(Numa visão realista e
preocupante de um dos melhores jornalistas políticos do cenário brasileiro, na
opinião deste Blog)
Por Josias
de Souza,
em seu
Blog, acerca da visão deformada da presidente da República.
30/04/2015 04:46
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Não é que
Dilma Rousseff não veja a solução. O que ela não enxerga é que se tornou parte
do problema. Ao discursar no 3º
Festival da Juventude Rural, em Brasília, a presidente deseducou a plateia ao
culpar o Brasil dos tempos coloniais pela corrupção que assola o seu governo.
“Essa confusão entre o que é privado e o que é público vem lá de trás nesse
país. Tem a mesma idade que a escravidão”, disse.
“A confusão entre o que é bem
individual e o que é bem público decorre de uma coisa chamada patrimonialismo,
que era típico da oligarquia rural brasileira, que achava que o Brasil como
nação era só dela, porque uma parte da população era escrava e não tinha
direito nenhum'', acrescentou Dilma.
O ponto mais importante das declarações de Dilma pode ser lido nas
entrelinhas: sempre foi assim, eis o que
a presidente declarou, com outras palavras. Num instante em que o país
descobre que a Petrobras virou uma
Chicago entregue a um cartel de Al Capones, Dilma se achega aos refletores para informar que a culpa é da família real portuguesa,
que trouxe o patrimonialismo para o Brasil.
São mesmo fascinantes os meandros da historiografia nacional. No seu
esforço para salvar pelo menos o verbete da enciclopédia, Dilma escreve uma
página inusitada, na qual o mais importante é o não-declarado. A presidente se abstém de explicar que o
patrimonialismo tem variados graus de profundidade. Os ladrões assaltam mais ou
menos conforme a omissão — ou cumplicidade — daqueles que têm o poder de
terceirizar a chave dos cofres.
Dilma se esquece de
dizer que a roubalheira costuma atingir proporções inimagináveis, como no
Brasil dos dias que correm, quando os governantes permitem que o fenômeno se
institucionalize. O assalto e o rateio dos butins passam a ser,
então, planejados.
Ao difundir a tese segundo a qual sempre foi assim, Dilma desperdiça um
tempo que poderia ser usado para responder a uma indagação mais atual e
relevante: por que não foi diferente agora? Ah, todo governo faz isso,
argumenta o neopetismo. Verdade. Mas a degradação chegou a níveis extremos. No
caso da Petrobras, houve uma inovação.
O rateio das diretorias da estatal entre os partidos não seguiu a lógica
convencional do patrimonialismo à brasileira. Adotou-se na Petrobras a mesma
sistemática usada pelos traficantes de cocaína do Rio de Janeiro para dividir —
na saliva ou nas armas—as zonas da cidade em que cada um tocará o seu negócio.
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