sábado, 22 de agosto de 2015

DRUMMOND: O SOLUÇO DE VIDA QUE REBENTA DE CADA VERSO É IMORTAL

DRUMMOND: O SOLUÇO DE VIDA QUE REBENTA DE CADA VERSO É IMORTAL




Alguém que escreve para não sufocar, mas não gosta. Escreve no Blog:http://beautedeschoses.blogspot.com.br/ Fanpage:https://www.facebook.com/viscerasexpostas?ref=hl .

Publicado em literatura por Renata Ferreira



No dia 17 de agosto de 1987, há 28 anos, a luz se apagou para o poeta do Sentimento do Mundo, Rosa do povo, do Claro Enigma... O poeta cujos poemas transitam no tempo. Nunca esqueceremos Carlos. O soluço de vida que rebenta de cada verso é imortal.




Carlos Drummond de Andrade nasceu em 31 de outubro de 1902, em Itabira Minas Gerais, cidade que influenciou sua obra. Seus primeiros trabalhos foram publicados no Diário de Minas. O poeta não demorou em se impor no cenário da poesia brasileira, da melhor poesia. Também foi cronista, jornalista e funcionário público.
O poema No meio do Caminho, tão conhecido, foi publicado em 1928 na Revista de Antropofagia. Em 1930 publicou o seu primeiro livro "Alguma poesia", que marca o início da segunda fase do Modernismo brasileiro. O poema de abertura desse livro é "Poema de sete faces", cujo eu-lírico manifesta a insatisfação com um mundo onde a desesperança sufoca. Podemos lê-lo como autobiográfico, talvez Carlos quisesse ter um retrato cuja imagem fosse desenhada em versos. Tudo indica que sim.
“Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida...”
Esse poema teve “filhos”, "filhos" nascidos da intertextualidade, “filhos” nascidos também pelo amor a Drummond, cada “filho” com sua singularidade. Torquato neto escreveu LET'S PLAY THAT, musicado por Jards Macalé;
"Quando eu nasci um anjo louco muito louco veio ler a minha mão não era um anjo barroco era um anjo muito louco, torto com asas de avião eis que esse anjo me disse apertando minha mão com um sorriso entre dentes vai bicho desafinar o coro dos contentes vai bicho desafinar o coro dos contentes".
Já Chico Buarque escreveu Até o fim
“Quando nasci veio um anjo safado O chato dum querubim E decretou que eu tava predestinado A ser errado assim Já de saída a minha estrada entortou Mas vou até o fim...”
Em Adelia Prado temos o poema Com licença poética
“Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada...”
O próprio Poema de sete faces apresenta intertextualidade com um versículo bíblico. (Evangelho de Mateus, capítulo 27, versículo 46).
“... o que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”
Drummond não escondeu sua desilusão com o mundo, um mundo que causava mal-estar, encontramos dentre as diversas temáticas: o retrato do cotidiano, os problemas sociais e políticos ,não só mundiais como os brasileiros.
A poesia de Drummond foi dividida em quatros fases. A primeira, conhecida como Gauche, é a fase da reflexão existencial, do isolamento, do individualismo. A segunda fase é a social, nesta o poeta escreveu Sentimento do Mundo (1940), José (1942) e Rosa do Povo(1945). Temos um Drummond mais participativo, o isolamento da primeira fase é substituído pelo grito que ecoa a problemática do mundo. A terceira fase é dividida em dois momentos, Drummond percorria novos caminhos, o da poesia filosófica e o da poesia nominal. A quarta fase (década de 70, 80), a última, é uma fase mais memorialística (Infância, família) e temas universais também são retomados. Para finalizar a singela homenagem, segue um dos mais belos poemas do poeta.
Sentimento do Mundo
Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, mas estou cheio de escravos, minhas lembranças escorrem e o corpo transige na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu estará morto e saqueado, eu mesmo estarei morto, morto meu desejo, morto o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram que havia uma guerra e era necessário trazer fogo e alimento. Sinto-me disperso, anterior a fronteiras, humildemente vos peço que me perdoeis.
Quando os corpos passarem, eu ficarei sozinho desfiando a recordação do sineiro, da viúva e do microscopista que habitavam a barraca e não foram encontrados ao amanhecer
esse amanhecer mais noite que a noite.



Nenhum comentário:

Postar um comentário