Colaboração de Fernando Alcoforado*
Uma das
grandes expectativas que se criou com a vitória dos governos do PT a partir de
2002 é a de que seria dado início ao processo de redução das desigualdades
sociais e de emancipação nacional com a superação da dependência do Brasil ao
capital estrangeiro e o fortalecimento dos setores produtivos pertencentes a
brasileiros. Em 2004, ocorreu o primeiro avanço significativo para a diminuição
das desigualdades sociais no País. Contribuiu para essa melhoria no quadro de
distribuição de renda no País o programa de transferência direta de renda
chamado de Bolsa Família. No entanto, segundo o Banco Mundial, apesar dos
avanços alcançados, o Brasil tem o terceiro pior Índice de GINI do mundo com
0,56 - que mede o nível de desigualdade e, quanto mais perto de 1, mais
desigual.
Quanto à
dependência do Brasil em relação ao capital estrangeiro, ela se acentuou
durante os governos de Lula e Dilma Rousseff com o aumento da dependência
financeira e tecnológica do Brasil em relação ao exterior e a desnacionalização
da economia brasileira. A dependência financeira em relação ao exterior resulta
do fato de o modelo econômico neoliberal de abertura da economia impor a
necessidade de atrair capitais externos para cobertura do crônico e crescente
déficit do balanço de pagamentos em conta corrente e a dependência tecnológica
resulta do fato de a maioria das indústrias instaladas no Brasil, especialmente
nos setores de ponta, serem multinacionais.
O balanço
dos governos Lula e Dilma Rousseff mostra, portanto, o descompromisso de ambos
os governantes e do PT com as grandes lutas do povo brasileiro levadas avante
nos últimos 50 anos, numa incoerência histórica traidora. A incoerência no
plano econômico se manifesta no fato de ambos os governos terem dado
continuidade à política neoliberal e antinacional dos governos Fernando Collor,
Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso seguindo o que estabeleceu o Consenso
de Washington na década de 1990. Até mesmo a política de privatização de
empresas estatais combatida pelo PT nos seus primórdios está sendo levada
avante pelo governo Dilma Rousseff. A denominada parceria pública privada (PPP)
posta em prática pelo atual governo não é nada mais nada menos do que a nova
denominação dada ao processo de privatização de portos, aeroportos, rodovias,
etc.
A trajetória
futura do Brasil é de instabilidade política crescente porque a crise econômica
brasileira tem raízes estruturais, é sistêmica e o governo Dilma Rousseff não
reúne competência política e gerencial para superá-la. A incapacidade do governo
brasileiro se manifesta não apenas na solução dos problemas da atualidade, mas,
sobretudo por comprometer o futuro da nação. O tempo conspira contra o governo
Dilma Rousseff cuja tendência é a de piora da situação atual e de queda na
aceitação de seu governo por parte da população brasileira como já se constatou
nas pesquisas recentes em que apenas 7% da população brasileira aprovam seu
governo. A população brasileira se posiciona contra o governo Dilma Rousseff
que é visto como responsável pela corrupção na Petrobras e também por suas
decisões econômicas no período pós-eleitoral contrárias aos interesses do povo
(aumento de tributos, bloqueio provisório de gastos, energia mais cara com
corte de subsídios para o setor elétrico e mudanças nas regras de benefícios
sociais).
Diante da
piora da situação atual e da queda vertiginosa na aceitação do governo Dilma
Rousseff por parte da população brasileira que coloca em risco sua permanência
no poder, foi posto em marcha o conluio de Dilma Rousseff com setores
conservadores do Brasil e políticos corruptos do Senado para evitar sua
destituição do poder através de impeachment por ter praticado crime de
responsabilidade fiscal e ter utilizado recursos da corrupção da Petrobras em
sua campanha de reeleição em 2014. Para evitar que ocorra o impeachment, o
governo Dilma Rousseff desencadeou várias iniciativas sendo a primeira delas a
cooptação do presidente do Senado, Renan Calheiros, e, a segunda, o isolamento
e neutralização do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que
ameaçava colocar em votação o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Além
disso, houve a cooptação de ministros do STF em um jantar com Dilma Rousseff
que produziu um resultado a ela favorável como a decisão de que o julgamento
das “pedaladas fiscais” seja decidido pelo Congresso Nacional e não
exclusivamente pela Câmara de Deputados.
Entretanto,
surgiu um fato novo que é o do afastamento do vice-presidente Michel Temer da
articulação política e do PMDB se afastar do governo colocando em xeque o
conluio em construção com alguns setores conservadores da sociedade brasileira
(industriais e banqueiros) e políticos corruptos para salvar o mandato de Dilma
Rousseff e mantê-la no poder como fantoche. No momento atual, o Brasil se
defronta com um quadro de ruptura político-institucional iminente porque o
governo Dilma Rousseff não tem competência para solucionar os problemas
econômicos do País que estão se agravando a cada dia e perdeu a capacidade
política de governar a nação e de se reconciliar com a maioria do povo
brasileiro (60% da população brasileira deseja o impeachment). Tudo leva a crer
que o País se defrontará com os cenários descritos a seguir:
Cenário 1-
Impeachment de Dilma Rousseff por ela ter praticado crime de responsabilidade fiscal
com as “pedaladas fiscais” e ascensão do vice-presidente Michel Temer e do PMDB
ao poder que tentaria montar um governo de maioria no Congresso Nacional se
aliando ao PSDB e outros partidos. Se um futuro governo Temer constituir um
governo com gente competente, os problemas econômicos do Brasil poderão ser
amenizados e ele poderá concluir o mandato em 2018. A incapacidade do futuro
governo Temer de solucionar os problemas econômicos do Brasil, faria com que os
movimentos de massa em defesa dos interesses da população continuassem
crescentes com a evolução da crise econômica. O lema “Fora Dilma” seria
substituído pelo “Fora Temer”. Diante do agravado conflito entre o Estado
brasileiro e a Sociedade Civil, haveria o risco de intervenção das Forças Armadas
para manter a ordem. Para evitar este desfecho, Michel Temer renunciaria ao
poder, fato este que levaria ao surgimento do Cenário 3.
Cenário 2
(alternativo ao Cenário 1)- Cassação dos mandatos de Dilma Rousseff e Michel
Temer por ter sido comprovado o uso na campanha presidencial de recursos
oriundos da corrupção na Petrobras objeto de análise pelo TSE seguida da
ascensão ao poder do presidente da Câmara dos Deputados (Eduardo Cunha ou quem
venha a substituí-lo) que formaria um governo de união nacional e, em seguida,
convocaria novas eleições presidenciais como prevê a Constituição atual. O
futuro governo eleito buscaria superar os agravados problemas econômicos e
sociais do País.
Cenário 3-
Ascensão ao poder do presidente da Câmara dos Deputados (Eduardo Cunha ou quem
venha a substituí-lo) com a ocorrência do Cenário 1 após o qual 3 formaria um
governo provisório de unidade nacional para atenuar as tensões sociais e a
crise político-institucional. Por imposição dos movimentos de massa, o governo
de união nacional poderia implementar como primeira medida a convocação de uma
Assembleia Nacional Constituinte para reordenar a vida nacional, após a qual
convocaria novas eleições em todo o País. Outra alternativa seria a convocação
de novas eleições presidenciais como prevê a Constituição atual sem a
realização de uma nova Assembleia Nacional Constituinte. O futuro governo
eleito buscaria superar os agravados problemas econômicos e sociais do País.
Pelo
exposto, pode-se concluir que o gigantesco impasse político do Brasil no
momento atual poderá ou não resultar na convocação de uma nova Assembleia
Constituinte para ordenar a vida nacional em novas bases. Poderá ocorrer, pura
e simplesmente, a convocação de novas eleições sem Constituinte prévia. O ideal
seria convocar novas eleições após a nova Constituinte e a exclusão da vida
política do Brasil de partidos e políticos corruptos. Só assim será possível
fazer frente à falência da democracia representativa no país que manifesta
sinais claros de esgotamento não apenas pelos escândalos de corrupção nos
poderes da República, mas, sobretudo, ao desestimular a participação popular,
reduzindo a atividade política a processos eleitorais que se repetem
periodicamente em que o povo elege seus supostos representantes os quais, com
poucas exceções, após as eleições passam a defender interesses de grupos
econômicos em contraposição aos interesses daqueles que os elegeram.
* Fernando
Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de
Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora
Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo,
2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado.
Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003),
Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os
Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba,
2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no
Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).
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