terça-feira, 14 de julho de 2015

DAS CORES À VIDA

Arte pictórica 

Publicado em artes e ideias por Mariana Rosa
   
Feras da Arte: Quando o fauvismo pincelou no mundo as representações de liberdade pelas cores e movimentos

"para o céu um belo azul, o mais azul dos azuis, e o mesmo vale para o verde da terra, para o vermelhão vibrante dos corpos"-- Henri Matisse 

Andre Derain

Emancipado das delimitações significativas e mansidão, o Fauvismo nos proporcionou a criação espontânea. Essa corrente artística que vigorou no começo do século passado se deleitou com a natureza e aflorou suas expressões, bem marcado pela simplicidade de suas pinceladas, e contrastes em meio às fortes cores.
Considerado uma das primeiras Vanguardas, emocionalista e vivaz, suas cores já nos dispõe abertamente o fervor que o caracterizou.
Um movimento principalmente Francês, teve representantes de diversos países. Aos quais ansiando uma libertação do estilo vigente, quebraram o costume das misturas de cores, linhas delimitadas, traços concordantes. O Impressionismo que até então, tinha uma delicadeza e muitas vezes até elegância foi o oposto ao que surgiria após: artistas produzindo o selvagem. A coloração suave cedeu lugar às vibrações e intensificação.
O Fauvismo não veio com alvitres críticos e políticos. Mas surgiu com intenções revolucionárias: o prestígio dos traços naturais humanos , que seriam o ritmo, a alegria de viver. Começo do século XX, estavam além de tudo, sedentos por uma libertação e renovação. Como de praxe, a arte acolheu o turbilhão de emoções, transformando toda exaltação em obras riquíssimas.


A Dança (1909) de Henri Matisse, com as criticas que recebeu pôde ajudar na atribuição do nome da corrente. Uma pintura primitiva, demonstrando um ritmo nada padrão, se mostrou com imagens "ferozes". "Les Fauves" , as feras, que seriam os artistas que aderiram o movimento, foi a denominação que receberam aqueles que esbanjaram o estilo próprio. O francês Henri Matisse, seu principal representante, celebrava a importância e possibilidade de nos expressarmos espontaneamente, como crianças. Matisse não se caracterizando apenas no fauvismo teve obras de diversos estilos. Não só suas pinturas, mas principalmente elas, conversam com o contemplador, trazendo consigo instintivas sensações desde equilíbrio, a alegria e movimento.



Mulher com Chapéu, Henri Matisse

Open Window, Henri Matisse


A Alegria de Viver (1906) , um dos mais famosos quadros de Matisse, representa a harmonia. Na imagem, as pessoas (principalmente mulheres) se incluem à natureza, se englobam no que o cenário se mostra, nada exacerbado. Demonstram uma languidez, adjacente a devaneios. Aduzindo a alma humana ao sentimento de alegria que intrinsicamente causa esse efeito. É uma proposta natural, com as emoções sendo transmitidas pelas cores. Os movimentos simultâneos se misturam, e o paradoxo entre calor e mansidão nos transporta a um ambiente livre e leve.
O fauvismo forte mas não prepotente, raiz de um cubismo, que impulsionou ainda mais o expressionismo, decora não as exigências estéticas, mas a vida, se desenha nas expressões psíquicas das pessoas. Foi um movimento que não perdurou longo tempo, já que como propulsor da autonomia das pinturas, diluiu ao mundo diversas concepções sobre arte.  

Ponte de Charingn Cross, Andre Derain

Outra grande fera: o francês Andre Derain. Pinturas repletas de vivacidade, representou paisagens famosas europeias:  

Regent Street, Londres, Andre Derain

Ponte de Waterloo Andre Derain

O também francês Maurice de Vlaminck, com suas pinceladas, marcou o movimento. Influenciado por Derain, começou a pintar já adulto e se incluiu no fauvismo se identificando com a liberdade e intensificação da arte.

Restaurante Murice Vlaminck

Bougival Maurice de Vlaminck

As cores vivas , não tratam da paisagem natural de uma forma simbolista. Há uma harmoniosa eloquência. Vivacidade advinda dos traços naturais. A coloração não foge totalmente da realidade, mas a acentua . As linhas não são totalmente delimitadas, mas não há uma abrupta mudança de cores entre os elementos. Os produtos da cidade, que seriam as casas e estabelecimentos se diluem em meio a paisagem, denotando a vastidão de nossa liberdade, que não difere as produções humanas com o já disposto na natureza.
No Brasil, o Movimento não foi tão marcante, por aqui ele foi associado e tomado em meio ao expressionimo.
O mineiro, Inimá José de Paula, foi um dos poucos representantes nacionais. Tratando principalmente de cidades e natureza morta, seus quadros pautaram o moderno. E orgulhosamente concebeu paisagens de sua terra natal. 

A Pequena Comunidade, Inimá de Paula

A Rua do Casarão Vermelho, Inimá de Paula

Espalhadas principalmente pelo Nordeste, temos representações fauvistas em construções sem precisões estilísticas, mas decorativamente caracterizadas vivazes .   




Na Literatura, os artistas que se libertaram dos grilhões das formas fixas, ensaiaram versos de impulsão, intensidade e tantas outras emoções exacerbadas ou não, que a alma incumbia de alforriar.
Manuel Bandeira, poeta brasileiro é um representante da experimentação revolucionária do século XX. No livro "Carnaval" lança composições de caráter moderno. Um deles, que assim como o fauvismo chocou com a barbaridade, foi o poema Bacanal
Bacanal
Quero beber! Cantar asneiras No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco…
Evoé Baco!
Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada, A gargalhar em douro assomo…
Evoé Momo!
Lacem-na toda, multicores,
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos…
Evoé Vênus!
Se perguntarem: Que mais queres,
além de versos e mulheres?
- Vinhos!… o vinho que é o meu fraco!… Evoé Baco!
O alfanje rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que não domo!…
Evoé Momo!
A Lira etérea, a grande Lira!…Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos,
Evoé Vênus!
Manuel Bandeira (1919)
Não há repreensão, Bandeira pretende nos embriagar da nossa própria condição apaixonada humana. Nossos quereres e intensidade. Mesmo que ao decorrer, a libertinagem desaflore, temos impulsos primários, quase selvagens.

A Dança, 1906 André Derain

Importantes nomes fauves: Vincent Van Gogh, Paul Gauguin, Paul Cézanne, Kees van Dongen, Jean Puy, Raoul Dufy, Georges Roualt, Charles Camoin, Louis Valtate e outros selvagens.

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