Lava-Jato
Condenado no mensalão diz que petista decidiu ascensão de diretor Paulo Roberto Costa
GERMANO ASSAD Curitiba
EL
PAÍS – O JORNAL GLOBAL
Nelma Kodama, exibindo para a CPI onde levava o dinheiro: no bolso, e
não na calcinha. / GERALDO BUBNIAK (AGÊNCIA
O GLOBO.)
Apesar de
anunciar que permaneceria calado, o ex-deputado Pedro Corrêa, condenado no
escândalo do mensalão, acabou falando bastante no segundo dia de
trabalhos da CPI da Petrobras em Curitiba. Corrêa é um dos integrantes do
PP acusados de participar do esquema de desvios na estatal – é a legenda
que acumula o maior número de acusações e investigados na Operação Lava Jato.
Assim como o doleiro Alberto Yussef na segunda, Corrêa fez questão de defender
que a estratégia para desviar recursos da petroleira era multipartidário. Ele
atribuiu ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a decisão de
promover o então diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e
não apenas ao PP. Costa é agora delator do esquema ante a Justiça.
Corrêa, o
ponto alto da sessão ao lado da doleira Nelma Kodama, disse que Costa foi
promovido pelo "belo trabalho na presidência da Transportadora Brasileira
Gasoduto Bolívia-Brasil S/A, o que o credenciou junto ao Planalto” e como
resultado da pressão de parte da base aliada na Câmara, que o queria no cargo.
A doleira Nelma Kodama roubou os holofotes na sessão da CPI da
Petrobras na sede da Justiça Federal em Curitiba. Às 10h da manhã, Kodama
entrou no auditório, escoltada por agentes da Polícia Federal. Bem mais
magra do que quando foi presa, em março passado, de cabeça
praticamente raspada e segurando um terço na mão esquerda, ela saudou os
presentes e se disse disposta a responder tudo o que não viesse a
comprometê-la. “Eu sou doleira, eu comprava e vendia moeda no mercado
negro. E isso vai fazer parte da minha delação”, começou, adiantando o que
confirmaria minutos mais tarde - ela está pleiteando acordo de delação premiada
- motivo pelo qual se recusou a fornecer informações novas durante os
questionamentos.
Quando a sessão se encaminhava para uma longa e enfadonha explicação
sobre as brechas no sistema financeiro, Kodama resolveu esclarecer uma polêmica
envolvendo sua prisão. "Fui presa no dia 14 de março, indo para
MiIão. Não estava fugindo, eu estava com 200 mil euros que não estavam na
calcinha, vamos esclarecer isso. As notas estavam bem aqui [levantou-se, virou
de costas para o público e mostrou os bolsos de trás da calça jeans]: 200 mil
euros significa um pacotinho assim e um pacotinho assim [gesticulou]”.
Interpelada por um dos deputados, que disse imaginar como ficaria
desconfortável carregar 400 notas de 500 euros no bolso, ela arrancou risos da
plateia ao responder de pronto: “Não, não fica”.
Mas foi a pergunta
seguinte que causou furor. Questionada se era amante do doleiro Alberto
Youssef, uma das peças-chave do esquema, respondeu: “Depende do que o
senhor entende como amante. Vivi maritalmente com Youssef de 2000 a 2009. E
amante é uma palavra que engloba tudo, né? Amante é ser amigo, é ser esposa,
pode ser tudo. Tem uma música do Roberto Carlos ‘Amada Amante’
[cantarolou na bancada]”. Mesmo advertida pelo presidente da CPI - “não estamos
num teatro, se atenha a responder, respeite o congresso e os deputados” -, ela
não perdeu a descontração. “Tem algo mais bonito do que ser amante?”
O
ex-deputado do PP também comentou que há desejo dos inimigos de Lula de
"botar ele na cadeia", mas ninguém se atreve, segundo o político,
porque despertariam ira popular como no suicídio de Getúlio Vargas, em 1954.
Foi o
segundo dia consecutivo em que acusados no esquema da Lava Jato citaram Lula e
seu Governo. Na segunda, o doleiro Alberto Yussef disse ter o
"sentimento" de que o ex-presidente e a cúpula de sua
Administração sabiam do esquema de corrupção na estatal.
Lula se
manifestou, por meio de nota de sua assessoria, para retrucar as acusações de
Youssef: "É inacreditável que um bandido com oito condenações, que já
enganou a Justiça num acordo anterior de delação premiada, tenha palco para
atacar e caluniar, sem nenhuma prova, algumas das principais lideranças
políticas do país".
Os
trabalhos da CPI estavam previstos até quarta-feira, mas pela negativa de
vários depoentes em responder aos questionamentos, foram encerrados no final
desta terça.
Denúncia de
escuta ilegal
Os
bastidores da Operação Lava Jato acabaram sendo agitados por um fato ocorrido
fora da CPI. Uma conversa informal entre o delegado Mário Fanton e um agente da
polícia federal em Curitiba terminou com a abertura de investigação sobre uso
de escuta ilegal para ouvir conversas do doleiro Alberto Youssef. O processo é
conduzido pela corregedoria da Policia Federal em Brasília.
Segundo o agente que fez a denúncia, ele recebeu
ordens diretas de Rosalvo Ferreira Franco, atual superintendente da PF no
Paraná, de Márcio Anselmo e Igor Romário de Paula, dois dos delegados mais
atuantes na operação Lava Jato, para instalar a escuta entre o forro e a laje
da cela. O equipamento foi encontrado pelo próprio doleiro, que questionou a
existência de alvará para a ação. Ao ouvir a negativa, procurou seu advogado,
Antônio Figueiredo Basto, que anunciou medidas drásticas em caso de confirmação
dos fatos, como uma ação judicial para anular toda a Operação. “Se
isso for verdade, é um fato gravíssimo. É uma mancha terrível para a Lava Jato.
É um meio de prova totalmente nulo, que pode invalidar toda a operação”, disse.
A Polícia Federal
ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso.
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