sábado, 11 de abril de 2015

UM MECENAS SERTANEJO

Por
Consuelo Pondé de Sena


A vida, na sua conhecida complexidade, enseja-nos momentos de alegria e compensação, especialmente, quando se descobre o valor contido, o jeito simples e sincero de quem dá mais do que recebe. Sem interesse, pelo simples prazer de servir. Quero, particularmente, fazer referência ao professor José Newton Carvalho Pereira, natural do município de Araci, educador e membro da Academia Baiana de Educação. Muito comunicativo, afável, é querido pelos amigos, é uma unidade entre que o referenciam pelos atributos de caráter, educação e conhecimento.
Profundo conhecedor do vernáculo, sempre se ocupou do estudo e do ensino da língua portuguesa. É atual diretor do Colégio Apoio, em Vilas do Atlântico.
No seu mecenato discreto, sincero, humilde, vai reeditando livros fadados a desaparecer. Agora, oferece ao povo de sua terra e aos baianos uma obra: “Memórias de Araci”, da professora Ana Nery Carvalho Silva, edição por ele patrocinada neste ano de 2015. O anterior, de José Oliveira, é uma crônica do município desde 1812 e apresentado pelo editor. Este volume contém a árvore genealógica de Araci, do capitão José Ferreira de Carvalho, que trata do fundador e da sua descendência. O outro estudo, de Ana Nery Carvalho Silva, é um livro de memórias de Araci e versa, desde a sua fundação, até os dias atuais.
Clara foi a intenção do editor de trazer ao presente lembranças e fatos ocorridos naquele pedaço de chão natal. O livro se reporta, como é natural, à chegada do fundador José Ferreira de Carvalho que, em 1812, comprou vinte léguas de terra quadrados a Paulo Rebelo. Naquelas paragens nada existia e, sem preparar qualquer morada, deixou o município de Serrinha e viajou com a família e os escravos para viver na terra recém adquirida. Tão logo chegou a propriedade decidiu levantar seu rancho ao pé da ladeira do Bonfim, onde ficou trabalhando com a agricultura e a pecuária. Passado algum tempo, edificou duas casas, muito mais firmes e confortáveis, embora simples, como era comum no sertão daquele tempo. Foi um herói que fez da caatinga abrupta uma terra que hoje se chama Araci.

A emancipação política resultou de uma luta pela libertação do Raso, realizada com o apoio do padre dessa Freguesia Júlio Forentini. Assinada a lei que desmembrou o distrito do Raso do município de Tucano, em 13 de dezembro de 1890, era governador do estado da Bahia José Gonçalves da Silva, por meio de pedido do dr. Cícero Dantas, Barão de Geremoabo.
Tapuio é um poema que engrandece o texto e, embora sem assinatura de autor, é composição de José Nilton outros versos que se seguem: Várzea da Pedra, João Vieira, Pedra Alta, Barreira, Ribeira, Poço Grande, todos, segundo imagino, produção do autor.
Além do comentário político, segue-se Hino do Centenário da Independência de Araci, de autoria de Maura Mota Carvalho e música de Francisca Dantas. Em seguida, a Restauração do Município de Araci, A História Política após a Restauração, O Centenário da Freguesia, O falecimento do fundador de Araci.
Comemorações religiosas de 1932, sempre realizadas em tempo de fartura, foram pálidas e frias. A população desmotivada só queria trabalhar para sobreviver. Não havia o que festejar, muito menos promover festividades como nos anos anteriores.
Por isso, a festa do dia 8 de dezembro foi comemorada com toda simplicidade. Muita tristeza espalhada pelas ruas do lugarejo empobrecido. Muitas pessoas dormiam nas ruas, pois faltava onde se pudessem recolher. Por que batiam as saudades pungentes dos entes queridos, tão distantes dos seus lares e terras?  Naquele ano, não houve o tradicional baile das pastorinhas, porque tudo era seca e sofrimento. Ano do qual aquela gente nunca se esquecerá. O primeiro volume trata das memórias de Araci. O segundo, completa-o, relacionando o nome dos nascidos no local, o que valoriza o estudo sobremaneira. Por isso, comecei tratando do Itapicuru, dos meus ancestrais. Parabéns Zé Nilton, você é o mecenas do Sertão. A Bahia não se reduz a Salvador e seu Recôncavo.

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