Fotografia
Por Vanelli Doratioto
Charis Wilson foi uma jovem marcante, de beleza sem
igual e com ideias avançadas para seu tempo. Nas fotografias tiradas por Edward
Weston, quando despudoradamente apaixonados, é possível sentir a energia
incandescente do amor. Hoje as fotos de Charis clicadas por Edward são
consideradas obras primas da fotografia.
Foto de
Edward Weston: Charis Wilson 1934
Os
apaixonados por fotografia certamente já ouviram falar de Edward Weston, um dos
maiores fotógrafos americanos do século XX. Sua fotografia passou por muitas
fases, contudo firmou-se na beleza e sensualidade das curvas. Todas as fotos
que aqui estão retratadas são de sua autoria, contudo esse texto não fará
alusão direta a sua pessoa, mas sim à de Charis Wilson, a bela mulher que o
inspirou e amou em uma de suas fases mais produtivas.
Em
1912 surgiu uma suntuosa mansão com 12 quartos nas proximidades de Carmel,
Califórnia. O dono era um escritor de ficções populares, Harry Leon Wilson.
Casado com uma jovem de 16 anos, teve em 1913 seu primeiro filho, Leon, e em
1914 sua única filha, Helen Charis Wilson.
O
dinheiro proveniente do sucesso literário do pai proporcionou a Charis e ao
irmão uma infância confortável regada por muitos banhos de sol nas praias de
Carmel
Foto de
Edward Weston: Charis Wilson 1941
Na
escola a jovem Charis desenvolvia-se como uma livre pensadora, o que lhe
conferiu uma expulsão. A menina tornou-se com o tempo uma linda jovem de olhos
azuis, sardas joviais e belos cabelos castanhos dourados. Dotada de uma
inteligência marcante, no fim do ensino médio obteve uma bolsa integral para a
faculdade, no entanto, seu pai recusou-se a deixá-la estudar.
Desiludida,
a jovem tentou cursar secretariado, mas logo abandonou o curso. Devido à
descrença do pai, Charis viu sua autoestima despencar. Ela mudou-se então para
o sótão de um amigo pintor e passou a ter inúmeros casos amorosos. Tempos
depois ela admitiu que nessa época foi impulsionada por um misto de desespero e
ódio que a fez rolar ladeira abaixo até o dia em que Edward Weston entrou em
sua vida.
Foto de Edward
Weston: Nude - Charis Wilson 1936
Em
1934 ela foi apresentada pelo irmão Leon ao fotógrafo, ao sair de um concerto.
Ela o descreveu como o homem de olhar mais vívido que já conhecera e
atribuiu-lhe um poder de enxergar o que qualquer outro não enxergara nela
antes.
Ela
tinha 19 anos, ele 48. Charis ficou encantada depois desse primeiro encontro e
procurou o fotógrafo em sua casa dias depois, contudo ele tinha viajado. Quem a
recebeu foi a amante de Edward, a também fotógrafa Sonya Noskowiak. Sonya
convenceu-a a voltar e posar para ele. A primeira sessão aconteceu em 22 de
abril de 1934 e de acordo com ela durante as sessões fotográficas, Edward fê-la
sentir-se totalmente consciente de si mesma. “Ele foi além do mero
exibicionismo ou narcisismo, levou-me a um estado parecido com o de uma hipnose
induzida ou meditação”.
Foto de Edward Weston: Nude 1936 - parte da série Oceano Dunes
Após
as sessões iniciais de fotografia Weston ficou completamente cativado por
Charis e ela por ele. Em seu diário Edward escreveu “Depois de oito meses,
estamos mais próximos do que nunca. Talvez C. seja lembrada como o grande amor
da minha vida. Alcancei com ela patamares nunca alcançados com nenhum outro
amor".
Foto de Edward
Weston: Charis Wilson 1934
A
jovem mudou-se com Edward para Los Angeles e nessa nova casa foi feita em 1936
a famosa foto “Nude” (Charis, Santa Mônica). Tempos depois Charis contou um
pouco sobre a foto. Lembrou-se que foi tirada sobre um cobertor, pois o chão
pintado estava queimando sua pele e que ao abaixar a cabeça para se esquivar do
sol ouviu Edward pedir-lhe que ficasse daquele jeito. Para ela, olhar essa foto
causava-lhe certo incômodo, pois sempre notou que estava com um grampo
desalinhado no cabelo e para ele o que lhe saltava era a sombra sobre o braço
dela. Charis se lembra de vê-lo analisando a foto para ver se algum pelo
pubiano aparecia, o que não ocorreu. “Nude” é um belo nu,
no
qual os olhos não se fixam nas partes íntimas, mas sim em mãos e pés. Nesse
período eles passaram a viver como marido e mulher.
Foto de Edward
Weston: Nude (Charis, Santa Mônica) 1936
Posteriormente
no ensaio da região “Oceano Dunes” Edward conta que foi até lá para fotografar
a beleza das dunas e estava a organizar todo equipamento quando notou a
apaixonada Charis tirar as roupas e se jogar nua dunas abaixo.
As
fotos foram de uma beleza e espontaneidade sem igual. Perpetuando ainda mais a
união entre os dois e fazendo desse ensaio um dos mais reconhecidos de Weston.
Em
1937 Edward ganhou o prêmio Guggenheim de arte, prêmio nunca antes dado a um
fotógrafo. Foi Wilson a autora do pedido, escrevendo-o em quatro páginas. O
dinheiro obtido com esse prêmio, algo em torno de $2.000,00, possibilitou que
viajassem ao redor de todo o Oeste americano por 187 dias. No ano seguinte eles
catalogaram toda a experiência, Edward através das fotos e Charis pela
textualização das mesmas, o que lhes conferiu uma parceria dinâmica e
apaixonada.
Em
1939 eles se casaram, contudo já na década de 40 os interesses de ambos
começaram a se distanciar. Ele estava imerso na fotografia e ela pretendia se
dedicar à escrita e queria conhecer outras pessoas.
Em
1946, a pedido de Charis, aconteceu o divórcio, concedido por Edward sem
impedimentos, mas seu abatimento foi perceptível, a ponto de sua doença, antes
quase imperceptível, o mal de Parkinson, se desenvolver rapidamente. As fotos
tiradas por Edward após o rompimento passaram a denotar, por diversas vezes,
tristeza e melancolia.
Um
livro de memórias de Charis Wilson foi lançado, quando ainda viva, em 1999 com
o título “Through Another Lens - My Years with Edward Weston”. Em 2007 um
documentário belíssimo acerca dessa união com o título “Eloquent Nude – The
Love and Legacy of Edward Weston and Charis Wilson” ganhou vida. Ao gravar o
documentário, a então anciã, teceu comentários ternos acerca de Edward,
indicando que ele foi o grande amor de sua vida.
Aos
que gostarem de fotografia e quiserem saber mais pormenores dessa bela união, o
documentário é de uma delicadeza e beleza sem igual.
Charis
passou seus últimos dias ao lado da filha Rachel, fruto de seu segundo
casamento, até falecer em 2009 aos 95 anos.
A
meu ver, a fase em que se amaram despudoradamente foi a mais importante e
produtiva para ambos. Nas fotografias tiradas por Edward, quando apaixonado por
Charis e vice-versa, sentimos a energia incandescente do amor. E ela é tão
intensa que irradia das imagens e nos banha com um delicado calor repleto de
êxtase amoroso. Não há palavras para descrever esse efeito. Não é por acaso que as fotos de Charis clicadas por Edward são
consideradas hoje obras primas da fotografia.
Foto de Edward Weston - Nude
Floating, 1939.
© obvious: http://obviousmag.org/alcova_moderna/2015/05/o-nu-eloquente-de-charis-wilson-nas-fotos-de-edward-weston.html#ixzz3ZqBVaU6r
Follow us: @obvious on Twitter | obviousmagazine on Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário