terça-feira, 21 de julho de 2015

“NÃO HÁ MAIS GOVERNABILIDAE". “DIZ ALELUIA EM ENTREVISTA À TRIBUNA DA BAHIA”

Política

Na entrevista à Tribuna, Aleluia, defensor do regime parlamentarismo no Brasil, diz que ?confiança? é a palavra-chave para reconstruir o governo.

Por Osvaldo Lyra

Presidente do DEM na Bahia, o deputado federal José Carlos Aleluia afirma que não há mais governabilidade na gestão da presidente Dilma Rousseff (PT) e diz ser favorável ao impeachment da mandatária brasileira. “O político governante pode perder a popularidade e recuperar, agora, não pode perder a confiança”, avalia.
Na entrevista à Tribuna, Aleluia, defensor do regime parlamentarismo no Brasil, diz que “confiança” é a palavra-chave para reconstruir o governo, “mas não poderá ser com Dilma. Ela está inviabilizada”. “Estamos vivendo uma crise econômica que não é coisa de economista, mas de dona de casa e pai de família que não está dando para viver mais. Então, como é que você vai dizer a população ‘espere mais três anos e meio’? No parlamentarismo era muito simples. Tinha que dissolver o gabinete, fazer eleição e escolher um novo parlamento e um novo gabinete”, defende.
Na entrevista que concedeu à Tribuna, o líder democrata, que votou favorável ao pacote de medidas do ajuste fiscal do governo federal, discorda da tese de “golpe” às tentativas de tirar a presidente Dilma do poder.  “Eu acho graça quando o PT diz que é golpe, se o PT trabalhou e conspirou, e conspirou forte para o impeachment de Collor. Os crimes cometidos por Collor são muito menores do que os cometidos por Dilma”, acusa. Por fim, quando o assunto foi às especulações em torno da saída do prefeito ACM Neto do DEM, Aleluia fez questão de frisar que ACM Neto é a maior liderança política das oposições na Bahia e admitiu ser natural que ele seja assediado. Porém, não escondeu que o Democratas ficará muito satisfeito se o prefeito decidir ficar no DEM.

Confira a entrevista completa
Tribuna da Bahia – Como avalia o momento político do País? Tenso? Preocupa?

José Carlos Aleluia – O mais grave que eu já pude ver. Nem no tempo em que se chegou ao impeachment de Collor. O Brasil teve vários momentos tensos. Tivemos sete presidentes que não terminaram os mandatos. Getúlio terminou com a carta, depois com Jânio que renuncia, e praticamente não tinha crise, comparado com isso, depois vem Jango que foi deposto, mas não havia movimento de rua, nem manifestação de indignação tão grande contra o governo. O político governante pode perder a popularidade e recuperar, agora, não pode perder a confiança. Dilma perdeu a confiança de todos. Nem mesmo os seus companheiros, podem até dizer que sim, mas nem eles confiam nela. Ela tem um trato pessoal muito ruim com as pessoas. Ela não respeita as instituições. Não tem boa relação com os poderes, o Legislativo é um permanente desencontro e com o Poder Judiciário também tem suas dificuldades. Simplificando: não há mais governabilidade com Dilma e temos que buscar um caminho, um caminho democrático, várias alternativas, e o meu partido trabalha com todas as possibilidades democráticas.

TB – Qual é a saída?
JCA –
 A mais natural é uma saída que passa pelo Congresso. A população não suporta viver mais três anos e meio sem governo. Então, o Congresso tem que buscar uma solução. Claro que existem alternativas como o Supremo, mas teria que ter autorização também e uma alternativa pelo Tribunal Superior Eleitoral, que é uma possibilidade, e o Tribunal tem autoridade para isso e há um processo de investigação em torno da campanha de Dilma.

TB - Como tem visto as investigações e as delações da Operação Lava Jato? As investigações atingirão o ex-presidente Lula?
JCA – 
Já atingiram. Lula está envolvido claramente. Claro que os juízes e os promotores estão sendo até mais cauteloso no caso do Lula. Em outros casos estão sendo afoitos, mas no caso de Lula estão sendo prudentes que se trata de um ex-presidente que deixou o governo com certa popularidade, não tem mais, mas saiu com popularidade. O problema não fica só na Petrobras. Os valores dele são muito fracos e ele perdeu a noção do que é certo e do que é errado, e acho que ele poderia fazer tudo. E já chegou a ele, já chegou a Dilma. Mas as pessoas me perguntam: ‘mas o impeachment de Dilma precisa de gente na rua’. Tem muita gente mais nas ruas para pedir a saída de Dilma do que foram às ruas pedir a saída de Collor. Com Collor não teve essa mobilização popular que está havendo com Dilma, e os políticos costumam ouvir as ruas.

TB – As manifestações previstas para agosto vá levar uma quantidade grande de pessoas mostrando essa indignação nas ruas?  
JCA – 
Sim, e será muito grande, sobretudo nos grandes centros, onde as coisas estão ruins. Por quê? Não é só a questão do envolvimento da presidente com o crime, mas o desconforto que as pessoas estão vivendo. 
Estamos vivendo uma crise econômica que não é coisa de economista, mas de dona de casa e pai de família que não está dando para viver mais. Então, como é que você vai dizer à população ‘espere mais três anos e meio’? O presidencialismo tem esse defeito. Eu sou parlamentarista. No parlamentarismo era muito simples. Tinha que dissolver o gabinete, fazer eleição e escolher um novo parlamento e um novo gabinete. O presidencialismo também que ter suas fórmulas. O Paraguai soube mudar quando foi necessário apenas porque o povo não aguentava mais a ineficiência do governo. Está marchando e espero que isso seja resolvido dentro da democracia e do estado de direito, mas rápido. A população não pode demorar muito.

TB – Então, é a favor de um pedido de impeachment da presidente Dilma? Quais os riscos de uma medida como essa agora?
JCA – 
Sou a favor do pedido de impeachment. Tenho posição firme que ela deve ser afastada, mas entendo que um governo para cair há que se ter um entendimento do que vai acontecer no dia seguinte. Não se pode retirar um governo e deixar o país sem caminho. E isso não é golpe. O PT participou ativamente das conversas que foram feitas quando Collor sofreu o impeachment. É natural. Tanto Itamar [Franco], quanto agora o [Michel] Temer, eles não conspiraram. Pelo contrário, o Temer está sendo muito correto com ela. Mas ele também não pode se furtar à obrigação de entender que pode ocorrer algo e ele tem que estar preparado para isso.

TB – E as crises em que a presidente Dilma está envolvida, petrolão, com o congresso e de confiança da população. Ela conseguiria sair?
JCA – 
A palavra-chave é ‘confiança’ para reconstruir o governo. Há de se reconstruir o governo, mas não poderá ser com Dilma. Ela está inviabilizada. E isso não é golpe. Eu acho graça quando o PT diz que é golpe, se o PT trabalhou e conspirou, e conspirou forte, para o impeachment de Collor. Eu votei pelo impeachment de Collor e não considero que dei um golpe em Collor, até porque os crimes cometidos por Collor são muito menores do que os cometidos por Dilma. Os desmandos da eleição de Collor foram muito menores do que os desmandos da eleição de Dilma. Claro que o PT pode não gostar, pelo menos todos, que tem muita gente que já viu ser inviável continuar com ela. Por isso que o Congresso todo está buscando a janela. Essa janela vai ter um troca-troca de partido porque tem muita gente insatisfeita no partido do governo. Então, Dilma não tem mais condições de continuar governando.

TB – Que fim o senhor acredita que vai ter o PT após tantos casos de corrupção manchar sua história?
JCA –  
O Partido dos Trabalhadores certamente vai continuar existindo. Claro que há um processo, inclusive eu entrei com um pedido de cassação do registro do PT, em razão dos diversos problemas que tem, inclusive a relação com o Foro de São Paulo e o recebimento de recursos irregulares, e isso tudo é motivo de uma eventual suspensão do registro do PT. Essa é uma decisão da Justiça, eu fiz minha parte, representei, outros já fizeram e pode acontecer. Se acontecer surgirá um novo partido para ocupar o espaço dele, se não, ele será um partido renovado, e eu não sou daqueles que dizem que o PT não tem gente de qualidade, tem muita gente de qualidade e com ideais, agora, os ideais foram desviados pelo chefe maior que é Lula.

TB – O PT se perdeu?
JCA – 
O PT cometeu o grande erro de se entregar na mão de uma pessoa. O poder de Lula fez o PT crescer e os erros de Lula estão destruindo o PT.

TB – O PT terá muita dificuldade em 2016?
JCA – 
Ele terá dificuldade principalmente nos grandes centros. O PT virou decisivamente um partido de grotão. Em São Paulo, a Marta, que era uma candidata forte, saiu do PT e está escolhendo um partido novo para poder disputar a eleição. O PT não tem um candidato competitivo aqui em Salvador, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, não tem em Recife, não tem no sul do país, em capital nenhuma. Portanto, é um partido hoje que vai se esforçar muito para disputar as eleições nos pequenos municípios. Já na última eleição, o meu partido foi o que teve mais votos para prefeito na Bahia, mas do que o PT.

TB – Isso indica que há uma mudança no comportamento da população de optar agora por uma mudança da forma como está se gerindo?
JCA – 
A eleição de ACM Neto quebrou todas as possibilidades de o PT voltar com a tese de que o prefeito precisa estar afinado com o mesmo partido do presidente e do governador. Quantos prefeitos são do mesmo partido da presidente e estão no ostracismo? Basta citar o prefeito em São Paulo, que é o pior avaliado no Brasil, é do PT, o mesmo partido da presidente, e péssima avaliação. Essa tese acabou. E mesmo no interior, os prefeitos bons das cidades pequenas e médias não dependem do governo do estado nem do governo federal. 

TB – Como avalia o governo Rui Costa? Erros e acertos?
JCA – 
O principal erro do governador Rui foi ter aceitado por dever, foi ter aceitado toda a herança maldita do governador Wagner, sobretudo na área econômica. Wagner governou os últimos três anos tomando dinheiro emprestado para pagar as despesas e deixou um rombo monumental nas contas públicas que não gera recursos para investimentos. Como não gera recursos para investimentos, e no governo federal ao fechamento dos cofres dos bancos e do governo federal ele é um governo que até agora não fez nada. Aliás, a Bahia é hoje um canteiro de frustração. Perguntas que vou deixar para serem respondidas. Onde está a Ferrovia, a Fiol? Parada, não existe. Onde está a ponte de Ilhéus? Parada, não existe. Onde está a fábrica da JAC Motors? Parada, não existe. Onde está a duplicação da BR-101? Parada, não existe. Onde está a fábrica de aviões? Parada, não existe. Onde está o estaleiro que já gastou R$ 2 bilhões? Parado e desempregando todo mundo. Então, é um governo de paralisia, do nada. O governador Rui Costa corre o risco de chegar ao fim do seu governo sem ter nada para apresentar, absolutamente nada.

TB – Qual o caminho político que o prefeito ACM Neto irá tomar? Ele vai mudar de partido?
JCA – 
O prefeito ACM Neto é a maior liderança política das oposições na Bahia. Numa democracia, as figuras mais importantes são o líder do governo, que é normalmente o governante, mas aqui na Bahia são dois, porque Wagner é o chefe político do governador, e o líder da oposição. 

É natural que um jovem, o melhor prefeito das capitais do Brasil, fazendo um governo muito bom, é natural que ele seja assediado, como os grandes craques de futebol, os grandes executivos de empresas. Todos os partidos querem, principalmente aqueles que estão no campo ideológico, e que combinam com o pensamento dele. Portanto, Neto é um desejo de todos os partidos, inclusive é o do meu partido. O Democratas ficará muito satisfeito se o prefeito, depois de discutir muito com os aliados, porque o governo dele é de uma coalizão muito ampla, se ele decidir ficar no partido. Será de muito orgulho para nós.

TB – A estratégia é esperar a eleição de 2016 passar, avaliar o cenário de 2018 e, aí sim, decidir qual mudança política a fazer, há que o prefeito ACM Neto não pode ficar mudando de partido constantemente?
JCA –
 É importante tomar as decisões agora com vistas a 2016. A Câmara aprovou na reforma política, depende só do Senado, a redução, para essa eleição, do tempo de filiação para disputar a eleição. Se isso for aprovado no Senado, reduz-se de um ano para seis meses o prazo de filiação. Portanto, as discussões podem se estender até o próximo ano, entre março e abril, quando as decisões sejam tomadas. Então, não podemos jogar 2018. 26 minutos.

TB – Empreiteiros terão dificuldade de irrigar novos caixas dois?
JCA –
 Eu sempre fui contra o caixa 2, e acho engraçado que o PT fica querendo acabar com o financiamento empresarial de campanha, que é explícito e transparente. Na eleição de Collor e na eleição subsequente, quando fui candidato a deputado federal, não havia doação de empresa. Tanto é que imperava era o caixa dois. O caixa dois é muito ruim. As empresas têm que ter e as pessoas tem que ter o direito de poder influir, no sentido que tenho uma empresa e acho importante que alguém  defenda a livre empresa, eu vou investir em alguém que defenda a livre empresa. O que é estranho é investir em alguém que é contra a livre empresa, aí você vê que surgem doações que são legais, mas não são legítimas, porque são frutos do achaque. E foi o que o PT fez. Ele montava uma cadernetinha para quem fazia obra e essa empresa se comprometia a fazer doações posteriores para o PT. Os empresários estão pagando um preço muito alto. O que me preocupa é que esses processos não podem levar à destruição das empresas e dos empregos. Os juízes têm que ter moderação para investigar as pessoas, mas não destruírem as empresas, porque são elas que geram empregos. 

Colaboraram David Mendes e Fernanda Chagas. 

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