Operação Lava-Jato
Delator da Lava Jato reafirma que Planalto sabia de desvios, mas diz não
ter provas disso
GERMANO ASSAD Curitiba 11 MAY 2015
El Dia – O JORNAL GLOBAL
Alberto Youssef na sessão da CPI em Curitiba. / RODOLFO BUHRER (REUTERS)
No primeiro dia de sessões da CPI da Petrobras em Curitiba,
epicentro das investigações da Operação Lava Jato, o saldo foi magro. Gritaria,
perguntas insólitas e troca de acusações emolduraram o longo depoimento do
doleiro Alberto Youssef, peça-chave no caso, que repetiu informações já
conhecidas, mas voltou a constranger o Governo e o PT ao reafirmar que os
esquemas de desvios da estatal “serviam aos interesses do partido [PT] e
da base aliada”. Youssef fechou acordo de delação premiada com Justiça, que
inclui apresentação de provas de suas denúncias, mas disse aos deputados da
comissão não poder comprovar suas acusações contra o Planalto. "A opinião
é minha, é meu sentimento. Agora, provas eu não tenho."
A CPI, de já abalada credibilidade pela blindagem de acusados do
PMDB, teve de lidar com outro revés, o fato de que o relator da comissão, o
petista Luiz Sérgio, ter sido convocado como testemunha de defesa do
ex-tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, preso preventivamente por suposta
participação nos desvios da Petrobras. Nos corredores, vários dos parlamentares
julgavam "urgente e necessária" uma escolha de Luiz Sérgio - ou o
testemunho, ou a permanência na relatoria da CPI.
“Pedirei para que o meu nome seja excluído. Se não houver a
possibilidade, me julgarei impedido”, se comprometeu o petista do Rio, que se
esquivava das câmaras. Ele afirmou que sua indicação como testemunha foi um
erro e justificou sua proximidade com Vaccari: “Normal, [o contato de
parlamentares com tesoureiros de seus partidos], durante o período eleitoral há
uma choradeira permanente de candidatos que dizem que estão sem recursos para
campanha”.
“O senhor é o Papai Noel?”, perguntou o deputado Delegado Waldir (PSDB)
ao ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró. “É que fica doando apartamento por
aí...", completou, em referência à transferência de imóveis feita pelo
acusado na Lava Jato a parentes antes de ser preso. Esse trecho do
interrogatório de Cerveró, que já havia anunciado que permaneceria calado, dá
dimensão do circo armado na sessão em Curitiba que constrangeu
a audiência. Waldir interpelaria ainda Cerveró, apontando seus sapatos "de
500 reais", e o chamando de "bonitão" com "esse terno
caro".
Coube também a Waldir elaborar uma pergunta para "entender a
coincidência" de tantos protagonistas dos esquemas de corrupção e da
investigação serem naturais da cidade paranaense de Londrina, que acumula
casos de corrupção e lavagem de dinheiro, mas também desenvolveu práticas de
vigilância e investigação. “Tem coisas que a gente não explica, elas
acontecem naturalmente”, respondeu, serenamente, Alberto Youssef, protagonista
de outro escândalo, o do Banestado, arrancando risadas da plateia.
Houve também
momentos de tensão. Durante o depoimento do combalido empresário Mario
Goes, que está preso no complexo médico de Curitiba, houve um rápido entrevero
entre o advogado David Teixeira e deputados que insistiam em perguntar, apesar
da prerrogativa de ficar em silêncio adotada pelo depoente. A discussão virou
uma gritaria, com dedos em riste e acusações mútuas de falta de decoro e
desacato.
A sessão de interrogatórios, que correu sem intervalos ao longo do dia,
foi aberta perto das 9h. O de Youssef levou quatro horas. O doleiro negou ter
qualquer contato com o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, mas voltou a
citar repasses para a campanha dos senadores Gleisy Hoffman (PT) e Valdir Raupp
(PMDB) e integrantes do PT. Ele disse nunca ter tido contato com o presidente
do Senado, Renan Calheiros, e não conhecer o presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, ambos do PMDB. No caso de Cunha, afirmou ter repassado valores para
campanha indiretamente, a pedido do empreiteiro Julio Camargo. Segundo
deputados da CPI ouvidos por esse jornal, a convocatória de Julio Camargo tem
sido barrada pela cúpula da CPI, dominada por aliados de Cunha.
O doleiro foi questionado ainda sobre sua
participação em outro escândalo, o do Banestado, em 2004, quando teve o
benefício da delação premiada pela primeira vez. A aceitação de Youssef pela
segunda vez como delator é um dos pontos questionados pelos defensores dos
acusados na Lava Jato para tentar invalidar suas denúncias.
Pela sede da Justiça Federal, em Curitiba, onde acontecem os
interrogatórios, passaram ainda o empresário Mario Goes, o ex-diretor da área
internacional da Petrobras Nestor Cerveró, Fernando Baiano, acusado de
intermediar o recebimento de propinas para o PMDB, e os empresários Guilherme
Esteves e Adir Assad. Nenhum deles respondeu a perguntas dos deputados. A
última convocada, a operadora Iara Galdino, falou, admitiu culpa por contratar
laranjas, mas afirmou que a delação que a incriminam por 90 contratos é
"mentirosa".
Os
depoimentos da CPI continuam até quarta-feira, se o cronograma for cumprido à
risca. Nesta terça, Carlos Habib Chater, dono do posto em Brasília que batizou
a operação da Polícia Federal fala -ou não- com os deputados. Além dele,
responderão aos questionamentos da comissão a doleira Nelma Kodama, o operador
René Luiz Pereira, os ex-deputados Luiz Argolo (SDD), André Vargas (sem
partido) e Pedro Corrêa (PP).
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