História/arquitetura
CATEDRAL
DE NOTRE-DAME DE PARIS – EXPRESSIVO MONUMENTO EM ESTILO GÓTICO DA HUMANIDADE
Um dos
símbolos de Paris
A Catedral de Notre-Dame de Paris (em francês: Cathédrale Notre-Dame de Paris)
é uma das mais antigas catedrais francesas em estilo gótico. Iniciada sua construção no ano de 1163, é
dedicada a Maria, Mãe de Jesus Cristo (daí o nome Notre-Dame –
Nossa Senhora), situa-se na praça Parvis, na pequena ilha Île de la Cité em Paris,
França, rodeada pelas águas do Rio Sena.
A catedral surge intimamente ligada à ideia de
gótico no seu esplendor, ao efeito claro das necessidades e aspirações da alta
sociedade, a uma nova abordagem da catedral como edifício de contato e ascensão
espiritual.
A arquitetura gótica substituiu as paredes grossas
das igrejas românicas por colunas altas e arcos capazes de sustentar o peso dos
telhados. Como consequência, os edifícios góticos ganharam um aspecto mais
leve, e as janelas, mais amplas e altas, foram decoradas com belos vitrais
coloridos que filtravam a luz natural, e com isso, criavam um "clima"
de misticismo em seu interior.
Paris vista do topo de Notre-Dame.
O local da catedral contava já, antes da construção
do edifício, com um sólido historial relativo ao culto religioso. Os celtas teriam
aqui celebrado as suas cerimônias onde, mais tarde, os romanos erigiriam um templo de devoção ao deus Júpiter. Também neste local existiria a primeira
igreja do cristianismo de Paris, a Basílica de Saint-Etienne, projetada por Childeberto I por volta de 528 d.C.. Em substituição desta
obra surge uma igreja românica que
permanecerá até 1163, quando se dá o impulso na construção da catedral.
Já em 1160, e em
resultado da ascensão centralizadora de Alemanha, o bispo Maurice de Sully considera a presente igreja pouco digna dos
novos valores e manda-a demolir. O gótico inicial, com as suas inovações
técnicas que permitem formas até então impossíveis, é a resposta à demanda de
um novo conceito de prestígio no domínio citadino. Durante o reinado de Luís VII, e sob o seu apoio (visto o monarca central
ter também no século XII um poder crescente), este projecto é abençoado
financeiramente por todas as classes sociais com interesse na criação do
símbolo do seu novo poder. Assim, e tendo em conta a grandeza do projeto, o
programa seguiu velozmente e sem interrupções que pudessem ocorrer por falta de
meios econômicos (algo comum, na época, em construções de grande envergadura).
A construção inicia-se em 1163 refletindo alguns
traços condutores da Catedral de Saint Denis, subsistindo ainda dúvidas quando à
identidade de quem terá "colocado" a primeira pedra, o Bispo Maurice
de Sully ou o Papa Alexandre III. Ao longo do processo (a construção,
incluindo modificações, durou até sensivelmente meados do século XIV) foram vários os arquitectos que participaram no
projeto, esclarecendo este fator as diferenças estilísticas presentes no
edifício.
Em 1182 presta
já o coro serviços religiosos e, na transição
entre os séculos, está a nave terminada. No início do século XIII arrancam as obras da fachada oeste com
as suas duas torres estendendo-se a meados do mesmo século. Os braços do transepto (de orientação norte-sul) são trabalhados
de 1250 a 1267 com
supervisão de Jean de Chelles e Pierre de Montreuil.
Simultaneamente levantam-se outras catedrais ao seu redor num estilo mais avançado
do gótico; a Catedral de Chartres,
a Catedral de Reims e
a Catedral de Amiens.
Vista de sudeste
A catedral foi, nos finais do século XVII, durante o reinado de Luís XIV, palco de alterações substanciais
principalmente na zona este, em que túmulos e vitrais foram destruídos para
substituir por elementos mais ao gosto do estilo artístico da época, o Barroco.
Em 1793, no
decorrer da Revolução francesa e sob o Culto da Razão, mais elementos da catedral foram destruídos e
muitos dos seus tesouros roubados, acabando o espaço em si por servir de
armazém para alimentos.
Com o florescer da época romântica, outros olhares são lançados à catedral e a
filosofia vira-se para o passado, enaltecendo e mistificando numa aura poética
e etérea a história de outras épocas e a sua expressão artística. Sob esta nova
luz do pensamento é iniciado um programa de restauro da catedral em 1844,
liderado pelos arquitectos Eugene Viollet-le-Duc e Jean-Baptiste-Antoine Lassus, que se estendeu por vinte e três anos.
Em 1871, com
a curta ascensão da Comuna de Paris, a catedral torna-se novamente pano de fundo a
turbulências sociais, durante as quais se crê ter sido quase incendiada.
Em 1965, em
consequência de escavações para a construção de um parque subterrâneo na praça
da catedral, foram descobertas catacumbas que revelaram ruínas romanas, da
catedral merovíngia do século VI e de habitações medievais.
Já mais próximo da atualidade, em 1991, foi
iniciado outro projeto de restauro e manutenção da catedral que, embora previsto
para durar dez anos, se prolonga além do prazo.
Durante o espírito do romantismo, Victor Hugo escreveu, em 1831, o romance “Notre-Dame
de Paris”, O Corcunda de Notre-Dame. Situando os acontecimentos na catedral
durante a Idade Média, a história trata de Quasimodo que se
apaixona por uma cigana de nome Esmeralda. A ilustração poética do monumento
abre portas a uma nova vontade de conhecimento da arquitectura do passado e,
principalmente, da Catedral de Notre-Dame de Paris.
And the cathedral was
not only company for him, it was the universe; nay, more, it was Nature itself.
He never dreamed that there were other hedgerows than the stained-glass windows
in perpetual bloom; other shade than that of the stone foliage always budding,
loaded with birds in the thickets of Saxon capitals; other mountains than the
colossal towers of the church; or other oceans than Paris roaring at their
feet. (Victor Hugo, Notre-Dame de Paris, 1831.)
·
1314 - Na praça Parvis, em frente à fachada
ocidental da catedral, o último grão mestre templário, Jacques de Molay, após sete anos na prisão, juntamente com
outros templários, foram executados queimados vivos na
fogueira. Foram condenados pela igreja católica com ordem direta do Papa Clemente V, influenciado e pressionado pelo rei Filipe IV de França, que acusaram os templários de serem hereges, culpados de adoração ao demônio, homossexualidade, desrespeito à Santa Cruz, sodomia e outros comportamentos de blasfêmia.
·
1804 - Coroação a 2 de Dezembro de Napoleão Bonaparte a imperador de França e sua
mulher Josefina de Beauharnais a imperatriz, na presença do Papa Pio VII
Existe ainda nesta catedral uma dualidade de
influências estilísticas: por uma lado, reminiscências do românico normando, com a sua forte e compacta unidade, por outro
lado, o já inovador aproveitamento das evoluções arquitetônicas do gótico, que
incutem ao edifício uma leveza e aparente facilidade na ascensão vertical e no
suporte do peso da sua estrutura (sendo o esqueleto de suporte estrutural
visível só do exterior).
A planta é demarcada pela formação em cruz romana orientada
a ocidente, de eixo longitudinal acentuado, e não é perceptível do exterior do
edifício visto os braços do transepto não excederem a largura da fachada. A cruz
está "embebida" no edifício, envolta por um duplo deambulatório, ou charola, que circula o coro na cabeceira (a este) e se prolonga paralelamente à nave, dando lugar, assim, a quatro colaterais (ou
naves laterais).
Notre-Dame de Paris
A entrada da fachada oeste
Esta é a fachada principal e não só a de maior
impacto e monumentalidade como também a de maior popularidade. Uma afinidade na
composição e traços gerais pode ser estabelecida com a fachada da Catedral de Saint Denis, uma derivação da fachada do
românico-normando.
A fachada apresenta um conjunto proporcional, uma ordem
de traçado coerente, de construção racional, reduzindo os seus elementos ao
essencial, não tendo, talvez por isso, influenciado outros arquitetos
contemporâneos do gótico. Aqui optou-se por uma parede "plástica" que
interliga todos os seus elementos e passa a integrar também a escultura em locais pré-definidos, evitando que cresça
espontânea e aleatoriamente como acontecia no românico.
A fachada apresenta três níveis horizontais e é
ainda dividida em três zonas verticais pelos contrafortes ligeiramente proeminentes que unem em
verticalidade os dois pisos inferiores e reforçam os cunhais das duas torres.
Nível
inferior[editar | editar código-fonte]Neste nível são evidentes três portais que
surgem em épocas diferentes e que formam um conjunto que passa a ser utilizado
na arquitectura a partir dos meados do século XII. São profusamente trabalhados, penetrando na
parede por uma sucessão de arcos envolventes em degrau, arquivoltas, destacando-se o portal central ligeiramente em altura dos
laterais.
·
Portal de Santa Ana
É o portal da direita e vem da época do início da
construção da catedral e terá sido no início possivelmente pensado para um dos
braços do transepto.
O tímpano, que representa a Virgem Maria com o menino
Jesus, transparece ainda uma forte ligação à escultura do românico tardio pela
sua frontalidade, rigidez do vestuário e pouca volumetria. Na proximidade da
Virgem está um rei ajoelhado, que se crê ser o rei Luís VII e, na frente deste, um bispo, que poderá ser
o impulsionador da construção da catedral, o bispo Maurice de Sully. A arquitrave possui dois níveis; a banda superior, de
cerca de 1170, tem cenas da vida de Maria e a inferior, do início do século XIII –
altura em que o portal deverá ter sido colocado neste local -, retrata cenas da
vida de Ana e Joaquim, pais de Maria, facto que terá dado o nome
ao portal.
·
Portal da Virgem
É o portal da esquerda e, já pensado
especificamente para este local, pertence ao século XIII com iconografia
referente à Maria.
Na arquitrave, na sua banda inferior, veem-se
seis patriarcas do Antigo Testamento e reis sentados
a emoldurar um pequeno baldaquino embaixo, que remete simbolicamente
à Anunciação. Na banda superior, estão representados
a morte e a ascensão de Maria aos céus e os apóstolos, que rodeiam a cena. Cristo, no ponto central,
toca o corpo de sua mãe, como que num sinal de sua futura ressurreição. O
tímpano trata da coroação de Maria, em que Cristo, sentado, recebe-a e benze-a,
enquanto um anjo descende e a coroa. A realçar a festividade da cena estão
dois anjos ajoelhados
carregando candelabros nas mãos. Nas arquivoltas, anjos, profetas, reis e santos assistem
ao acontecimento. Neste portal o volume corporal é mais acentuado e a
representação mais realista, em oposição ao abstracionismo românico.
·
Portal do Julgamento
Portal do Julgamento
É o portal central e o mais novo do conjunto.
No românico a figura central do portal é Cristo em
ascensão aos céus, como parte dos acontecimentos de Pentecostes ou no papel de juiz. Mas, mo gótico, já não é
o monge que inicia os fiéis no mundo iconográfico do sagrado; a fé e a
experiência espiritual são, nesta fase, sobrepostos pela autoridade e lei
representadas pelo clero ligado à cidade, o bispo. Deste modo passa o tema do
Julgamento a representar o papel principal no portal gótico.
A banda inferior da arquitrave, por estar
danificada, foi substituída no século XVIII por uma representação da ressurreição dos mortos. A banda superior representa os
"escolhidos" e os "condenados", separados pelo Diabo e
pelo arcanjo Miguel com a balança das almas. Os que entram
no paraíso levam uma coroa, uma possível alusão à
santidade da coroa francesa. O tímpano apresenta Cristo na pose de Julgador
revelando as chagas nas palmas das suas mãos. Nas arquivoltas Abraão recebe
as almas dos escolhidos e o Diabo as dos pecadores. Concêntricos a Cristo
surgem anjos, patriarcas, profetas, dignitários, mártires e virgens santas.
A rematar e a fazer a transição para o nível
intermédio está a "Galeria dos Reis", uma banda composta por vinte e
oito estátuas de 3,5 metros de altura cada. As
estátuas tanto podem ser representações de figuras do Antigo Testamento como
monarcas franceses. Durante a revolução francesa foram danificadas pelos
revoltosos que pensavam tratar-se dos reis de França. As atuais estátuas foram
redesenhadas por Viollet-le-Duc e as originais encontram-se no Museu de Cluny.
A rosácea
A dominar o nível intermédio encontra-se a rosácea de 13 metros de diâmetro ao centro
encaixada entre os contrafortes e ladeada por janelas gémeas. À sua frente
surge a estátua da Virgem Maria com o Menino.
Seguindo o traçado do piso inferior, e contribuindo
para a unidade da fachada, corre uma galeria de arcarias rendilhadas a rematar
este nível na zona superior.
Aqui erguem-se as duas torres de 69 metros de
altura - influência normanda do século XII que acabou por permanecer na
arquitetura religiosa europeia. A torre sul acolhe o famoso sino de nome
"Emmanuel".
É possível visitar a torre norte de onde, após uma
subida de 386 degraus, se pode vislumbrar a cidade de Paris, os pináculos e
os gárgulas da catedral que povoaram o romance de
Victor Hugo.
Vista da cabeceira na zona este
A estrutura de suporte de peso é visível do
exterior a ladear todo o edifício, mas na zona da cabeceira a elegância destes
elementos resulta numa fluidez visual que só se torna possível depois de 1225,
quando as capelas são acrescentadas ao exterior. Nesta altura todo o esplendor
técnico do gótico está ao alcance e os arcobotantes, que fluem da zona superior da parede do coro,
onde a impulsão da abóbada para o exterior se concentra, prolongam-se
até aos contrafortes, não de forma pesada, mas transmitindo leveza e harmonia.
Após a construção das capelas exteriores torna-se
necessário prolongar os braços do transepto. Jean de Chelles inicia
ao norte demonstrando já um traçado típico do gótico alto. O frontão trabalhado a coroar o portal,
denominado gablete, cresce ao segundo nível e sobrepõe-se à
fileira de janelas que surgem num plano recolhido. Do mesmo modo é também a
rosácea colocada num nível mais recolhido e ligeiramente sobreposta por uma
balaustrada fina. A rematar a fachada surge um frontão com janela circular
ladeado de tabernáculos abertos.
O tímpano apresenta um registo em três bandas,
típico do gótico, onde se torna possível representar diversos episódios alimentando
o gosto pela festividade do relato. Na banda inferior veem-se cenas de Jesus
criança. Também no portal toma lugar a estátua de uma Madona que sobreviveu
à Revolução Francesa e que denota o nível avançado da
escultura gótica, apresentando uma naturalidade na atitude e rotação corporal.
De um modo geral a decoração em filigrana e os
traçados aqui utilizados irão ser adoptados pela arquitectura europeia.
Após a morte de Chelles, Montreuil assume o
projecto da fachada do transepto sul seguindo um traçado mais ou menos fiel ao
do seu antecessor. A plasticidade dos elementos e o trabalho de filigrana da
pedra revelam uma virtuosidade com o material ao mais alto nível, assim como
uma clara individualização do trabalho do artista que se começa a destacar do
conjunto do movimento artístico geral.
Vista interior da nave
O gótico permite a ligação da terra ao céu e, no
interior de uma catedral do estilo, o crente é impelido à ascensão pela
afirmação constante da verticalidade, pela monumentalidade das paredes que
parecem erguer-se segundo uma teoria contrária à da gravidade, tornando-as
leves, deixando por elas filtrar o colorido dos grandes vitrais numa aura etérea. A utilização de tais
elementos arquitetônicos numa catedral deve-se mais a um propósito religioso
prático que a aspirações artísticas.
O edifício tem 127 metros de comprimento, 48 metros
de largura e 35 metros de altura é rematada em cima por abóbadas e dá o primeiro passo na construção colossal
do gótico. As maciças colunas de fuste liso da nave, que acentuam a
verticalidade, fazem a divisão em arcadas altas para as alas laterais e
suportam uma tribuna (galeria), em que janelas para o exterior são abertas para
deixar entrar mais luz. Criando unidade com este elemento surge o clerestório a fazer o remate superior com os seus grandes
grupos de janelas de dois lances e óculo.
A rosácea do braço norte do transepto tem 13 metros
de diâmetro e um azul forte como cor dominante. A composição baseia-se no
número 8 e
suas multiplicações e simboliza o Universo, a Terra e os sete planetas. No
centro surge a Mãe de Deus rodeada de medalhões com representação de
personagens do Antigo Testamento, profetas, reis e altos clérigos.
A rosácea do braço sul do transepto baseia-se do
mesmo modo no número 12 e apresenta central a imagem de Cristo como o
julgador do mundo. À sua volta, em medalhões, surgem apóstolos e anjos.
Diferentes sinos compõem o patrimônio histórico da
catedral e entre eles, encontram se os denominados: Angelique-Françoise, Antoinette-Charlotte, Hyacinthe-Jeanne, Denise-David (na
torre do norte) e o Bourdon Emmanuel (na torre do sul). Já
houve mais sinos, mas com a Revolução Francesa, muitos foram derretidos para a
fabricação de canhões. O principal é o Bourdon Emmanuel e
também o mais antigo. Seu badalado só ocorre em eventos de grande importância,
como visitas do papa, comemorações e funerais presidenciais. Desde a sua
instalação, em 1681, o Bourdon Emmanuel tocou apenas 84 vezes. Os sinos da
torre norte, instalados desde 1856, badalam a cada 15 minutos ou em eventos
históricos, como no fim da Primeira Guerra Mundial ou na libertação de Paris em
1944. Mais recentemente, tocaram em honra às vítimas do atentado de 11 de
setembro. Em 2012 estes sinos foram derretidos e substituídos por nove novos
sinos e isto ocorreu porque os mesmo perderam o tom devido ao desgaste do
cobre.
Marco Zero
Detalhe da Entrada
Movimentação de Visitas no Adro
Cripta ao redor de Notre-Dame
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