Colaboração
de Fernando Alcoforado*
O modelo
político implantado no Brasil com base na Constituição de 1988 está falido porque,
além de estar contaminado pela corrupção que envolve todos os poderes da República,
não assegura a governabilidade do País porque o presidencialismo em vigor fracassou
totalmente pelo fato de ter sido gerador de crises políticas e institucionais
ao longo de
sua história e também na era contemporânea. Por sua vez, a democracia representativa
no Brasil manifesta sinais claros de esgotamento não apenas pelos escândalos
de corrupção nos poderes da República, mas, sobretudo, ao não contemplar a efetiva
participação popular nas decisões de governo.
A
democracia representativa no Brasil está em esgotamento também porque o que é prometido
em campanha eleitoral é, com raras exceções, abandonado pelos dirigentes do poder
executivo e pelos parlamentares após ocuparem seus cargos eletivos como ficou
evidenciado na campanha de Dilma Rousseff que está adotando no exercício da presidência
da República uma política econômica diametralmente oposta à que defendeu
nos embates eleitorais. Esta situação tem que chegar ao fim com a institucionalização
do controle social dos eleitos pelo povo que deveria dispor de instrumentos
para dar início ao processo de cassação de mandatos pelo descomprometimento
de promessas de campanha eleitoral pelos candidatos.
Além da
falência do modelo político, o Brasil se defronta com o governo corrupto e incompetente
de Dilma Rousseff que, fragilizado, parece não mais possuir as condições necessárias
para governar o Brasil, não apenas pelo fato de não contar com o apoio da maioria
parlamentar no Congresso Nacional, mas também pelo fato de não mais possuir o
apoio da maioria da nação que lhe possibilitou vencer as últimas eleições presidenciais.
Dilma Rousseff e a coalizão de forças que a elegeu perdeu a legitimidade para
governar o Brasil porque não tem a credibilidade perante a população devido ao
estelionato
eleitoral utilizado para vencer as eleições, à sua incapacidade e incompetência
na gestão do País e à corrupção sistêmica que se estende a todas as instâncias
do governo.
A falência
do modelo político do Brasil resulta do presidencialismo em vigor que tem fracassado
totalmente pelo fato de não assegurar a estabilidade político-institucional do País
e estar sendo um entrave a seu desenvolvimento econômico e social. Além disso,
o sistema político do País está contaminado no momento pela corrupção e a
democracia representativa no Brasil manifesta sinais claros de esgotamento ao
reduzir a atividade política a meros processos eleitorais que se repetem
periodicamente em que o povo elege seus representantes os quais, com poucas
exceções, após as eleições passam a defender interesses de grupos econômicos em
contraposição aos interesses daqueles que os elegeram.
Um fato é
evidente: o Brasil, como organização econômica, política, administrativa e social
está em desintegração. Os sinais de desintegração são evidentes em todas as partes do
País seja no governo, na economia e na sociedade. Esta situação só chegará ao fim com
a implantação de um novo sistema político no Brasil que contemple a substituição
do presidencialismo pelo parlamentarismo, a institucionalização do controle
social dos eleitos pelo povo que deve dispor de instrumentos para dar início a processos
de cassação de mandatos quando houver o não cumprimento de promessas de campanha
eleitoral pelos candidatos e a participação da população nas decisões do governo
através de plebiscito e/ou referendo.
Cabe
observar que o Parlamentarismo é caracterizado pelo fato de estar todo o poder governamental
concentrado no Parlamento, que é, de fato, o único poder exercido por um
primeiro-ministro, e ainda caso ocorra o primeiro-ministro discordar do
Parlamento, a maioria dos deputados pode dissolver o governo. As principais
funções parlamentares são exercidas em sua plenitude por uma casa legislativa
que pode se chamar, por exemplo, de Câmara dos Deputados, Parlamento, Câmara
dos Comuns (Reino Unido) ou Assembleia Nacional (França). Em geral, são muito
raros os sistemas
parlamentaristas
puros como os que prevalecem nas Monarquias (Reino Unido, Suécia,
Holanda,
etc.). No Brasil, as formas de parlamentarismo sempre foram totalmente
impuras
porque durante a Monarquia, no regime parlamentarista, o imperador dispunha do
“Poder Moderador”, o que lhe permitia até nomear primeiros-ministros que não dispusessem
do apoio da maioria parlamentar.
O
Parlamentarismo tem as características seguintes: a) divisão orgânica de
poderes; b)
repartição
de funções de chefia de Estado (Rei nas Monarquias e Presidente nas
Repúblicas)
e de governo (Primeiro-Ministro); c) interdependência entre o Executivo,
cujo
gabinete é presidido pelo Primeiro Ministro, e Legislativo, em especial porque
o
gabinete
espelha a maioria parlamentar; d) gabinete sob a direção de um Primeiro
Ministro,
a quem são atribuídas as funções inerentes à chefia de governo; e) queda do
gabinete
por voto de desconfiança do Parlamento; f) dissolução do Parlamento, com a
convocação
de eleições gerais, por injunção da chefia de Estado (Rei nas Monarquias e
Presidente
nas Repúblicas). Há que se acrescentar, também, que no sistema
parlamentarista
o Banco Central é autônomo, a burocracia é profissionalizada e a
política
monetária e cambial deve ser estável.
Por sua
vez, o Presidencialismo é caracterizado pela existência de três poderes: o
Executivo,
o Legislativo e o Judiciário, exercidos, respectivamente, pelo presidente da
República,
pelo Parlamento (no caso do Brasil, o Congresso Nacional) e pelo Supremo
Tribunal
ou Corte Suprema. Toda a concepção do presidencialismo baseia-se na
harmonia
desses três poderes, sendo que nenhum pode impor-se ao outro ou tentar
superar os
demais, e para manter esse equilíbrio, há um sistema de freios e contrapesos pelo
qual um poder controla o outro e cada um depende dos outros dois. Em um regime presidencialista,
o Legislativo pode ser exercido apenas pela Câmara dos Deputados (sistema
unicameral) ou por duas casas, a Câmara e o Senado (sistema bicameral). Nas democracias
representativas, o presidente da República exerce seu mandato por prazo definido
e monta seu gabinete.
O
presidencialismo tem as características seguintes: a) a chefia de governo e a
chefia de Estado ficam concentradas nas mãos de uma única pessoa: o Presidente
da República; b) o Presidente é eleito para mandato determinado, não
respondendo, ordinariamente, perante o Poder Legislativo; c) o Presidente da
República possui ampla liberdade para a formação de seu ministério; d) o
Parlamento, de igual forma, não pode ser dissolvido por convocação de eleições
gerais pelo Executivo; e) só é compatível com a República, sendo inviável em
uma Monarquia.
Se
existisse no Brasil o sistema parlamentarista, muito provavelmente, Dilma
Rousseff
e seu
ministério não continuariam no poder pelo fato de não contar com a maioria
parlamentar
para governar. Diante dos escândalos de corrupção generalizada no seio do governo,
da incompetência na gestão governamental e da perda de governabilidade, Dilma
Rousseff não se sustentaria no poder com sua substituição ou convocação de novas
eleições parlamentares para constituição de uma nova maioria governamental. O parlamentarismo
é a garantia de estabilidade política porque quem exerce o governo conta com a
maioria parlamentar. Além de substituir o sistema presidencialista atual pelo
parlamentarismo, é preciso implantar também uma verdadeira democracia representativa
que garanta o controle social dos eleitos e a participação da população nas
decisões do governo através de plebiscito e/ou referendo.
Para
assegurar que o eleito defenda os interesses da população que o elegeu e preste
contas
sistematicamente do seu mandato ao seu partido e ao eleitorado, os partidos e o
eleitorado deveriam ter poderes para cassar o mandato do eleito no caso de
descumprimento
do programa partidário e de suas promessas eleitorais e por mal
comportamento.
Além disso, decisões cruciais e fundamentais aos interesses da
população
deveriam ser tomadas diretamente pelo povo através de plebiscito e/ou
referendo
e não apenas pelo poder executivo ou pelo parlamento. O novo sistema
político a
ser implantado no Brasil deveria resultar de uma nova Assembleia Nacional
Constituinte
exclusiva para reordenar a vida da nação.
* Fernando
Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de
Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel,
São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora
Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São
Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese
de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento
do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA,
Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo,
2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora
CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-Energia e Mudança
Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).
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