Política
CRISE NA AMÉRICA LATINA
Região sofre dois anos consecutivos de queda nas vendas empresariais
As 500 maiores empresas da
América Latina
JUAN MORENILLA Madri 14 JUL 2015,
El País – O jornal Global
Pelo
segundo ano consecutivo caíram às vendas combinadas das 500 maiores empresas
da América Latina por volume de negócios: 4,5% a menos em 2014 em
relação a 2013. Um cenário de dois anos seguidos de perda de vendas não ocorria
na região desde o período 2001-2002. Dos 2,63 bilhões de dólares (8,23 bilhões
de reais) em vendas em 2012 a região passou a cerca de 2,6 bilhões de dólares
há dois anos, e a 2,48 bilhões no último registro. Em paralelo, e de forma mais
alarmante para os cofres da América Latina, os lucros líquidos anuais dessas
empresas caíram bem mais ainda: 41%. A perda de poder das moedas locais em
relação ao dólar e a queda do preço do petróleo e das demais
matérias-primas provocaram essa situação.
O Brasil é
o país com maior presença no conjunto das 500 gigantes comerciais. Entre elas
estão 203 empresas brasileiras, 119 mexicanas, 65 chilenas, 44 argentinas, 30
peruanas e 24 colombianas (outros seis países também estão representados).
Entre essas seis economias que lideram a região também não há muitos motivos
para inveja. Todas, sem exceção, viram quedas tanto nas vendas quanto nos
lucros líquidos anuais em 2014. De 100% no caso dos lucros mexicanos a 50% no
caso brasileiro, economias golpeadas pela crise do petróleo. Nem sequer o Chile
e o Peru, aparentemente mais saudáveis, se salvaram da calculadora.
São os
gigantes da América Latina. As 500 empresas mais poderosas por volume de
vendas. O motor da economia da região. Mas um motor travado que nos dois
últimos anos não só não conseguiu fazer com que a locomotiva avançasse como
costumava fazer, mas que também foi incapaz de deter seu declínio. Um total de
4,5% a menos de vendas em 2014 em relação a 2013, e quase 41% a menos de lucro
líquido retratam um panorama preocupante para esses colossos empresariais,
segundo o ranking AE 500, elaborado pelo grupo de estudos AméricaEconomía
Intelligence. A situação não é nova, mas o declínio do exercício anterior
se acentua.
A queda de
dois anos seguidos só tem comparação, desde o início desses registros (1991),
com o ocorrido em 2001 e 2002, quando as vendas diminuíram 2,9% e 2,8%
respectivamente, uma redução mais sustentada e menor que a atual. Os números
positivos regressaram então até 2008, quando houve um declínio de 3,7%. Mas foi
só um tropeço momentâneo para voltarem a se reerguer e chegar a picos como o de
2010, com um aumento das vendas de 16,7%.
O declínio atual em dois exercícios consecutivos
marca uma tendência, e não um episódio conjuntural, segundo explica Andrés
Almeida, diretor da AméricaEconomía Intelligence: “Esta é uma nova época,
menos próspera. Acabou-se o superciclo. Os lucros e as vendas não vão
subir até os níveis que as empresas tiveram dos anos noventa até agora. Nessa
época houve um crescimento explosivo das matérias-primas, e a situação atual
aponta para um movimento de baixa que depois vai estabilizar-se, mas sem o
ciclo incrível de antes. É uma nova etapa para a economia da América Latina. Os
tempos de antes já não voltarão como antes”.
A
depreciação das moedas regionais em relação ao dólar, a queda dos preços do
petróleo e o fim da etapa gloriosa das commodities e o fluxo
de milhões insuflados pelo talão de cheques da China são os principais motivos
para esse novo cenário econômico.
Caem as
vendas, mas caem ainda mais os lucros líquidos anuais das empresas, até 40,98%
na última avaliação, uma redução drástica se levarmos em conta que a referência
anterior era uma perda de 3,9%. Segundo o estudo de AméricaEconomía, as 500
maiores empresas deixaram de vender 141 bilhões em 2014 e de ganhar 47 bilhões
em relação a 2013. “Nos anos anteriores os lucros foram muito altos, um ciclo
incrível”, afirma Almeida; “a queda de 41% é enorme. As vendas caem, mas não
com tanta força. O declínio nos lucros é muito significativo”.
Como símbolo do declínio das vendas e dos lucros
estão os relatórios econômicos das grandes petroleiras na região, o setor mais
castigado.
A brasileira Petrobras, envolvida em um monumental escândalo de
corrupção, perdeu 8,12 bilhões de dólares em 2014. A queda representa 180% a
menos nos lucros da empresa estatal.
A mexicana Pemex, que a partir de hoje se abre à iniciativa privada,
sofreu uma queda de 17,97 bilhões de dólares em seus lucros.
A PDVSA, Petróleos
de Venezuela, escapou por pouco dos problemas no ano passado. Foi a única entre
as três grandes que conseguiu números positivos, 12,4 bilhões, embora isso
tenha representado um lucro 3,4% menor.
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