sexta-feira, 15 de maio de 2015

QUANDO O ORGASMO DO SEXO É ULTRAPASSADO PELO PRAZER DA CONCHINHA

 Publicado em comportamento por Eduardo Lima Cabral,
em obviusmagazine


Eduardo tentou, mas não conseguiu produzir uma biografia que não fosse clichê. Tentando fugir dos rótulos que acabavam por se apropriar de cada nova teclada para se apresentar, a ausência de uma biografia sincera e que - na teoria, descreveria quem ele realmente é, acabou por se tornar sua provisória solução.

Eu sei, a imagem confunde. Também sei que a conchinha vem, geralmente, logo depois do sexo e, fugindo das pseudo sabedorias do autor, este não é o tipo de artigo extenso, é um parágrafo que resume de forma direta e reta aquilo que mais sentimos nesta atualidade líquida, onde o que nos assusta não é o sexo, a cama, a posição ou qualquer tara, mas a intimidade de pegar no sono falando tudo aquilo que não deve, como alguém que bebe, se abrindo intensamente, numa época que vale mais e se sai melhor, todo aquele que mente; linhas que valem a leitura:



Quando digo que o prazer da conchinha tem superado o prazer do sexo, eis que surgem sempre duas ou três indagações de quem me cerca, Se não são as mulheres que estou saindo, se não estou louco, ou se a carência é doentia ao ponto de eu estar tento alucinações e começando a falar besteiras, num resumo do que dizem: redundâncias. Quando falo isso, perante mulheres, pode parecer algum tipo de autopromoção, como aquele roteirinho de falar que o pior defeito é ser fiel demais e etc, ou então, diante dos outros, que sou puritano e cama foi feita para dormir. Nada disso. É que hoje em dia tem sido mais fácil, prático e rápido, adotar medidas imediatistas, sejam estas a partir de aplicativos, rápidas mensagens ou a boa e velha casualidade - que tem lá seu ótimo valor. O problema é que são medidas paliativas, gozar de uma noite suada de uma intensa companhia que não se sabe o nome ao certo é fantástico - mesmo, mas fazer disso uma rotina, acredite, é vazio. Aprendi a cultivar pessoas em níveis de intimidade diferentes, remanejei e reciclei muito o meu círculo social e, consequentemente, a forma como lido e me ligo emocionalmente com outras pessoas. Coloquei grandes amigos no lugar de conhecidos, conhecidos como amigos, amigos como grandes parceiros, amigas como parceiras absurdas de se ouvir e trocar e família em primeiro plano. Não acredito que isto seja reflexo da idade, se não, diante da nossa preconceituosa sociedade, eu teria de ser bem mais velho e estar digitando isso com uma enorme fonte e certa dificuldade de achar as letras para compor tudo o que penso. O fato do sexo ser superado pela conchinha é o simbolismo da troca de cheiros, do encaixe, do sentir e entrelaçar os pés, de colocar a perna sobre o corpo dela, ou sentir a perna dela sobre o meu. É o de conversar na cama, de luz apagada, por horas, até dormir e, mesmo tendo iniciado a tentativa de sono bem cedo, dizer boa noite já ouvindo pássaros do lado de fora. Sexo por sexo, vulgarizou-se, e de novo, não no sentido puritano, mas é o mais fácil de se ter, não precisa ter intimidade, basta vontade e, pronto, você se ajeita, agora, intimidade, isso aí já exige construção e a conchinha é você dormir num porto, confortável, confiável, sem suspeita ou qualquer sensação que não seja a de que, apesar dessa imensidão de gente perdida, que se esbarram, não se olham, se tocam, saem, se relacionam e sofrem, você, agora, provavelmente tem alguém.


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