Arte pictórica
Publicado em artes e
ideias por Mariana Rosa
Feras da Arte: Quando o fauvismo pincelou no mundo as representações de
liberdade pelas cores e movimentos
"para
o céu um belo azul, o mais azul dos azuis, e o mesmo vale para o verde da
terra, para o vermelhão vibrante dos corpos"-- Henri Matisse
Emancipado das delimitações significativas e mansidão, o Fauvismo nos
proporcionou a criação espontânea. Essa corrente artística que vigorou no
começo do século passado se deleitou com a natureza e aflorou suas expressões,
bem marcado pela simplicidade de suas pinceladas, e contrastes em meio às
fortes cores.
Considerado
uma das primeiras Vanguardas, emocionalista e vivaz, suas cores já nos dispõe
abertamente o fervor que o caracterizou.
Um
movimento principalmente Francês, teve representantes de diversos países. Aos
quais ansiando uma libertação do estilo vigente, quebraram o costume das
misturas de cores, linhas delimitadas, traços concordantes. O Impressionismo
que até então, tinha uma delicadeza e muitas vezes até elegância foi o oposto
ao que surgiria após: artistas produzindo o selvagem. A coloração suave cedeu
lugar às vibrações e intensificação.
O Fauvismo
não veio com alvitres críticos e políticos. Mas surgiu com intenções
revolucionárias: o prestígio dos traços naturais humanos , que seriam o ritmo,
a alegria de viver. Começo do século XX, estavam além de tudo, sedentos por uma
libertação e renovação. Como de praxe, a arte acolheu o turbilhão de emoções,
transformando toda exaltação em obras riquíssimas.
A Dança
(1909) de Henri Matisse, com as criticas que recebeu pôde ajudar na atribuição
do nome da corrente. Uma pintura primitiva, demonstrando um ritmo nada padrão,
se mostrou com imagens "ferozes". "Les Fauves" , as feras,
que seriam os artistas que aderiram o movimento, foi a denominação que receberam
aqueles que esbanjaram o estilo próprio. O francês Henri Matisse, seu principal
representante, celebrava a importância e possibilidade de nos expressarmos
espontaneamente, como crianças. Matisse não se caracterizando apenas no
fauvismo teve obras de diversos estilos. Não só suas pinturas, mas
principalmente elas, conversam com o contemplador, trazendo consigo instintivas
sensações desde equilíbrio, a alegria e movimento.
A Alegria
de Viver (1906) , um dos mais famosos quadros de Matisse, representa a
harmonia. Na imagem, as pessoas (principalmente mulheres) se incluem à
natureza, se englobam no que o cenário se mostra, nada exacerbado. Demonstram
uma languidez, adjacente a devaneios. Aduzindo a alma humana ao sentimento de
alegria que intrinsicamente causa esse efeito. É uma proposta natural, com as
emoções sendo transmitidas pelas cores. Os movimentos simultâneos se misturam,
e o paradoxo entre calor e mansidão nos transporta a um ambiente livre e leve.
O fauvismo
forte mas não prepotente, raiz de um cubismo, que impulsionou ainda mais o
expressionismo, decora não as exigências estéticas, mas a vida, se desenha nas
expressões psíquicas das pessoas. Foi um movimento que não perdurou longo
tempo, já que como propulsor da autonomia das pinturas, diluiu ao mundo
diversas concepções sobre arte.
Ponte de
Charingn Cross, Andre Derain
Outra
grande fera: o francês Andre Derain. Pinturas repletas de vivacidade,
representou paisagens famosas europeias:
O também
francês Maurice de Vlaminck, com suas pinceladas, marcou o movimento.
Influenciado por Derain, começou a pintar já adulto e se incluiu no fauvismo se
identificando com a liberdade e intensificação da arte.
As cores
vivas , não tratam da paisagem natural de uma forma simbolista. Há uma
harmoniosa eloquência. Vivacidade advinda dos traços naturais. A coloração não
foge totalmente da realidade, mas a acentua . As linhas não são totalmente
delimitadas, mas não há uma abrupta mudança de cores entre os elementos. Os
produtos da cidade, que seriam as casas e estabelecimentos se diluem em meio a
paisagem, denotando a vastidão de nossa liberdade, que não difere as produções
humanas com o já disposto na natureza.
No Brasil,
o Movimento não foi tão marcante, por aqui ele foi associado e tomado em meio
ao expressionimo.
O mineiro,
Inimá José de Paula, foi um dos poucos representantes nacionais. Tratando
principalmente de cidades e natureza morta, seus quadros pautaram o moderno. E
orgulhosamente concebeu paisagens de sua terra natal.
A Pequena
Comunidade, Inimá de Paula
Espalhadas principalmente pelo Nordeste, temos representações fauvistas
em construções sem precisões estilísticas, mas decorativamente caracterizadas
vivazes .
Na
Literatura, os artistas que se libertaram dos grilhões das formas fixas,
ensaiaram versos de impulsão, intensidade e tantas outras emoções exacerbadas
ou não, que a alma incumbia de alforriar.
Manuel Bandeira,
poeta brasileiro é um representante da experimentação revolucionária do século
XX. No livro "Carnaval" lança composições de caráter moderno. Um
deles, que assim como o fauvismo chocou com a barbaridade, foi o poema Bacanal
Bacanal
Quero
beber! Cantar asneiras No esto brutal das bebedeiras
Que tudo
emborca e faz em caco…
Evoé Baco!
Lá se me
parte a alma levada
No torvelim
da mascarada, A gargalhar em douro assomo…
Evoé Momo!
Lacem-na
toda, multicores,
As
serpentinas dos amores,
Cobras de
lívidos venenos…
Evoé Vênus!
Se
perguntarem: Que mais queres,
além de
versos e mulheres?
- Vinhos!…
o vinho que é o meu fraco!… Evoé Baco!
O alfanje
rútilo da lua,
Por degolar
a nuca nua
Que me
alucina e que não domo!…
Evoé Momo!
A Lira
etérea, a grande Lira!…Por que eu extático desfira
Em seu
louvor versos obscenos,
Evoé Vênus!
Manuel
Bandeira (1919)
Não há
repreensão, Bandeira pretende nos embriagar da nossa própria condição
apaixonada humana. Nossos quereres e intensidade. Mesmo que ao decorrer, a
libertinagem desaflore, temos impulsos primários, quase selvagens.
A Dança,
1906 André Derain
Importantes
nomes fauves: Vincent Van Gogh, Paul Gauguin, Paul Cézanne, Kees van Dongen,
Jean Puy, Raoul Dufy, Georges Roualt, Charles Camoin, Louis Valtate e outros
selvagens.
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