terça-feira, 12 de maio de 2015

O NU ELOQUENTE DE CHARIS WILSON

Fotografia

Por Vanelli Doratioto

Charis Wilson foi uma jovem marcante, de beleza sem igual e com ideias avançadas para seu tempo. Nas fotografias tiradas por Edward Weston, quando despudoradamente apaixonados, é possível sentir a energia incandescente do amor. Hoje as fotos de Charis clicadas por Edward são consideradas obras primas da fotografia.
  

Foto de Edward Weston: Charis Wilson 1934

Os apaixonados por fotografia certamente já ouviram falar de Edward Weston, um dos maiores fotógrafos americanos do século XX. Sua fotografia passou por muitas fases, contudo firmou-se na beleza e sensualidade das curvas. Todas as fotos que aqui estão retratadas são de sua autoria, contudo esse texto não fará alusão direta a sua pessoa, mas sim à de Charis Wilson, a bela mulher que o inspirou e amou em uma de suas fases mais produtivas.
Em 1912 surgiu uma suntuosa mansão com 12 quartos nas proximidades de Carmel, Califórnia. O dono era um escritor de ficções populares, Harry Leon Wilson. Casado com uma jovem de 16 anos, teve em 1913 seu primeiro filho, Leon, e em 1914 sua única filha, Helen Charis Wilson.
O dinheiro proveniente do sucesso literário do pai proporcionou a Charis e ao irmão uma infância confortável regada por muitos banhos de sol nas praias de Carmel

Foto de Edward Weston: Charis Wilson 1941

Na escola a jovem Charis desenvolvia-se como uma livre pensadora, o que lhe conferiu uma expulsão. A menina tornou-se com o tempo uma linda jovem de olhos azuis, sardas joviais e belos cabelos castanhos dourados. Dotada de uma inteligência marcante, no fim do ensino médio obteve uma bolsa integral para a faculdade, no entanto, seu pai recusou-se a deixá-la estudar.
Desiludida, a jovem tentou cursar secretariado, mas logo abandonou o curso. Devido à descrença do pai, Charis viu sua autoestima despencar. Ela mudou-se então para o sótão de um amigo pintor e passou a ter inúmeros casos amorosos. Tempos depois ela admitiu que nessa época foi impulsionada por um misto de desespero e ódio que a fez rolar ladeira abaixo até o dia em que Edward Weston entrou em sua vida.


Foto de Edward Weston: Nude - Charis Wilson 1936

Em 1934 ela foi apresentada pelo irmão Leon ao fotógrafo, ao sair de um concerto. Ela o descreveu como o homem de olhar mais vívido que já conhecera e atribuiu-lhe um poder de enxergar o que qualquer outro não enxergara nela antes.


Ela tinha 19 anos, ele 48. Charis ficou encantada depois desse primeiro encontro e procurou o fotógrafo em sua casa dias depois, contudo ele tinha viajado. Quem a recebeu foi a amante de Edward, a também fotógrafa Sonya Noskowiak. Sonya convenceu-a a voltar e posar para ele. A primeira sessão aconteceu em 22 de abril de 1934 e de acordo com ela durante as sessões fotográficas, Edward fê-la sentir-se totalmente consciente de si mesma. “Ele foi além do mero exibicionismo ou narcisismo, levou-me a um estado parecido com o de uma hipnose induzida ou meditação”.

Foto de Edward Weston: Nude 1936 - parte da série Oceano Dunes

Após as sessões iniciais de fotografia Weston ficou completamente cativado por Charis e ela por ele. Em seu diário Edward escreveu “Depois de oito meses, estamos mais próximos do que nunca. Talvez C. seja lembrada como o grande amor da minha vida. Alcancei com ela patamares nunca alcançados com nenhum outro amor".

Foto de Edward Weston: Charis Wilson 1934

A jovem mudou-se com Edward para Los Angeles e nessa nova casa foi feita em 1936 a famosa foto “Nude” (Charis, Santa Mônica). Tempos depois Charis contou um pouco sobre a foto. Lembrou-se que foi tirada sobre um cobertor, pois o chão pintado estava queimando sua pele e que ao abaixar a cabeça para se esquivar do sol ouviu Edward pedir-lhe que ficasse daquele jeito. Para ela, olhar essa foto causava-lhe certo incômodo, pois sempre notou que estava com um grampo desalinhado no cabelo e para ele o que lhe saltava era a sombra sobre o braço dela. Charis se lembra de vê-lo analisando a foto para ver se algum pelo pubiano aparecia, o que não ocorreu. “Nude” é um belo nu,
no qual os olhos não se fixam nas partes íntimas, mas sim em mãos e pés. Nesse período eles passaram a viver como marido e mulher.

Foto de Edward Weston: Nude (Charis, Santa Mônica) 1936

Posteriormente no ensaio da região “Oceano Dunes” Edward conta que foi até lá para fotografar a beleza das dunas e estava a organizar todo equipamento quando notou a apaixonada Charis tirar as roupas e se jogar nua dunas abaixo.
As fotos foram de uma beleza e espontaneidade sem igual. Perpetuando ainda mais a união entre os dois e fazendo desse ensaio um dos mais reconhecidos de Weston.
Em 1937 Edward ganhou o prêmio Guggenheim de arte, prêmio nunca antes dado a um fotógrafo. Foi Wilson a autora do pedido, escrevendo-o em quatro páginas. O dinheiro obtido com esse prêmio, algo em torno de $2.000,00, possibilitou que viajassem ao redor de todo o Oeste americano por 187 dias. No ano seguinte eles catalogaram toda a experiência, Edward através das fotos e Charis pela textualização das mesmas, o que lhes conferiu uma parceria dinâmica e apaixonada.
Em 1939 eles se casaram, contudo já na década de 40 os interesses de ambos começaram a se distanciar. Ele estava imerso na fotografia e ela pretendia se dedicar à escrita e queria conhecer outras pessoas.
Em 1946, a pedido de Charis, aconteceu o divórcio, concedido por Edward sem impedimentos, mas seu abatimento foi perceptível, a ponto de sua doença, antes quase imperceptível, o mal de Parkinson, se desenvolver rapidamente. As fotos tiradas por Edward após o rompimento passaram a denotar, por diversas vezes, tristeza e melancolia.
Um livro de memórias de Charis Wilson foi lançado, quando ainda viva, em 1999 com o título “Through Another Lens - My Years with Edward Weston”. Em 2007 um documentário belíssimo acerca dessa união com o título “Eloquent Nude – The Love and Legacy of Edward Weston and Charis Wilson” ganhou vida. Ao gravar o documentário, a então anciã, teceu comentários ternos acerca de Edward, indicando que ele foi o grande amor de sua vida.
Aos que gostarem de fotografia e quiserem saber mais pormenores dessa bela união, o documentário é de uma delicadeza e beleza sem igual.
Charis passou seus últimos dias ao lado da filha Rachel, fruto de seu segundo casamento, até falecer em 2009 aos 95 anos.
A meu ver, a fase em que se amaram despudoradamente foi a mais importante e produtiva para ambos. Nas fotografias tiradas por Edward, quando apaixonado por Charis e vice-versa, sentimos a energia incandescente do amor. E ela é tão intensa que irradia das imagens e nos banha com um delicado calor repleto de êxtase amoroso. Não há palavras para descrever esse efeito. Não é por acaso que as fotos de Charis clicadas por Edward são consideradas hoje obras primas da fotografia.

Foto de Edward Weston - Nude Floating, 1939.


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