras
do árabe, em hospitais e diversos outros setores. Entre as personalidades
de origem libanesa destacam-se os políticos José de Ribamar Fiquene (ex-governador
do Maranhão), Jorge Hage (Ministro da Controladoria Geral da
União), Paulo Maluf, Michel Temer, Jorge Maluly Netto, Adib
Jatene, Pedro Simon, Antônio Salim Curiati, Paulo Abi-Ackel, Geraldo
Alckmin, Gilberto Kassab e Fernando Haddad, os
ex-ministros Ibrahim Abi-Ackel e Alfredo Buzaid, os
ex-governadores Simão Jatene, Almir Gabriel, Paulo Souto e Espiridião
Amin, os ex-secretários Helio Mokarzel e Dionísio Hage, o escritor Milton
Hatoum, o publicitário Roberto Duailibi e o ex-colunista social Ibrahim
Sued.
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